Legado Puritano
Quando a Piedade Tinha o Poder
Textos
 

O Evangelho Glorioso do Deus Bendito

Por Charles Haddon Spurgeon

Traduzido e adaptado do texto em espanhol, em domínio público na Internet, pelo Pr Silvio Dutra.

 
“Segundo o evangelho da glória do Deus bendito, que me tem sido encomendado.” (I Tim 1.11).
 
Este versículo aparece justamente depois de uma larga lista de pecados, que o apóstolo declara que vão contra a sã doutrina, do que concluímos que uma prova da sã doutrina é sua oposição a toda forma de pecado. Qualquer doutrina que de alguma maneira exclua a importância do pecado pode ser popular, porém não é sã doutrina, porque por suas vidas revelam a corrupção de seus corações, necessitam estar mais envergonhados de sua hipocrisia do que orgulhosos de sua ortodoxia. O apóstolo nos oferece neste versículo, outra medida que nos serve para provar essas doutrinas, nos diz que a sã doutrina sempre é evangélica – “sã doutrina segundo o evangelho da glória”. Qualquer doutrina que enaltece a vontade ou o mérito do homem, qualquer doutrina que exalta as cerimônias e os ofícios dos sacerdotes, qualquer doutrina, pois, que não coloca a salvação sobre o único fundamento da graça livre, não é sã. Estes dois pontos são absolutamente necessários em todo ensino que professe vir de Deus; deve recomendar e promover a santidade na vida; e, ao mesmo tempo, deve, muito além de toda dúvida, ser uma declaração de graça e misericórdia através do Mediador.   
Tem sido o evangelho boa nova para nós? Tem sido boa nova para vocês? “Nós o temos ouvido tão frequentemente”, diria alguém, “que não podemos esperar que seja novidade para nós. Fomos educados por pais piedosos, nos levaram à escola dominical, temos aprendido o evangelho desde nossa juventude, não pode ser uma novidade para nós!”. Deixem-me dizer-lhes que, não conhecem a palavra da reconciliação a menos que tenha sido, e todavia o seja, uma nova para vocês. Para cada homem que se salva pelo evangelho, este vem como uma nova, tão nova, fresca e assombrosa, como se nunca antes a tivesse ouvido. A letra pode ser velha, porém o significado interior é tão novo como se a tinta estivesse fresca na caneta da revelação. Confesso que fui educado na piedade, colocado em minha família por mãos cheias de oração, e embalado com canções que louvavam a Jesus, porém depois de ter ouvido o evangelho, continuamente, linha sobre linha, mandato sobre mandato, um pouquinho aqui, e um pouquinho ali, contudo, quando a palavra do Senhor me chegou com poder, foi tão nova como se eu tivesse vivido entre as tribos remotas da África central, e nunca tivesse ouvido a notícia da fonte limpadora cheia com o sangue que flui das veias de nosso Salvador. O evangelho em seu espírito e poder sempre leva o orvalho de sua juventude, brilha com a frescura da manhã – sua força e sua glória permanecem para sempre. A voz refrescante de Jesus é uma nova que diz: “vinde a mim e eu lhes farei descansar”. Ainda tenho ouvido o chamado externo milhares de vezes, e ainda assim, quando chega ao meu coração a própria voz de Jesus, é tão surpreendentemente fresca  e revela mistérios que têm sido ocultos desde a fundação do mundo.  
Quando Paulo chama a mensagem de misericórdia de “o evangelho”, lhe acrescenta um adjetivo – “o evangelho da glória”, e é um evangelho glorioso. A glória de ser misericordioso e perdoador, e não é esta glória que se revela em Jesus mediante o evangelho?
O evangelho visto com estes olhos, e ouvido com estes ouvidos externos será, como o Senhor mesmo, “uma raiz seca. Não havia aparência nele nem formosura”, porém o evangelho entendido por um coração renovado, será uma coisa completamente diferente. Oh, será o evangelho da glória seguramente, se vocês forem levantados numa nova vida, para gozar as bênçãos que lhes traz. Assim que lhes suplico que respondam à pergunta e para ajudá-los deixem-me recordar ao povo de Deus quão glorioso tem sido o evangelho para eles. Recordam o dia em que o evangelho tomou de assalto o coração de vocês? Nunca poderão esquecer quando o grande aríete da verdade começou a golpear as portas da fortaleza em redor de suas almas. Recordam como reforçaram as colunas e as vigas, e enfrentaram o evangelho resolvidos a não ceder? Às vezes foram impulsionados a chorar por causa das impressões, porém secaram suas lágrimas passageiras – a emoção foi “como o orvalho da manhã”. Porém o amor eterno não quis abandonar seus assaltos de graça, porque tinha a determinação de salvar. A providência e a graça juntas sitiaram a cidade da alma de vocês, e trouxeram a artilharia divina para atacá-la. Vocês estavam completamente encerrados até que – como aconteceu com Samaria assim foi com vocês – houve uma grande fome na alma de vocês. Recordam como domingo a domingo, cada sermão foi um assalto renovado dos exércitos do céu – um novo golpe do aríete celestial. E Satanás ajudou a colocar novas barricadas em seus corações, mas num bendito dia o aríete do evangelho deu o golpe da graça definitivo, e as portas se abriram, e por elas entrou o Príncipe da paz, como um conquistador. Nossa vontade foi submetida, nossos afetos foram dominados, toda nossa alma foi colocada em sujeição sob o domínio da misericórdia. Jesus foi glorioso diante de nossos olhos naquele dia. Esse dia único está registrado nas tábuas do nosso coração porque foi o verdadeiro dia da coroação de Jesus em nós, e nosso nascimento para a eternidade.      
Não intentem flagelar-se para obter a graça, a nova vida não deve ser tocada com o chicote da escravidão. Vão à cruz para receber motivação e energia ou mesmo santidade. Olhem a Jesus no evangelho como fizeram no início de sua nova vida. Saibam que são salvos nEle, e então sigam adiante para lutar contra a tentação, com o evangelho como estandarte de sua guerra de toda a vida. Se algum de vocês tem intentado fazer a guerra contra o pecado aparte do Capitão de sua salvação, já têm sido feridos para seu mal, ou o serão, porém se o Leão de Judá vai adiante de vocês, e vocês o seguem com o evangelho como grito de guerra, a vitória é segura e vocês terão outra grinalda para colocá-la aos pés de Jesus e seu glorioso evangelho. 
O evangelho é glorioso porque é somente por ele que podemos achar consolo em nossas aflições e tribulações. Ele afirma que é bem-aventurado o perseguido por causa da justiça do Reino. O que é o sofrimento e a perseguição que nos sobrevêm exatamente por causa do evangelho? Não são gozo  para o cristão fiel?
Agora, Paulo diz: “o evangelho da glória do Deus bendito, que me tem sido encomendado.”. Veja que o evangelho tem sido encomendado aos cristãos. Isto é, devemos reconhecer que temos uma responsabilidade para com ele. Paulo bem poderia ter dito, “o evangelho que tem sido encomendado a cada cristão.”. O evangelho é um tesouro de valor inestimável, e os santos são os seus banqueiros. Está encomendado ao nosso cuidado como os homens encomendam seus negócios a seus empregados.
É um dever de todo cristão instruído, trabalhar para ter o domínio de toda a verdade até onde lhe seja possível. Suponho que ninguém senão a mente infinita pode conhecer a verdade em toda sua altura e profundidade, contudo a educação não deveria nos deformar nem os prejuízos impedir que recebamos a verdade. Devemos lutar contra toda parcialidade, e deve ser, cada vez que abrirmos a Bíblia, uma de nossas orações: “Abre meus olhos, e contemplarei as maravilhas da tua lei.”.
O primeiro negócio de um cristão é seu cristianismo, tudo o mais, ainda que seja seu patriotismo deve conservar-se subordinado a isso, porque o céu é mais seu país do que o Brasil, e Jesus Cristo é mais seu Rei do que qualquer um dos governantes da terra. “Buscai primeiro o reino de Deus e sua justiça.”. Eu perguntaria especialmente aos jovens que amam ao Senhor, se realmente estão fazendo para a causa de Cristo o que eles deveriam fazer? Se não podem fazer algo mais de maneira que tornem manifesto em cada lugar o odor do nome de Cristo?
O primeiro chamado para a mulher cristã é servir a Jesus na família, e depois disso servir a Cristo em sua comunidade. Estamos fazendo assim? “O evangelho da glória do Deus bendito” está encomendado a ti mulher cristã, como está a todo servo de Deus. 

 

Silvio Dutra Alves
Enviado por Silvio Dutra Alves em 19/02/2013
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