O Evangelho nos Chegou em Poder
Por Charles Haddon Spurgeon
Traduzido e adaptado do texto em espanhol, em domínio público na Internet, pelo Pr Silvio Dutra.
“Porque o nosso evangelho não chegou até vós tão-somente em palavra, mas sobretudo em poder, no Espírito Santo... Jesus que nos livra da ira vindoura.” 1 Tessalonicenses 1:5-10
Se qualquer ministério faz algo bom, é porque Deus o tem feito, e toda a glória é devida tão somente a Ele.
Não falar do que Deus tem feito seria uma ingratidão. Poderia ter alguma semelhança com a humildade, porém na realidade seria deslealdade ao Altíssimo. Por isso mesmo Paulo não duvidou em falar de seus convertidos em Tessalônica, e de seu bom caráter, e do bom fruto que haviam dado, e da forma em que haviam difundido o evangelho em outras comarcas. Ele não se jactava, dava a glória a Deus, porém ele comentava o que havia feito. Nós pensamos que podemos fazer o mesmo, na medida que Deus abençoe nosso trabalho, qualquer de nós pode falar disso para louvor e glória de Deus, e para o estímulo de nossos companheiros trabalhadores. O apóstolo nesta passagem nos diz o que tem feito Deus em Tessalônica.
Nestes tempos, meus amados, deve se fazer uma diferenciação entre o evangelho dos homens e o evangelho de Deus, hoje em dia o evangelho do homem é bastante popular. Alguém se põe a pensar em novidades até que lhe doa a cabeça, produz disparates, vem e o oferece como algo novo. Os homens vão até o fundo do tema e batem até que removam o lodo desse fundo e logo não podem ver seu próprio caminho, e ninguém mais pode vê-lo, e logo saem com algo maravilhoso, e, usando palavras difíceis de pronunciar e ainda mais difíceis de entender, ganham o prestígio barato de serem grandes eruditos e profundos teólogos. Bem, deixemos que sigam seu caminho, esse é seu evangelho, porém nós temos outro evangelho, o qual o temos ganho de outra maneira, e desejamos propagá-lo de outra maneira. Paulo disse: “nosso evangelho”, pois, para fazer uma distinção.
Porém também quis dizer que era seu evangelho porque lhe havia sido encomendado, o havia recebido como um depósito sagrado, ele era, por assim dizer, um mordomo de Deus, com a missão de preservar e manter viva a verdade no mundo, e Paulo a preservou sem adulterá-la. Assim quando terminou sua vida, pôde dizer: “Tenho combatido o bom combate, guardei a fé.”. Se alguém adulterou o evangelho, não foi Paulo. Ele o entregou tal como Cristo lho deu. Oh que cada um de nós que é chamado a pregar o evangelho, isto é, cada membro da igreja sinta que a verdade nos é encomendada para ser conservada no mundo. Nossos antepassados a conservaram na fogueira, e no tormento cruel, e quando foram para o céu em seus carros de fogo, deixaram a verdade para que a preservassem seus filhos. Transmitida a nós pela longa fila de mártires e confessores, presbiterianos e puritanos, que vamos fazer com ela agora? Não sentiremos que todo o custo de conservá-la através dos séculos exige de nós que atuemos como eles? Se houver necessidade (ainda que a custo de nosso sangue) e, enquanto vivamos, que nunca se diga que em nossa vida, em nossa oração, em nossa conversação, ou em nossa pregação, o evangelho sofreu em nossas mãos.
Quando Paulo utilizou a expressão “nosso evangelho” quis dizer que o havia experimentado. Antes que Ezequiel desse a mensagem de Deus, lhe foi ordenado que comesse a mensagem que estava num rolo. Ele teve que comê-lo e quando estava em seu próprio corpo então pôde falar da mensagem com grande poder. Assim se dá com o evangelho, temos que experimentá-lo, temos que vivenciar suas doutrinas da graça, para que possamos pregá-lo com poder aos outros.
É uma boa máxima antiga a que diz: “Se tua pregação deve chegar ao coração, deve sair do coração.”. Deve ter comovido a nossas almas, antes que possamos esperar comover as almas de outros. O Senhor é minha testemunha que ao pregar aqui a vocês, todas estes anos, meus amados, lhes tenho pregado o que tenho provado e aplicado da boa Palavra de Deus. Tenho pregado a doutrina do pecado humano, porque tenho sentido seu poder, sentido sua amargura, e vergonha, e me tenho revolvido no pó diante de Deus, quase em desespero. Lhes tenho pregado o poder do sangue precioso para limpar o pecado, porque tenho contemplado as feridas de Cristo e tenho encontrado purificação nelas. Somente lhes temos falado do que nós mesmos temos conhecido, e sentido, e comprovado que é certo.
Agora muitos de vocês estão comprometidos na pregação de Cristo a outros, e em ensinar a Cristo aos meninos nas escolas. Sempre falem do profundo de seus corações, porque quando podem dizer: “Tenho provado isto; me regozijo nisto,”, a palavra de vocês seguramente chegará com poder aos corações de quem os escuta. O homem que deseja trazer outros a Cristo deve imitar a Elias, o profeta, que, quando falou ao menino morto em sua cama, e que não podia ser levantado de maneira nenhuma, foi e pôs sua boca na boca do menino, e suas mãos sobe as mãos do menino, e seus pés sobre os seus pés, e então pouco a pouco a vida foi restituída ao menino. Devemos sentir uma compaixão íntima por aqueles a quem queremos trazer a Cristo, e então proclamar desde nossa própria alma o que sabemos acerca do Salvador, e então chegará com frescura e com poder, e Deus e o Espírito Santo abençoem isto.
Primeiro Paulo diz que “o nosso evangelho” tem vindo em palavra, e todos a têm escutado, e a têm escutado de tal maneira que entendem seu sentido, o dom dela. A têm ouvido de muitas maneiras e formas prestando-lhe a devida atenção. Porém é de se temer que haja alguns para os quais a palavra tem vindo nisso, em palavras somente, e é muito triste para o pregador (e deve ser mais ainda para os que se encontram em tal condição), que esta palavra que dá vida seja somente uma palavra. Houve o banquete do evangelho, e a mensagem foi enviada, mas a mensagem, o convite não era tudo, havia um banquete que lhe correspondia para ser usufruído. Assim se dá com a mensagem e convite do evangelho, nas basta ser ouvido, deve ser atendido, para que se entre na posse das coisas que nos estão sendo oferecidas graciosamente por Deus, mediante o Seu poder. Mas, aqueles que haviam sido convidados não vieram ao banquete. Escutaram a mensagem e isso foi tudo. Ali estão os enfermos junto ao tanque de Betesda, veem a água e isso é tudo; porém não entram no tanque e não são curados. Oh, encontrar-se enfermo e ter a cura à mão! Ter fome com o pão estando disponível! Estar sedento, e com o riacho correndo entre os pés, e não beber! Se as palavras vêm a vocês como palavra somente, algum dia será mais que isso, já é uma verdade certa da Escritura que os que ouvem a palavra são responsáveis pelo que ouvem. Vocês escutaram o evangelho, porém o recusaram! Será uma das acusações que apresentarão contra os que o escutaram, e haverá mais tolerância para Tiro e para Sidon, do que para eles.
Agora, o terceiro grau da chegada da Palavra a Tessalônica foi que veio no Espírito Santo. Então se alcança o objetivo porque o Espírito Santo nos ilumina mostrando mil verdades que nunca antes havíamos visto, descobrimos que temos entrado num novo mundo; passado das trevas para a luz. Então o Espírito começa a nos purificar. Nos limpa deste e daquele pecado, e nos livra de impurezas, nos renova, está em nós como um espírito para queimar e consumir o pecado, um espírito que nos limpa de nossas maldades. Logo vem como espírito de consolação e nos dá alegria e paz, e nos eleva sobre nossas preocupações, tentações, dúvidas, e nos enche com uma antecipação da bênção eterna. Bendito é o homem para o qual o nosso evangelho chega com o Espírito Santo. O evangelho sem o Espírito é como uma espada sem o braço do guerreiro para sustentá-la. Por disso se diz que a Palavra é a espada do Espírito Santo.
Mas a palavra chegou também aos tessalonicenses “em plena convicção”. A todos os cristãos chega no Espírito Santo, porém para alguns chega com um grau ainda maior de poder espiritual, a saber, em plena convicção. Eles creem no evangelho, porém não o creem timidamente, o aceitam como uma realidade firme, sólida, indisputável; se aferram a ele como se fosse com uma mão de ferro, e seu próprio interesse nele não permanece em dúvida. Não, eles sabem em quem têm crido, estão persuadidos de que Ele é capaz de guardar o que se lhes tem encomendado. Eles creem em Cristo com a fé de Abraão, que não titubeou diante da promessa por falta de fé. As nuvens e as trevas se vão do céu deles, e veem o céu azul claro da presença de Deus por cima deles. Se regozijam no Senhor sempre, e outra vez tornam a se regozijar. Há alguns assim nesta congregação, e bendigo a Deus por cada um deles. Que haja muitos mais.
Tendo crido deste modo, Paulo disse acerca deles: ”também vos fizeste nossos imitadores e do Senhor”. Quando alguém se converte não está ainda apto para ser um condutor; tem que ser um imitador. Não tomamos recrutas sem experiência e os fazemos capitães, devem ser treinados, devem ir às filas e marchar um pouco. De maneira que, uma das primeiras coisas que a graça faz, é fazer de um homem um discípulo, isto é, um aprendiz, e então ele vê na palavra de Deus o que deve ser sua vida e conduta, e vendo ao redor de si, vê alguns dos que Deus tem abençoado com sua graça, cuja vida e conduta está de acordo com a Palavra, e ele segue aos servos de Deus, não cegamente, faz uma distinção entre eles e seu Mestre, somente os segue tanto quanto se mantenham em companhia com o seu Senhor. Não se trata de uma obra pequena da graça quando um homem é chamado para ser um imitador do que é bom.
Silvio Dutra Alves
Enviado por Silvio Dutra Alves em 21/02/2013