Legado Puritano
Quando a Piedade Tinha o Poder
Textos
O Evangelho que não morre
Por Charles Haddon Spurgeon

Traduzido e adaptado do texto em espanhol, em domínio público na Internet, pelo Pr Silvio Dutra.

"Porque Cristo, quando nós ainda éramos fracos, morreu a seu tempo pelos ímpios" (Romanos 5:6)

Queridos amigos, qualquer que seja a condição de um filho de Deus, não está sem esperança. Um cristão no Senhor Jesus Cristo pode ser provado duramente, suas aflições podem se multiplicar, e podem ser muito intensas; porém, ainda nessa condição, tem esperança. Não é possível que Deus o abandone; seu Deus deve ajudar-lhe. Se lhe sobrevier o pior, e for abandonado completamente pelos homens, e não houver um caminho de saída para suas tremendas dificuldades, ainda assim, seu Deus deve ajudar-lhe. Não há nenhum motivo para ter medo.  
Seguidamente, somente os ímpios necessitavam que Ele morresse por eles. Se tu és piedoso, se tu és bom, se tens guardado perfeitamente a lei de Deus, que tens a ver com Cristo? Já és salvo, de fato, não estás perdido, e portanto, não necessitas da salvação. Se tens guardado todos os mandamentos desde a sua infância, mui bem podes dizer: “que me falta?”. Se és tão bom que dificilmente podes ser melhor, e tens o mais respeitável traje de justiça própria para se apresentar diante de Deus, eu pergunto novamente: que tens a ver com Cristo? Por que teria Ele que morrer por um homem que não tem nenhum pecado que necessite ser lavado?
Por que haveria de ofertar sua vida pelo pecado de quem não tem nenhum pecado? “Cristo morreu pelos ímpios”, porque ninguém senão os ímpios necessitam que morresse por eles?. Ele não morreu por ter pecado Ele mesmo, senão morreu como os pecadores devem morrer, já que carregou sobre si os pecados dos ímpios; e ao substituí-los, sentiu o açoite de Deus que deveria ter caído sobre os ímpios. Disse o açoite? Deveria ter dito a espada de Deus. Ele sentiu, que deveria de terminar assim como os ímpios, tal como está escrito: “Levanta-te, oh espada, contra meu pastor e contra o homem meu companheiro, diz Jeová dos Exércitos!”, referindo-se à morte de Jesus na cruz.  
Ele morreu, o Justo pelos injustos, para nos levar a Deus. Esta é a única e verdadeira doutrina da expiação, e todo aquele que a receba será confortado por ela, porém todo aquele que a rechaçar o faz para o dano de sua própria alma.
Se Ele morreu por ti quando não tinhas paz com Deus, quando, de fato, não tinhas nenhum Deus, quando eras ímpio, isto é, sem a influência de Deus, quando eras inimigo de Deus fazendo obras perversas, se Cristo morreu por ti então, não te salvará agora? Se sentes dentro de teu coração, hoje, uma doce reconciliação com Deus teu Pai celestial, então, não importa qual seja teu problema, não penses que Deus possa te abandonar. Não importa a profunda depressão de teu espírito, não penses que Deus possa te abandonar. Ele, que morreu por ti quando eras ímpio, certamente te salvará agora que tens paz com Deus por meio dEle.      
Éramos fracos. Porém quando nos encontramos nesse lamentável estado, sem nenhuma dessas graças que agora são nossa fortaleza, sem nenhum desses santos frutos do Espírito que são agora a fonte de nosso consolo, ainda então, quando ainda éramos fracos, Cristo morreu por nós. Quando cada tendão e cada osso estavam quebrados, todo poder aniquilado, a vida mesma se haveria evaporado, pois estávamos mortos em delitos e pecados, e ainda assim Cristo morreu por nós. Pois bem, irmãos, isso é certo, e devem crê-lo assim. Quero que entendam o argumento desta verdade, pois este é: se o Senhor Jesus nos amou o suficiente para morrer por nós quando estávamos totalmente sem nenhuma força, então certamente nos salvará agora que nos tem dado forças.    
Ainda que estejas fraco agora, Ele, que morreu por ti quando ainda eras fraco no pleno sentido da palavra, virá para te ajudar. Dou graças a Deus hoje, do mesmo modo que o tenho feito tantas vezes, por trazer-me tão grandes tribulações; Às vezes, minha vida tem sido muito tranquila durante anos. Recordo ter dito a mim mesmo alguma vez: “Bem, no tempo passado, durante as grandes necessidades do Colégio de Pastores e do Orfanato, tenho experimentado milagres maravilhosos de livramento. Naquela época parecia pisar, como um gigante, desde cima de uma montanha até a outra, passando sobre os vales, e agora caminho calma e tranquilamente pelos vales.”. Quase tenho desejado ver outra grande montanha e outro grande precipício aberto, para poder ver o que Deus vai fazer. Durante os últimos anos, ainda tenho falado muito pouco acerca disto, tenho tido muitas brechas abertas diante de mim. Dava a impressão que o céu ia desabar, e tinha que contemplara para baixo, as profundezas azuis, porém tenho seguido adiante com passo firme, e Deus tem feito meu caminho tão fácil, como se houvesse sido um caminho sobre um terreno com o pasto recém cortado. É algo glorioso ter um grande problema, uma gigantesca onda do Atlântico, que te agita e balança e te arrasta mar adentro e te arroja às profundidades, às covas mais escondidas do velho oceano, até chegar ao fundo das montanhas e ver ali a Deus, e depois sair à superfície e proclamar quão grande é Deus, e com quanta graça Ele livra o seu povo. Ele te livrará, Ele deve livrar-te. O argumento do texto é este: “a seu tempo Cristo morreu pelos ímpios”. Portanto, a seu tempo, Ele deve ajudar o piedoso. Se o Senhor Jesus Cristo tem amado a Paulo, por que não haveria de amar a João? E se tem amado a Marta, porque não haveria de amar Helena? Se tem salvo a Henrique, por que não haveria de salvar a Manoel? Falo sério, já que Ele não nos ama porque haja algo de valor em nós, senão simplesmente porque Ele tem decidido amar-nos, como está escrito: “Terei misericórdia de quem tenha misericórdia e me compadecerei de quem me compadecer.”. Portanto vocês podem vir, vocês culpados, ao Soberano Doador da misericórdia não merecida e tocar o cetro de prata de sua graça, e serem salvos hoje! Quando Ele diz que terá misericórdia de quem lhe aprouver ter misericórdia, significa que faz uso dela sem ter que dar satisfação a ninguém, que pode fazê-lo por seu critério de graça, e não segundo os nossos méritos, quer dizer que pode usar de misericórdia com qualquer um que creia, e não que escolheu alguns para usar de misericórdia com eles, e outros para odiá-los. Não é desta forma que Deus é misericordioso. Porque isto não seria misericórdia, mas escolha caprichosa. A misericórdia para ser misericórdia demanda que se recorra a ela; que o necessitado busque o socorro de que necessita, e a misericórdia se mostrará como tal, quando estender a sua mão para ele, ainda que não o mereça e não tenha como pagar tal favor. É nesse sentido que Cristo não lança fora a ninguém que venha a Ele, e convida a todos para que venham a Ele para que sejam salvos. Porque através dEle, especialmente da Sua morte, Deus tem se mostrado misericordioso para com os pecadores, na expectativa de que se arrependam, creiam, e vivam. A dificuldade de entendimento da doutrina da eleição reside no fato de que apesar da manifestação de tão grande misericórdia há muitos que permanecem endurecidos no pecado, e orgulhosos a rejeitam deliberadamente. Mas veja, isto não procede de Deus que deseja que todos se salvem, mas da própria parte do pecador. E daí se atribui erroneamente a Deus a ideia de que tenha criado alguns para serem justos e outros para serem perversos. Deus não criou o mal, o pecado. O pecado tem tudo a ver com a criatura, e nada com o Criador.
Assim, que seu doce Espírito os traga a Cristo! Que nenhum de nós pergunte se somos santos ou pecadores, senão que vamos todos juntos, vamos em massa à cruz, voemos todos ao Calvário, e estejamos ali e vejamos a Ele, o eterno Filho de Deus, sangrando e morrendo sobre o madeiro, e creiamos todos agora que Ele pode, que Ele quer, e que Ele salva, mais ainda, que Ele tem salvado nossas almas.    

Silvio Dutra Alves
Enviado por Silvio Dutra Alves em 21/02/2013
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