Legado Puritano
Quando a Piedade Tinha o Poder
Textos
Como Tratar com a Autoridade Civil – Parte 1
 
Notas: 1 - O uso da palavra “igreja” neste texto nunca se refere a instituições ou denominações religiosas, mas ao número daqueles que amam a Jesus Cristo.
2 – Este texto é uma tradução e adaptação do Pr Silvio Dutra, do texto em inglês, em domínio público, de autoria de John Macarthur.
 
Certamente se o apóstolo Pedro estivesse visitando a nossa igreja para nos ministrar a Palavra de Deus, ele não estaria falando e fazendo o que muitos têm falado e feito na igreja dos nossos dias.
Ele estaria falando aquela mesma verdade que lhe foi ensinada pessoalmente pelo Senhor Jesus, aquela verdade imutável, que jamais passará.
As filosofias humanas que não se conformam à Palavra têm passado e passarão.
Até mesmo o ensino direto de demônios que intenta desacreditar a verdade divina também passará, mas a Palavra do Senhor permanece para sempre, e é por isso que Pedro não alteraria um só jota ou til para agradar a quem quer que fosse, e estaria pregando em nossa igreja o mesmo evangelho que ele pregou todos os dias da sua vida, até a hora da sua morte.
Pedro escreveu em sua primeira epístola, em 2.13-17: “Sujeitai-vos a toda instituição humana por causa do Senhor; quer seja ao rei, como soberano; quer às autoridades como enviadas por ele, tanto para castigo dos malfeitores, como para louvor dos que praticam o bem. Porque assim é a vontade de Deus, que, pela prática do bem, façais emudecer a ignorância dos insensatos; como livres que sois, não usando, todavia, a liberdade por pretexto da malícia, mas vivendo como servos de Deus. Tratai a todos com honra, amai aos irmãos, temei a Deus, honrai ao rei.”.
Provavelmente o rei que estava perseguindo a igreja quando Pedro escreveu esta epístola, era Nero, sob quem o próprio apóstolo, assim como Paulo, padeceram o martírio, segundo a tradição cristã.
E ele diz: “honrai ao rei”. Mesmo um Nero, enquanto estiver no trono deve ser honrado ainda que não quanto à pessoa que é, mas quanto à autoridade de que está investido.
Há um grande movimento até mesmo entre os cristãos de todo o mundo, presentemente, para não darem honra aos maus governantes, antes, devem se envolver em atividades que tenham em vista retirá-los da posição que ocupam.
Isto é rebelião civil. Isto é levante. Isto é motim.
Ainda que caiba ao cristão denunciar o mal, não lhe cabe se envolver em atividades que tenham em vista a tomada do poder.
Cabe-lhe sim orar pelas autoridades, para apresentá-las na presença de Deus, e ao Senhor cabe acionar ou permitir as ações que partem do mundo espiritual, para que cheguem ao poder, em cada nação aqueles que lá devem estar, segundo o Seu propósito.
Quer seja para praticarem o bem, quer seja para praticarem o mal, para aquele resultado, que no final contribuirá para o bem de todos aqueles que O amam.
Há um senhor da história, e este não é Satanás e nem o homem, mas o Senhor Deus, monarca não apenas da terra, mas de todo o universo e céus. 
O cristão tem assim, como cidadão no mundo, não a missão de estabelecer governos terrenos, mas a de ser testemunha de Deus na terra, daquelas coisas eternas e melhores do Reino do Senhor, para que através do seu testemunho ocorra o que é dito no verso 15 do texto de I Pe 2.13-17, que destaca o propósito de tudo o que se diz nesta porção bíblica: “Porque assim é a vontade de Deus, que, pela prática do bem, façais emudecer a ignorância dos insensatos;”. Isto é, pelo testemunho de Deus daquilo que é correto você pode silenciar a ignorância dos homens tolos.  
O ponto da seção inteira da exortação é que nós como cristãos devemos viver de tal modo que por nossas vidas exemplares nós calemos as bocas desses que criticam nossa fé.
Nós devemos viver uma vida que esteja acima da crítica, uma vida que esteja acima da repreensão, uma vida que esteja acima da vergonha.
Na verdade, o que fica em foco quando se vive desta forma, é o poder transformador do evangelho.
Realmente não há nenhuma outra maneira melhor e maior para as pessoas verem o poder transformador do evangelho do que ver a vida de uma pessoa transformada.
É o fundamento de todo o nosso testemunho.
O testemunho poderoso que ocorre quando uma pessoa dá a alguém o evangelho que ela tem já posto como o fundamento da sua vida  transformada.  
Pedro então está dizendo aqui que é essencial que vocês vivam suas vidas de tal modo, que seu testemunho se torna crível.
Que o poder transformador de Cristo não seja evidente pelo que você diz mas pelo que você é.  
Agora, quanto ao modo como nós devemos nos esforçar para viver nossas vidas no mundo, há três perspectivas que Pedro nos dá aqui.
Ele diz que você tem que ver sua vida de três maneiras.
Primeiro, você tem que se ver como um estrangeiro para esta sociedade. Nos versos 11 e 12 ele afirma que nós somos peregrinos e estrangeiros neste mundo e nós temos que nos ver deste modo.
Então nos versos 13 a 17 ele diz que embora sejam estrangeiros, ainda são cidadãos, embora vivam em outra dimensão, ainda estão aqui neste mundo e têm que se comportar com o modo  próprio de um cidadão.
Em terceiro lugar, nos versos 18 a 20, ele discute o assunto que nós somos servos, e não servos genericamente falando, mas em relação àqueles que são nossos chefes.
Assim Pedro vê o cristão como um estrangeiro, como um cidadão e como um servo.
E cada uma dessas perspectivas está relacionada com o modo com que o mundo nos vê. Ou seja, como estrangeiros, como cidadãos, e como servos.  
O pano de fundo é que o modo que você vive determinará se você conduz alguém a Cristo ou se você abastece os fogos da crítica.
Mas, há pessoas que obviamente não estão vivendo de modo espiritual e que têm pregado que  "Cristo transforma", mas não têm uma vida transformada e assim colocam por terra o seu testemunho.
Agora, o perigo disto é óbvio. A verdade passa por um caminho estreito quanto às nossas relações com este mundo em que vivemos.
Ao mesmo tempo que estamos crucificados para ele e ele para nós, em que não somos dele, nós ainda estamos nele, e vivemos nele.
Daí ser descabida a afirmação de qualquer cristão, que morreu para o pecado mas não para o mundo, como que a justificar a busca dos prazeres terrenos como um dos objetivos principais da vida.
Mas ao mesmo tempo, o próprio cristão necessita de sadia recreação.
Necessita exercitar o seu corpo físico para ser saudável.
Necessita trabalhar com as próprias mãos para obter o sustento que é necessário, não somente para si, mas para os que dele dependem.
 O perigo inerente a isso é óbvio porque se nós temos nossa identidade de estrangeiros no mundo, nós podemos ficar totalmente indiferentes para o mundo no qual nós temos que viver.
E assim nossa alienação do sistema é equilibrada pela demanda da própria cidadania.
Sim, nós vivemos uma vida sobrenatural. Sim, nós vivemos uma disciplina que é interior e privada, operada pelo Espírito Santo.
Sim, nós nos dirigimos com um comportamento que é externo e público e também operado pelo Espírito Santo, de forma que somos diferentes do mundo ao redor de nós.
Nossa alienação se manifestou pelo fato que nós nos privamos de luxúrias carnais, de acordo com o verso 11. E que nós praticamos boas obras de acordo com o verso 12.  
Assim, o caráter das nossas vidas revela a nossa alienação.
Nós somos diferentes do mundo.
Nós estamos no mundo, não somos do mundo.
Mas o resultado disso poderia ser uma indiferença à sociedade ao redor de nós, um descuido absoluto para a autoridade ao redor de nós.
E assim Pedro é rápido em acrescentar imediatamente no verso 13:
“Sujeitai-vos a toda instituição humana por causa do Senhor;”.
O fato de que você é um cidadão do céu, que você vive num nível diferente que o  mantém num plano mais elevado, que você responde a uma autoridade mais alta, não significa que você pode tratar com indiferença as instituições que estão aqui na terra.
Nós que sentimos que estamos acima do sistema necessitamos aprender a viver dentro do sistema.
De forma a sermos conduzidos ao que  Pedro apresenta nos versos 13 a 17, quanto à forma como devemos nos conduzir como cidadãos.  
Agora é urgente o estudo deste assunto nestes nossos dias porque temos testemunhado um grande número de pessoas cristãs que desafiaram o direito civil.
Eles violaram os padrões de cidadania. Eles violaram a civilidade da lei e eles não honraram a autoridade que está acima deles.
Nós assistimos isso acontecer. Eles fizeram isso no nome de Deus. Eles fizeram isso no nome do Cristianismo.
E assim nós precisamos olhar cuidadosamente para este assunto de  modo especial e ver o que precisamente a Palavra de Deus tem a dizer.  
Silvio Dutra Alves
Enviado por Silvio Dutra Alves em 04/03/2013
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