Como Tratar com a Autoridade Civil – Parte 2
Notas: 1 - O uso da palavra “igreja” neste texto nunca se refere a instituições ou denominações religiosas, mas ao número daqueles que amam a Jesus Cristo.
2 – Este texto é uma tradução e adaptação do Pr Silvio Dutra, do texto em inglês, em domínio público, de autoria de John Macarthur.
As pessoas às quais Pedro dirigiu originalmente sua epístola estavam sendo criticadas. É difícil ser espiritual, como cidadão do céu. É difícil também ser um bom cidadão neste mundo. E isto se torna mais difícil ainda quando esta autoridade lhe é hostil.
E este era o caso daqueles a quem Pedro tinha escrito.
Na realidade, era uma coisa bastante comum chamá-los malfeitores, como eles são assim identificados no verso 12, eles são caluniados como malfeitores.
Nos dois primeiros séculos da história da igreja era muito comum para eles não apenas viverem numa sociedade terrena mas em uma sociedade muito hostil que era flagrantemente anti-cristã.
Eu li, como você talvez também tenha lido, alguns dos registros da história da Igreja Primitiva, alguns dos ataques e algumas das acusações contra a Igreja que são representativos da forma como eles foram tratados.
Em primeiro lugar, havia um anti-semitismo básico no mundo antigo.
Eles se ressentiram contra os judeus. Eles odiaram os judeus. E os cristãos foram vistos como simplesmente uma seita dos judeus.
E assim eles receberam uma carga bastante grande de hostilidade anti-semítica.
Havia um tipo de visão repulsiva dos judeus e os cristãos entre eles.
Eles também foram acusados de insurreição.
Eles foram acusados de se rebelarem contra Roma e toda autoridade humana.
Literalmente isso era a razão básica por que os romanos se ocuparam da crucificação do próprio Jesus Cristo, porque foi trazido a eles o fato que Ele representava uma grande ameaça contra Roma que, claro que, não era verdade.
E durante os primeiros dois séculos da vida da igreja, essas acusações de hostilidade contra governos terrenos continuaram crescendo, embora elas não fossem verdade.
A Igreja Primitiva também foi acusada de ateísmo e havia uma grande hostilidade contra eles em razão disso.
É duro imaginar, não é, que a igreja pudesse ser acusada de ateísmo?
Mas era verdade porque qualquer um que se recusasse adorar os muitos deuses das nações pagãs, inclusive César no Império romano era considerado um ateu.
Assim se você não adorasse César, não importa quem mais você adorasse, você era considerado um ateu.
A Igreja Primitiva também foi acusada de canibalismo. Era suposto que eles estavam fazendo banquetes. Na realidade, um dos escritores pagãos, Thiestes disse que a iguaria do banquete era carne humana. E assim quando eles os acusaram de banquetes de Thiestes, eles estavam acusando a igreja cristã de praticar o canibalismo. E eles retiraram isto das palavras de Jesus, que o cristão devia comer a Sua carne e beber o Seu sangue.
Eles também acusaram os cristãos de matarem e comerem os seus filhos em seus banquetes.
Além disso, eles os acusaram de imoralidade e até mesmo de incesto.
Eles foram acusados de relacionamento de Édipo. Todos nós sabemos que Édipo foi adotado quando criança, e quando cresceu ele viu uma senhora encantadora, e se casou com ela e descobriu eventualmente que ele tinha se casado com a sua mãe.
Freud deu a ambos muita publicidade quando ele propagou as suas teorias sobre o desenvolvimento sexual com referência particular às tendências incestuosas.
Mas um longo tempo antes de Freud as pessoas estavam tendo dificuldade nesta área e os pagãos estavam acusando os cristãos de comportamento incestuoso.
Os cristãos chamavam as mulheres de "irmãs", e os homens da igreja tinham muita intimidade com estas irmãs, assim os pagãos, em sua ignorância sobre a comunhão que há em Cristo no mundo espiritual, somaram dois com dois e acharam seis.
Eles os acusaram de nutrir rebelião de escravos porque quando um escravo chegava ao conhecimento de Jesus Cristo, ele tinha uma vida nova, ele tinha uma dignidade nova em Cristo. E eles pensavam que era uma coisa hostil manter os escravos no lugar que lhes cabia na sociedade.
Eles os acusaram de odiarem os homens porque eles eram contrários ao sistema do mundo. Eles os acusaram novamente de infidelidade aos governantes e a César porque eles adorariam somente a Jesus Cristo e nunca se dobrariam em submissão a qualquer outro ser.
A Igreja nos primeiros anos não estava apenas no mundo mas na hostilidade de um mundo muito odioso.
E a Pedro havia um só modo para negar as acusações. O único modo para negá-las era viver uma vida piedosa, viver uma vida virtuosa que basicamente fecharia as bocas dos críticos afastando qualquer acusação legítima.
Eles desejavam viver uma vida que era tão rica em qualidades espirituais que não haveria nada que eles pudessem usar para caluniar os cristãos.
Agora, façamos um pequeno parêntesis aqui. Satanás não abandonou de todo esta estratégia de fazer um confronto direto dos que estão no mundo contra a Igreja, assim como fez na Igreja Primitiva, nos países da cortina de ferro, nos países de cultura muçulmana e de diversos modos e épocas diferentes.
Entretanto, é muito corrente em nossos dias, no mundo ocidental, a estratégia que tem usado de misturar o joio com o trigo.
De fazer o cristianismo ser aceito pelo mundo de ímpios, desde que o cristianismo faça certas concessões ao mundo, pelo menos aceitando em seu meio, e afirmando como membros de Cristo, pessoas que não são verdadeiramente cristãs, mas que se dizem cristãs, e que são não de reputação duvidosa, mas certamente pecaminosa, porque exibem uma vida completamente distinta do que é exigido na Palavra.
Isto confunde os cristãos verdadeiros, que passam a seguir aquele padrão de vida errado, contrário à verdade da Palavra.
A hostilidade do diabo não é assim direta, mas destrói a vida da Igreja por dentro, com aquilo que é hostil à verdade revelada sendo aceito pelos cristãos.
Isto é terrível, porque a “aceitação” da Igreja pelo mundo, pode garantir a retirada da perseguição e das acusações, mas não há como conciliar de maneira alguma luz e trevas, nunca existirá comunhão entre a luz e as trevas, nunca o joio será recolhido juntamente com o trigo.
A hostilidade permanece, ainda que de forma velada, e o testemunho de Cristo é anulado, e vidas deixam de ser salvas, cristãos têm o seu testemunho arruinado, e assim Satanás consegue o seu intento.
Eu posso dizer a você que o mundo ainda é hostil contra o Cristianismo?
Homens ainda odeiam a Deus. Eles ainda rejeitam a Jesus Cristo. Eles podem ser um pouco mais tolerantes para com o sistema religioso do Cristianismo mas eles não são mais tolerantes em relação à verdade da retidão do que eles alguma vez já tenham sido antes.
E o desafio para o cristão ainda é ser estrangeiro e ainda ser cidadão, ser diferente, quer dizer, deve viver uma vida acima da que está no mundo, e ainda morar no mundo, e amar todos os que são do mundo.
E esse desafio é grande. Nós devemos viver de tal modo que apesar de todas as falsas acusações e todo ódio e hostilidade, nós poderemos ainda trazer os corações das pessoas a Cristo pela transformação evidente das nossas vidas.
Assim o que Pedro realmente tem em mente aqui é um propósito evangelístico, porque a ordem de Jesus para a Igreja foi a de que fizessem discípulos em todas as nações, pregando-lhes o arrependimento e a fé nEle para a remissão dos pecados.
Agora, quando somos atacados por acusadores irresponsáveis, ignorantes, infundados, a reação natural é se levantar em autodefesa e talvez até mesmo retaliar, ou pensar que já que eu não tenho nenhuma parte neste mundo e este mundo não tem nenhuma parte comigo, eu ignorarei com indiferença tudo de seus sistemas.
Mas Deus não quer tal comportamento de nós.
Ele não quer que pensemos que podemos agir de qualquer maneira que desejemos porque nós não somos responsáveis perante as instituições humanas. Na realidade, Ele deseja que demonstremos autodomínio, virtude, uma preocupação com a comunidade, buscar a paz na comunidade, fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para prevenir problemas, viver de tal maneira em paz e com boa vontade que nós privemos os inimigos de Cristo e do evangelho, de todas as suas falsas acusações.