Legado Puritano
Quando a Piedade Tinha o Poder
Textos

Os Dois Efeitos do Evangelho

 Por Charles Haddon Spurgeon

Traduzido e adaptado do texto em espanhol, em domínio público na Internet, pelo Pr Silvio Dutra.

 
“Porque nós somos para com Deus o bom perfume de Cristo, tanto nos que são salvos, como nos que se perdem. Para com estes cheiro de morte para morte, para com aqueles aroma de vida para vida. Quem porém é suficiente para estas coisas.” (II Cor 2.15,16).
 
Estas são palavras de Paulo expressadas em nome próprio e no de seus irmãos apóstolos. São verdadeiras no que concerne a todas aqueles que são eleitos pelo Espírito, preparados e enviados à vinha para pregar o evangelho de Deus. Sempre tenho admirado o versículo 14 deste capítulo, especialmente quando recordo os lábios que as pronunciaram: “Graças porém a Deus, que faz que sempre triunfemos em Cristo e que manifesta em todo lugar o odor de seu conhecimento por meio de nós.”. 
Imaginemos a Paulo, já ancião, dizendo-nos: “Cinco vezes tenho recebido dos judeus quarenta acoites menos um”, que depois foi arrastado sendo dado por morto, homem de grandes sofrimentos, que havia passado através de mares de perseguições, pensemos quando disse, ao fim de sua carreira ministerial: “Graças a Deus, que sempre nos faz triunfar em Cristo.”.
Triunfar quando se tem naufragado, triunfar apesar de ter sido flagelado, triunfar havendo sido torturado, triunfar ao ser apedrejado, triunfar em meio à burla do mundo, triunfar ao ser expulso da cidade e ter tido que sacudir o pó de seus pés; triunfar sempre em Cristo Jesus!
Agora, se falassem desse modo alguns ministros de nossos tempo, não daríamos muita importância às suas palavras, pois gozam do aplauso do mundo. Sempre podem ir em paz às suas casas. Têm cristãos que os admiram, e não têm inimigos declarados, contra eles nem sequer um cão move a língua, tudo é seguro e prazeroso.  
E quão doce é, irmãos, o consolo que Paulo aplicava a seu próprio coração em meio de todas as suas tribulações. Dizia que apesar de tudo, Deus manifesta em todo lugar o perfume do seu conhecimento por meio de nós. Ah! Com esse pensamento um ministro pode dormir tranquilo em seu leito: “Deus manifesta em todo lugar o odor de seu conhecimento. De fato pode fechar seus olhos ao completar sua carreira e abri-los no céu: “Deus por meio de mim manifestou em todo lugar o perfume do seu conhecimento.”.
Assim, ainda que o evangelho seja um bom perfume em todo lugar, produz contudo diferentes efeitos em pessoas diferentes, pois para uns é cheiro de morte para morte, enquanto para outros, é aroma de vida para vida.
Em razão disso, os ministros do evangelho não são responsáveis pelo seu êxito, porque se diz que para Deus somos o perfume de Cristo nos que se salvam e nos que se perdem. E isto faz com que o ofício do ministro não seja uma tarefa suave, antes seu dever é muito agonizante. O apóstolo mesmo disse: “e quem é suficiente para estas coisas?”.
O evangelho é para alguns homens, cheiro de morte para morte. Agora, isto depende em grande parte de qual é o evangelho, porque há algumas coisas chamadas “evangelho” que são cheiro de morte para todos aqueles que o ouvem, porque não podem ser aroma de vida para vida. O pregador John Berridge dizia que pregou a moralidade até que não ficou no povo um só homem moral, porque o modo mais seguro de acabar com a moralidade é a pregação legalista. A pregação das boas obras e a exortação aos homens à santidade como meio de salvação são muito admiradas na teoria, porém na prática demonstra, não somente que não é eficaz, como também, o pior é que às vezes se convertem em cheiro de morte para morte. 
Assim se tem comprovado, e creio que inclui o grande Chalmers que confessou que durante anos e anos, antes de conhecer ao Senhor, não pregou outra coisa que moralidade e preceitos, porém nunca viu a nenhum alcoólatra convertido pelo mero fato de lhes mostrar os males da embriaguez. Nem viu a nenhum blasfemo deixar a blasfêmia porque lhe dissera quão odioso era seu pecado. Quando começou a pregar o amor de Jesus, quando pregou o evangelho como é em Cristo, em toda sua clareza, plenitude e poder, e a doutrina de que pela graça sois salvos pela fé, e isto não é de vós, pois é dom de Deus, foi quando conheceu o êxito. Quando pregou a salvação pela fé, multidões de alcoólatras deixaram a bebida, e os blasfemos frearam suas línguas, os ladrões se fizeram honrados, e os injustos e ímpios se inclinaram diante do cetro de Jesus.
Mas mesmo quando se prega o verdadeiro evangelho muitos homens se endurecem em seus pecados ao ouvi-lo. Que verdade mais terrível é a de que alguns pecadores da igreja são os piores. Aqueles que podem submergir mais e mais no pecado, e têm a consciência mais tranquila e o coração mais endurecido, se encontram na própria casa de Deus. Há muitos que recebem a graça de Deus não para serem santificados, mas para transformá-la em motivo para reafirmar a sua lascívia, e usam o argumento da graça de Deus para justificar seu pecado. Dizem que estão na graça e não sob a lei, e assim justificam a prática das suas más obras sob o argumento de que já foram  perdoados em Cristo. Asseguram que foram eleitos desde antes da fundação do mundo e que por isso podem viver do modo que lhes convier, e caminham na direção oposta à verdade. E assim se fazem mais perversos do que aqueles que não se encontram debaixo da pregação da Palavra.
Há entre nós alguém como estes que gostam de ouvir o evangelho e não obstante vivam impuramente? Que podem dizer que são filhos de Deus, e apesar disso se comportam como servos de Satanás? Saibam bem que são uns mentirosos e hipócritas, porque a verdade não está de nenhum modo neles. Qualquer um que é nascido de Deus não vive pecando. Aos eleitos de Deus não se lhes permitirá cair permanentemente no pecado, eles nunca converterão a graça de Deus em libertinagem, isto é, eles não a usarão como argumento para justificar as suas impiedades, senão que, em tudo o que depender deles, se esforçarão para permanecer perto de Jesus. Tenham isto por certo: “Por seus frutos os conhecereis.”.  A má árvore não pode dar bons frutos, assim como a boa árvore não pode dar maus frutos. Não obstante, estas pessoas estão continuamente pervertendo o evangelho. Pecam com arrogância pelo mero fato de que têm ouvido o que eles consideram que são desculpas para seus vícios. 
Mas, não encontro outra coisa sob o céu, que possa extraviar tanto aos homens, como um evangelho pervertido. Uma verdade pervertida é, geralmente pior que uma doutrina que todos sabem que é falsa. É igual ao fogo, um dos elementos mais úteis que pode causar a mais intensa destruição, assim o evangelho, que é o melhor que possuímos, pode converter-se na mais vil das causas. Este é o sentido em que o evangelho é cheiro de morte para morte. A condenação de vocês será também maior se opõem ao evangelho. Se Deus tem um plano de misericórdia, e o homem se levanta contra ele, não será grande seu pecado? Não foi imensa a culpa em que incorreram homens como Pilatos, Herodes e os judeus que crucificaram Jesus? Queira Deus ajudar o blasfemo e infiel! Deus salve suas almas.
Mas bendito seja Deus porque o evangelho tem um segundo poder. Além de ser “morte para morte”, é “vida para vida”. Voltemos nossa vista para o passado quando estávamos mortos em delitos e transgressões. E contemplemos também, com alegria, aquela hora em que entramos pela primeira vez em um templo e, para nossa salvação, ouvimos a voz da misericórdia.
Quando foi pela primeira vez “aroma de vida” para nossas almas. Assim pois, meus amados, se alguma vez tem sido “aroma de vida”, sempre o será, porque não diz que seja aroma de vida para morte, mas aroma de vida para vida. Os arminianos afirmam que o evangelho às vezes é aroma de vida para morte, mas não encontramos isto no texto da Palavra de Deus. Eles afirmam que um homem pode receber vida espiritual, e não obstante, morrer eternamente. A saber, pode ser perdoado, e depois, castigado, pode ser justificado de todo pecado, e contudo suas transgressões podem ser lançadas de novo sobre seus ombros para efeito de condenação eterna. Que podem ter nascido de novo e terem sido feitos filhos de Deus, e depois serem considerados por Deus como não nascidos de novo e como verdadeiros bastardos. Que podem ter sido amados por Deus, e apesar disso Deus poderá odiá-los amanhã.
Oh! Não posso sequer suportar o só ouvir falar de tais doutrinas cheias de mentiras; que eles creiam no que quiserem. Quanto a mim, creio tão profundamente no amor imutável de Jesus, que suponho que se um cristão estivesse no inferno, o mesmo Cristo não estaria muito tempo no céu sem gritar: “Ao resgate! Ao resgate!”. Em termos proporcionais Ele demonstrou isto, deixando o céu para vir a este mundo pecador para buscar a ovelha perdida.  Não, o Senhor não permitirá que nenhuma de suas ovelhas se perca. É aroma de vida para vida, e não de vida para morte. Jesus disse que conhece as suas ovelhas e que lhes dá a vida eterna. Mas os arminianos apontam às ovelhas a possibilidade de vida temporária, e que elas podem perdê-la, porém Jesus disse que dá vida eterna e que jamais perecerão eternamente.  Se qualquer filho de Deus pode perecer onde está o maravilhoso e a boa nova do evangelho? Se temos recebido algo inseguro, incerto, que depende da nossa própria capacidade para ser preservado e mantido, jamais seria uma boa notícia. Ao contrário, seria um bom motivo para ansiedade. Mas graças a Deus, porque a Palavra tem demonstrado que a promessa de salvação é para incapazes, coxos, pobres, aleijados. O evangelho é adequado aos pecadores em sua insuficiência, porque é em Deus que eles são tornados suficientes para estas coisas.    
É cheiro de vida para vida. Não somente vida para vida neste mundo, senão vida para vida eternamente. 
Agora, veremos porque eu disse que o ministro do evangelho não é responsável pelos seus êxitos. É responsável pelo que prega e por sua vida e ações, porém não é responsável pelos resultados de seu testemunho. Se eu prego a Palavra de Deus, porém não há nenhuma alma que se salve, assim mesmo o Rei me diria apesar de tudo: “muito bem, servo bom e fiel!”. Se não deixo de dar minha mensagem, e se o faço no poder do Espírito, e ninguém a queira escutar, Ele dirá: “tens combatido o bom combate, recebe a tua coroa.”. 
Como é natural a um pescador ele não é responsável pela quantidade de peixes que pesca, senão pela forma como pesca. Se é encontrado fiel lançando sua rede, o Senhor virá ao seu encontro e mesmo que tenha conseguido pegar apenas dois peixinhos, lhe dirá que poderia ter enviado uma multidão de peixes para serem salvos.
Por isso, pregar a Palavra de Deus não é o que alguns pensam, uma simples brincadeira de crianças, um negócio ou profissão que qualquer um pode exercer. Um homem deve sentir, em primeiro lugar, que tem um chamado solene, depois, deve saber que realmente possui o Espírito de Deus, e quando fala existe uma influência sobre ele que o capacita a pregar como Deus quer que o faça. Doutra maneira deve abandonar o púlpito imediatamente, porque não tem nenhum direito a estar ali, ainda que a igreja seja de sua propriedade. Não tem sido chamado para anunciar a verdade de Deus.   
Pregar não é tarefa fácil, pois o apóstolo disse: “quem é suficiente para estas coisas?”. Quando se tem que falar com severidade, o coração nos diz: “não o faças. Se falas desta forma julgarás a ti mesmo”, então existe a tentação de não fazê-lo. Outra prova é que temos que desagradar o rico de nossa congregação. Desta forma pensamos: “se digo isto, fulano de tal se ofenderá, pois não aprova esta doutrina.”. Talvez suceda que recebamos os aplausos das multidões e não queremos dizer nada que lhes desagrade, porque se hoje gritam: “hosana”, amanha gritarão: “crucifica-o!”. Todas estas coisas operam no coração de um ministro. Ele é um homem como vocês, e sente como vocês. Além de tudo está sob a afiada espada da crítica e das flechas daqueles que o odeiam e ao seu Senhor, e às vezes não pode evitar o sentir-se ferido. Possivelmente poderá colocar a armadura e dizer: “não me importam as críticas de vocês!”, porém houve épocas em que os arqueiros afligiram penosamente inclusive a José. Então se encontra em outro perigo, de querer defender-se, porque quem o faz comete uma grande loucura. O que deixa a seus detratores sozinhos, e que como a águia, não se intimida com o canto do pardal, ou como o leão que não fica molestado com o grunhido do chacal, é um homem e será honrado. Porém o perigo está em que queiramos deixar estabelecida nossa reputação de justos. E quem é suficiente para conduzir o barco no meio destas perigosas rochas?
Mas o trabalho do ministro, a par de todas as dificuldades, é um trabalho solene, e quanto bem farão todos os que amam a verdade orar por todos aqueles que a pregam, para que sejam suficientes para estas coisas.
Se o ministro tiver em sua igreja aquelas pessoas que se dedicam à oração, que se reúnem nas tardes de segunda-feira para pedir a Deus que derrame sua bênção sobre ele, vencerá assim até mesmo o inferno apesar de toda oposição. Nossos perigos nada são se temos orações. Porque se ainda que aumente minha congregação, ainda que tenha gente nobre e educada, e que tenha influência e entendimento, se não tenho uma igreja que ore, tudo me sairá mal. Assim, que nunca se diga de nós como igreja: “aquele povo era tão fervoroso, e tem se tornado tão frio!”.  
Levantem-se amigos! Empunhem o estandarte e mantenham-no bem alto até que chegue o dia em que nos encontraremos no último baluarte que conquistamos nos domínios do inferno, e quando todos louvaremos ao Senhor dizendo: “Aleluia! Aleluia! Porque reina o Senhor nosso Deus Todo-poderoso!”.
Até então, continuemos lutando, combatendo o bom combate da fé.

 
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Veja tudo sobre as Escrituras do Velho Testamento no seguinte link:
http://livrosbiblia.blogspot.com.br/

Veja tudo sobre as Escrituras do Novo Testamento no seguinte link:
http://livrono.blogspot.com.br/

A Igreja tem testemunhado a redenção de Cristo juntamente com o Espírito Santo nestes 2.000 anos de Cristianismo.
Veja várias mensagens sobre este testemunho nos seguintes links:
http://retornoevangelho.blogspot.com.br/
http://poesiasdoevangelho.blogspot.com.br/

A Bíblia também revela as condições do tempo do fim quando Cristo inaugurará o Seu reino eterno de justiça ao retornar à Terra. Com isto se dará cumprimento ao propósito final relativo à nossa redenção.
Veja a apresentação destas condições no seguinte link:
http://aguardandovj.blogspot.com.br/ 
 

 
 
Silvio Dutra Alves
Enviado por Silvio Dutra Alves em 04/03/2013
Alterado em 10/07/2014
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