VISÃO ESPIRITUAL – Parte 7
Por T. Austin Sparks
A graça que começou o seu trabalho em nós para que pudéssemos ver as coisas de Deus deve continuar fazendo o seu trabalho. Não podemos começar com a graça e terminar com o ego.
Foi para o louvor da glória da Sua graça que Ele nos adotou como Seus filhos por meio da fé em Cristo.
Então é algo muito perigoso começarmos a agir por nossa própria habilidade, inteligência, por algo em nós mesmos, quando começamos a falar de nossas bênçãos, de nossos sucessos. Isto tudo é como lepra aos olhos do Senhor.
Tudo isto é fruto de orgulho espiritual, e nós sabemos o quanto Deus resiste aos orgulhosos, e que concede Sua graça somente aos que se humilham.
É possível chegar a ocupar posições de grande eminência e autoridade neste mundo, mas é preciso ter sempre os olhos abertos para enxergar que tudo procede da graça de Deus, para que não sejamos achados leprosos tal como o rei Uzias de Israel, por permitirmos que o nosso coração seja elevado pelo orgulho e sejamos achados fazendo coisas além do limite que Deus nos demarcou, por falta de humildade.
Ver o Senhor é ver sobretudo Sua santidade, e quando nós vemos a santidade nós vemos lepra onde nunca suspeitávamos que ela existisse, até em nós mesmos.
Quando vemos o Senhor, nós vemos o verdadeiro estado das coisas em nós mesmos e naqueles ao nosso redor.
Isaías já era profeta do Senhor quando teve uma melhor visão do estado do povo de Deus e do seu próprio estado:
“1 No ano em que morreu o rei Uzias, eu vi o Senhor assentado sobre um alto e sublime trono, e as orlas do seu manto enchiam o templo.
2 Ao seu redor havia serafins; cada um tinha seis asas; com duas cobria o rosto, e com duas cobria os pés e com duas voava.
3 E clamavam uns para os outros, dizendo: Santo, santo, santo é o Senhor dos exércitos; a terra toda está cheia da sua glória.
4 E as bases dos limiares moveram-se à voz do que clamava, e a casa se enchia de fumaça.
5 Então disse eu: Ai de mim! pois estou perdido; porque sou homem de lábios impuros, e habito no meio dum povo de impuros lábios; e os meus olhos viram o rei, o Senhor dos exércitos!” (Is 6.1-5).
A visão do Senhor sempre revela o nosso real estado espiritual e dos que estão ao nosso redor.
E nossa primeira reação a tal visão gloriosa é a mesma de Isaías: “Ai de mim! pois estou perdido!”. E Satanás pode intervir e reforçar que somos realmente dignos de morte pela nossa condição pecaminosa perante Ele.
Mas se vemos o Senhor Ele provê os meios necessários pelo Seu Espírito para que sejamos purificados, santificados, de maneira que não apenas estejamos de pé em Sua presença, como também para que nos tornemos os instrumentos úteis que Ele procura para serem usados a Seu serviço.
Uzias foi ferido de lepra porque ficou cego pelo orgulho e entrou sem nenhum temor no Lugar Santo do templo cujo acesso era facultado somente aos sacerdotes. Ele não viu a santidade do Senhor e por isso agiu imprudentemente e foi ferido de lepra por Deus.
“18 e se opuseram ao rei Uzias, dizendo-lhe: A ti, Uzias, não compete queimar incenso perante o Senhor, mas aos sacerdotes, filhos de Arão, que foram consagrados para queimarem incenso. Sai do santuário, pois cometeste uma transgressão; e não será isto para honra tua da parte do Senhor Deus. 19 Então Uzias se indignou; e tinha na mão um incensário para queimar incenso. Indignando-se ele, pois, contra os sacerdotes, nasceu-lhe a lepra na testa, perante os sacerdotes, na casa de Senhor, junto ao altar do incenso.” (II Crôn 26.18,19).
É interessante observar que Isaías teve a visão da glória do Senhor exatamente no ano em que havia morrido Uzias. Ele tinha bem vivo na sua memória que o rei havia morrido de lepra por ter ofendido a santidade do Senhor. Agora Isaías viu tal santidade e pôde sentir-se um leproso tal como Uzias, e reconheceu que todos somos como leprosos à vista da Sua infinita santidade, e dependemos inteiramente da Sua graça e misericórdia para que possamos ser purificados pelo fogo do Espírito.
Os que servem ao Senhor devem estar santificados pelo Espírito. Somente estes que vêm continuamente a face do Senhor terão suas orações e ministérios aceitos por Ele.