A Relação da Fé com a Bíblia
Enquanto alguém permanecer na condição de não convertido a Cristo, e por conseguinte sem a habitação do Espírito Santo, não poderá aceitar toda a Bíblia como sendo a vera Palavra de Deus, e nem mesmo entendê-la adequadamente.
Isto porque Deus associou a revelação do significado da Palavra à fé em Jesus Cristo. De modo que, sem confiar no Senhor, e sem a instrução, direção e iluminação do Espírito Santo, não é possível compreender as Escrituras e nem mesmo aceitá-la como a verdade que deve ser aplicada à nossa vida.
Primeiro a fé, e somente depois a compreensão e a experiência.
Abraham Kuyper se expressou muito bem a tal respeito da seguinte maneira:
“A fé não é o operar de uma faculdade inerente no homem natural; nem um novo sentido acrescentado aos cinco; nem uma nova função da alma; nem uma faculdade primeiramente latente e agora ativa; mas uma disposição, um modo de ação, implantado pelo Espírito Santo na consciência e na vontade da pessoa regenerada, através da qual ela torna-se capacitada para aceitar a Cristo.
A relação entre Escritura e fé é facilmente determinada. Ambas existem para o bem do pecador, em virtude do pecado, e para remover o pecado; uma não sem a outra, ambas pertencendo uma à outra. Sem a Bíblia, a fé é um olhar sem sentido. Sem a fé, a Bíblia é um livro fechado.
A experiência o prova. Pessoas agraciadas com a faculdade da fé, mas ignorantes quanto à Sagrada Escritura, ou erroneamente instruídas, não fazem nenhum progresso; uma vez instruídas, elas vivem e se fortalecem. Ao contrário, para pessoas familiares com a Bíblia desde tenra idade, mas sem fé, a Bíblia se lhes parece como um livro fechado; a Palavra não penetra neles. Mas quando a Escritura e a fé salvadora abençoam a alma, então a glória do Espírito Santo aparece; pois foi Ele quem primeiro proporcionou a graça particular da Escritura, e então também aquela graça particular, da fé.
Esta é a razão porque os argumentos pela verdade da Escritura nunca beneficiam nada. Alguém a quem a fé é concedida, gradualmente aceitará a Escritura; se não agraciado com a fé, ele nunca aceitará a Escritura, embora fosse inundado com apologética. Certamente que é nossa a tarefa de assistir almas sedentas, explicar ou remover dificuldades, algumas vezes mesmo para silenciar um escarnecedor; mas fazer com que alguém não cristão tenha fé na Escritura encontra-se completamente além da capacidade humana.
A fé e a Escritura pertencem-se juntamente; o Espírito Santo designou uma para a outra. A última é arranjada de tal forma a ser aceita pelo pecador que seja agraciado com a fé. E a fé é uma disposição, reconciliando completamente a consciência e a Escritura. Portanto o "testimonium Spiritus Sancti" deveria ser tomado, não no sentido racionalista ou Ético de ser a operação sobre uma certa disposição universal, mas como um testemunho real do Espírito Santo, quem habita na consciência e nos dá a experimentar a adaptação - como aquela do olho à cor - da Escritura à fé.”