Legado Puritano
Quando a Piedade Tinha o Poder
Textos
DEPRESSÃO – Parte 9
 
Citações do Livro de autoria de D. M. Lloyd Jones, intitulado Depressão.
 
Existem fases na vida cristã, assim como na vida natural. O Novo Testamento fala sobre bebês em Cristo, e fala sobre crescimento. João escreveu na sua Primeira Epístola aos "filhinhos", aos "mancebos" e aos "pais". Isto é um fato, é bíblico. A vida cristã não é sempre a mesma; há um começo, uma continuação, e um final. E por causa dessas fases, existem muitas variações. As emoções, talvez, são o que temos de mais variável. É de se esperar que as emoções sejam fortes no início, e em geral é o que acontece. Com frequência, cristãos ficam can­sados e fatigados porque certas emoções desapareceram. O que não entendem é que eles cresceram, ficaram mais velhos. Porque não são mais como eram antigamente, pensam que algo está errado. Mas à medida que crescemos e nos desenvolvemos espiritual­mente, certas mudanças devem ocorrer, e todas essas coisas obvia­mente fazem uma diferença em nossa experiência. Quero colocar isso na forma de uma ilustração. Outro dia vi uma criança pequena, de uns quatro anos de idade, creio, saindo de casa com a mãe, e fui atraído pela maneira como ela saiu daquela casa. Ela não andava — ela pulou para fora, saltitou e saltou para fora como uma ove­lhinha; mas eu notei que a mãe caminhou para fora da casa. Vamos nos assegurar que não estamos falhando em perceber que algo semelhante acontece na vida espiritual. A criança tem energia em abundância e ainda não aprendeu a controlá-la. Na realidade, a mãe possuía muito mais energia que a criança; no entanto, à pri­meira vista podia parecer que tinha menos, porque caminhou para fora de forma tranquila e quieta. Mas sabemos que isso não é verdade. O nível de energia do adulto é muito maior, ainda que pareça ser maior na criança; e muitas pessoas caem em fadiga e depressão porque não entendem esta experiência de "reduzir a marcha", e pensam que perderam algo vital. Precisamos reconhecer que existem essas fases, esses estágios de desenvolvimento na vida espiritual. Às vezes a simples compreensão desse fato resolverá o problema.
Agora passemos para o segundo princípio. "Não nos cansemos de fazer o bem". Lembrem-se que diz "fazer o bem". Temos a tendência de esquecer isso. Dizemos: "Ah, é sempre a mesma coisa, semana após semana". Essa é nossa atitude para com a nossa vida, e esse tipo de atitude leva à fadiga. Mas Paulo diz: "Quero lem­brá-los de que estão vivendo a vida cristã, e a vida cristã é uma vida de fazer o bem. Se encararem a vida cristã como uma tarefa monótona, estarão insultando a Deus. O que é nossa vida cristã? Esta é uma pergunta extremamente importante, e com frequência respondemos que é evitar coisas que outras pessoas fazem; que é andar pelo caminho estreito, e dizer não a isto, e fazer aquilo. É ir à igreja. É uma tarefa imensa, é uma vida muito dura, esta em que nos encontramos! Não seria esta a nossa atitude, com demasiada frequência? E a resposta a isso é que estamos envolvidos em "fazer o bem". Se viermos a considerar qualquer aspecto desta vida cristã meramente com uma tarefa e um dever, e se precisamos estimular-nos, e ranger os dentes para suportá-la, eu diria que estamos insul­tando a Deus, tendo esquecido a própria essência do cristianismo. A vida cristã não é uma tarefa. Ela é a única vida digna de ser chamada vida. Somente ela é reta, santa, pura e boa. É o tipo de vida que o próprio Filho de Deus viveu. É ser parecido com o próprio Deus na Sua santidade. É por isso que devo vivê-la. Não é resolver simplesmente fazer um esforço maior para continuar. De modo algum; devo lembrar a mim mesmo que esta é uma vida boa e plena, é "fazer o bem". E como ingressei nesta vida? Esta vida sobre a qual eu agora estou reclamando e murmurando, e achando dura e difícil? Quero enfatizar esta pergunta. Como vocês ingressaram na vida cristã? Aqui estamos, neste caminho estreito; como viemos do caminho largo? O que fez a diferença? Estas são as perguntas; e há somente uma resposta. Viemos do caminho largo para o caminho estreito, porque o Filho unigênito de Deus deixou o céu e veio a esta terra para a nossa salvação. Ele Se despojou de todas as insígnias de Sua eterna glória, e humilhou-Se a Si mesmo, nascendo como um bebê numa manjedoura. Ele suportou a vida deste mundo por trinta e três anos; cuspiram nEle e O injuriaram. Espinhos foram enterrados em Sua fronte e Ele" foi pregado a uma cruz, para levar o castigo do meu pecado. Foi assim que passei de uma posição para a outra, e se eu alguma vez, por uma fração de segundo que seja, questionar a grandeza e a glória e o milagre e  a nobreza desta caminhada na  qual estou envolvido, estarei cuspindo nEle. Fora com tal coisa! "Não nos cansemos de fazer o bem". Meu amigo, se você pensa na sua vida cristã com esse espírito de má vontade, ou a encara como uma tarefa ou um dever fatigante, volte para o começo, retroceda até aquela porta estreita pela qual passou. Olhe para o mundo na sua perversidade e pecado, contemple o inferno para o qual estava levando você, e então olhe para a frente e reconheça que você está envolvido na mais gloriosa .campanha de que um homem poderia participar, e que está trilhan­do o caminho mais nobre que o mundo já conheceu.
Quero, todavia, me aprofundar ainda mais. O princípio seguin­te é que esta nossa vida aqui na terra é apenas uma vida prepara­tória. "Não nos cansemos de fazer o bem, porque a seu tempo ceifaremos, se não tivermos desfalecido". Será que se sentem can­sados e fatigados, e às vezes sentem que tudo é demais para vocês? Voltem atrás e olhem para as suas vidas, e as coloquem no con­texto da eternidade. Parem e perguntem a si mesmos o que tudo isso significa. É nada mais que uma escola preparatória. Esta vida é uma ante-sala da eternidade, e tudo que fazemos neste mundo é uma antecipação da nossa vida futura. Nossas maiores alegrias nada mais são que os primeiros frutos e o ante-gozo da alegria eterna que nos espera. Como é importante que nos lembremos disso! É o peso da rotina da vida diária que nos abate. Talvez comecem o dia dizendo: "Bem, mais um dia pela frente!" Ou um pastor talvez diga: "Mais um domingo, e hoje preciso pregar duas vezes". Que coisa horrível é dizer isso! O peso da rotina muitas vezes pode nos levar ao ponto de dizer isso. Mas a solução é contemplar a situação toda em seu contexto glorioso, e dizer: "Estamos a caminho da eternidade, e esta vida é apenas uma escola preparatória". Que diferença isso faz! "Continuem a fazer o bem", diz Paulo, "por causa da certeza da colheita que virá". "Não nos cansemos de fazer o bem, porque a seu tempo ceifaremos, se não tivermos desfale­cido". A partir do momento que compreendem algo da verdade sobre a colheita, não mais desfalecerão.
"O mundo é demais para nós", e isso é o nosso problema. Estamos  mergulhados  demais em  nossos problemas.  Precisamos aprender a olhar para a frente, em antecipação das glórias eternas que brilham ao longe. A vida cristã é experimentar os primeiros frutos da grande colheita que está por vir. "As coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, e não subiram ao coração do homem, são as que Deus preparou para os que o amam". "Pensai nas coisas que são de cima, e não nas que são da terra". Captem em suas mentes e corações algo da glória do lugar para onde estão indo. Esse é o antídoto, essa é a cura. A safra que vamos colher é certa, é segura. "Portanto, meus amados irmãos", Paulo escreveu aos coríntios, "sede firmes e constantes, sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que o vosso trabalho não é vão no Senhor". Prossigam com a sua tarefa, sejam quais forem os seus sentimentos; continuem com o seu trabalho. Deus dará o crescimento, mandará a chuva da Sua graciosa misericórdia conforme a nossa necessidade. A colheita será abundante. Aguardem-na. "A seu tempo ceifaremos". E acima de tudo, consideremos o Mestre para quem trabalha­mos. Lembremo-nos como Ele sofreu e como foi paciente. Observem novamente o poderoso argumento de Hebreus capítulo 12: "Ainda não resististes até o sangue". Ele resistiu. Ele desceu do céu, e suportou tudo; e como foi paciente! Quão fatigante foi a Sua vida! Ele passou a maior parte do Seu tempo com pessoas comuns e às vezes mesquinhas, que não O compreenderam. Mas Ele prosse­guiu firme, sem qualquer reclamação. Como conseguiu isso? "Pelo gozo que lhe estava proposto suportou a cruz, desprezando a afron­ta". Foi assim que Ele o fez. Considerando o gozo que Lhe estava proposto — Ele sabia que o dia da coroação estava se aproximando. Viu a seara que iria ceifar, e, vendo isso, foi capaz de não olhar para as outras coisas, porém passou por elas em glória e triunfo. E nós temos o privilégio de podermos ser como Ele. "Sé alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome a sua cruz, e siga-me". É isso! Talvez até tenhamos a honra de sofrer por amor ao Seu nome. Paulo diz algo extraordinário em Colossenses 1:24. Ele declara que se considera privilegiado por "cumprir o resto das aflições de Cristo" em seu próprio corpo. Quem sabe vocês e eu, como cristãos, estamos tendo o mesmo privilégio, sem o saber? Bem, lembrem-se do seu abençoado Mestre, olhem para Ele, e peçam-Lhe perdão por terem-se entregue à fadiga e ao cansaço. Olhem para as suas vidas mais uma vez com esta perspectiva, e com certeza descobrirão que estão cheios de uma nova esperança, uma nova força, um novo poder. Não mais precisarão de estimu­lantes artificiais ou qualquer coisa assim, pois vão achar que estão novamente animados com o privilégio e o gozo da vida cristã, e detestarão a si mesmos por terem murmurado e reclamado, e pros­seguirão ainda mais gloriosamente, até que um dia venham a ouví-lO dizer: "Bem está, bom e fiel servo, entra no gozo do teu Senhor". "Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo".
 
D. M. Lloyd Jones
Enviado por Silvio Dutra Alves em 14/05/2013
Alterado em 14/05/2013
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