Legado Puritano
Quando a Piedade Tinha o Poder
Textos
DEPRESSÃO – Parte 5
 
Citações do Livro de autoria de D. M. Lloyd Jones, intitulado Depressão.
 
E o que você e eu devemos fazer, quando somos tentados a ficar deprimidos por causa das coisas que estão contra nós, é dizer: "Eu tenho o Espírito Santo, e Ele é o Espírito de poder".
A próxima coisa que ele menciona é "amor". E eu considero isto muito interessante, fascinante mesmo. Eu me pergunto quan­tos teriam colocado amor neste ponto da lista? Por que vocês acham que ele o colocou aqui? O que ele está querendo dizer? "Deus não nos deu o espírito de temor, mas de poder. ..". Sim, eu entendo que preciso de força. Mas amor — por que amor? Certamente não é amor que esta pessoa tímida precisa! Por que ele coloca isso em segundo lugar — o espírito de amor? Aqui temos uma soberba migalha de psicologia, pois, no fim das contas, qual é a causa principal do espírito de temor? A resposta é "o eu". Auto-preocupação, auto-proteção, egoísmo. Vocês já perceberam que a essência deste problema é que estas pessoas medrosas real­mente estão absorvidas demais em si mesmas — "Como posso fazer isso? E se eu falhar?" "Eu" — estão constantemente volta­das para si mesmas, olhando para si mesmas e preocupadas con­sigo mesmas. E é aqui que o espírito de amor entra, porque só há um modo de alguém se libertar de si mesmo. Há somente uma cura para isso. Ninguém pode tratar com seu próprio "eu". Esse foi o erro fatal daqueles pobres homens que se tornaram monges e eremitas. Eles conseguiram se afastar do mundo e das outras pessoas, mas não conseguiam se afastar de si mesmos. O nosso "eu" está dentro de nós e não podemos nos livrar dele; quanto mais nos mortificarmos a nós mesmos, mais a nossa natureza vai atormentar-nos.
Há somente uma maneira de nos libertar — é nos absor­vermos tanto em outra coisa ou outra pessoa, que não tenhamos tempo de pensar em nós mesmos. Graças a Deus, o Espírito Santo torna isso possível. Ele não é apenas o "Espírito de poder", mas também é o "Espírito de amor". Que significa isso? Significa amor a Deus, amor ao grande Deus que nos criou, amor ao grande Deus que planejou um caminho de redenção para nós, miseráveis criaturas — que nada merecemos senão o inferno. Ele nos amou com um amor eterno. Pense nisso, diz Paulo a Timóteo, e quando você se absorver no amor de Deus, vai se esquecer de si mesmo. "O Espírito de amor!" Esse Espírito de amor libertará vocês do auto-interesse, da auto-preocupação, da depressão por causa de si mesmos, porque depressão é resultado do "eu" e da auto-preo­cupação. Ele liberta do "eu" em todas as áreas. Então, falem consigo mesmos a respeito deste eterno, grandioso amor de Deus — o Deus que olhou para nós, apesar do nosso pecado, que planejou o caminho da redenção, e não poupou Seu próprio Filho, mas O entregou por todos nós.
E então? Continuem pensando no amor do Filho, em sua extensão, comprimento, profundidade, altura; conheçam o amol­de Cristo, que excede todo o entendimento. Pensem nEle que desceu das cortes do céu e pôs de lado as insígnias da Sua eterna glória, que nasceu como um bebê, trabalhou como um carpinteiro, e suportou tais contradições dos pecadores contra Si mesmo. Pensem nEle, em cujo santo rosto homens cuspiram, colocaram uma coroa de espinhos em Sua cabeça, e vararam Suas mãos e pés com pregos. Ali está Ele, na cruz. Que está fazendo ali? AH Ele morreu por nós, para que pudéssemos ser perdoados e recon­ciliados com Deus. Pensem no Seu amor, e à medida que come­çarem a entender algo a respeito, vão se esquecer de si mesmos.
E daí, amor aos irmãos. Pensem em outras pessoas, suas necessidades, suas preocupações. Devo prosseguir? Timóteo parece que estava conjecturando: "Eu posso ser morto". Paulo diz: "Pense em outras pessoas; olhe para essas pessoas perecendo em seus pecados. Esqueça de si mesmo". Cultivem amor pelos perdidos, amor pelos irmãos da mesma forma, e amor pela causa maior e mais nobre do mundo, esta bendita, gloriosa causa do evangelho. Ponham isso em prática. Isto é o que o apóstolo quer dizer com "espírito de poder e de amor". Se forem consumidos por este espí­rito de amor, vão se esquecer de si mesmos. Vão dizer que nada importa exceto o Cristo que Se deu a Si mesmo por vocês, e nada é demais para darem a Ele. Como o conde Zinzendorf, vocês terão somente uma paixão, que será: "Ele, e Ele somente!" Q espírito de amor!
E finalmente, "moderação" — "Deus não nos deu o espírito de temor, mas de poder, e de amor, e de moderação". Que signi­fica isso? É o antítodo certo para o espírito de temor — auto-con­trole, disciplina, uma mente equilibrada. Ainda que sejamos tími­dos  e nervosos, o  Espírito que  Deus  nos  deu  é  o   Espírito  de controle, o Espírito de disciplina, o Espírito de Julgamento. Nosso Senhor já disse tudo isso antes mesmo de Paulo pensar nisso. Paulo está apenas repetindo e expondo algo que o Senhor já havia ensinado. Lembrem-se do que Ele disse aos discípulos quando os enviou a pregar. Ele os advertiu que seriam odiados, e persegui­dos, e que talvez chegasse o dia em que tivessem de entregar suas vidas, ou certamente serem levados diante de juízes para defender suas cidas. Contudo, prosseguiu e disse: "Quando vos entregarem, não vos dê cuidado como, ou o que haveis de falar, porque na­quela mesma hora vos será ministrado o que haveis de dizer". Estarão nos tribunais sendo interrogados, e eles farão todo o possí­vel para pegá-los em alguma palavra, mas não se preocupem, diz o Senhor, porque naquela hora lhes será dado o que devem dizer. Não precisam temer, não perderão a calma; não ficarão tão alar­mados ou assustados que não saibam o que dizer; porque "naquela mesma hora vos será ministrado o que haveis de dizer". O espírito de sabedoria e de moderação!
Posso resumir este ponto de forma breve numa só ilustração. É a história de uma jovem nos dias dos "Covenanters", os parti­dários da Reforma na Escócia. Ela ia participar de um culto da Ceia do Senhor realizado pelo grupo num domingo à tarde, e, naturalmente, tais cultos eram absolutamente proibidos. Os solda­dos do rei da Inglaterra estavam à procura, em toda parte, das pessoas que iam se reunir para participar daquele culto da Ceia do Senhor, e quando essa jovem virou uma esquina, defrontou-se face a face com um grupo de soldados, e soube que estava encurra­lada. Por um momento ela imaginou o que deveria dizer, mas imediatamente ao ser interrogada, surpreendeu-se a si mesma, res­pondendo: "Meu Irmão mais velho morreu, e vão ler Seu testa­mento esta tarde, e Ele deixou algo para mim, e quero ouvir a leitura do testamento". E permitiram que ela prosseguisse. "Deus não nos deu o espírito de temor, mas de poder, e de amor, e de moderação" — sabedoria, prudência, entendimento. Ele os fará sábios como as serpentes; serão capazes de fazer declarações abso­lutamente verdadeiras aos seus inimigos, e eles não vão entender, e os deixarão ir. Ah, sim, seu Irmão mais velho tinha morrido. Cristo tinha morrido por ela, e naquele culto Seu testamento seria lido novamente, e ela relembraria mais uma vez o que Ele deixara para ela e o que tinha feito por ela. Como veem, o mais ignorante e o mais tímido no reino de Cristo vai receber um espírito de moderação e de sabedoria. Não se preocupem, Cristo diz; receberão naquela hora o que devem dizer. Ele lhes mostrará o que fazer, revelará o que devem dizer, e se necessário, Ele lhes impedirá de qualquer reação. Não vivemos por nós mesmos. Não devemos pensar em nós mesmos como pessoas comuns. Não somos pessoas naturais; nós nascemos de novo. Deus nos deu o Seu Espí­rito Santo, e Ele é o Espírito "de poder, e de amor, e de mode­ração". Portanto, àqueles que são particularmente propensos à depressão espiritual devido ao temor do futuro, eu digo em nome de Deus e com as palavras do apóstolo: "Despertem o dom", falem consigo mesmos, relembrando o que é verdade a seu respeito. Em vez de permitirem que o futuro e preocupações a seu respeito os escravizem, falem consigo mesmos, relembrando quem são e o que são, e que o Espírito está em vocês: e, havendo-se lembrado do caráter do Espírito que está em vocês, então serão capazes de prosseguir com firmeza, sem temer coisa alguma, vivendo no pre­sente, prontos para o futuro, com somente um desejo — o de glori­ficar Aquele que deu tudo por vocês.
 
D. M. Lloyd Jones
Enviado por Silvio Dutra Alves em 14/05/2013
Alterado em 14/05/2013
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