Legado Puritano
Quando a Piedade Tinha o Poder
Textos
O NOME ETERNO
 
                              
Por Charles Haddon Spurgeon
 
         "Será seu nome para sempre" (Sl 72.17)
 
         Nenhuma pessoa aqui presente necessita que se lhe diga    que este é o nome de Jesus Cristo, que será para    sempre.    Os    homens têm afirmado acerca de muitas de suas obras:    "permanecerão para sempre", porém,    quanto se têm iludido. Quando    construíram,    depois do dilúvio, a torre de Babel,    disseram:    permanecerá    para sempre". Porém Deus confundiu a língua deles e não puderam terminá-la.
         As coisas mais estáveis têm se desvanecido como    sombras    e bolhas numa hora, e têm sido destruídas prontamente pelo    mandado de Deus.          Onde está Nínive, e onde está Babilônia? Onde estão as    cidades da Pérsia? Onde estão os lugares altos de Edom?    Onde    está Moabe e onde estão os príncipes de Amom? Onde    estão    os    templos dos heróis da Grécia? Onde estão os milhões    que    passaram    pelas ortas de Tebas? Onde estão os vastos exércitos    dos    imperadores romanos? Acaso não desapareceram?
         O homem chama a sua obra de eterna mas Deus a chama de passageira. O homem afirma que constrói suas obras para a    eternidade. Deus as sopra num instante, e onde estão? Elas se    evaporam    e passam e partem para sempre.
         É muito reconfortante então descobrir que há uma coisa    que irá permanecer para sempre. E espero poder falar hoje desse algo, se Deus me capacitar a pregar a vocês e lhes der a capacidade de escutar. "Será seu nome para sempre". Em primeiro lugar,    a    religião santificada pelo Seu nome permanecerá para sempre, em segundo lugar    a honra do Seu nome permanecerá para sempre,    e em terceiro lugar, o poder de Seu nome que salva e que consola,    permanecerá para sempre.
 
         I. Primeiro, a religião do nome de Jesus irá permanecer para sempre. 
Quando os impostores forjarem os seus enganos, e abrigarem a esperança de que talvez,    numa    época    distante,    poderão submeter o mundo diante deles, e se conseguem reunir ao redor    de si uns poucos seguidores, oferecendo incenso no santuário    deles,então sorriem dizendo: "minha religião brilhará mais    do    que    as estrelas e durará toda uma eternidade".    Porém    quão    equivocados estão!
         Quantos falsos sistemas têm aparecido e têm se desvanecido! Alguns de nós têm visto seitas que têm crescido numa só noite como a abobreira de Jonas, e que desapareceram com a mesma    rapidez com que surgiram.
         Posso dizer que isto é especialmente aplicável aos sistemas de infidelidade. Como tem mudado nos últimos    cento    e    cinqüenta anos o poder jactancioso da razão! Tem construído algo, e no    dia seguinte tem alterado sua própria obra, tem demolido seu    próprio castelo, e tem construído outro, e um terceiro noutro dia.
         Bem, antes que um só cabelo de minha cabeça se torne grisalho, o último propugnador do secularismo se terá    ido,    e    antes que muitos de nós completemos cinqüenta anos, uma nova    infidelidade terá aparecido, e a quem pergunta: "como estarão os santos?" podemos perguntar: "onde estarão vocês?", e eles responderão:    "teremos mudado os nossos nomes", Têm mudado os seus nomes, têm vestido uma nova forma de mal, porém sua natureza permanecerá a mesma,    opondo-se a Cristo e esforçando-se para blasfemar    Suas    verdades.
         De todos estes sistemas de religião, ou de irreligião pode-se dizer que se evaporam, e que murcham como a flor,    que    são fugazes como o meteoro, e que são frágeis e irreais como o vapor, porém da religião de Cristo se dirá: "Seu nome será para sempre".
         Quanto ao nome de Jesus que é    para    sempre,    mesmo    quando tentaram apagá-lo, com o martírio dos que levavam este nome, eles testemunharam com o seu próprio sangue sobre a eternidade do nome que lhes garante uma vida eterna depois desta vida, e não se    apegaram portanto ao que é passageiro, por terem neles esta esperança do que é para sempre.ì
         Que seria de nós se perdêssemos o evangelho? Quanto    a    mim não teria nenhum desejo de estar aqui sem o meu Senhor,    e    se    o Evangelho não fosse verdadeiro, eu bendiria a Deus e me aniquilaria neste instantes, pois não me importaria viver se vocês    pudessem destruir o nome de Jesus Cristo. Em que se converteria a    civilização se pudessem eliminar o cristianismo? Onde estaria a esperança da paz perpétua? Onde as escolas dominicais?    Onde    estariam todas suas sociedades? Onde qualquer    coisa    que    melhore    a condição do homem, reforme sua conduta e    moralize    seu    caráter? Onde? 
                     Deixem que eu responda? Onde? Tudo isso desapareceria e não ficaria nenhum rastro disso. E onde homem estaria a tua esperança do céu? Onde o conhecimento da eternidade? Onde estaria    a    ajuda para atravessar o rio da morte? Onde um céu? Onde a bênção    eterna? Tudo isso desapareceria se Seu    nome    não    permanecesse    para sempre. Porém estamos seguros disso, nós o sabemos, e    afirmamos,e declaramos, cremos e sempre o faremos, que: "Será seu nome para sempre".
 
         II. Em segundo lugar, tanto como Sua religião, a    honra    do Seu nome permanecerá para sempre.
         Os perturbadores têm dito que devemos esquecer de honrar    a    Cristo, e que um dia, nenhum    homem    o    reconhecerá.    Agora,    nós afirmamos outra vez com as palavras do meu texto: "Será seu    nome para sempre", dando-lhe a honra devida. Sim, eu lhes direi quanto tempo irá permanecer. Enquanto houver nesta terra um pecador    que tenha sido salvo pela graça Onipotente, o nome de Cristo permanecerá, enquanto houver uma Maria pronta para lavar    Seus    pés    com lágrimas, e secá-los com os cabelos de sua cabeça, enquanto    respirar o maior dos pecadores que se têm lavado na fonte aberta que lava o pecado e a impureza, enquanto existir um cristão que tenha posto sua fé em Jesus, e que tenha encontrado nEle    seu    deleite, seu refúgio, seu albergue, seu escudo, sua canção, e sua alegria, não há nenhum temor de que o nome de Jesus deixe de ser ouvido.
         Porém se todas estas coisas desaparecessem, se nós    cessássemos de cantar em Seu louvor, seria esquecido por acaso o    nome de Jesus Cristo? Não, as pedras cantariam, as    colinas    formariam uma orquestra, as montanhas saltariam como carneiros, e os cervos como ovelhas, acaso não é Ele seu Criador? E se estes lábios e os lábios de todos os mortais ficassem mudos num instante, há    suficientes criaturas além de nós    neste    vasto    universo.    Se    assim ocorresse o sol dirigiria o coro, a lua tocaria sua harpa de prata, e cantaria acompanhando sua melodia; as estrelas dançariam em suas rotas preestabelecidas, as profundidades sem limites do universo seriam o lugar de muitas canções e tudo estaria numa grande exclamação: "Tu és o glorioso Filho de Deus, grandiosa    é    Tua majestade e infinito o Teu poder.".
 
         III. E também permanecerá o poder do Seu nome. Queres saber no que consiste? Deixe-me dizê-lo. Vês aquele ladrão ali na    cruz? Vês os demônios ao pé dela, com suas bocas    abertas,    iludindo-se com o doce pensamento que outra alma lhes dará alimento no inferno. Vês o pássaro da morte batendo suas asas sobre a cabeça desse pobre infeliz; a vingança passa e o sela com o selo de sua propriedade, e no profundo do seu peito está escrito:    "um    pecador condenado", e em sua face há um suor pegajoso, colocado    ali    por sua agonia e pela morte. Contempla o seu coração e verás que está sujo com a crosta de anos de pecado, o limo da lascívia permanece no seu interior, e em densas trevas, seu coração está    totalmente condenado ao inferno.ì
         Agora ele está morrendo. Um pé parece estar no inferno, e o outro o mantém em vida, sendo sustentado por um cravo. Mas há    um poder no olhar de Jesus e o ladrão o percebeu e pediu que Ele    se lembrasse dele quando entrasse no Seu reino. E Jesus    lhe    fez    a grande promessa e resgatou a sua vida. Vês esse ladrão? Onde está o suor pegajoso? Ainda está ali. Mas onde está a horrível    angústia desse homem? Já não está ali. Há um claro sorriso em seus lábios. Os demônios do inferno, onde estão? Já não há    nenhum,    mas há um luminoso serafim presente com suas asas estendidas, e    suas mãos preparadas para arrebatar essa alma, convertida    agora    numa jóia preciosa, e levá-la ao alto, ao palácio do grandioso Rei. 
                        Contempla o seu coração: está branco de    pureza.    Contempla seu peito e já não lerás a palavra "condenado", senão "justificado". Contempla o livro da vida: seu nome está gravado    ali.    Contempla o coração de Jesus: ali, numa das    pedras    preciosas,    Ele carrega o nome desse pobre ladrão. Sim, ainda mais uma    vez    contempla e vês a esse ser brilhante no meio dos glorificados,    mais luminoso do que o sol, e mais claro do que a lua? Esse    é    o    ladrão! Esse é o poder de Jesus; e esse poder permanecerá para sempre. Quem salvou ao ladrão, pode salvar ao último homem que viver sobre a terra, porque há uma fonte que jorra    sangue,    procedente das veias de Emanuel. Os pecadores que se    banham    neste    sangue, perdem todas as manchas de sua culpa. O ladrão agonizante se alegrou ao ver essa fonte em seu dia, e ali eu também, tão vil como
ele, tenho lavado todos os meus pecados. Amado Cordeiro agonizante! Esse precioso sangue nunca perderá seu poder, até que toda    a igreja redimida de Deus seja salva para não mais pecar.
         Seu nome poderoso permanecerá para sempre. E esse não é todo o poder do Seu nome. Permitam-me levá-los a outra cena, e    vocês serão testemunhas de algo um pouco diferente. Ali, nesse leito de morte, jaz um santo, não há nenhuma tristeza em seu    rosto, nem há terror em sua expressão. Sorri frágil porém placidamente, geme, talvez, porém sem dúvida canta. Suspira    por    vezes,    porém
mais freqüentemente prorrompe em exclamações. Coloque-se    ao    seu lado. "Irmão meu, que te leva a contemplar o rosto da    morte    com al gozo?". "Jesus", sussura. Que te leva a estar calmo    e    tranqüilo? "O nome de Jesus.". Saiba que ele esqueceu tudo. Fazem-lhe uma pergunta e não pode respondê-la. Não pode    te    entender,    mas mesmo assim sorri. Sua esposa chega e lhe    pergunta:    "Sabes    meu nome?". Ele responde? "Não!". Seu amigo mais querido lhe pede para recordar a intimidade que haviam tido. "Não te    conheço",    ele diz Mas se lhe sussurras ao ouvido: "Conheces o nome de    Jesus?" Seus olhos emitem glória, seu rosto reflete o céu, e seus    lábios recitam sonetos, e seu coração explode de    eternidade,    pois    ele ouve o nome de Jesus e esse nome permanecerá para sempre.
         Teria centenas de coisas especiais que gostaria de lhes falar, mas minha voz me falta, assim é melhor que me    detenha.    Não requeiram nada mais de mim hoje, vocês estão vendo a    dificuldade com que fala cada palavra. Espero que Deus as aplique em seus corações! Não estou particularmente ansioso em relação a    meu    próprio nome, se irá durar para sempre ou não, que esteja registrado no livro de meu Senhor. Quando perguntaram a George Whitfield    se fundaria uma denominação, disse: Não, nosso irmão Wesley pode fazer como lhe agrade, porém deixem que meu nome desapareça e que o nome de Cristo permaneça para sempre.". Amém a isso! Que meu nome desapareça, porém que o nome de Cristo permaneça para sempre.
         Ficarei contente se me esquecerem quando tiverem partido. A metade destes rostos, não voltarei a ver outra vez, me    atrevo    a dizer; talvez não serão persuadidos jamais a    entrar    dentro    das paredes de uma igreja; talvez considerarão que não    é    suficientemente respeitável assistir a uma reunião batista. Bem, eu não digo que nós sejamos gente respeitável, não afirmamos que    o    sejamos, porém afirmamos sim o seguinte: que amamos nossas Bíblias,    e    se não é respeitável fazer isso, não nos importa não    ser    estimados. Porém nós cremos que sejamos dignos de respeito depois    de    tudo, porque apesar de sermos uma seita diminuta sem reputação comparado com o cristianismo que há no mundo, e bem    menores    do    que    a Igreja Anglicana da Inglaterra, no que se refere a números.    Contudo, isto não é um tema que me preocupe; pois lhes digo do    nome dos batistas: que pereça, porém que o nome    de    Cristo    permaneça para sempre.ì
         Espero com prazer o dia quando não haverá um só batista com vida. E vocês perguntarão: “Por que?”. Pois quando todo mundo reconhecer o batismo por imersão, nós estaremos imersos em todas as denominações, e nossa denominação terá desaparecido. Porque uma vez que chegarmos à preeminência já não seremos mais uma denominação. Um homem pode pertencer à igreja da Inglaterra, aos metodistas, aos independentes, e contudo ser um batista. Assim digo que o nome batista desapareça, porém que o nome de Cristo permaneça para sempre. 
 
         Sim, e devido a meu amor pela Inglaterra, eu não creio que perecerá jamais. Não, Inglaterra!    Tu    nunca    irás perecer pois a bandeira da velha Inglaterra está cravada no mastro pelas orações dos crentes, pelos esforços da Escola Dominical, e pelos seus homens piedosos. Porém, ainda assim digo que deixem que o nome da    Inglaterra    pereça, que se dissolva numa grande irmandade, e que não tenhamos nenhuma Inglaterra, nem nenhuma França, nem    Rússia,    nem Turquia, porém tenhamos uma cristandade; e eu digo de todo coração, desde o profundo de minha alma, que pereçam    as nações e as distinções nacionais, porém que o nome de Cristo permaneça para sempre.
         Talvez somente haja uma coisa na terra que amo mais do que o que acabo de mencionar por último, e    essa    é    a pura doutrina do calvinismo não adulterada. Porém se isso contiver erro, se houver qualquer coisa que    seja    falsa, eu sou o primeiro a dizer, que isso pereça também, e que o nome de Cristo permaneça para sempre. Jesus! Jesus!    Jesus! Que seja coroado Rei de todos! Não me ouvirão dizer nenhuma outra cousa. Estas são minhas últimas palavras no Exeter Hall, no momento. Jesus! Jesus! Jesus! Que seja coroado Rei de todos!
 
         Este texto é uma redução e adaptação do sermão pregado por Spurgeon em maio de 1855, quando teria apenas vinte anos de idade. Muitos anos depois a esposa de Spurgeon se recordava deste sermão, e descreveu do modo seguinte o seu final, quando a voz de Spurgeon quase estava se extinguindo por causa do esgotamento físico:
         "Recordo, com estranha vividez depois de tanto tempo, a noite do domingo em que pregou o texto "Será seu Nome para sempre". Era um tema no qual se regozijava extremamente, seu principal deleite era exaltar seu glorioso Salvador, e naquele discurso parecia estar vertendo sua própria alma e vida em homenagem e adoração diante do Seu    misericordioso Rei. E eu creio que teria deveras morrido na frente de toda aquela gente. No final do sermão fez um    poderoso esforço para recuperar a voz, porém a pronúncia quase lhe faltava, e somente pôde se ouvir com acento entrecortado a patética conclusão: Pereça meu nome, porém seja para sempre o Nome de Cristo! Jesus! Jesus! Jesus! Coroado Senhor de todos. Não me ouvireis dizer nada mais. Estas são minhas últimas palavras no Exeter    Hall    neste    dia. Jesus! Jesus! Jesus! Coroado Senhor de todos! E então desabou, quase desmaiado, na    cadeira    que    estava    atrás    de si.".
 
 
            Apresentamos a seguir um comentário teológico sobre este texto de Spurgeon:
 
 
            "Pois com uma só oferta aperfeiçoou para sempre quantos estão sendo santificados." (Hb 10.14)
 
            "... aos espíritos dos justos aperfeiçoados." (Hb 12.23)
 
            No sermão de Spurgeon, intitulado O Nome Eterno, que lemos ontem, destaca-se a doutrina    da    salvação    pela graça conforme ensinada por Paulo, por Lutero, por Calvino e por todos os reformadores, que é conhecida    por    Calvinismo.
 
            Os nossos dois textos da carta aos Hebreus destacam de modo muito claro e direto que a obra da salvação obtida em Cristo é perfeita, isto é, ela é completa, conforme a promessa de Deus àqueles que tiveram um encontro    pessoal com Cristo e que receberam o dom da fé salvadora que os justifica.
 
            A oferta do corpo de Jesus na cruz, isto é, o Seu sacrifício por nós, é bastante, é    suficiente,    para    nos conceder esta salvação perfeita, que nos apresenta prontos, completos para Deus quanto à salvação de    nossas    almas, conforme pudemos ver exemplificado, ontem, em nossa leitura, na salvação do ladrão que morreu ao lado de Jesus.ì
 
            Diz-se que esta salvação é instantânea e que é perfeita porque todos os dons e graças relativos a ela foram recebidos na conversão em forma embrionária, necessitando apenas serem desenvolvidos, amadurecidos, pelo processo da santificação. Santificação esta que não é instantânea e nem perfeita em nossa caminhada terrena, porque não é um ato isolado, senão um processo. Deste modo o que garante a segurança da salvação não é a perfeição da santificação, porque nunca poderá ser perfeita por causa da natureza terrena que ainda se encontra nos crentes e que se opõe    à    obra do Espírito, e por isso se fala do dever deles de mortificarem-na pelo trabalho do Espírito Santo.ì
 
            Então é a presença destes dons e graças recebidos pelos méritos de Cristo, na conversão, como uma    única    e definitiva oferta de Deus para eles, tal como se deu em relação à própria oferta de Cristo que os salvou, que são    a garantia da entrada do salvo no céu, porque são eles os sinais identificadores do seu novo nascimento, de que foi de fato transformado num filho de Deus, e o lugar da habitação de todos os filhos de Deus, quer    grandes    ou    pequenos, meninos na fé ou não, é o céu.
 
            Nós vemos nas palavras de Hb 10.14 que os que foram aperfeiçoados para sempre quanto à salvação são aqueles nos quais se vê a evidência do trabalho de santificação, porque foi exatamente para este fim que eles foram    salvos. E como eles obtiveram acesso a tudo isto? Não foi por causa da oferta de Jesus como sacrifício em nosso lugar?    E    é exatamente isto que o calvinismo prega quanto à salvação, diferentemente da doutrina perversa do    arminianismo,    que apesar de parecer dar grande honra ao homem no lugar de Deus tornando aquele, e não Deus, o agente ativo da salvação dos pecadores, afirma que está na esfera da responsabilidade e competência do crente garantir a possibilidade da sua salvação porque se não fizer isto, ele poderá perder a salvação que um dia ele havia obtido pela fé em Cristo.
 
            Chamamos isto de doutrina perversa porque traz ansiedade, legalismo, desespero e tantas outras    coisas    que tiram de nós a possibilidade de descansarmos nAquele que executou uma obra perfeita em nosso favor no Calvário. Tirai os nossos fardos dos ombros de Cristo, e torna a colocá-los sobre os nossos próprios ombros fracos    e    incapazes    de garantir um gigantesco empreendimento como este que é o de manter a nossa própria salvação mediante a perfeição    das nossas obras.
 
            Assim, a Bíblia é muito clara em distinguir a justificação e a redenção, da santificação. Porque textos como II Cor 7.1, 13.9, Hb 13.21, Ef 4.12, dentre outros, falam do nosso dever de aperfeiçoarmos a nossa santificação    depois que fomos salvos por Cristo, mas não a nossa justificação, a redenção, a filiação, a adoção, a reconciliação com Deus e até mesmo a regeneração, porque estes são atos perfeitos, completos, e que recebemos gratuitamente pela    simples fé em Cristo. E por isso se diz que "aperfeiçoou para sempre". E no mesmo texto se diz a quem aperfeiçoou: "todos aqueles que estão sendo santificados". Porque há de se ver o início e o prosseguimento do trabalho de santificação do Espírito Santo em todos aqueles que foram genuinamente salvos.
 
            E aqui lembramos das palavras de Paulo em Rom 8.29, 30, onde de propósito e pelo Espírito Santo,    omitiu    a referência ao trabalho da santificação, porque o propósito de Deus nesta passagem era o de revelar    a    perfeição    da salvação pela graça que Ele prometeu e nos tem concedido pela simples fé em Cristo, sem o concurso das nossas    obras de justiça, ainda que estas sejam preciosas e necessárias para vivermos de modo agradável a Deus.

Charles Haddon Spurgeon
Enviado por Silvio Dutra Alves em 14/05/2013
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