Santo, Santo, Santo é o Senhor dos Exércitos – Parte 2
Por John Piper
4. Deus é resplandecente
Quarto, Deus é resplandecente. “Eu vi o Senhor assentado sobre um alto e sublime trono,e as franjas de suas vestes enchiam o templo”. Você já viu fotos de noivas cujos vestidos cobrem os degraus e a plataforma. Que significado teria se a franja cobrisse os espaços entre os corredores e cobrisse os assentos e galeria do coral, todo costurado de um tecido? As vestes de Deus encherem o templo celestial inteiro significa que ele é o Deus de incomparável esplendor. A plenitude do esplendor de Deus se mostra em milhares de formas.
Eis um pequeno exemplo, a Ranger Rick 4 de janeiro tem um artigo sobre espécies de peixe que vivem nas profundezas escuras do mar e têm suas próprias luzes — alguns têm luzes afixadas em seus queixos, outros têm narizes luminescentes, alguns têm faróis sob seus olhos. Há milhares de peixes que possuem iluminação própria e vivem nas profundezas do oceano onde nenhum de nós pode enxergar e se maravilhar. Eles são misteriosos de forma espetacular e belos. Por que eles estão nos oceanos? Por que não uns 12 ou modelos criados com simplicidade para serem eficientes? Porque Deus é pródigo em esplendor. Sua plenitude criativa transborda em excessiva beleza. E se esta é a forma pela qual o mundo deve existir, quanto mais resplendente deve ser o Senhor que imaginou e fez isso!
5. Deus é reverenciado
Quinto, Deus é reverenciado. “Serafins estavam por cima dele; cada um tinha seis asas: com um par cobriam o rosto; com outro cobriam os seus pés; e, com o terceiro, voavam”. Ninguém sabe o que essas estranhas criaturas de seis asas com pés, olhos e inteligência são. Jamais apareceram de novo na Bíblia — pelo menos não sob o nome serafim. Dada a grandeza da cena e o poder dos exércitos angélicos, seria melhor que não pintássemos bebês alados e gorduchinhos batendo suas asas nos ouvidos do Senhor. De acordo com o versículo 4, quando um deles fala, os fundamentos da terra tremem. Seria melhor que imaginássemos os Blue Angels 5 (Anjos Azuis) mergulhando em formação diante da comitiva presidencial e quebrando a barreira do som exatamente diante de sua face. Não há criaturas pequenas ou tolas no céu. Somente criaturas magníficas.
O fato é: nem mesmo elas podem olhar para o Senhor tampouco se sentem dignas até mesmo de deixar os pés expostos na presença de Deus. Grandiosas e boas como são, imaculadas pelo pecado humano, elas reverenciam o Criador delas em grande humildade. Um anjo aterroriza um homem com seu fulgor e poder. Mas os próprios anjos se escondem em santo temor e reverência do esplendor de Deus. Quanto mais nós haveremos de sobressaltar e tremer em sua presença porque não podemos suportar mesmo o esplendor de seus anjos!
6. Deus é santo
Sexto, Deus é santo. “E clamavam uns para os outros, dizendo: Santo, santo, santo é o Senhor dos Exércitos!” Lembre-se de como Ripichip 6, o rato galante no fim da The Voyage of the Dawn Treader (A Viagem do Peregrino da Alvorada) navegou até o fim do mundo em seu pequeno barco de vime? Bem, a palavra “santo” é o pequeno barco no qual alcançamos o fim do mundo no oceano da linguagem. As possibilidades da linguagem de comunicar o sentido de Deus eventualmente escorrem e transbordam na fronteira do mundo para o imenso desconhecido. A “Santidade” nos leva para a fronteira e de lá para a experiência com Deus, além das palavras.
A razão porque digo isso é que todo esforço para definir a santidade de Deus decisivamente acaba por afirmar: Deus é santo significa que Deus é Deus. Permita-me ilustrar. A origem do sentido de santo é, provavelmente, cortar ou separar e separado do uso (diríamos do secular) comum. Coisas terrenas e pessoas são santas quando são distintas do mundo e devotadas a Deus. Desse modo, a Bíblia fala de terra santa (Êxodo 3,5), santa assembleia (Êxodo 12,16), santo sábado (Êxodo 16,23), nação santa Êxodo 19,6), vestes sagradas (Êxodo 28,2), santa cidade (Neemias 11,1), santa palavra (Salmos 105,42), homens santos (2 Pedro 1,21) e mulheres (1 Pedro 3,5), sagradas letras (2 Timóteo 3,15), mãos santas (1 Timóteo 2,8), ósculo santo (Romanos 16,16), fé santíssima (Judas 20). Quase tudo pode se tornar santo se for separado do uso comum e devotado a Deus.
Mas quando essa definição é aplicada ao próprio Deus de que se pode separar a Deus com o intuito de torná-lo santo? A real divindade de Deus significa que ele é separado de tudo que não seja Deus. Há uma diferença infinitamente qualitativa entre o Criador e a criatura. Deus é o único da espécie. É sui generis. É uma classe por si mesmo. Nesse sentido, ele é totalmente santo. Então, você não diz mais que isto: ele é Deus.
Ou se a santidade de um homem se deriva de ser separado do mundo e devotado a Deus, a quem Deus é devotado de modo que derive sua santidade? A ninguém, exceto a si mesmo. É blasfêmia dizer que há uma realidade maior que Deus para a qual ele precisa se conformar a fim de ser santo. Deus é a realidade absoluta para além da qual existe somente mais de Deus. Quando perguntado qual era seu nome em Êxodo 3,14, ele disse: “Eu sou o que sou”. Seu ser e caráter são totalmente indeterminados por qualquer coisa fora dele mesmo. Ele não é santo porque cumpre regras. Ele escreveu as regras! Deus não é santo porque cumpre a lei. A lei é santa porque ela revela Deus. Deus é absoluto. Tudo mais é derivativo.
Então que é sua santidade? Atente para três textos: 1 Samuel 2,2: “Não há santo como o Senhor; porque não há outro além de ti”; Isaías 40,25: “A quem mais me comparareis para que eu lhe seja igual? — diz o Santo”; Oseias 11,9: “Porque eu sou Deus e não homem, o Santo no meio de ti”. Definitivamente, Deus é santo que ele é Deus e não homem (compare Levítico 19,2 e 20,7). Note a estrutura paralela de Isaías 5,16. Ele é incomparável. Sua santidade é sua essência totalmente única e divina. Isso determina tudo o que ele é e faz e não é determinado por ninguém. Sua santidade é a sua essência divina absolutamente única que ninguém mais é ou jamais será. Chame isso de sua majestade, sua divindade, sua grandeza, seu valor como a pérola de grande valor. No fim, a linguagem se esgota. Na palavra “santo”, navegamos até o fim do mundo no mais completo silêncio de reverência, maravilha e admiração. Pode haver ainda mais para se conhecer de Deus, mas isso está além do que se pode exprimir com palavras. “O Senhor, porém, está no seu santo templo; cale-se diante dele toda a terra”. (Habacuc 2,20).
7. Deus é glorioso
Mas diante do silêncio e do abalo dos fundamentos e toda fumaça que encobre, aprendemos o vislumbre final, o sétimo, com respeito a Deus. Ele é glorioso. “Santo, santo, santo é o Senhor dos Exércitos; toda a terra está cheia da sua glória”. A glória de Deus é a manifestação de sua santidade. A santidade de Deus é a perfeição incomparável de sua natureza divina; sua glória é a manifestação dessa santidade. “Deus é glorioso” significa: a santidade de Deus tornou-se pública. Sua glória é uma revelação exposta do segredo de sua santidade. Em Levítico 10,3, Deus proclama: “Mostrarei a minha santidade naqueles que se cheguem a mim e serei glorificado diante de todo o povo”. Quando Deus se revela como santo, o que vemos é a glória. A santidade de Deus é sua glória oculta. A glória de Deus é sua santidade revelada.
Quando o Serafim afirma: “Toda a terra está cheia da sua glória”, é porque das altitudes do céu se pode ver o fim do mundo. Daqui debaixo a visão da glória de Deus é limitada. Mas é amplamente limitada pela nossa insensata preferência pelo supérfluo. Para usar uma parábola de Søren Kierkegaard, somos semelhantes às pessoas que viajam em nossa carruagem à noite para a zona rural com o intuito de ver a glória de Deus. Mas, acima de nós, em ambos os lados dos assentos da carruagem, está acesa uma lanterna a gás. Contanto que nossa cabeça seja rodeada por esta luz artificial, o céu acima da nossa cabeça está vazio de glória. Mas se um vento gracioso do Espírito sopra em nossas luzes terrenas, então em nossa escuridão o céu de Deus está cheio de estrelas.
Um dia Deus irá soprar e expulsar toda glória competitiva e fará sua santidade conhecida em esplendor impressionante para cada humilde criatura. Mas não há necessidade de esperar. Jó, Isaías, Charles Colson e muitos de vocês se humilham para buscar com muito esforço o Deus Santo e tem um desejo cada vez maior por sua majestade. Para vocês e todos os demais que começam a sentir esse desejo, eu ofereço a promessa de Deus que está sempre vivo, a autoridade, o onipotente, o resplandecente, o reverenciado, o santo e glorioso: “Então, invocar-me-eis, passareis a orar a mim, e eu vos ouvirei. Buscar-me-ei e me achareis quando me buscardes de todo o vosso coração” (Jeremias 29,12-13).
Notas:
1 O caso Watergate, um episódio de escuta ilegal na sede do partido democrata por elementos ligados ao governo, abalou a história americana. Esse marco foi fruto do trabalho de dois repórteres do jornal Washington Post, Bob Woodward e Carl Bernstein, que foram além na invasão do Edifício Watergate, em Washington. NT.
2 Charles Wendell “Chuck” Colson ( Boston, 16 de outubro de 1931 — † Fairfax, 21 de abril de 2012) foi escritor, jurista, ativista, político e conselheiro chefe do presidente norte-americano Nixon entre 1969 e 1973. Investigações sobre seu envolvimento no caso Watergate criaram uma grave crise política. Iniciou-se, então, um processo deimpeachment* contra o Presidente Nixon, que acabou renunciando.
Alguns meses mais tarde, Charles Colson foi preso e condenado a três anos de prisão federal depis de confessar seu envolvimento em obstrução de justiça no escândalo Watergate. Nesse intervalo, converteu-se ao cristianismo e mudou radicalmente de vida. Após sete meses de prisão, Colson saiu em condicional e passou a se dedicar à promoção da assistência social e espiritual de presidiários, fundando a organização Prison Fellowship Ministries.
A organização auxilia presidiários e ex-presidiários por meio de programas de capacitação vocacional, educacional e espiritual que facilitem reintrodução na sociedade, diminuindo os índices de reincidência. Também possui programas de apoio aos familiares de presos e às vítimas e famílias afetadas por crimes.
Em 1976, publicou sua autobiografia, Born Again (Nascido de Novo), que vendeu milhões de cópias. Em 1993, Colson conquistou o prêmio Templeton. NT.
3 Charles Colson era designado assim pelo Presidente Richard Nixon.
4 Ranger Rick foi originalmente intitulada revista Ranger Rick da Natureza. É uma revista para crianças e publicada pela National Wildfire Federation. NT.
5 O Esquadrão de Demonstração Aérea da Marinha dos Estados Unidos da América, popularmente conhecido como Blue Angels, foi formado em 24 de abril de 1946 e é o primeiro time do mundo de acrobacia aérea e demonstração militar aérea sancionado. NT.
6 Ripchip (no original em inglês: Reepicheep) é um personagem fictício criado pelo autor irlandês C. S. Lewis para a série de livros As Crônicas de Nárnia, aparecendo nos livros Príncipe Caspian, A Viagem do Peregrino da Alvorada e A Última Batalha. Ele é um rato falante de Nárnia, sempre armado com uma espada e usando uma pluma atrás da orelha. NT.