Legado Puritano
Quando a Piedade Tinha o Poder
Textos
 

por Charles Haddon Spurgeon

 
IV. Permita-me um momento para o quarto tópico, que é a CURA EFETUADA. O texto nos fala “picando alguma serpente a alguém, quando esse olhava para a serpente de metal, vivia” (Nm 21:9), o que é dizer que a pessoa era curada de uma vez. Não tinha que esperar cinco minutos ou cinco segundos.
Querido leitor, você já ouviu isso alguma vez? Se não, eu poderia assustar você, mas é a verdade. Se você viveu no mais profundo pecado possível até esse momento, se agora somente crer em Jesus será salvo antes que o relógio sinalize outra hora. É rápido como um relâmpago! Perdão não é um trabalho de tempo.
Santificação requer uma vida, justificação não passa desse momento. Você crê, você vive! Você confia em Cristo, seus pecados são apagados! Você é um homem salvo no momento que crê! “Oh”, diz alguém, “isso é uma maravilha”. E isso é uma maravilha e será eternamente. Os milagres de nosso Senhor, quando estava na terra, eram instantâneos na maior parte das vezes. Ele os tocava e os que tinham febre podiam levantar-se e ministrar a Ele. Nenhum médico pode curar dessa maneira, pois há uma debilidade resultante dela depois que o calor passa. Jesus opera curas perfeitas e quem crer n’Ele, ainda que tenha crido um minuto, é justificado de todos os seus pecados. Oh, a inigualável Graça de Deus!
Esse remédio salvava uma e outra vez. Muito possivelmente, após um homem ser curado, ele voltava para seu trabalho e era atacado por uma segunda serpente, já que havia muitas delas naquele lugar. O que ele poderia fazer? Olhar outra vez! E se ferido mil vezes, teria que olhar mil vezes.
Você, amado filho de Deus, se você tem pecado em sua consciência, volte-se pra Jesus. O caminho mais saudável de viver onde as serpentes abundam, é nunca tirar seus olhos da serpente de bronze. Ah, vocês, víboras, podem morder se quiserem, enquanto meus olhos estiverem na serpente de bronze, eu desprezo suas presas e seu veneno, pois tenho um remédio que trabalha continuamente em mim! Tentação é vencida pelo sangue de Jesus! “e esta é a vitória que vence o mundo, a nossa fé.” (I Jo 5:4).
Essa cura era de eficácia universal para todos que a usavam. Não havia nenhum caso, em todo o acampamento, em que um homem olhava para a serpente de bronze e morria. E não haverá nenhum caso em que um homem olhe para Jesus e permaneça condenado! Quem crer será salvo. Algumas pessoas tinham que olhar a uma longa distância- a haste podia não estar eqüidistante de todo mundo, mas enquanto pudessem vê-la, isso curaria tanto quem estava longe, como quem estava perto. Tão pouco importava se seus olhos eram defeituosos. Nem todos tinham uma visão perfeita. Alguns poderiam ser estrábicos, outros poderiam ter a visão escurecida ou então apenas um olho: mas se eles somente olhassem, viveriam! Talvez o homem mal pudesse distinguir a forma da serpente quando olhava para ela e dizia: “oh, não posso ver as curvas da serpente, mas posso ver seu brilho”. E ele vivia!
Oh, pobre alma, se não pode ver Cristo e Suas maravilhas, nem toda a riqueza de sua Graça. Porém se pode ver que se tornou pecado por nós, viverá! Se você diz: “Senhor, eu creio. Ajuda-me em minha incredulidade”, sua fé te salvará! Uma ‘pequena’ fé te dará um grande Cristo e você encontrará vida eterna n’Ele.
Dessa forma, procurei descrever a cura. Oh, que o Senhor queira operar essa cura em cada pecador aqui nesse momento. Oro para que Ele o faça! Era um pensamento agradável que se eles olhassem para a serpente de bronze, debaixo de qualquer luz, viveriam. Muitos olhavam à luz do meio dia, viam todos os detalhes e viviam. Porém não me surpreenderia se alguns fossem picados à noite e, sob a luz da lua, se achegassem à serpente, vivessem. Talvez fosse uma noite escura e tempestuosa e nenhuma estrela era visível. A tempestade explodia lá no alto e da escura nuvem se via um relâmpago partindo as rochas. Pelo esplendor dessa súbita luz, a pessoa viu a serpente de bronze, e mesmo tendo-a visto por um segundo, passou a viver. De igual maneira, pecador, se sua alma está envolta na tempestade e se da nuvem se desprende somente um raio de luz, olhe para Jesus com a ajuda desse raio e viva!
 
V. Concluo com essa última parte – aqui há UMA LIÇÃO PARA QUEM AMA A SEU SENHOR. O que devemos fazer? Devemos imitar Moisés, cuja responsabilidade foi erguer uma serpente de bronze sobre uma haste. É seu compromisso e meu também, que levantemos o Evangelho de Cristo para que todos possam vê-lo! Tudo que Moisés teve que fazer foi levantar a serpente à vista de todos. Ele não disse: “Arão, traga seu incensório e também muitos sacerdotes e formem uma nuvem de perfume”. Tão pouco disse: “Eu mesmo irei, com minhas roupas de quem escreveu as leis, e ficarei lá”. Não, Moisés não tinha nada que fosse pomposo ou cerimonial. Ele só tinha que exibir a serpente de bronze, deixando desnuda e à vista de todos. Ele não disse: “Arão, traga uma roupa de ouro, envolva a serpente em azul e carmesim e em linho fino. Um ato assim seria totalmente contrário às ordens. Ele devia manter a serpente descoberta. Seu poder estava em si mesma, não em que a envolvia. O Senhor não mandou pintar a haste ou decorá-la com as cores do arco-íris. Oh, não. Qualquer haste serviria.
As pessoas que estavam à beira da morte, não precisavam ver a haste- necessitavam unicamente contemplar a serpente. Arrisco-me a dizer que ele fez uma haste nítida, pois a obra de Deus deve ser feita decentemente, mas ainda assim, a serpente era o objeto que devia ser olhado.
Isso é o que devemos fazer com nosso Senhor. Temos que pregá-lo, ensiná-lo e fazê-lo visível a todos os olhos! Não devemos escondê-lo em nossas tentativas de mostrar conhecimento e eloqüência. Temos que parar com essa ‘faca de dois gumes’ que é a eloqüência e essas coisas de azul e carmesim na forma de grandiosas sentenças e períodos poéticos. Tudo deve ser feito de maneira que Jesus apareça e nada pode escondê-lo.
Moisés deve ter ido para sua casa dormir quando a serpente foi erguida. O que importava era que a serpente de bronze estivesse visível tanto de dia, como de noite. O pregador deve se esconder, de forma que ninguém saiba quem ele é, quando pregar a Cristo – não se deve ficar no meio do caminho.
Agora vocês professores: ensine Jesus às suas crianças. Mostre a eles Cristo crucificado. Mantenham Cristo adiante deles. Vocês que são jovens e tentam pregar, não façam isso grandiosamente. A verdadeira grandeza da pregação consiste em que Cristo Jesus seja mostrado grandiosamente nela. Nenhuma outra grandeza é necessária! Mantenham o ‘eu’ no chão, e ponham Jesus no meio do povo, evidentemente crucificado entre eles. Ninguém além de Jesus, ninguém além de Jesus! Deixe-o ser a suma e a substância de seu ensinamento.
Alguns de vocês olharam para a serpente de bronze, eu sei, e foram curados. Mas o que você tem feito com ela desde então? Não deram um passo à frente para confessarem a Jesus e nem procuraram uma igreja para se juntarem. Não falaram com ninguém sobre sua alma. Colocam a serpente de bronze em um baú e a escondem. Isso é certo? Tirem-na de lá e a ponham em um lugar alto onde todos a possam ver! Publiquem Cristo e a Salvação! A intenção não é que Ele seja tratado como uma curiosidade no museu. A intenção é que ele seja posto nas calçadas para os que forem mordidos possam olhar para Ele.
“Ah, mas eu não tenho um local apropriado para isso”, alguém diz. O melhor lugar para se colocar Jesus é aquele que todos possam ver de longe. Exalte Jesus! Bendiga Seu nome. Quanto mais você louvar o nome do Senhor, quanto mais alto levantar Seu nome, melhor! Ergam a Cristo!
“Ah, mas eu não tenho um estandarte largo!”, diz um. Então o erga com o que tens, pois há pessoas de baixa estatura que poderiam vê-lo através de você. Creio que já falei a vocês sobre um quadro que vi da serpente de bronze. Quero que os professores da escola dominical escutem isso. O artista representou todo tipo de pessoa se juntando ao redor da haste e quando olhavam as horríveis serpentes se desprendiam e viviam! Havia tamanha multidão perto dela que uma não podia nem se aproximar. Ela carregava um bebezinho, que havia sido picado. Você podia ver as marcas azuis do veneno. Como não podia se aproximar, essa mãe o levantou bem alto e virou sua cabecinha na direção que pudesse olhar a serpente de bronze e viver.
Façam isso com suas crianças, professores da escola dominical! Mesmo eles sendo muito novos ainda, orem para que eles possam ver Jesus e viver, pois não há idade estabelecida para isso. Anciãos mordidos pela serpente venham cambaleando sobre suas muletas. “Tenho 80 anos”, diz um, “mas eu olhei para a serpente de bronze e fui curado!”. Crianças eram trazidas por suas mães, ainda quando não sabiam falar direito, gritavam com sua linguagem infantil: “eu olho para a grande serpente de bronze e ela me abençoa”.
Todos ou níveis, sexos, personalidades e toda disposição olhavam e viviam! Quem vai olhar para Jesus nessa hora maravilhosa? Oh, queridas almas, querem ter vida ou não? Desprezarão Cristo e morrerão? Se for assim, seu sangue está em suas próprias mãos! Eu disse a vocês o Caminho de Deus para salvação! Agarre-se a isso. Olhe para Jesus imediatamente. Que o Espírito te conduza gentilmente a isso.
Amém.
Charles Haddon Spurgeon
Enviado por Silvio Dutra Alves em 19/05/2013
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