Aos Pregadores da Prosperidade – Parte 2
Por John Piper
Por um lado, podemos confiar no Senhor como nosso auxílio. Ele proverá e protegerá. E nesse sentido, há certa medida de prosperidade que Ele nos dará. “Vosso Pai celeste sabe que necessitais de todas elas” (Mateus 6:32). Mas, por outro lado, quando se diz: “Seja a vossa vida sem amor ao dinheiro.
Contentai-vos com as coisas que tendes” pois Deus promete nunca nos deixar, isso deve significar que podemos facilmente nos mover da confiança em Deus para nossas necessidades, para o usar Deus para nossas vontades.
A linha entre “Deus, me ajude” e “Deus, me enriqueça” é real, e o autor de Hebreus não quer que a ultrapassemos. Os pregadores deveriam ajudar seu povo a se lembrar e reconhecer essa linha ao invés de falar como se ela não existisse.Jesus adverte que a Palavra de Deus, o Evangelho, o qual tem por objetivo nos dar vida, pode ser sufocado até a morte pelas riquezas. Ele diz que ele é como uma semente que cresce entre espinhos: “São os que ouviram e, no decorrer dos dias, foram sufocados com... riquezas... da vida; os seus frutos não chegam a amadurecer” (Lucas 8:14).
Os pregadores da prosperidade deveriam advertir seus ouvintes de que há um tipo de prosperidade financeira que pode sufocá-los até a morte. Por que quereríamos encorajar as pessoas a buscar exatamente aquilo que Jesus adverte que pode nos deixar sem frutos?O que há nos cristãos que faz deles o sal da terra e a luz do mundo? Não são as riquezas. O desejo por riquezas e a busca de riquezas têm sabor e aparência do mundo. Desejar ser rico nos torna como o mundo, não diferentes. Justo no ponto onde deveríamos ter um sabor diferente, temos a mesma cobiça maliciosa que o mundo tem. Neste caso, não oferecemos ao mundo nada diferente do que ele já crê. A grande tragédia da pregação da prosperidade é que uma pessoa não tem que ser acordada espiritualmente para abraçá-la; ela precisa apenas ser gananciosa. Ficar rico em nome de Jesus não é o sal da terra ou a luz do mundo. Nisto, o mundo simplesmente vê um reflexo de si mesmo. E se eles são “convertidos” a isso, eles não foram realmente convertidos, mas apenas colocaram um novo nome numa vida velha.
O contexto na fala de Jesus nos mostra o que o sal e a luz são. São a alegre boa vontade de sofrer por Cristo. Eis o que Jesus disse: “Bem-aventurados sois quando, por minha causa, vos injuriarem, e vos perseguirem, e, mentindo, disserem todo mal contra vós. Regozijai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus; pois assim perseguiram aos profetas que viveram antes de vós. Vós sois o sal da terra... Vós sois a luz do mundo.” (Mateus 5:11-14)
O que fará o mundo saborear o sal e ver a luz de Cristo em nós, não é que amemos as riquezas da mesma forma que eles amam. Pelo contrário, será a boa vontade e a habilidade dos cristãos de amar aos outros em durante o sofrimento, a todo tempo exultando porque seu galardão está nos céus com Jesus. “Regozijai-vos e exultai [nas dificuldades]... Vós sois o sal da terra.”
Salgado é o sabor da alegria nas dificuldades. Esta é a vida inusitada que o mundo pode saborear como diferente.
Tal vida é inexplicável em termos humanos. É sobrenatural. Mas atrair pessoas com promessas de prosperidade é simplesmente natural. Não é a mensagem de Jesus. Não é aquilo que ele alcançou com sua morte.O que falta na maioria das pregações da prosperidade é o fato de que o Novo Testamento enfatiza a necessidade de sofrimento muito mais do que o conceito de prosperidade material.
Jesus disse: “Lembrai-vos da palavra que eu vos disse: não é o servo maior do que seu senhor. Se me perseguiram a mim, também perseguirão a vós outros; se guardaram a minha palavra, também guardarão a vossa” (João 15:20). E outra vez disse: “Se chamaram Belzebu ao dono da casa, quanto mais [difamam] aos seus domésticos?” (Mateus 10:25).
Paulo fez lembrar aos novos crentes em suas viagens missionárias que “através de muitas tribulações, nos importa entrar no reino de Deus” (Atos 14:22). E disse aos crentes em Roma que seu sofrimento daqueles era uma parte necessária do caminho para a herança eterna.
“O próprio Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus. Ora, se somos filhos, somos também herdeiros, herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo; se com ele sofremos, também com ele seremos glorificados. Porque para mim tenho por certo que os sofrimentos do tempo presente não podem ser comparados com a glória a ser revelada em nós” (Romanos 8:16-18).
Pedro também disse que o sofrimento é o caminho natural para a bênção eterna de Deus.
“Amados, não estranheis o fogo ardente que surge no meio de vós, destinado a provar-vos, como se alguma coisa extraordinária vos estivesse acontecendo; pelo contrário, alegrai-vos na medida em que sois coparticipantes dos sofrimentos de Cristo, para que também, na revelação de sua glória, vos alegreis exultando. Se, pelo nome de Cristo, sois injuriados, bem-aventurados sois, porque sobre vós repousa o Espírito da glória e de Deus” (1 Pedro 4:12-14).
O sofrimento é o custo natural da piedade. “Ora, todos quantos querem viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos” (2 Timóteo 3:12).
Estou ciente de que estas palavras sobre o sofrimento se revezam entre um sofrimento mais generalizado como parte da queda (Romanos 8:18-25) e um sofrimento específico devido aàs hostilidades humanas. Mas argumentarei mais tarde no capítulo 3 que quando isso se refere ao propósito de Deus, não há diferença substancial.
Os pregadores da prosperidade deveriam incluir em suas mensagens um ensino significativo sobre o que Jesus e os apóstolos disseram a respeito da necessidade do sofrimento. Importa que ele venha, Paulo disse (Atos 14:22), e prestamos um desserviço não contando isso cedo aos jovens discípulos, causamos-lhes um prejuízo. Jesus disse isso mesmo antes mesmo da conversão, para que os prováveis discípulos já contassem com o custo:
“Assim, pois, todo aquele que dentre vós não renuncia a tudo quanto tem não pode ser meu discípulo” (Lucas 14:33).O Novo Testamento não apenas deixa claro que o sofrimento é necessário para os seguidores de Cristo, ele também se empenha em explicar o porquê e quais são os propósitos de Deus nisso. É crucial que os crentes conheçam esses propósitos. Deus os revelou para nos ajudar a entender porque sofremos
e para nos passar como ouro pelo fogo.
Em Regozijem-se as Nações, no capítulo sobre o sofrimento, eu revelo esses propósitos. Aqui eu apenas os enumerarei e direi aos pregadores da prosperidade: Incluam os grandes ensinos bíblicos em suas mensagens.
Recém-convertidos precisam saber por que Deus ordena que eles sofram.
1. Sofrimento aprofunda a fé e a santidade.
2. Sofrimento faz seu cálice crescer.
3. Sofrimento é o preço de encorajar os outros.
4. Sofrimento preenche o que falta nas aflições de Cristo.
5. Sofrimento fortifica o mandamento missionário do “ide”.
6. A supremacia de Cristo é manifesta no sofrimento.