Legado Puritano
Quando a Piedade Tinha o Poder
Textos
 

O Exemplo dos Puritanos Ingleses – Parte 3

"O princípio importante é que os Puritanos trabalharam de dentro para fora, ou seja, da Igreja para fora, para o mundo."
Sermões foram pregados em temas como o cuidado universal quanto aos detalhes no trabalho o que incluía a necessidade de ser probo, digno de confiança e honesto; cumprindo os contratos ou acordos. Os Puritanos eram rígidos em opor-se à corrupção e ao nepotismo na vida dos negócios. Eles não hesitaram em pregar em textos do tipo: “Balança enganosa é abominação para o SENHOR, mas o peso justo é o seu prazer.’ (Prov 11:1).
Quase todos os Puritanos pregaram sermões sequenciais e expositivos cobrindo, desta forma, todos os assuntos contidos na Bíblia. Mas eles estavam preparados para romper com esse método sempre que fosse necessário. Durante a guerra civil na década de 1640 uma cidade foi invadida por soldados leais ao rei. Estes soldados se comportaram muito mal. Parte do seu mau comportamento estava em jurar e praguejar. O ministro daquela cidade era um Puritano chamado Robert Harris. Ele pregou um sermão em Tiago 5:12: Acima de tudo, porém, meus irmãos, não jureis nem pelo céu, nem pela terra, nem por qualquer outro voto; antes, seja o vosso sim sim, e o vosso não não, para não cairdes em juízo. Isso foi tão efetivo e tão condenatório para aqueles rudes soldados que eles ameaçaram atirar em Harris se ele pregasse novamente naquele texto. Destemidamente, no domingo seguinte ele anunciou como seu texto Tiago 5:12 e começou a expor! Ele chegou a ver um dos soldados preparar sua arma para atirar. Mas o soldado foi contido e não teve coragem de atirar no pastor. A convicção em seguir a ética bíblica em todos os assuntos custou caro aos Puritanos. Na adoração a Deus eles não estavam preparados para ceder, submetendo-se a regras feitas por homens ou criadas através da tradição.
O mesmo era verdade quanto à vida nos negócios ou no comércio. A ética Puritana do trabalho tornou-se famosa. É chamada de ética protestante do trabalho. Ela significa que o trabalhador sempre dá honestamente o seu melhor serviço. Ele nunca rouba tempo ou bens do seu empregador. Por outro lado o empregador Cristão deve ser justo com seus empregados e tratá-los bem (Tiago 5:1-6).
O cuidado escrupuloso quanto a detalhes está refletido no documento Puritano conhecido como Catecismo Maior de Westminster.
Qual é o oitavo mandamento? Resposta: O oitavo mandamento é: “Não furtarás.’
Quais são os deveres exigidos no oitavo mandamento? Resposta: Os deveres exigidos no oitavo mandamento são: a verdade, a fidelidade e a justiça nos contratos e no comércio entre os homens, dando a cada um o que lhe é devido, a restituição de bens ilicitamente tirados de seus legítimos donos; a doação e a concessão de empréstimo, livremente, conforme as nossas forças e as necessidades de outrem; a moderação de nossos juízos, vontades e afetos, em relação às riquezas deste mundo; o cuidado e empenho providentes em adquirir, guardar, usar e distribuir aquelas coisas que são necessárias e convenientes para o sustento de nossa natureza, e que condizem com a nossa condição; o meio lícito de vida e a diligência no mesmo; a frugalidade; o impedimento de demandas forenses desnecessárias e fianças, ou outros compromissos semelhantes; e o esforço por todos os modos justos e lícitos para adquirir, preservar e adiantar a riqueza e o estado exterior, tanto de outros como o nosso próprio.
Os Puritanos sobressaíram-se na pregação de um modo prático e muitos dos seus sermões refletem claramente esta preocupação em ser prático. Aqui estão alguns exemplos de títulos de sermões extraídos dos famosos sermões de Cripplegate que foram pregados em Londres e recentemente republicados em seis grandes volumes:
Que luz deve brilhar em nosso trabalho? (Richard Baxter) 


Como devem ser encorajadas e apoiadas as mulheres que deram à luz? (Richard Adams) 
Como devemos perguntar por notícias não como atenienses, mas como cristãos? (Henry Hurst)

A esperança Puritana e o futuro

Em relação à segunda petição da Oração que o Senhor nos ensinou, Venha o Teu Reino, o Catecismo de Westminster sugere que deveríamos orar para que o reino do pecado e de Satanás seja destruído, o evangelho seja propagado por todo o mundo, os Judeus sejam chamados, a plenitude dos Gentios seja trazida, a Igreja seja plenamente equipada com todos os ministros do evangelho e as ordenanças, purificada da corrupção e aprovada e mantida pelos magistrados civis.
Os Puritanos acreditavam no reino de Cristo no presente. Eles ensinaram que não devemos ser desencorajados pelas trevas que prevalecem. Nós sempre podemos esperar a oposição feroz e o ódio de Satanás. No entanto, devemos sempre observar a soberania de Deus. Devemos lembrar a promessa de que Cristo reinará até que todos Seus inimigos se tornem estrado dos seus pés. Quando o Seu plano de evangelização mundial estiver completo ele virá e conquistará o último inimigo que é a morte (Sal 110:1; 1 Cor 15:25). Os Puritanos sustentavam que nós estamos nos últimos dias, isto é, a última e definitiva dispensação. É durante esse tempo que o monte da casa do SENHOR será estabelecido como principal entre os montes (Isa 2:2). É por esse tempo que a pedra citada por Daniel na interpretação do sonho de Nabucodonosor tornar-se-á uma montanha enorme e encherá a terra inteira (Dan 2:35 e 44). De acordo com os Puritanos esse é o tempo em que teremos que interceder para que as nações se tornem a herança de Cristo e os confins da terra venham a ser sua possessão (Sal 2:8). A Confissão Puritana de Westminster não é pré-milenista em seu ensino.
"A Confissão Puritana de Westminster não é pré-milenista em seu ensino."
A visão Puritana dá lugar à esperança quando declara que nós devemos cumprir a grande comissão de ensinar todas as nações. Como Iain Murray mostra em seu livro A Esperança Puritana (The Puritan Hope), a escatologia dos Puritanos ingleses está no coração do grande movimento missionário mundial do século XIX. Esta visão positiva do futuro conhecida como escatologia da vitória tem tremendas implicações porque inspira visão. Motiva o esforço e o empreendimento. Se nós acreditarmos que o mal superará tudo, estaremos sujeitos ao temor e ao desespero. Assim não estaremos inclinados a nos esforçar muito. Já se o Evangelho for destinado a prevalecer em todas as nações então seremos inspirados a tentar grandes coisas para Deus. Buscaremos ganhar as nações para Cristo. E ganhar as nações para Cristo significa dizer que os corações de homens e mulheres serão renovados e trazidos à obediência ao Evangelho. O reino de Deus está dentro de nós. É daquela posição de estar “em Cristo’ que nós aplicamos os ensinos da Bíblia a todas as esferas da vida como Calvino e os Puritanos ingleses procuraram fazer.
Com respeito à cultura nós temos um mandato para desenvolver todas as esferas e trazer todas as áreas da vida humana sob as ordens e o domínio do Príncipe da Paz (Sal 8). Devemos orar sempre para que a Sua justiça prevaleça. Devemos orar a oração do Salmo 72. Precisamos declarar que o Príncipe da Paz prevalecerá. Nossa expectativa é de que ele defenda os aflitos dentre as pessoas e que salve os filhos dos necessitados. Precisamos orar para que a terra inteira seja cheia da Sua glória assim como as águas cobrem o mar (Sal 72). Os Puritanos creram nessas perspectivas como tendo cumprimento certo. O futuro era tão glorioso quanto as promessas de Deus. Essas promessas têm um efeito radical em nossas vidas de oração. Que todos nós sejamos incitados a não dar nenhum descanso ao SENHOR até que ele estabeleça a Sua Igreja e faça dela um objeto de louvor na terra (Isa 62:6,7).
 
Errol Hulse
Enviado por Silvio Dutra Alves em 22/05/2013
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