Fé muito simples – Parte 2
Por Charles Haddon Spurgeon
A mudança que há no coração quando o entendimento agarra o evangelho é normalmente refletida na face, e lá brilha como a luz do céu. Tal alma recentemente iluminada geralmente clama, “Porque, Senhor, é tão claro; como nunca havia percebido antes? Agora eu entendo tudo que leio na Bíblia, mas não podia fazê-lo antes. Tudo aconteceu em um minuto, e agora eu vejo aquilo que eu nunca entendia antes”. O fato é que a verdade era sempre clara, mas eles estavam procurando por sinais e sabedoria, e com isso não viam o que estava junto a eles.
O velho homem frequentemente procura seus espetáculos quando eles estão na sua testa; e observa-se comumente que falhamos de ver o que está logo diante de nós. Cristo Jesus está diante de nossos rostos, e precisamos apenas olhar para Ele, e viver; mas nós causamos toda sorte de embaraço disso, e criamos um labirinto daquilo que é simples e fácil de entender.
O pequeno incidente com as duas irmãs me lembra de outro. Uma amiga muito querida veio a mim no sábado de manhã depois do culto, para me cumprimentar, “por causa”, disse ela, “eu completei cinquenta anos no mesmo dia que você. Eu me pareço com você nisto; mas eu sou o oposto de você nas coisas excelentes”. Eu coloquei, “Então você deve ser uma ótima mulher; pois em muitas coisas eu desejo ser o oposto do que eu sou”. “Não, não”, disse ela, “não quis dizer nada disso: eu não estou totalmente endireitada”. “O quê!”, eu gritei, “você não é uma crente em Jesus?” “Bem”, ela disse, com muita emoção, “Eu, eu vou tentar ser”. Eu segurei suas mãos, e disse, “minha querida alma, não me diga que você vai tentar crer no meu Senhor Jesus! Eu não aguento ouvir isto de você. Significa ceticismo cego. O que Ele fez que lhe permite falar dEle desse jeito? Você me diria que tentaria acreditar em mim? Eu sei que você não me trataria de forma tão rude. Você me crê um homem confiável, e com isso você crê em mim de uma vez; e certamente, você não poderia fazer menos com meu Senhor Jesus?” Então com lágrimas ela exclamou, “Oh, senhor, ore por mim!” A isto respondi, “Não creio poder fazer nada disso. O que poderia pedir ao Senhor Jesus que fizesse por alguém que não confiaria nEle? Eu não vejo motivo de oração. Se você crer nEle, você será salva; se você não crer nEle, não posso pedir a Ele que invente uma nova forma pra agradar sua incredulidade”. Então ela disse de novo, “Eu tentarei crer”; mas eu lhe disse seriamente que não aceitaria nenhuma de suas tentativas; pois a mensagem do Senhor não menciona “tente”, mas disse, “Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo”.
Eu coloquei para ela a grande verdade, que “aquele que Nele crê terá a vida eterna”; e seu terrível oposto – “Aquele que não crê no Filho já está condenado, porque não creu no nome do único Filho de Deus”. Eu insisti com ela que depositasse toda sua fé naquele que fora crucificado, mas agora elevado Senhor, e o Espírito Santo ali e naquela hora a habilitou a crer. Ela muito ternamente disse, “Oh, senhor, eu estava buscando meus sentimentos, e isso foi um erro! Agora em confio minha alma a Jesus, e estou salva”. Ela achou paz imediata pela fé. Não há outro caminho.
Deus se agradou de fazer as necessidades da vida assuntos muito simples. Temos de comer; e mesmo um homem cego consegue achar sua própria boca. Temos de beber; e mesmo o menor bebê sabe como fazê-lo sem instrução.
Temos uma fonte no centro do Orfanato Stockwell, e quando estão correndo no tempo quente, os meninos vão lá naturalmente. Não temos aulas de “beber na fonte”. Muitos garotos pobres vieram ao orfanato, mas nenhum era tão ignorante a ponto de não saber beber. Agora a fé é, nas questões espirituais, o que comer e beber são entre as coisas temporais. Pela boca da fé recebemos as bênçãos da graça na nossa natureza espiritual, e elas são nossas.
Oh você que precisa crer, mas pensa que não pode, você não vê que, assim como alguém pode beber sem ter forças, e como alguém pode comer sem ter forças, e recebe forças para comer, assim devemos receber a Jesus sem esforço, e ao recebê-lo recebemos poder para todo o esforço posterior a que formos chamados?
Fé é um assunto tão simples que, toda vez que eu tento explicar, eu fico temeroso que talvez não consiga revelar sua simplicidade. Quando Thomas Scott publicou suas notas sobre “O Progresso do Peregrino”, ele perguntou a uma das suas paroquianas o que ela entendia do livro. “Ah sim, senhor”, disse ela, “Eu entendo o Sr. Bunyan muito bem, e eu espero que um dia, pela graça divina, eu possa entender suas explicações”.
Não deveria eu me sentir morto se meu leitor soubesse o que é fé, e então ficar confuso pela minha explicação? Eu vou tentar, no entanto, e orar ao Senhor que a torne clara.
Contaram-me que numa estrada de um monte havia uma disputa dos direitos sobre um caminho. O dono queria preservar sua supremacia, e ao mesmo tempo não queria ser inconveniente ao público: daí a solução que provocou o incidente a seguir. Vendo uma doce jovem do campo parada no portão, um turista foi até ela, e ofereceu a ela uma moeda para que lhe fosse permitido passar. “Não, não”, disse a menina, “eu não estou aqui para receber nada de você, mas você deve dizer, por favor, me deixe passar‟, e então você entrará e será bem-vindo”. A permissão era para ser pedida; e poderia ser obtida pelo pedir. Igualmente, a via eterna é gratuita; e pode ser recebida, sim, pode ser imediatamente recebida, ao confiar na palavra Daquele que não pode mentir. Confie em Cristo, e por essa confiança você agarra a salvação e a vida eterna. Não filosofe. Não sente, e incomode o seu pobre cérebro. Apenas creia em Jesus como você creria em seu pai. Confie Nele assim como você confia seu dinheiro a um banqueiro, ou a sua saúde a um médico.
A fé não lhe parecerá mais uma dificuldade para você; nem deve ser, pois é simples.
Fé é confiança, confiar totalmente na pessoa, trabalho, mérito, e poder do Filho de Deus. Alguns pensam que este confiar é uma coisa romântica, mas de fato é a coisa mais simples que pode haver. Para alguns de nós, verdades que antes eram difíceis de crer agora são fatos que acharíamos difícil duvidar. Se algum de nossos grandes antepassados se levantasse dos mortos, e visse as coisas como são hoje, quanta confiança ele teria que exercer! Ele diria pela manhã, “Onde estão a pedra e o aço? Eu quero fazer luz”, e lhe daríamos uma pequena caixa com pequenos pedaços de madeira dentro, e lhe diríamos para raspar uma delas no lado da caixa. Ele teria de confiar muito antes de acreditar que assim o fogo poderia ser produzido. A seguir diríamos a ele, “Agora que você tem fogo, gire aquela torneira, e acenda o gás”. Ele não vê nada. Como poderia existir luz através de um vapor invisível? E ainda assim isso acontece. “Venha conosco, vovô. Sente naquela cadeira. Olhe para aquela caixa diante de você. Você terá assim uma reprodução de si mesmo”. “Não, criança”, ele diria, “isso é ridículo. O sol fazer uma figura minha? Eu não posso crer nisso”. “Sim, e você irá andar a cinquenta milhas por hora em cavalos” Ele não o creria até que o colocássemos em um trem. “Meu caro senhor, você pode falar com seu filho em Nova Iorque, e ele lhe responderá em poucos minutos”. Não assustaríamos o velho cavalheiro? Isso não lhe exigiria toda a sua fé? Ainda assim essas coisas são cridas por nós sem esforço algum, pois a experiência nos fez familiarizados com elas. Fé é necessária em grande quantidade a vocês que são estranhos às coisas espirituais; vocês se sentem perdidos quando falamos sobre elas. Mas oh, quão simples são a nós que temos a vida nova, e temos comunhão com as realidades espirituais!
Nós temos nosso Pai com quem falamos, e Ele nos ouve, e um bendito Salvador que ouve os desejos do nosso coração, e nos ajuda nas lutas contra o pecado. Está tudo claro ao que entende. Que seja agora claro para você!