Legado Puritano
Quando a Piedade Tinha o Poder
Textos
A Inclinação da Carne é Inimizade Contra Deus – Parte 8
Por Charles Haddon Spurgeon (adaptado)

IV. Mas há uma ou duas doutrinas que procuraremos deduzir de tudo isto. Está a mente posta na carne “inimizada com Deus”? Então a salvação não pode ser por méritos; tem que ser por graça. Se estamos inimizados com Deus, que méritos poderíamos ter? Como podemos merecer algo do Ser que odiamos? Ainda que fôssemos puros como Adão, não poderíamos ter nenhum mérito; pois não creio que Adão tivesse algum merecimento diante de seu Criador. Quando tinha guardado toda a lei de seu Senhor, não era senão um servo inútil; não tinha feito mais do que tinha que fazer; não tinha um saldo a seu favor, não havia um excedente. Mas como nos tornamos inimigos, quanto menos podemos esperar ser salvos por obras! Oh, não; a Bíblia inteira nos diz, do principio ao fim, que a salvação não é pelas obras da lei, e sim pelos atos da graça.
  
Martinho Lutero declarava que ele pregava constantemente a justificação pela fé unicamente, “porque”, dizia, as pessoas tendem a se esquecer; de tal forma que me via obrigado a quase golpear suas cabeças com minha Bíblia, para que gravassem a mensagem em seus corações.” E é verdade que constantemente esquecemos que a salvação é somente pela graça. Sempre estamos tentando introduzir uma pequena partícula de nossa própria virtude; queremos cooperar com algo. Recordo um velho ditado do velho Matthew Wilkes: “Salvos por suas obras! É como se tentassem chegar a América em um barquinho de papel!” Salvos por suas obras! Isso é impossível! Oh, não; o pobre legalista é como um cavalo cego que dá voltas e voltas no moinho; ou como o prisioneiro que sobe os degraus da roda de moinho, e descobre que não subiu nada depois de todo o esforço que fez, não tem uma confiança sólida, não tem uma base firme onde possa apoiar-se. Não fez o suficiente: “nunca o suficiente”. A consciência sempre diz: “isto não é a perfeição; deveria ter sido melhor”. A salvação para os inimigos deve ser alcançada mediante um embaixador, por uma expiação, sim, por Cristo.
  
Outra doutrina que extraímos disto é: a necessidade de uma mudança completa de nossa natureza. É certo que desde que nascemos estamos inimizados com Deus. Quão necessário é, então, que nossa natureza tenha uma mudança! Há poucas pessoas que sinceramente crêem nisto. Eles pensam que se clamam: “Senhor, tem misericórdia de mim”, quando estão agonizando, irão ao céu diretamente. Permitam-me supor um caso impossível por um momento. Imaginemos um homem que está entrando no céu sem uma mudança em seu coração. Ele se aproxima das portas. Escuta um soneto. Ele se sobressalta! É um hino de louvor para o seu inimigo. Vê um trono, e nele está assentado Um que é glorioso; mas é seu inimigo. Caminha por ruas de ouro, mas essas ruas pertencem a seu inimigo. Vê hostes de anjos, mas essas hostes são os servos de seu inimigo. Ele se encontra na casa de um inimigo; pois ele está inimizado com Deus. Não pode unir-se aos cantos, pois desconhece a melodia. Ficaria ali parado, silencioso, imóvel, até que Cristo dissesse com uma voz mais potente que dez mil trovões: “Que fazes tu aqui? Inimigos no banquete das bodas? Inimigos na casa dos filhos? Inimigos no céu? Vá embora! Aparta-te, maldito, para o fogo eterno do inferno”!
Oh!, senhores, se os não regenerados pudessem entrar no céu. Trago uma vez mais à memória, o tão repetido ditado de Whitefield: seria tão infeliz no céu, que pediria a Deus que me permitisse precipitar-me ao inferno para buscar abrigo lá.
Deve haver uma mudança, se pensamos no estado futuro, pois, como poderiam os inimigos de Deus sentar-se no banquete das bodas do Cordeiro?
E para concluir, me permitam recordar-lhes (e depois de tudo está no texto), que esta mudança deve ser feita por um poder superior ao de vocês. Um inimigo pode possivelmente converter-se em amigo; mas não a inimizade. Se ser um inimigo fosse uma adição à sua natureza, ele poderia tornar-se um amigo; mas se é a essência mesma de sua existência ser inimizade, positiva inimizade, a inimizade não se pode mudar a si mesma. Não, devemos fazer algo mais do que podemos alcançar. Isto é precisamente o que se esquece nestes dias. Necessitamos mais pregação com a unção do Espírito Santo, se queremos ter mais obra de conversão. Eu digo a vocês, amigos, que se vocês operam a mudança em vocês mesmos, e se tornam melhores, e melhores, e melhores, mil vezes melhores, nunca serão o suficientemente bons para o céu. Enquanto o Espírito de Deus não haja posto Sua mão em vocês; enquanto não haja regenerado o coração, enquanto não haja purificado a alma, enquanto não haja mudado o espírito inteiro e não haja feito do homem uma nova criatura,
não poderão entrar no céu. Quão seriamente, então, deveriam fazer uma pausa e meditar. Eis-me aqui, uma criatura de um dia, um mortal nascido para morrer, contudo um ser imortal! Neste momento estou inimizado com Deus. Que farei? Acaso não é meu dever, assim como minha felicidade, perguntar se há uma maneira de ser reconciliado com Deus?
Oh!, esgotados escravos do pecado, acaso não são seus caminhos, sendas de insensatez? Acaso é sabedoria, oh meus amigos, é sabedoria odiar a seu Criador? É sábio estar em oposição a Ele? É prudente desprezar as riquezas da Sua graça? Se for sabedoria, é a sabedoria do inferno; se é sabedoria, é uma sabedoria que é insensatez para com Deus. Oh, que Deus nos conceda que possam voltar-se para Jesus com pleno propósito de coração! Ele é o embaixador; Ele é o único que pode estabelecer a paz por meio de Seu sangue; e ainda que vieram aqui como inimigos, é possível que atravessem essa porta como amigos, se não fazem senão olhar a Jesus Cristo, a serpente de bronze que foi alçada.
E agora, pode ser que alguns de vocês tenham sido convencidos do pecado, pelo Espírito Santo. Eu agora vou proclamar o caminho da salvação. “E como Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do Homem seja levantado, para que todo aquele que nele crê, não pereça, mas tenha vida eterna.” Contempla, oh temeroso penitente, o instrumento de tua libertação. Volta teus olhos cheios de lágrimas para aquele Monte do Calvário! Olha a vítima da justiça, o sacrifício de expiação por tua transgressão. Olha para o Salvador em Suas agonias, comprando tua alma com torrentes de Seu sangue, e suportando teu castigo em meio às agonias mais intensas. Ele morreu por ti, se confessas tuas culpas agora. Oh, vem tu, homem condenado, auto condenado, e volta teus olhos a este caminho, pois um só olhar salvará. Pecador, tu foste mordido. Olha! Não necessitas nenhuma outra coisa senão “olhar!” É simplesmente “olhar!” Basta que olhes a Jesus e serás salvo. Ouves a voz do Redentor: “Olhem para mim e sejam salvos.” Olhem! Olhem! Olhem! Oh almas culpadas
  
  
“Confia nEle, confia plenamente,
Não permitas que outra confiança se intrometa;
Ninguém senão Jesus
Pode fazer bem ao pecador desvalido.”
  
  
Que meu bendito Senhor lhes ajude a vir a Ele, e lhes atraia a Seu Filho, por Jesus Cristo nosso Senhor. Amém e Amém.
Charles Haddon Spurgeon
Enviado por Silvio Dutra Alves em 24/05/2013
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