A Inclinação da Carne é Inimizade Contra Deus – Parte 7
Por Charles Haddon Spurgeon (adaptado)
III. Eu disse que procuraria, em terceiro lugar, mostrar a grande enormidade desta culpa. Temo, meus irmãos, que seguidamente quando consideramos nosso estado, não pensamos tanto na culpa como pensamos na miséria. Algumas vezes tenho lido sermões sobre a inclinação do pecador ao mal, o que tem sido demonstrado com muito poder, e certamente o orgulho da natureza humana tem sido muito humilhado e abatido; mas me parece que há algo que deixamos fora, e que terá como resultado uma grande omissão, ou seja: a doutrina que o homem é culpado em todas estas coisas. Se seu coração está contra Deus, devemos dizer que o pecado é seu; e se não pode arrepender-se, devemos lhe mostrar que o pecado é a única causa da sua incapacidade para fazê-lo, (que toda sua separação de Deus é pecado), que o se manter afastado de Deus é pecado.
Temo que muitos dos que aqui estamos devemos reconhecer que não acusamos nossas próprias consciências desse pecado. Sim, dizemos, estamos cheios de corrupção. Oh, sim! Mas ficamos muito tranquilos.
Meus irmãos, não deveríamos fazer isto. Termos essas corrupções é nosso crime, que deve ser confessado como um mal enorme; e se eu, como um ministro do Evangelho, não enfatizasse o pecado envolvido nele, não teria encontrado seu próprio vírus. Teria deixado de fora a verdadeira essência, se não mostrasse que é um crime.
Agora, “a inclinação da carne é inimiga de Deus”. Quão grave é esse pecado! Isto se manifestará de duas formas. Considerem nosso relacionamento com Deus, e logo lembrem o que Deus é; e depois que eu houver falado destas duas coisas, vocês verão, espero, que é um pecado estar inimizados com Deus.
Que é Deus para nós? É o Criador dos céus e da terra; Ele sustenta os pilares do universo. Ele com Seu hálito, perfuma as flores. Com Seu lápis colore. Ele é o autor desta linda criação. “Somos ovelhas do seu pasto; Ele nos fez, e não nós a nós mesmos”. A relação que tem conosco é de Construtor e Criador; e por esse fato reclama ser nosso Rei. Ele é nosso Legislador, o autor da lei; e logo, para que nosso crime seja pior e mais grave, Ele governa a providência; pois é Ele quem nos guarda dia a dia. Ele supre nossas necessidades; Ele mantém o ar que nosso nariz respira. Ele ordena ao sangue que mantenha seu curso por todas nossas veias; Ele nos mantém com vida, e nos previne da morte; Ele está diante de nós como nosso Criador, nosso Rei, nosso Sustento, nosso Benfeitor; e eu pergunto: por acaso não é um crime de enorme magnitude, não é alta traição contra o imperador do céu, não é um pecado horrível, cuja profundidade não podemos medir com a sonda de todo nosso juízo, que nós, Suas criaturas, que dependemos dEle, estejamos inimizados com Ele?
Mas nós podemos ver que o crime é mais grave quando pensamos no que Deus é. Me permitam apelar pessoalmente a vocês em um estilo de interrogatório, pois isto tem muito peso. Pecador! Por que estás inimizado com Deus? Deus é o Deus de amor. Ele é amável com Suas criaturas. Ele te olha com Seu amor de benevolência, pois este mesmo dia Seu sol brilhou sobre ti, hoje tiveste alimento e roupas, e chegaste a esta capela com saúde e vigor. Odeias a Deus porque te ama? Essa é a razão? Considerem quantas misericórdias recebeste de Suas mãos durante tua vida! Não nasceste com um corpo disforme; tiveste uma tolerável medida de saúde; te recuperaste muitas vezes de doenças. Quando estavas no limiar da morte, Seu braço deteve tua alma do último passo de destruição. Odeias a Deus por tudo isto? O odeias porque salvou tua vida por Sua terna misericórdia? Contempla toda Sua bondade que estendeu diante de ti! Poderia ter te enviado ao inferno; mas estás aqui. Agora, odeias a Deus porque te conservou?
Oh, por que razão estás inimizado com Ele? Meu amigo, acaso não sabes que Deus enviou a Seu Filho procedente de Seu peito, e O pendurou na cruz, e ali permitiu que morresse pelos pecadores, o justo pelos injustos? E, odeias a Deus por isso? Oh, pecador, acaso é esta a causa de tua inimizade? Estás tão longe que agradeces com inimizade o amor? E quando te rodeou de favores, quando te cingiu com bênçãos, quando te cumulou de misericórdias, acaso O odeias por isso? Ele poderia dizer-te o mesmo que disse Jesus aos judeus: “Tenho-vos mostrado muitas obras boas procedentes de meu Pai; por qual destas obras me apedrejais?” Por quais destas obras odeiam a Deus? Se algum benfeitor terreno houvesse te alimentado, o odiarias? Se te houvesse vestido, o ultrajarias em sua face?
Se te houvesse dado talentos, tornarias contra ele estes poderes? Oh, fala! Forjarias o ferro de uma adaga e a cravarias no coração de teu melhor amigo? Odeias a tua mãe que te criou em seus joelhos? Acaso maldizes a teu pai que sabiamente velou por ti? Não, respondes, sentimos uma pequena gratidão por nossos parentes terrenos. Onde estão seus corações, então? Onde estão seus corações, que ainda podem depreciar a Deus, e estar inimizados com Ele? Oh, crime diabólico! Oh, atrocidade satânica! Oh, iniquidade indescritível! Odiar a Quem é todo amável, aborrecer ao que mostra misericórdia constante, desdenhar do que bendiz eternamente, escarnecer do bom, do cheio de graça; sobretudo, odiar a Deus que enviou a Seu Filho para que morresse pelo homem! Ah!, este pensamento: “A mente posta na carne é inimiga de Deus,” há algo que nos sacode; pois é um terrível pecado estar inimizados com Deus. Quisera poder falar com maior poder, mas somente meu Senhor pode fazê-los ver o enorme mal deste horrível estado do coração.
Charles Haddon Spurgeon
Enviado por Silvio Dutra Alves em 24/05/2013