Legado Puritano
Quando a Piedade Tinha o Poder
Textos
A Inclinação da Carne é Inimizade Contra Deus – Parte 3
Por Charles Haddon Spurgeon (adaptado)

Quero lhes fazer ver os erros dos pagãos; quero falar-lhes das superstições de seus sacerdotes que submeteram as almas à superstição; quero que sejam testemunhas das horríveis obscenidades, dos ritos diabólicos que constituem as coisas mais sagradas para estes ofuscados indivíduos. Então, depois de terem ouvido o que constitui a religião natural do homem, eu pediria a vocês que me explicassem o que seria sua irreligião. Se esta é sua devoção, qual seria sua impiedade? Se este é seu ardente amor pela Deidade, qual seria seu ódio à mesma? Estou certo que vocês de imediato confessariam, se soubessem o que é na natureza humana, que a denúncia está sustentada e que o mundo deve exclamar sem reservas, sinceramente: “culpado”.
  
Posso encontrar um argumento adicional no fato de que as melhores pessoas têm sido sempre as mais dispostas a confessar sua depravação. Os homens mais santos, os que estão mais livres de impurezas, sempre sentiram com mais intensidade a sua depravação. O que tem suas vestes mais brancas, perceberá melhor as manchas que cairam nelas. O que possui a coroa mais reluzente, saberá quando perdeu uma pedra preciosa. O que dá mais luz ao mundo, sempre será capaz de descobrir sua própria escuridão. Os anjos do céu cobrem seus rostos; e os anjos de Deus na terra, Seu povo escolhido, sempre devem cobrir seus rostos com a humildade, quando se lembram do que foram.
Escutem a Davi: ele não era desses que se vangloriam de uma natureza santa e de uma disposição pura. Ele diz: “Eis que em iniqüidade fui formado, e em pecado me concebeu minha mãe.”
  
Muitos desses santos homens escreveram aqui, neste volume inspirado, e encontraremos a todos confessando que não eram limpos, não, nem um sequer; e um deles exclamou: “Miserável homem que eu sou! Quem me livrará do corpo dessa morte?”
  
Além disso, chamarei a outra testemunha para que testifique a veracidade deste fato, e que decidirá a questão: será sua própria consciência. Consciência, te colocarei no banco das testemunhas para interrogar-te esta manhã! Consciência, diga a verdade! Não te drogues com o ópio da segurança em ti mesma! Testifica a verdade! Nunca ouviste dizer ao coração: “queria que Deus não existisse”? Por acaso todos os homens não desejaram, algumas vezes, que nossa religião não fosse verdadeira? Ainda que não puderam livrar suas almas inteiramente da idéia da Deidade, por acaso não desejaram que não existisse Deus? Não acariciaram o desejo de que todas estas realidades divinas fossem um engano, uma farsa e uma impostura? “Sim,” responde cada indivíduo, “isso me ocorreu algumas vezes; desejei poder entregar-me à insensatez. Desejei que não houvessem leis que me restringissem; desejei, como o insensato, que não houvesse Deus.”
  
Essa passagem dos Salmos que diz: “DISSE o néscio no seu coração: não há Deus,” está mal traduzida. A tradução correta deveria ser: “Diz o néscio no seu coração: não aceito a Deus. O néscio não diz em seu coração não há Deus, pois ele sabe que há um Deus; Ao contrário, afirma: “Não aceito a Deus, não preciso de nenhum Deus, queria que não existisse nenhum” E, quem de nós não foi tão insensato que não chegou a desejar que não houvesse Deus?
  
Agora, consciência, responde outra pergunta! Tu confessaste que algumas vezes desejaste que não existisse Deus; então, suponhamos que um homem desejasse a morte de outro. Acaso isso não demonstraria o seu ódio? Sim, demonstraria. E assim, meus amigos, o desejo de que Deus não exista, demonstra que temos aversão a Deus. Quando desejo a morte de outro e que apodreça no túmulo; quando desejo que seja um ser inexistente, devo odiar a esse homem; de outra forma não desejaria que fosse um ser extinto. Assim, esse desejo (e não creio que haja existido alguém no mundo que não o houvesse sentido), demonstra que “a inclinação da carne é inimizade contra Deus.”
  
Mas, consciência, tenho outra pergunta! Acaso não desejaste alguma vez em teu coração, posto que há um Deus, que Ele fosse um pouco menos santo, um pouco menos puro, de tal maneira que essas coisas que agora são graves crimes, pudessem ser consideradas ofensas veniais, simples pecadinhos? Acaso não disseste nunca em teu coração: “Queria que estes pecados não fossem proibidos”. Queria que Ele fosse misericordioso para que os esquecesse sem requerer nenhuma expiação! Queria que não fosse tão severo, tão rigorosamente justo, tão severamente estrito na Sua integridade.” Coração meu, nunca disseste isso? A consciência deve responder: “Eu disse.” Bem, esse desejo de mudar a Deus, demonstra que não amas a Deus que é o Deus do céu e da terra; e ainda que fales de religião natural, e te glories de reverenciar ao Deus dos verdes campos, dos prados férteis, das águas abundantes, do retumbar do trovão, do céu azul, da noite estrelada, e do grandioso universo: ainda que tu ames o belo ideal poético da Deidade, não se trata do Deus da Escritura, pois tu desejaste mudar Sua natureza, e nisso demonstraste que estás inimizado com Ele. Mas, consciência, por que devo ficar fazendo rodeios? Tu podes ser uma testemunha fiel, se queres dizer a verdade, que cada pessoa aqui presente transgrediu de tal maneira contra Deus, quebrou tão continuamente Suas leis, violou Seu dia de repouso, espezinhou Seus estatutos, depreciou Seu Evangelho, que é muito certo, ai, sumamente certo que “a inclinação da carne é inimizade contra Deus.”
Charles Haddon Spurgeon
Enviado por Silvio Dutra Alves em 24/05/2013
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