Legado Puritano
Quando a Piedade Tinha o Poder
Textos
A Inclinação da Carne é Inimizade Contra Deus – Parte 1
Por Charles Haddon Spurgeon (adaptado)

“Porquanto a inclinação da carne é inimizade contra Deus.”  (Romanos 8:7)

Esta é uma denúncia muito solene que o apóstolo Paulo formula contra a mente carnal. Ele a declara como inimiga de Deus. Quando relembramos o que o homem foi uma vez, considerado apenas um pouco menor do que os anjos; aquele companheiro que passeava com Deus no jardim do Éden durante o dia. Quando pensamos que o homem foi criado à imagem de seu Criador, puro, sem mancha e imaculado, não podemos nos sentir nada menos do que amargamente afligidos ao descobrir uma acusação como esta, proferida contra nós como raça. Devemos pendurar nossas harpas sobre os salgueiros ao ouvir a voz de Deus, quando fala solenemente à Sua criatura rebelde.

Sentimos-nos extremamente tristes quando contemplamos as ruínas de nossa raça. Como o cartaginês que ao pisar o lugar desolado de sua mui amada cidade, derramou lágrimas abundantes quando a viu convertida em escombros pelos exércitos romanos; ou como o judeu que perambulava pelas ruas desertas de Jerusalém, enquanto lamentava que a grade do arado tivesse desfigurado a beleza e a glória dessa cidade que era a alegria de toda a terra; assim deveria doer em nós, por nossa raça, quando contemplamos as ruínas dessa excelente estrutura que Deus formou, essa criatura sem rival em simetria, com um intelecto superado somente pelo intelecto dos anjos, esse poderoso ser, o homem, quando contemplamos como caiu, e caiu, e caiu de sua elevada condição, convertido em uma massa de destruição.
  
Há alguns anos atrás, podíamos observar uma estrela que resplandecia com um brilho inusitado, mas subitamente desapareceu; chegaram a fazer conjeturas de que se tratava de um mundo que ardia a bilhões de quilômetros de nós, mas ainda assim, os raios dessa conflagração chegaram até nós; o silencioso mensageiro de luz deu o alarme aos remotos habitantes deste globo: “um mundo arde!” Mas, que importância tem a conflagração de um planeta distante; o que é a destruição do elemento material do mundo mais gigantesco, comparada com esta queda da humanidade, com este naufrágio de tudo o que é santo e sagrado em nós?
  
Para nós, na verdade, as coisas dificilmente se podem comparar, pois estamos profundamente interessados em uma destruição, mas não na outra. A queda de Adão é NOSSA queda; caímos nele e com ele; sofremos da mesma maneira; lamentamos a ruína de nossa própria casa, deploramos a destruição de nossa própria cidade, quando nos detemos para captar estas palavras escritas de forma tão clara que não podem ser mal interpretadas: “A inclinação da carne” (esses mesmos desígnios que uma vez foram santos, e que passaram a ser carnais), “são inimizade contra Deus.” Que Deus me ajude nesta manhã a formular solenemente esta denúncia contra todos vocês! Oh, que o Espírito Santo nos convença de tal modo do pecado, que unanimemente nos declaremos “culpados” diante de Deus! Não há nenhuma dificuldade na interpretação do meu texto: mal necessita uma explicação. Todos nós sabemos que a palavra “carnal” aqui significa a natureza pecaminosa. Os antigos tradutores colocavam a passagem assim: “a mente posta na carne é inimiga de Deus”, ou seja, a mente não regenerada, essa alma que herdamos de nossos pais, essa natureza pecaminosa que nasceu em nós quando nossos corpos foram formados por Deus. A mente não regenerada, os desejos, as paixões da alma; isto é o que se separou de Deus e se converteu em Seu inimigo.
Charles Haddon Spurgeon
Enviado por Silvio Dutra Alves em 24/05/2013
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