Legado Puritano
Quando a Piedade Tinha o Poder
Textos
Aprendendo do Exemplo de Charles Simeon
Nos seus primeiros anos de ministério, o pastor da Igreja Anglicana, Charles Simeon (24 de setembro de 1759 - 13 de novembro de 1836) era um homem rude e agressivo. Certo dia, foi visitar um pastor amigo numa povoação próxima da sua casa. Após a visita, as filhas do amigo queixaram-se ao pai sobre o comportamento de Simeon. O pai, então levou as suas filhas para o quintal, e disse-lhes: “Apanhai um daqueles pêssegos para mim.” Era o início do verão e os pêssegos estavam verdes. As meninas perguntaram-lhe por que é ele queria fruta verde, que ainda não estava madura. Ele respondeu-lhes: “Bem, minhas queridas, agora ele está verde e nós precisamos esperar; um pouco mais de Sol, um pouco mais de chuva e o pêssego estará maduro e doce. É assim com o Senhor Simeon.”

Charles Simeon no tempo devido realmente mudou. O calor do amor de Deus, as “chuvas” dos mal-entendidos e as decepções foram os meios pelos quais ele se tornou num homem gentil e humilde.

Charles Simeon foi pastor da Igreja Anglicana, na Trinity Church, em Cambridge, na Inglaterra de 1782 a 1836. Ele foi nomeado para lá por um dos bispos da Igreja Anglicana, contra a vontade dos seus paroquianos, que se opuseram a ele, não por que ele fosse mau pregador ou exercesse mal o seu “húmus partoral”, mas porque Charles Simeon era “evangélico.” Isto é, Charles Simeon cria na Bíblia como a Palavra de Deus e regra de fé, desafiava as pessoas para a necessidade da conversão ao Novo Nascimento espiritual, e aos crentes nascidos de novo desafiava-os para a santidade pessoal e apelava às “Igrejas” e aos crentes individualmente para o desafio da evangelização do mundo e a terem amor pelas almas dos não convertidos ao SENHOR Jesus.

Durante 12 anos os seus paroquianos não permitiram que ele pregasse o sermão de domingo, à tarde. E, durante todo esse tempo, também eles boicotaram o culto dominical matinal e bloquearam os bancos da Igreja para que ninguém pudesse se sentar neles. Deste modo Charles Simeon viu-se obrigado a pregar ao seu rebanho durante 12 anos nos corredores do templo!

«Nesse estado das coisas, eu não vi outro remédio, a não ser ter fé e paciência. O trecho das Escrituras que dominava e controlava a minha mente era este: “Ao servo do Senhor não convém contender.” (2 Tim 2:24) Era doloroso ver o templo da igreja, com exceção dos corredores, quase abandonado; porém, eu pensava que se apenas Deus concedesse uma bênção dobrada à Congregação que ali estava, no todo haveria tanto bem como se a congregação fosse o dobro e a bênção limitada apenas à metade dessa porção. Isso confortou-me muitas e muitas vezes, quando, sem essa reflexão eu teria sucumbido sob o meu pesado fardo.»

De onde obteve Charles Simeon a garantia, de que seguindo o caminho da paciência ele o conduziria à bênção sobre o seu trabalho, que compensaria a frustração de ter todos os bancos da “Igreja” bloqueados? Ele a obteve de versículos da Bíblia que prometiam a graça futura, do versículo da Palavra de Deus: “Como são felizes todos os que nEle esperam!” (Isa 30:18). A Palavra de Deus venceu a incredulidade e a fé na Graça futura venceu a impaciência.

Cinquenta e quatro anos depois destes tristes acontecimentos, Charles Simeon estava às Portas da Eternidade. As semanas se arrastavam, como tem ocorrido com muitos santos moribundos. Aprendemos, ao lado de muitos crentes às portas da morte, que a batalha contra a impaciência pode ser muito intensa no leito de morte.

Em 21 de outubro de 1836, os crentes e familiares que estavam ao lado da sua cama, ouviram-no dizer as seguintes palavras, muito lentamente e com longas pausas:

“A infinita sabedoria dispôs tudo com infinito amor; e o infinito poder capacita-me a descansar nesse amor. Estou nas mãos do Pai amado, tudo está seguro. Quando olho para Ele, não vejo nada a não ser fidelidade, e imutabilidade, e verdade; e tenho a paz mais doce, não posso ter mais paz do que a que tenho!»

A razão para Simeon morrer assim foi a disciplina que exerceu durante 54 anos indo amiúde às Escrituras e nelas se apropriando das promessas da graça futura e de usá-las para vencer a incredulidade da impaciência.

Ele aprendeu a usar a espada do Espírito para batalhar o combate da fé na graça futura. Pela fé, na graça futura, aprendeu a esperar com Deus no lugar não planeado da obediência, e a andar com Deus no passo não planeado da obediência. Com o salmista, Charles Simeon disse: “Espero no Senhor com todo o meu ser, e na sua palavra ponho a minha esperança.” (Slm 130:5)

Tanto na vida como na morte, Charles Simeon tornou clara e com impacto a promessa: “O Senhor é bom para com aqueles cuja esperança está nele, para com aqueles que o buscam.” (Lam 3:25)

Qual o segredo espiritual de Charles Simeon, que suportou imensas dificuldades no seu poderoso pastorado de cinquenta e quatro anos, na “Trinity Church”, em Cambridge, na Inglaterra?

A profunda influência espiritual para o bem dos pecadores e para a glória de Deus procede de homens e mulheres que se dedicam à oração e à meditação.

R. Housman, um dos amigos de Charles Simeon, que viveu com ele na mesma casa durante alguns meses diz alguma coisa sobre a sua devoção, sobre o seu grande fervor de piedade, sobre o seu grande zelo e amor.

“Invariavelmente, Charles Simeon levantava-se cada manhã, mesmo no Inverno, às quatro horas da madrugada. E depois de acender o fogo, dedicava as primeiras quatro horas do dia à oração particular e ao estudo devocional das Escrituras.”

Este era o segredo da sua grande graça e do seu vigor espiritual. Ao receber instrução dessa fonte e ao procurá-la com diligência, Charles Simeon era confortado em todas as suas provações e obtinha preparação para todos os seus deveres.

Isto é verdade tanto para os crentes individualmente como para as “Igrejas”. Sem oração persistente não temos qualquer ofensiva na batalha contra o mal. Tanto individualmente e como “Igrejas” estamos destinados a invadir e a despojar as fortalezas de Satanás.

Que o exemplo de Charles Simeon nos impulsione tanto individualmente como “Igrejas” não somente às orações ocasionais, mas a uma vida de oração, como disse Housman, com “consistência e à realidade da devoção.”
Silvio Dutra Alves
Enviado por Silvio Dutra Alves em 08/06/2013
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