Agora e Depois – Parte 3
Entendendo como entendemos e como entenderemos a realidade espiritual
Por Charles Haddon Spurgeon
Em quarto lugar, não estaríamos distorcendo o texto se disséssemos que, embora conheçamos algo DAS DOUTRINAS DO EVANGELHO, E DOS MISTÉRIOS DA FÉ, gradualmente ao cabo de alguns meses ou anos, conheceremos muitíssimo mais do que conhecemos agora. Há algumas grandiosas doutrinas, irmãos e irmãs, que amamos encarecidamente, mas embora as amemos, nosso entendimento é demasiado fraco para captá-las plenamente. Nós as classificamos como mistérios; as reconhecemos reverentemente, porém, não nos atrevemos a tentar explicá-las. São assuntos de fé para nós. Talvez no céu haja conselhos de eterna sabedoria nos quais nem os anjos nem os santos possam vislumbrar. Glória de Deus é encobrir um assunto. Certamente, ainda quando for exaltada no céu, nenhuma criatura será jamais capaz de compreender todos os pensamentos do Criador; nunca seremos oniscientes; não podemos sê-lo – somente Deus sabe todas as coisas e entende todas as coisas. Porém, quanto mais da autêntica verdade haveremos de discernir quando as névoas e as sombras hajam dissipado, e muito mais entenderemos quando formos levantados àquela esfera mais elevada e dotada de faculdades mais brilhantes, ninguém poderá dizê-lo. Provavelmente coisas que nos desconcertam aqui serão lá tão claras como podem sê-lo. Talvez nos riamos de nossa própria ignorância. Imaginei às vezes que as elucidações dos instruídos doutores de teologia, se pudessem ser remetidas ao mais insignificante ser no reino do céu, somente lhe provocaria risos diante da douta ignorância dos filhos da terra. Oh quão pouco conhecemos, mas quanto mais conheceremos! Estou certo de que conheceremos, pois está escrito: “Então conhecerei como fui conhecido!” Agora vemos as coisas como numa névoa – “homens como árvores …. que andam!” – uma doutrina aqui e uma doutrina lá. E com frequência estamos confundidos e não podemos conjecturar como se harmoniza uma parte com outra parte pertencente ao mesmo sistema, nem discernimos como podem ser consistentes todas essas doutrinas. Este nó não pode ser solto, esse emaranhado não pode ser desfeito, mas:
“Então, hei de ver, ouvir e conhecer
Tudo o que desejei e anelei aqui embaixo:
E cada poder encontrará um doce emprego
Naquele mundo de eterno gozo.”
Porém, meus amados irmãos e amadas irmãs minhas , havendo-os retidos até este momento nos átrios exteriores, com grande prazer gostaria de conduzi-los ao interior do Templo; ou para mudar a figura, se no princípio servi o bom vinho, certamente não vou tirar a servir um vinho inferior, mas bem preferiria que os senhores dissessem, assim como o mestre de cerimônias disse ao esposo: “você reservou o bom vinho até agora”.
AQUI VEMOS A JESUS CRISTO, PORÉM NÃO O VEMOS COMO LOGO VEREMOS. Vimo-lo por fé de tal forma que contemplamos que nossas cargas foram transferidas a Ele, e nossas iniquidades foram levadas por Ele ao deserto, onde, se fossem buscadas, não seriam encontradas. Vimos a Jesus o suficiente para saber que “todo Ele é desejável” (Cânticos 5); podemos dizer Dele que é “toda minha salvação e meu desejo”. Algumas vezes quando se baixa a grade e se mostra através das janelas de ágata e portas de carbúnculo, as ordenanças de Sua casa e a Ceia do Senhor especialmente, a formosura do Rei nos cativou e deixou embevecido nosso coração; no entanto, tudo o que vimos é um pouco como a notícia que a Rainha de Sabá tinha acerca da sabedoria de Salomão. Uma vez que cheguemos à corte do Grandioso Rei, vamos declarar que Ele não nos havia dito nem a metade. Diremos: “Meus olhos o verão, e não outro”.
Irmãos, não é esta a parte mais exclusiva do céu? Chegaram muitas sugestões acerca do que faremos no céu e que haveremos de desfrutar, mas tudo isso me parece que está longe do objetivo comparado com isto: “que estaremos com Jesus, e seremos como Ele e contemplaremos Sua glória”. Oh! Ver os pés que foram pregados e tocar a mão que foi atravessada, e olhar a cabeça que levou os espinhos, e nos inclinarmos diante Dele, que é inefável amor, indizível condescendência e infinita ternura! Oh! Inclinar-se diante Dele, e beijar esse rosto bendito! Jesus, que mais necessitamos que ver-te através de Tua própria luz, ver a Ti a falar Contigo, como quando um homem fala com seu amigo? É prazeroso falar sobre isto, porém, como será lá quando se abram as portas de pérola? As ruas de ouro serão pouco atrativas para nós e as arpas dos anjos nos embevecerão apenas um pouco, se a comparamos com o Rei no meio do trono. Ele será quem cativará nosso olhar, quem absorverá nossos pensamentos, quem prenderá nosso afeto e elevará nossas sagradas paixões ao ponto mais alto do ardor celestial. Veremos a Jesus.
Além disso – e aqui adentramos a coisas mais profundas – mas alem de toda dúvida, VEREMOS TAMBÉM A DEUS. Está escrito que os limpos de coração verão a Deus. Deus é visto agora em suas obras e em sua PALAVRA. Na verdade, estes olhos pouco poderiam suportar ver a visão beatífica, porém temos razões para esperar que na medida em que as criaturas possam tolerar a visão do infinito Criador, ser-nos-á permitido que vejamos a Deus. Lemos que Arão e certos escolhidos viram o trono de Deus, e o brilho, por assim dizer, era de uma pedra de zafira, leve e pura como o jaspe. A luz do céu é a presença de Deus. A permanência mais imediata de Deus no meio da Nova Jerusalém é sua glória sem par e sua bem-aventurança peculiar. Então entenderemos mais sobre Deus do que entendemos agora; estaremos mais próximos Dele, estaremos mais familiarizados com Ele e estaremos mais cheios Dele. O amor de Deus será derramado abundantemente em nossos corações; conheceremos a nosso Pai como ainda não o conhecemos agora; conheceremos ao Filho num grau mais pleno do que nos foi revelado até agora, e conheceremos o Espírito Santo em Seu amor pessoal e em sua ternura para conosco, mais além de todas essas influências e operações que nos reconfortou em nossas aflições e nos guiou em nossas perplexidades aqui embaixo.
Deixo que seus pensamentos e seus desejos sigam o ensinamento do Espírito. Quanto a mim, acovardo-me diante desse pensamento no tanto que me deleito nele. Eu, que forcei meus olhos vendo a natureza, onde as coisas criadas mostram as obras das mãos de Deus; eu, cuja consciência viu-se aterrada ao ouvir a voz de Deus proclamando Sua santa lei; eu, cujo coração derreteu quando irrompiam em meus ouvidos os ternos tons de Seu bendito Evangelho nesses fragmentos da sagrada melodia que aliviam o peso da profecia; eu que reconheci no bebê de Belém a esperança de Israel; no homem de Nazaré, o Messias que viria; na vítima do Calvário, o único Mediador; em Jesus ressuscitado, o bem-amado Filho. Para mim, verdadeiramente, Deus encarnado foi tão palpavelmente revelado que quase vi a Deus, pois vi a Jesus, por assim dizer, em quem toda a plenitude da Deidade, habita corporalmente. Ainda assim, vejo “como em espelho, obscuramente”.
Ilumine estes escuros sentidos, desperte esta consciência sonolenta, purifique meu coração, dê-me comunhão com Cristo, e logo leve-me ao alto, transporte-me ao terceiro céu; para que me seja possível ver a Deus, para que seja uma realidade vê-lo. Porém, que significa isso, o que é? Oh, meu Deus, não poderia dizê-lo.
Charles Haddon Spurgeon
Enviado por Silvio Dutra Alves em 23/06/2013