Segurança Garantida em Cristo
Por Charles Haddon Spurgeon
“Eu sei em quem tenho crido, e estou seguro que é poderoso
para guardar meu depósito para aquele dia.” (2 Timóteo 1:12).
No estilo dessas palavras apostólicas há uma certeza sobremaneira
revigorante nessa época entregue a dúvida. Em certos círculos da
sociedade é raro encontrar-se hoje em dia com alguém que creia em
algo.
O filosófico, o correto, o que está na moda em nossos dias é
duvidar de tudo que geralmente é aceito; certamente quem sustém
algum credo, do tipo que seja, são catalogados pela escola liberal como
dogmáticos antiquados, como pessoas superficiais de um intelecto
deficiente e mui defasados com respeito à sua época.
Os grandes homens, os homens de pensamento, os homens de
cultura elevada e gosto refinado consideram que é sábio suspeitar da
revelação; e escarnecem qualquer solidez de crença. Os condicionais
"se" e "mas", os "talvez" e os "porventura" são o deleite supremo
dessa época. Havia de nos surpreender que os homens encontrem que
tudo é incerto quando recusam submeter seus intelectos às declarações
do Deus da verdade?
Note espantado, então, a edificante e até mesmo surpreendente
segurança do apóstolo: ―Eu sei, afirma ele. E isso não basta: “Estou
seguro”, acrescenta. Fala como alguém que não pode tolerar nenhuma
dúvida. Não há nenhuma dúvida acerca de se têm crido ou não. ―Eu sei
em quem tenho crido. Não há nenhuma vacilação acerca de se teria
razão para crê-lo. ―Estou seguro que é poderoso para guardar meu
depósito. Não há nenhum titubeio com respeito ao futuro; está tão
seguro em relação aos anos por vir como o está quanto ao momento
presente. ―É poderoso para guardar meu depósito para aquele dia.” Bem,
agora, a certeza que é somente um produto da ignorância e que não
vem acompanhada de nada parecido a reflexão, resulta ser muito
desagradável. Mas no caso do apóstolo, sua confiança não está
fundamentada na ignorância, mas no conhecimento: ―eu sei, afirma
ele. Há certas coisas que Paulo tem apurado, e ele sabe que são um fato, e
sua confiança está baseada nessas verdades que têm sido indagadas.
Além disso, sua confiança não era fruto do descuido, pois acrescenta:
―estou seguro, como se houvesse fundamentado o assunto e foi
persuadido a aceitá-lo; como se houvesse meditado largamente a
respeito, e o teria pesado, e a força da verdade lhe tivesse convencido
plenamente de maneira a ser persuadido.
Quando a certeza é o resultado do conhecimento e da meditação,
se torna sublime, como sucedeu com o apóstolo, e sendo sublime, se
torna influente. Neste caso, deve haver influído certamente no coração
de Timóteo e na mente de dezenas de milhares de pessoas que
examinaram esta epístola ao longo destes 19 séculos. Incentiva os mais
tímidos quando veem que outros são preservados e confirma os
indecisos quando veem que outros permanecem firmes. As palavras do
grande apóstolo, que ressoam com som de trombeta esta manhã: ― eu
sei... e estou seguro”, não podem senão nos ajudar a encorajar e dar
ânimo a muitos de nós em nossas dificuldades e ansiedades. Que o
Espírito Santo faça não apenas que admiremos a fé de Paulo, mas que a
imitemos e que alcancemos o mesmo grau de confiança.
Alguns falam confiadamente porque não estão seguros. Quão
frequentemente temos observado que o alarde e as bravatas são apenas
manifestações externas de uma trepidação interior, são apenas
dissimulações adotadas para esconder a covardia! Tal como assobiam
os colegiais para renovar o ânimo quando atravessam o cemitério
localizado junto a uma igreja, assim algumas pessoas falam com muita
segurança porque não estão seguras, e fazem uma ostentação pomposa
de fé porque desejam corroborar a presunção de que — como é seu
único consolo — é sobremaneira apreciada por elas.
Bem, agora, no caso do apóstolo, cada sílaba que ele pronuncia tem
como base um peso sumamente real de confiança que as mais
categóricas expressões não poderiam exagerar. Sentado ali dentro do
calabouço como prisioneiro por Cristo, aborrecido por seus
compatriotas, desprezado pelos doutos e ridicularizado pelos rudes,
Paulo confrontou o mundo inteiro com uma santa valentia que não
conhecia nenhuma covardia, com um valor que era produto da
profunda convicção de seu espírito. Vocês podem tomar estas palavras e
dar a cada uma delas toda a ênfase possível, pois são as expressões
verazes de um espírito inteiramente sincero e valente. Que
desfrutássemos nós também de uma confiança assim e que a
declarássemos com plena convicção, pois nosso testemunho daria glória
a Deus e levaria consolo aos demais.
Esta manhã, para nossa instrução e conforme o Espírito Santo
nos ajude, vamos considerar, primeiro, o encargo em questão: o que
Paulo confiou a Cristo; em segundo lugar, o feito que está mais além de
toda dúvida, quer dizer, que Cristo foi poderoso para guardá-lo; em
terceiro lugar, a certeza desse fato; e como o apóstolo foi capaz de dizer:
― eu sei... e estou persuadido‖, e em quarto lugar, a influência dessa
segurança quando governa no coração.
I. Primeiro então, queridos amigos, falemos uns poucos minutos
sobre O ENCARGO EM QUESTÃO.
O encargo foi, em primeiro lugar, o depósito que o apóstolo fez de
todos seus interesses e preocupações na mão de Deus em Cristo. Alguns
têm dito que Paulo falava aqui de seu ministério, mas há muitas razões
para concluir que isso é um erro. Uma grande gama de expositores, que
por cabeça dos quais mencionaremos Calvino, pensam que o único
tesouro que Paulo depositou na mão de Deus era sua salvação eterna.
Nós não duvidamos de que isso constituiu a maior parte do valor
inestimável do depósito, mas pensamos também que como o contexto
não limita o sentido, não pode ficar restringido ou confiando a uma só
coisa. Parece-nos que todos os interesses temporais e eternos do
apóstolo foram depositados, mediante um ato fé, na mão de Deus em
Cristo Jesus.
O apóstolo entregou seu corpo ao cuidado benevolente do Senhor.
Paulo havia sofrido muito nesse frágil tabernáculo. Naufrágios, perigos,
fome, frio, nudez, prisões, açoites com varas e apedrejamento haviam
empregado sua fúria contra ele. Paulo esperava que não passaria muito
tempo antes que seu corpo mortal se visse preso à crueldade de Nero.
Ninguém poderia dizer o que lhe sucederia então, se seria queimado
vivo para iluminar os jardins de Nero, ou se seria despedaçado pelas
feras para fazer uma festa romana, ou se converteria em vítima da
espada do carrasco, mas, independentemente da forma em que pudesse
ser chamado a oferecer-se em sacrifício a Deus, Paulo entregou seu
corpo à custódia Daquele que é a ressurreição e a vida, estando
completamente persuadido de que ressuscitaria de novo no dia do
advento do Senhor, sem que seu corpo sofresse nenhuma perda devido
à tortura ou ao desmembramento. Paulo esperava uma feliz
ressurreição, e não pedia nenhum embalsamento melhor para seu
corpo que o que o poder de Cristo lhe garantia.
O apóstolo entregou a Cristo naquela hora seu caráter e
reputação. Um ministro cristão deve esperar perder sua reputação entre
os homens. Ele tem que estar disposto a sofrer todo tipo de vitupérios
por causa de Cristo. Mas, por outra parte, pode estar seguro de que
jamais perderá sua honra real se corre o risco pela causa da verdade e é
colocado na mão do Redentor. O Dia declarará a excelência dos retos,
pois revelará tudo o que estava oculto e sacará à luz o que estava
encoberto. Haverá uma ressurreição de caracteres assim como de
pessoas. Cada reputação que tenha sido ofuscada pelas nuvens do
vitupério por causa de Cristo, se tornará gloriosa quando os justos
resplandecerão como o sol no reino de seu Pai. ―Que os ímpios digam o
que queiram de mim — disse o Apóstolo ― eu confio meu caráter ao
Juiz dos vivos e mortos.
Da mesma maneira, colocou nas mãos de Deus a obra de toda
sua vida. Os homens diziam, sem dúvida, que Paulo havia cometido um
grave erro. Aos sábios segundo o mundo Paulo deve de haver-lhes
parecido que estava completamente louco. De haver-se convertido em
rabino, quanta eminência lhe esperava! Como fariseu, poderia ter
levado uma vida respeitada e honrada entre seus compatriotas. E se
tivesse preferido seguir as filosofias gregas, sendo um varão de tal vigor
mental, poderia ter rivalizado com Sócrates ou com Platão. Mas ao invés
disso, preferiu unir-se a um grupo de homens comumente considerados
como fanáticos ignorantes que transtornavam o mundo. ―Ah, bem! —
disse Paulo ― deixo a recompensa e o fruto de minha vida
inteiramente a meu Senhor, pois Ele justificará, ao final, minha eleição
de servir debaixo do estandarte de Seu Filho, e o universo inteiro saberá
que não fui um fanático equivocado que trabalhou por uma causa sem
sentido.
De igual maneira o apóstolo consignou nas mãos de Deus em
Cristo sua alma, sem importar qual fosse o perigo que corresse pelas
tentações que lhe rodeavam. Paulo sentia-se seguro nas mãos da
grandiosa Fiança, independente de quão grandes foram as corrupções
que se alojavam em seu interior e os perigos que estavam a espreita. O
apóstolo transferiu ao Depositário divino todos seus poderes mentais,
suas faculdades, suas paixões, instintos, desejos e ambições. Ele
entregou sua natureza inteira ao Cristo de Deus para que a preservasse
em santidade ao longo de toda sua vida, e o transcurso de sua vida
justificou amplamente sua fé.
Paulo entregou sua alma para ser guardada na hora da morte,
para que então fosse fortalecida, sustentada, consolada, reforçada e
guiada através das rotas desconhecidas, em sua ascensão através do
misterioso e o inexplorado até o trono de Deus, o Pai. Ele entregou seu
espírito a Cristo para ser apresentado sem mancha nem ruga, nem
nada parecido no último grande dia. Ele fez, de fato, um depósito
integral de tudo o que ele era, de tudo o que tinha e de tudo o que lhe
concernia, para a custódia de Deus em Cristo, para encontrar em seu
Deus um fiel guardião, um defensor seguro e um depositário confiável.
Então este era o encargo ao que o apóstolo se referia.
Mas juntamente com isso, o encargo em questão incluía a
habilidade do Senhor para cumprir com essa custódia. O apóstolo não
duvidava de que Cristo houvesse aceitado o ofício de depositário daquilo
que lhe havia entregado. A dúvida nunca foi com respeito à fidelidade
de Cristo para o que lhe havia confiado. O apóstolo nem sequer disse
que confiava que Jesus seria fiel; considerava que essa asseveração era
supérflua. Não havia nenhuma dúvida com respeito à disposição de
Cristo para guardar a alma confiada a Ele; considerava que não era
necessário fazer uma declaração nesse sentido. Mas a pergunta que
muitos faziam era em relação ao poder do Redentor que foi crucificado
de guardar o que lhe havia sido confiado. Oh, disse o apóstolo: ―eu sei e
estou seguro que é poderoso para fazer isso‖. Observem, meus queridos
amigos, que a pergunta não é a respeito do poder do apóstolo para
guardar-se a si mesmo; ele não faz essa pergunta. Muitos de vocês têm
se preocupado por saber se são capazes de resistir à tentação; não
necessitam debater o tema; é claro que à parte de Cristo vocês são
sumamente incapazes de perseverar até o fim. Respondam a essa
pergunta de imediato com uma negação categórica e não voltem a fazê-
la nunca mais. A pergunta não era se o apóstolo seria encontrado com
mérito em sua própria justiça no dia do juízo, pois ele havia descartado
fazia tempo essa justiça própria. Paulo não toca nesse ponto. A
pergunta é esta: ―É Jesus capaz de guardar-me?
Apeguem-se a isso, meus irmãos, e suas dúvidas e temores
rapidamente desaparecerão. Em relação a seu próprio poder ou mérito,
escrevam ―desesperança de imediato sobre sua fronte. Considerem a
criatura como completamente morta e corrupta, e, portanto, apoiem-se
sobre esse braço cujos músculos nunca cedem, e descansem todo seu
peso sobre essa onipotência que sustém as colunas do universo. Ai está
o ponto; apeguem-se a Ele e vocês não perderão sua alegria. Vocês se
confiaram a Cristo. A grande pergunta agora não é sobre o que vocês
podem fazer, mas acerca do que Jesus é capaz de fazer, e podem ter a
segurança de que Ele é poderoso para guardar o que se lhe foi confiado.
O apóstolo faz avançar nossos pensamentos até certo período
definido: a custódia da alma até o que Ele chama de ―aquele dia. Eu
suponho que o chama ―aquele dia porque era o dia mais ardentemente
esperado pelos cristãos e o dia de que mais se falava. Falar da vinda de
Cristo e de seus resultados era um tópico tão usual de conversação que
o apóstolo não disse: ―o advento, mas que disse simplesmente ―aquele
dia. Aquele dia com o que os crentes estão familiarizados com que
qualquer outro dia. Aquele dia, o dia da morte, se assim o querem,
quando a alma se apresenta diante de seu Deus. O dia do juízo, se lhes
parece, aquele dia quando se abram os livros e seu conteúdo seja lido.
Aquele dia, o fim de tudo, o selado do destino, a manifestação da sorte
eterna de cada um de nós. Aquele dia por o qual todos os demais dias
foram feitos. Cristo Jesus é poderoso para guardar-nos contra aquele
dia. Quer dizer, então Ele é capaz de nos colocar a destra de Deus, de
colocar nossos pés sobre a rocha quando outros se afundam no abismo
sem fundo; de coroar-nos quando outros são amaldiçoados; de nos
embelezar no paraíso quando os pecadores são lançados no inferno.
Este é o tema a considerar: pode o Grandioso Pastor das almas
preservar a seu rebanho? Ah, irmãos! Se vocês nunca exploraram essa
pergunta, não me surpreenda que tivessem que fazê-la. Quando estão
muito abatidos e estão débeis, e o coração e a carne estão fraquejando,
quando a enfermidade nos leva a beira da tumba e vislumbram a
eternidade, essa pergunta pode ocorrer a qualquer pessoal reflexiva:
minha confiança no Cristo de Deus é válida? Ele será capaz, no artículo
da morte, quando meu espírito se estremecer ao seu desvestido, será
Ele capaz então de elevar-me? E na hora mais terrível, quando o som da
tromba despertar os mortos, encontrarei que, em verdade, que a
Grandiosa Vítima pelo pecado é capaz de defender-me? Seu mérito será
suficiente, não tendo eu nenhum mérito próprio? Somente Seu sangue
me limpará de dez mil pecados? Nada pode igualar jamais em
importância a este assunto: é um assunto que há de ser considerado
com a mais indispensável urgência.
II. É uma feliz circunstância que possamos passar a nosso
segundo ponto, para refletir por um momento NO FATO QUE ESTÁ
MAIS ALÉM DE TODA DÚVIDA, quer dizer, que Deus em Cristo é
poderoso para guardar o que temos depositado nEle.
A confiança do apóstolo era que Cristo é um depositário capaz.
Então Paulo quis dizer, primeiro, que Jesus é capaz de guardar a alma
de cair no pecado condenatório. Eu suponho que este é um dos maiores
temores que jamais poderia perturbar o verdadeiro crente. Por acaso
não oraram nunca clamando pela morte antes que apartar-se de Cristo?
Eu o fiz, e em minha alma tenho cantado amargamente aquele verso—
“Ah, Senhor! Com um coração como o meu,
A menos que Tu me sustenhas firmemente,
Sinto que vou declinar e que o farei,
E que vou me apartar de Ti ao final.”
Agora, cristão perturbado, lembre que seu Senhor é poderoso
para guardar-lhe debaixo de toda forma de tentação possível. Ah, você
diz, o apóstolo Paulo não tinha as tribulações que eu tenho. Eu creio
que as tinha; mas ainda se não as tivesse tido, Jesus as experimentou:
e Cristo tem a habilidade de guardar-te frente a elas: Escuto que
alguém diz: ―eu sou o único em minha casa que tem sido chamado pela
graça, e todos os demais se opõem a mim; sou um ser solitário na casa
de meu pai‖? Pois bem, Paulo se encontrava precisamente em sua
condição. Ele era um hebreu de hebreus, e era visto por sua gente com
o ódio mais extremo porque havia saído de entre deles para seguir o
Crucificado. Contudo, Paulo sentia que Deus era poderoso para guardalo, e
você pode estar de seguro de que ainda que seu pai e sua mãe lhe
abandonem, e seus irmãos e suas irmãs o zombem, Aquele em que você
confia lhe guardará firme na fé.
―Ah —disse outro— ―Mas você não sabes em que consiste
esforçar-se contra os prejuízos de uma educação hostil a fé em Jesus;
quando busco crescer na graça, as coisas que aprendi em minha
meninice se interpõem com violência e me servem de obstáculo. E por
acaso o apóstolo não se encontrava no mesmo caso? No tocante a lei,
ele havia sido fariseu, educado na mais rigorosa seita, instruído nas
tradições que eram opostas a fé de Cristo, e, contudo, o Senhor o
guardou fiel até o final. Nenhum de seus velhos prejuízos foi sequer
capaz de ofuscar a simplicidade do Evangelho de Cristo. Deus é
poderoso para guardar você também, apesar dos seus prejuízos pré-
existentes. ―Ah — disse um— ―mas eu sou vítima de muitos
pensamentos céticos. Com frequência sofro de dúvidas de ordem mais
sutil‖. Você pensa que o apóstolo nunca conheceu essa tribulação? Ele
não desconhecia filosofia grega, que consistia em um punhado de
perguntas e ceticismos. Ele deve Ter experimentado essas tentações que
são comuns as mentes reflexivas; e contudo, disse: ―estou seguro que é
poderoso para guardar meu depósito; então, acredite em mim, que o
Senhor Jesus é igualmente poderoso para guardar-se.
―Sim—disse outro―mas eu tenho muitas tentações no mundo.
Se não fosse cristão, prosperaria muito mais. Tenho oportunidades
agora diante de mim por meio das quais eu poderia obter logo alguma
folga econômica em breve, e talvez até riqueza, se não fosse entorpecido
por minha consciência‖. Não se esqueça de que o apóstolo estava em
um caso semelhante. O que ele não poderia ter tido? Um homem de sua
condição na vida — sendo seu nascimento e sua linhagem altamente
vantajosa — um homem de seus poderes mentais e de sua grande
energia poderia ocupar qualquer posição atrativa; mas quantas coisas
eram para ganância, as estimava como perdas por amor de Cristo; e
estava disposto a ser menos que nada porque o poder da graça divina o
mantinha fiel a sua profissão. Mas você me diz que é muito pobre e que
a pobreza é uma prova muito severa. Irmão, você não é tão pobre como
Paulo. Eu suponho que algumas agulhas para fabricação de suas
tendas, uma velha capa e alguns pergaminhos constituíam toda sua
riqueza. Este apóstolo era um varão sem uma casa, um homem sem um
só palmo de terra que pudesse considerar sua; mas a pobreza e a
carência não podiam abatê-lo. Cristo era poderoso para guardá-lo até
mesmo assim.
―Ah—você diz—―mas ele não tinha minhas paixões violentas e
corrupções. Mui certamente tinha todas, pois o ouvimos exclamar:
―Acho então esta lei em mim, que, quando quero fazer o bem, o mal está
comigo. Porque, segundo o homem interior, tenho prazer na lei de Deus;
Mas vejo nos meus membros outra lei, que batalha contra a lei do meu
entendimento, e me prende debaixo da lei do pecado que está nos meus
membros. Miserável homem que eu sou! quem me livrará do corpo desta
morte? Paulo foi tentado tal como você o é, no entanto, ele sabia que
Cristo era poderoso para guarda-lo.
Oh cristão trêmulo, nunca duvide deste ato que reanima a alma:
que seu amoroso Salvador é poderoso para guardar-lhe.
Mas o apóstolo não confiava meramente que Cristo o guardaria
desta maneira do pecado, mas confiava que o mesmo braço o
preservaria de cair no desespero. Paulo estava sempre lutando contra o
mundo. Houve épocas quando em que não contou com nenhum
colaborador. Os irmãos frequentemente mostraram ser falsos, e os que
foram fiéis eram frequentemente tímidos. Encontrou-se no mundo como
uma ovelha rodeada de lobos. Mas Paulo não era covarde. Ele tinha
seus temores, pois era mortal, mas se sobrepunha a eles, pois era
sustentado divinamente. Que postura sempre mantinha! Nero podia
erguer-se diante dele — um monstro horrível para que o homem nem
sequer sonhasse com ele — mas o valor de Paulo não cede. Uma turba
judaica pode rodeá-lo e arrastá-lo para fora da cidade, mas a mente de
Paulo permanece tranquila e serena. Eles podem colocá-lo no tronco
depois de açoitá-lo, mas seu coração encontra um alívio apropriado em
um hino ao invés de um gemido; ele é sempre valente, sempre
invencível, confiante na vitória. Ele cria que Deus o guardaria, e foi
guardado. E você, meu irmão, minha irmã, ainda que sua vida pudesse
ser um conflito muito severo e algumas vezes pense que vai renunciar a
Ele no desespero, você nunca vai se aposentar do conflito sagrado. Ele
que o trouxe até aqui, irá levá-lo até o fim, e o fará mais que vencedor,
pois Ele é poderoso para lhe proteger do desfalecimento e do desespero.
O apóstolo queria dizer também, sem dúvida, que Cristo era
poderoso para guardá-lo do poder da morte. Amados, este é um grande
consolo para nós que morreremos em breve. Para o apóstolo a morte era
algo muito presente. ―Cada dia morro‖, ele disse. No entanto, estava
muito convencido de que a morte seria ganho ao invés de perda para
ele, pois estava seguro que Cristo ordenaria de tal maneira a todas as
coisas que a morte somente seria como um anjo que o admitiria à vida
eterna. Estejamos seguros disto também, pois Aquele que é a
ressurreição e a vida não nos abandonará. Meus irmãos e irmãs, não se
afundem na servidão por culpa do medo da morte, pois o Salvador
vivente é poderoso para guardá-los, e o fará. Rogo-lhes que não ponham
tanto seu olhar nas dores, nos gemidos e na luta da agonia; olhem mais
para esse Amigo benigno, que, havendo suportado as agonias da morte
antes de vocês, pode identificar-se com seus sofrimentos, e quem, posto
que vive para sempre, pode proporcionar-lhes a ajuda disponível.
Lancem seus cuidados sobre Ele, e não tenham mais medo de morrer
para ir a cama quando a noite cai.
O apóstolo está seguro também de que Cristo é poderoso para
preservar sua alma no outro mundo. Pouco é revelado na Escritura por
meio de uma descrição detalhada desse outro mundo. Poder-se-ia dar
espaço a imaginação, mas pouco se poderia comprovar. Isto é o que
sabemos: que o espírito volta a Deus que o deu; e no instante seguinte a
morte a alma do justo está no paraíso com Cristo; isto também está
claro. Contudo, conhecendo os detalhes ou não, temos a certeza de que
a alma está segura com Cristo. Seja qual for o perigo que nos espere em
nossa jornada desde esse planeta até a morada de Deus, proveniente
dos espíritos malignos, seja qual for o conflito no último momento.
Jesus é poderoso para guardar o depósito que lhe temos confiado. Se eu
tivesse que guardar a mim mesmo, certamente poderia tremer alarmado
ante a expectativa da região desconhecida, mas Aquele que é o Senhor
da morte e do inferno, e possui as chaves do céu, pode seguramente
guardar minha alma nessa terrível viagem através do mar sem trilhas.
Tudo está bem; tudo dará certo para os justos, mesmo na terra da
sombra da morte, pois o domínio de nosso Senhor se estende até lá, e
tratando-se de Seus domínios, estamos seguros.
Finalmente, Paulo cria que Cristo era poderoso para preservar seu
corpo. Recordem minha declaração que Paulo confiou a Deus, em
Cristo, tudo o que era e tudo o que tinha. Nós não devemos
menosprezar este corpo; ele é o embrião do corpo na qual temos de
morar eternamente; será ressuscitado da corrupção para
incorruptibilidade, mas será o mesmo corpo. Despojado da debilidade
para o poder, da desonra para glória, não perde nunca sua identidade.
A maravilha da ressurreição não deixará de cumprir-se. Poderia parecer
que é algo impossível que o corpo que se apodreceu na tumba, e, que
talvez possa ter sido espalhado no pó da terra, ou que tenha absorvido
pela vegetação, ou que tenha sido digerido por animais, ou que haja
passado por incontáveis ciclos de transformações, seja ressuscitado de
novo; contudo, por impossível que pareça, o Senhor Jesus Cristo o
realizará. Tem ser tão fácil reconstruir uma segunda vez como criar a
partir do nada pela primeira vez. Olhem a criação, e vejam que nada é
impossível para Deus. Pensem na Palavra, sem a qual nada do que foi
feito se fez, e de imediato já não falarão mais de dificuldades. Para o
homem poderia ser impossível, mas para Deus todas as coisas são
possíveis.
Em sua plenitude, meus irmãos, na integridade de Sua
humanidade, espírito, alma e corpo; em tudo o que é essencial a sua
natureza para sua felicidade, para sua perfeição, em cada parte e seu
poder, se vocês colocaram tudo nas mãos de Cristo, serão guardados
para aquele dia, quando sejam feitos a Sua imagem, e experimentem em
suas próprias pessoas o poder em quem confiam neste dia devotamente
por sua fé.
III. Em terceiro lugar, prosseguiremos a considerar A
SEGURANÇA DESTE FATO, ou como o Apóstolo Paulo a alcançou.
―Não pode falar assim —disse alguém ―eu não posso falar: eu
sei... e estou seguro‘; estou muito agradecido porque posso dizer:
‗espero, confio, penso. Queridos amigos, a fim de ajudá-los a avançar,
notaremos como o apóstolo Paulo alcançou tal segurança. Tal como se
adverte nesse texto, uma importante ajuda para ele era seu hábito de
fazer sempre da fé o ponto mais proeminente de consideração. A fé é
mencionada duas vezes nas poucas linhas que estamos analisando. ―Eu
sei em quem tenho crido, e estou seguro que é poderoso para guardar
meu depósito para aquele dia‖. Paulo sabia o que era a fé, quer dizer,
uma entrega de suas coisas valiosas a custódia de Cristo. Ele não disse:
―Tenho servido a Cristo. Não, não disse: ―estou crescendo a semelhança
de Cristo, portanto, estou seguro que serei guardado. Não, ele ressalta
de maneira proeminente em seu pensamento o fato de que havia crido,
e então, que havia depositado sua própria pessoa em Cristo. Deus
queira, queridos amigos, que vocês estejam sujeitos a dúvidas e
temores, ao invés de escavar em seus corações para encontrar
evidências e sinais de crescimento na graça e na semelhança de Cristo,
e assim sucessivamente, queiram fazer primeiro uma investigação
concernente a um ponto que é muito mais vital, quer dizer: Vocês têm
crido?
Querido coração ansioso, comece sua busca nesse ponto. Você
confia em Cristo? Se você confia nEle, ainda que os sinais sejam
escassos e as evidências escuras por um tempo, o que crê nEle tem vida
eterna, ―o que crê e é batizado será salvo‖. As evidências virão, os sinais
serão aclarados em seu devido tempo, mas todos os sinais e evidências
entre aqui e o céu não valem nem um centavo para uma alma quando
chega ao conflito real com a morte e o inferno. Assim, deve ser a fé
simples que saia totalmente triunfante. Essas outras coisas são
suficientemente boas em tempos melhores, mas em tratar-se de saber
ser está seguro ou não, tem que chegar a isto: ―Tenho confiado com
todo o meu coração Naquele que veio a este mundo para salvar
pecadores, e ainda que eu fosse o principal dos pecadores, eu creio que
Ele é poderoso para me salvar. Vocês alcançarão a segurança se
possuem claridade com respeito a sua fé.
A seguinte ajuda para alcançar a segurança, segundo deduzo do
texto, é essa: o apóstolo mantinha de modo extremamente clara sua
visão de um Cristo pessoal. Observem como mencionou três vezes o seu
Senhor. ―Eu sei em quem tenho crido, e estou seguro que é poderoso
para guardar meu depósito para aquele dia. Não disse: ―Conheço as
doutrinas que creio‖. Seguramente o fazia, mas isso não era o mais
importante. Não disse: ―Estou seguro a respeito a forma das sãs
palavras que sustenho‖. Estava suficientemente seguro quanto a isso,
mas isso não constituía seu fundamento. Nenhuma simples doutrina
pode ser jamais o sustento da alma.
O que pode fazer um dogma? O que pode fazer um credo? Irmãos,
essas coisas são como as medicinas que precisam de uma mão que as
ministrem. Necessitam de um médico que as receite. De outra forma,
poderiam morrer com todos esses preciosos remédios à mão. Vocês
precisam de uma pessoa em quem confiar. Nenhum cristianismo é tão
vital—segundo entendo— tão influente, tão verdadeiro, tão real, como o
cristianismo que trata com a pessoa do Redentor vivente. Eu o conheço,
eu sei que Ele é Deus, eu sei que Ele é meu; eu não confio meramente
em Seu ensino, mas nEle mesmo; não dependo tanto de Suas leis,
regras, ou ensinos, como dEle mesmo como pessoa.
Amado irmão, é o que você está fazendo agora? Tem entregue sua
alma em depósito a esse bendito varão que também é Deus, e que está
assentado a destra do Pai? Pode vir em fé a Seus pés, e beijar as
pegadas dos cravos, e logo pode observar Seu rosto amado e dizer: ―Ah,
Filho de Deus, eu confio no poder de Teu braço, na preciosidade de Teu
sangue, no amor de Teu coração, no predomínio de Sua intercessão, na
certeza de Tua promessa, na imutabilidade de Teu caráter, eu confio em
Ti e somente em Ti? Você obterá essa segurança sem problemas agora.
Mas, se começa a desperdiçar sua compreensão real da pessoa de
Cristo e vive meramente de dogmas e doutrinas, você estará muito longe
da segurança real.
Além disso, irmãos, o apóstolo alcançou esta plena segurança
através de um crescente conhecimento. Não disse: ―Estou seguro de que
Cristo me salvará independentemente do que sei sobre Ele, mas que
começa dizendo: ―Eu sei. Que nenhum cristão entre nós descuide dos
meios previstos para obter um conhecimento mais pleno do Evangelho
de Cristo. Quisera eu que essa época produzisse cristãos mais reflexivos
e estudiosos. Tenho medo de que muito do que vocês pudessem
recordar do sermão, ou da leitura em público, não aprendem muito da
palavra de Deus e nem dos inumeráveis livros instrutivos que homens
piedosos nos legaram. Os homens se dedicam ao estudo em diversas
escolas e universidades com o intuito de obter um conhecimento dos
clássicos e das matemáticas, mas não deveríamos ser ainda mais
diligentes para poder conhecer a Cristo, poder estudá-Lo e tudo o que é
concernente a Ele, e não seguir sendo crianças, mas que possamos ser
homens maduros no conhecimento? Muitos dos temores dos cristãos
seriam afugentados se soubessem mais. A ignorância não é nenhuma
bem-aventurança no cristianismo, mas sim uma miséria; e o
conhecimento santificado e acompanhado da presença do Espírito
Santo é como asas graças as quais podemos passar por cima das
névoas e das trevas e adentrarmos na luz da plena segurança.
O conhecimento em Cristo é a mais excelente das ciências;
procure ser um mestre nisso, e você estará a caminho da plena
segurança.
Além disso, segundo se desprende do texto, o apóstolo adquiriu
sua segurança por um exame cuidadoso, assim como pelo conhecimento.
― Eu sei... e estou seguro. Como já disse, a persuasão é o resultado do
argumento. O apóstolo havia meditado sobre esse assunto; havia
meditado sobre os prós e os contras; tinha pesado cuidadosamente
cada dificuldade, e sentia a força preponderante da verdade que
limpava o caminho de toda dificuldade. Oh, cristão, se sob a orientação
do Espírito Santo familiarizasse mais sua mente com a verdade divina,
terás uma maior segurança.
Eu creio que a doutrina que apresenta maiores dificuldades para
nossa mente é aquela que temos estudado menos na Palavra.
Indaguem-na e a observem. As divisões entre os cristãos em nossos dias
não são tanto o resultado de uma diferença real de opinião, como a
carência de um pensamento preciso. Creio que estamos nos
aproximando mais e mais na nossa teologia e que, em geral, ao menos
nas igrejas dissidentes da Inglaterra, todos os ministros evangélicos
pregam uma teologia muito similar; mas alguns não são cuidadosos de
seus términos e palavras e as usam incorretamente, e assim parecem
pregar doutrinas equivocadas quando em seus corações tem uma
intenção que é suficientemente correta. Que chegássemos a ser mais
reflexivos, cada um de nós, pois disso proveriam mil benefícios.
Pensando na deidade de Cristo, considerando a veracidade da promessa
divina, meditando sobre os alicerces do pacto eterno, refletindo no que
Cristo tem feito por nós, deveríamos chegar afinal, pelo ensino do
Espírito, a estar plenamente persuadidos do poder de Cristo para
guardar o encargo sagrado que Lhe temos confiado. Dúvidas e temores
se dissipariam como nuvens varridas pelo vento. Quantos cristãos são
como o avarento que nunca se sente tranquilo com respeito à segurança
de seu dinheiro, ainda quando trancou o cofre com chave, e assegurado
o quarto que o guarda, e trancou a casa com o ferrolho, e fechou as
trancas de cada porta! No meio da noite, ele pensa que ouve uns
passos, e desce, tremendo, para inspecionar seu quarto de segurança.
Havendo inspecionado o quarto e provado todas as barras ferro que
estão nas janelas, e não tendo descoberto nenhum ladrão, teme que o
ladrão, teme que o ladrão possa ter ido e vindo e roubado o precioso
tesouro. Então abre a porta de seu cofre forte, observa, e espia,
encontra que sua bolsa de ouro está segura, e que essas escrituras e
esses títulos estão seguros também. Ele os coloca à parte, fecha a porta,
tranca-a com a chave, fecha os ferrolho e os passadores do quarto em
que está o cofre forte com todos os seus pertences; mas enquanto se
retira para seu leito, imagina que um ladrão acaba de entrar. Assim,
dificilmente desfruta de um sono profundo e reparador. A segurança do
tesouro do cristão é de um tipo completamente diferente. Sua alma não
está sob as trancas ou ferrolhos, nem sob a fechadura nem a chave que
ele mesmo tinha fornecido, mas que há transferido tudo o que tem ao
Rei eterno, imortal, invisível, o único Deus sábio, nosso Salvador, e tal é
sua segurança que desfruta o sonho do amado, descansando
tranquilamente, pois tudo está bem.
Se Jesus pudesse falhasse conosco, poderíamos usar pano de
saco perpetuamente, mas como Ele é imutável em Seu amor e
onipotente em Sua força, podemos por as vestes de louvor. Crendo
como cremos que o eterno amor não pode abandonar, nem abandonará
uma alma que se apoia em seu poderio, triunfamos no coração e
encontramos que a glória já começou aqui embaixo.
IV. Agora, para concluir, qual é A INFLUÊNCIA DESSA SEGURANÇA quando
penetra na mente?
Visto que meu tempo se esgota, somente direi que, como no caso
do apóstolo, essa seguramça nos capacita para resistir todo o opróbrio
que poderíamos encontrar por servir o Senhor. Diziam que Paulo era um
néscio. ―Bem — ―não me envergonho, porque eu sei em quem tenho
crido; e estou disposto a ser considerado um néscio. Os ímpios podem
rir de nós agora, mas seu riso acabará em breve, e o ganhador sempre é
o que rirá ao final. Sintam-se perfeitamente confiantes que tudo está
seguro, e podem permitir que o mundo ria de vocês até que sua face
doa. Que importa o que pensam os mortais? O que significa o que o
universo inteiro pense se Deus ama nossas almas? Meus queridos
amigos, quando vivam na plena segurança do amor de Deus, se
voltaram indiferentes as opiniões dos seres carnais. Andarão por ai
cumprindo com seu serviço celestial com o olhar fixo unicamente na
vontade de seu Senhor, e o juízo dos que se oponham e censuram lhes
parecerá indigno da menor consideração. Se duvidam e possuem medo,
será muito difícil que o logrem; mas se estão serenamente confiantes
em que Ele é poderoso para guarda-los, se atreverão a enfrentar a
contenda mais dura sem temor, já que sua armadura é suficientemente
sólida para resistir.
A segurança lhes proporcionará uma serenidade interior que os
habilitará para prestar mais serviço. Uma pessoa que está sempre se
preocupando pela salvação de sua própria alma tem poucas energias
para servir a seu Senhor. Mas quando a alma conhece o significado das
palavras de Cristo: ―Está consumado, volta toda sua força nos canais
de serviço por amor a esse Salvador tão bendito. Oh, vocês que
duvidam, e que, portanto, se inquietam e se preocupam, e fazem a
pergunta: ―Amo ao Senhor ou não? Sou Seu ou não o sou?, como
desejaria que esse suspense terminasse para vocês. Oh, vocês, que
temem diariamente que depois de tudo pudessem ser desprezados,
vocês perdem sua força para servir a seu Deus. Quando estão seguros
de que Ele é poderoso para guardar o que você tem depositado nEle,
então sua humanidade inteira, motivada pela gratidão, se gasta e é
gastada na causa do seu Senhor. Que Deus os faça homens com
plenitude de vigor, dando-lhes plenitude de segurança.
Aqueles que não são salvos neste lugar poderiam muito bem
invejar aqueles que são. O que me atraiu a Cristo— não ouvi falar de
outros que tenham sido trazidos dessa maneira, mas isso me trouxe a
Cristo principalmente — foi a doutrina da segurança dos santos.
Enamorei-me do Evangelho através dessa verdade. ―Como! – pensei –
―estão de fato seguros aqueles que confiam em Jesus? Não perecerão
jamais e nada os arrebatará da mão de Cristo?
Todo o mundo valoriza a segurança. Alguém não asseguraria sua
vida se pensasse que há dúvida com respeito à segurança da
companhia Seguradora. Sentindo que havia perfeita segurança se eu
me entregava ao Redentor, assim o fiz, não lamento até hoje ter
entregado minha alma a Ele. Jovens, não podem fazer nada melhor nas
etapas iniciais de sua vida que confiar seu futuro ao Senhor Jesus.
Muitos filhos em casa aparentam serem excelentes, muitos adolescentes
antes de abandonar a casa de seu pai são amigáveis e de caráter
louvável; mas este é um mundo rude, e ele logo arruína as graças que
têm sido nutridas ao abrigo da vida doméstica. Alguns bons garotos
frequentemente se convertem em homens maus; e garotas que eram
muito amáveis e puras no lar se têm sabido que se tornaram mulheres
muito perversas. Oh filhos, seus caracteres estarão seguros se os
confiam a Jesus. Eu não digo que serão ricos se confiam em Cristo;
nem digo que prosperarão a maneira dos homens, mas o que digo é que
serão felizes na verdade, no melhor sentido dessa palavra, e que sua
santidade será preservada por haver-se confiado a Jesus. Eu oro
pedindo que sejam conduzidos a desejar entregar-se a Deus,
especialmente qualquer de vocês que está a ponto de abandonar a casa
paterna, o que está estabelecendo algum negócio por conta própria.
Este primeiro domingo de ano novo é um tempo apropriado para
começar retamente! Oh, que o Espírito Santo sussurre suavemente a
seus ouvidos algumas razões que os persuadam a entregar-se a Cristo.
Eu lhes digo novamente: meu testemunho é que não podem fazer
uma coisa mais sabia, ou melhor. Oh, eu desejaria que vocês
conhecessem a felicidade que minha alma conheceu ao descansar em
meu Senhor! Eu não deixaria de ser um cristão, ainda se em troca
pudesse ser convertido em um rei ou um anjo. Nenhum caráter pode
ser para mim tão apropriado ou tão feliz como o de alguém que depende
humildemente do amor fiel do meu Senhor redentor. Oh, venham e
confiem Nele, amados e jovens amigos! Vocês que são maiores,
necessitam que lhes fale quanto já estão se aproximando tanto da
tumba? Vocês estão sem Cristo agora? Quão pronto poderiam estar no
inferno? Vocês que são mais jovens, eu lhes digo que apanhem esta
hora passageira, e que este seja o dia da qual cantem em anos
posteriores—
“Está feita! A grande transação foi feita;
Eu sou do meu Senhor, e Ele é meu;
Ele me atraiu, e eu O segui,
Encantado de confessar a voz divina.
O alto céu, que ouviu o voto solene.
Esse voto renovado haverá de ouvir cada dia,
Até eu cair na última hora da vida,
E bendiga na morte um laço tão querido”
Porção da Escritura lida antes do sermão: 2 Timóteo 1.17
Charles Haddon Spurgeon
Enviado por Silvio Dutra Alves em 01/07/2013