Legado Puritano
Quando a Piedade Tinha o Poder
Textos
Manhã sem Nuvens
 
Por J. C. Ryle
 
"Disse o Deus de Israel, a Rocha de Israel a mim me falou: Aquele 
que domina com justiça sobre os homens, que domina no temor 
de Deus, é como a luz da manhã, quando sai o sol, como em 
manhã sem nuvens, cujo esplendor, depois da chuva, faz brotar 
da terra a erva. Não está assim com Deus a minha casa? Pois 
estabeleceu comigo uma aliança eterna, em tudo bem definida e 
segura. Não me fará Ele, prosperar toda a minha salvação e a 
minha esperança?" (2 Samuel 23:3-5)
 
Esse texto é retirado de um capítulo que deve ser de muito interesse para 
todo Cristão. Ele começa com uma expressão tocante:
“São estas as últimas palavras de Davi”.
Se quer dizer que “essas são as últimas palavras que Davi falou 
por inspiração como um salmista” ou “essas são as palavras que estão 
entre os últimos dizeres de Davi antes de sua morte” pouco importa. 
Em ambos os pontos de vista, a frase sugere muitos pensamentos.
Elas contém a experiência de um velho servo de Deus que teve 
muitos altos e baixos em sua vida. São palavras de um velho soldado 
lembrando-se de suas campanhas. São palavras de um velho viajante 
olhando para trás, as suas jornadas.
 
I. Primeiro vamos considerar a humilhante confissão de Davi.
Ele olha à frente com um olhar profético para a futura vinda do 
Messias, o prometido Salvador, a semente de Abraão e a semente de 
Davi. Ele olha à frente para a vinda de um reino glorioso onde não 
haverá perversidade e a justiça será o caráter universal de todos os 
sujeitos. Ele olha a frente para o ajuntamento final de uma família 
perfeita onde não haverá membros doentes, nem com defeitos, nem 
com pecados, nem com tristezas, nem com morte e nem com lágrimas. 
E ele diz, a luz desse reino será “como a luz da manhã, quando sai o 
sol, como manhã sem nuvens”.
Mas então ele se volta para sua própria família, e tristemente 
diz, “não está com Deus assim a minha casa”. Não é perfeita, não é livre 
de pecado e ela tem manchas e máculas de todos os tipos. Isso 
tem custado a mim muitas lágrimas. Não está como eu desejava e 
nem como eu em vão tentei fazê-la.
O pobre Davi pode bem dizer isso! Se houve um homem cuja
casa era cheia provações e alguém cuja vida foi cheia de tristeza, esse 
homem foi Davi. Provações de inveja de seus próprios irmãos, provações 
de injusta perseguição por Saul, provações de seus servos, como 
Joabe e Aitofel, provações de uma esposa, ainda que Mical o tenha 
amado tanto, provações de seus filhos, Absalão, Amnon, Adonias, 
provações de seus próprios subordinados, que uma vez se esqueceram 
de tudo que ele havia feito e o expulsaram de Jerusalém em rebelião, 
provações de todos os tipos, ondas sobre ondas, estavam continuamente 
quebrando sobre ele, até o fim de seus dias. Algumas das piores dessas 
provações, sem dúvida, foram às consequências de seus próprios pecados 
e o sábio castigo de um Pai amoroso. Mas se não sentimos que Davi foi de 
fato “um homem de dores”, devemos ter um coração duro.
Mas essa não é a experiência de muitos dos mais nobres e queridos santos 
de Deus? Como um leitor cuidadoso da Bíblia pode falhar em ver que Adão, 
Noé, Abraão, Isaque, Jacó, José, Moisés e Samuel foram todos homens de 
muitas tristezas e que essas tristezas vieram principalmente de suas 
próprias casas?
A simples verdade é que as provações que ocorrem dentro de 
casa representam um dos muitos meios pelos quais Deus santifica e 
purifica seu povo amado. Através dessas provações Deus nos mantém 
humildes. Através delas, Ele atrai-nos a Si mesmo. Por elas, Ele nos 
envia para nossas Bíblias. Por elas, Ele nos ensina a orar. Mostra-nos 
nossa necessidade de Cristo. Afasta-nos do mundo. Prepara-nos para 
uma “cidade que tem fundamentos” (Hebreus 11:10), na qual não 
haverão decepções, nem lágrimas e nem pecados. Não existe uma 
marca especial do favor de Deus quando Cristãos não passam por 
provações. Elas são uma medicina espiritual que o pobre ser humano 
caído absolutamente precisa. O progresso do Rei Salomão foi uma 
contínua paz e prosperidade. Mas é bastante duvidoso se isso foi bom 
para sua alma.
Antes de sairmos dessa parte de nosso assunto, vamos aprender 
algumas lições práticas.
a) Aprendamos que pais não podem dar graça para seus filhos, 
nem mestres para os seus servos. Podemos usar os meios, mas não 
ordenamos o sucesso. Podemos ensinar, mas não podemos converter. 
Podemos mostrar ao redor de nós o pão e a água da vida, mas não 
podemos fazer com que eles comam ou bebam dela. Apontamos o caminho 
da vida eterna, mas não podemos fazer com que outros andem nele. 
“É o Espírito que vivifica” (João 6:63). Não vem do sangue e nem 
da vontade do homem (João 1:13). Dar vida é a grande prerrogativa de 
Deus.
b) Aprendamos a não esperar muito de qualquer um ou qualquer 
coisa desse mundo caído. Um grande segredo da infelicidade é o 
hábito de se deleitar em expectativas exageradas. No dinheiro, no 
casamento, negócios, casas, crianças, honras mundanas e no sucesso 
político dos homens estão constantemente esperando o que eles nunca 
poderão encontrar; e a grande maioria morre decepcionado. Feliz é 
quem aprendeu dizer a todo tempo: “Somente em Deus, ó minha alma, 
espera silenciosa, porque Dele vem minha esperança” (Salmo 62:5).
c) Aprendamos a não nos surpreendermos ou nos afligir quando 
a provação vem. Esse é um sábio ditado de Jó (5:7): “O homem nasce 
para o enfado, como as faíscas da brasa voam para cima”. Alguns, sem 
dúvida, têm um copo de tristezas para beber maior que o dos outros. 
Mas poucos vivem sem problemas ou sem preocupações de algum 
tipo, por muito tempo. A maior de nossas afeições profundas são nossas 
aflições e quanto mais amarmos, mais nós teremos que chorar. A 
única coisa certa que podemos prever sobre um bebê deitado em seu 
berço é isso: se ele crescer, terá muitos problemas e no fim morrerá.
d) E por último, vamos aprender que Deus sabe muito melhor do 
que nós, qual o melhor tempo para nos afastar daqueles que nós amamos. 
A morte de alguns dos filhos de Davi foi dolorosamente marcante, tanto na 
época, na maneira e quanto nas circunstâncias que 
ocorreram. Quando o pequeno filho de Davi adoeceu, Davi pensou que 
haveria possibilidade da criança sobreviver, então ele jejuou e orou até 
que tudo acabou. Porém, quando o último suspiro foi dado, ele disse 
com forte segurança de ver a criança novamente: “Eu irei a ela, porém 
ela não voltará para mim” (II Samuel 12:23). Mas, ao contrário, quando 
Absalão morreu na batalha – o belo Absalão, o querido de seu 
coração, mas que morreu em pecado contra Deus e contra seu pai, o 
que foi que Davi disse? Ouça seu choro desesperado: “Meu filho Absalão, 
meu filho, meu filho Absalão! Quem me dera que eu morrera por 
ti, Absalão, meu filho, meu filho!” (II Samuel 23:33). Ai de nós! Nenhum 
de nós saberá quando o morrer é o melhor para nós mesmos, para 
nossos filhos e para nossos amigos. Devemos orar para estarmos 
prontos para dizer: “Meus dias estão em suas mãos”, seja quando Tu 
quiseres, onde Tu quiseres e como Tu quiseres (Salmo 31:15).
 
II. Segundo, vamos considerar o que foi a fonte do conforto 
presente na vida de Davi. Ele diz: “Embora minha casa não seja como 
eu gostaria e causa de muitas tristezas, Deus tem feito comigo um pacto 
eterno em todas as coisas e seguro”.
Agora, essa palavra “pacto” é uma coisa profunda e misteriosa, 
quando aplicado a qualquer coisa que Deus faz. Nós conseguimos entender 
o que é um pacto entre homens. É um acordo entre duas pessoas, pelo 
qual eles se comprometem em cumprir certas condições e 
fazer certas coisas. Mas quem pode entender plenamente um pacto 
feito pelo Deus Eterno? É algo que está muito acima de nós e longe de 
nossa visão. É uma frase pela qual Ele está graciosamente satisfeito 
em acomodar a Si mesmo a nossas pobres e fracas faculdades, mas 
que no melhor, nós podemos entender só um pouco.
O pacto de Deus, que Davi se refere como seu conforto, deve 
significar um acordo eterno ou um conselho entre as Três Pessoas da 
Abençoada Trindade, que tem existido desde a eternidade para o 
benefício de todos os membros vivos de Cristo.
É um misterioso e inefável acordo, onde todas as coisas 
necessárias para a salvação de nossas almas, nossa presente paz e 
nossa glória final, são plenamente e completamente fornecidas. E tudo 
pelo trabalho conjunto do Deus o Pai, Deus o Filho e Deus o Espírito 
Santo. A obra redentora do Deus Filho por morrer como um Substituto na 
cruz, a obra de Deus o Pai em nos escolher e nos chamar para 
o seu Filho e a obra santificadora do Espírito Santo em despertar, vivificar 
e renovar nossa natureza caída estão todas contidas nesse pacto, 
além de qualquer coisa que a alma do crente precisa entre a graça e a 
glória.
Nesse pacto, a Segunda Pessoa da Trindade é o Mediador (Hebreus 12:24). 
Através Dele todas as bênçãos e privilégios do pacto são 
cedidas para cada um de Seus membros que crêem Nele. E quando a 
Bíblia fala de Deus fazendo um pacto com homem, nas palavras de 
Davi, significa com homem em Cristo como um membro e parte do 
Filho. Eles são seu corpo sobrenatural, Ele é a Cabeça, e através do 
Cabeça todas as bênçãos do pacto eterno são cedidas ao corpo. Cristo, 
em uma palavra, é o Fiador do pacto, e através Dele os crentes recebem 
seus benefícios. Esse é o grande pacto que Davi tinha em vista.
Verdadeiros Cristãos fariam bem em pensar sobre esse pacto, 
lembrá-lo, e deslizar o peso de suas almas sobre ele além do que eles 
podem fazê-lo. Há uma indizível consolação em pensar que a salvação 
de nossas almas tem sido provida desde toda a eternidade e não é um 
mero assunto do passado. Nossos nomes têm sido escritos no livro da 
vida do Cordeiro. Nosso perdão e paz pelo sangue de Cristo, nossa for-
ça para o dever, nosso conforto na provação, nosso poder para lutar 
as batalhas de Cristo, foi tudo arranjado para nós, desde a eternidade,
muito antes de nascermos. Aqui na terra nós oramos, lemos, 
guerreamos, lutamos, lamentamos, choramos, muitas feridas são 
deixadas e são vários os obstáculos superados na nossa caminhada. 
Mas devemos lembrar que os olhos do Todo-Poderoso há muito tempo 
estão sobre nós e que temos sido objetos da provisão Divina, embora 
não saibamos.
Acima de tudo, os cristãos nunca devem esquecer que o pacto 
eterno é “determinado em tudo e seguro”. As mínimas coisas em nossas 
vidas diárias estão trabalhando para o bem, embora não enxergamos no 
momento. Os muitos cabelos de nossa cabeça estão todos 
contados, e nem um pardal cai no chão sem nosso Pai permitir. Não 
há sorte ou acaso em qualquer coisa que acontece conosco. Os eventos 
mínimos em nossas vidas são parte do plano ou desenho eterno na 
qual Deus tem predito e arranjado todas as coisas para o bem de nossas 
almas.
Vamos todos nós tentar cultivar o hábito de se lembrar do pacto 
eterno. É uma doutrina repleta de consolação, se for propriamente 
usada. Não quer dizer que destrói nossa responsabilidade. É grandemente 
diferente do fatalismo de Maomé. É especialmente planejada 
para ser um sincero refresco, para uso prático em um mundo cheio de 
tristezas e provações. Devemos nos lembrar, em meio das muitas 
tristezas e decepções da vida que “o que não sabemos agora, saberemos 
futuramente”. Há um significado e uma “necessidade de ser” em 
cada copo amargo que nós temos de beber, e uma sábia causa para 
cada perda e privação das quais lamentamos.
Depois de tudo, quão pouco a gente sabe? Somos como crianças que 
observam uma construção inacabada e que não têm a 
menor ideia do que ela será quando estiver completa. Elas vêem massas 
de pedra, tijolos, entulho, madeira, argamassa, andaimes e sujeira, tudo 
em uma aparente confusão. Mas o arquiteto que desenhou a construção 
vê ordem em tudo e silenciosamente enxerga para frente com alegria 
para o dia quando toda a construção será finalizada, os andaimes serão 
retirados e levados para longe. E dessa forma também é conosco. 
Nós não compreendemos o significado de muitas das providências em 
nossas vidas e somos tentados a pensar que tudo a nosso redor está 
confuso. Mas devemos tentar lembrar que o grande Arquiteto no céu está 
sempre trabalhando sabiamente e bem, e que estamos sempre sendo 
“levados pelo caminho direito para uma cidade de habitação” (Salmo 
 
107:7). Na manhã da ressurreição será tudo explicado. Esse é um estranho, 
mas sábio ditado de um velho doutor: “a verdadeira fé tem olhos brilhantes 
e podem enxergar mesmo na escuridão”.
É registrado a respeito de Bernard Gilpin, um Reformador que viveu nos 
dias dos martírios de Mary I, a Sanguinária, e chamado de Apóstolo do 
Norte, que era famoso por nunca murmurar ou reclamar de qualquer coisa 
que acontecesse a ele. Nos piores e mais negros momentos ele costumava 
sempre dizer: “Está tudo no pacto eterno de Deus e deve ser para o bem”. 
Próximo ao fim do reinado da Rainha Mary, ele foi de repente convocado de 
Durham para Londres, para ser acusado de heresia, e com todas as 
probabilidades, assim como Ridley e Latimer, ser queimado. O bom homem 
silenciosamente obedeceu à convocação, e disse para seus amigos 
entristecidos: “Está tudo no pacto e deve ser para o bem”. Na viagem de 
Durnham para Londres seu cavalo caiu, sua perna quebrou e ele foi levado 
a uma pousada na beira da estrada. E mais uma vez foi questionado, “o 
que você acha disso?”. E de novo ele respondeu: “Está tudo no pacto e 
deve ser para o bem”. E assim foi. Semanas e semanas se passaram antes 
de sua perna se curar e então ele estava pronto para retomar sua viagem. 
Mas durante aquela semana, a infeliz Rainha Mary faleceu, as perseguições 
cessaram, e o digno Reformador antigo retornou para seu lar no norte, 
regozijando. Ele disse para seus amigos: “Não falei a vocês que tudo 
trabalha para o bem?”
Seria bom para nós se tivéssemos algo da fé de Bernard Gilpin e 
pudéssemos fazer uso prático do pacto eterno como ele fez. Feliz é o 
Cristão que pode dizer em seu coração essas palavras: 
“Não sei o caminho em que estou indo,
Mas eu bem conheço o meu Guia;
Com a confiança de uma criança 
eu dou a minha mão
Para o poderoso Amigo ao meu lado.
A única coisa que eu digo a Ele,
Enquanto ele conduz é: “Segure-a firme,
não me deixando perder meu caminho,
e me leve para o lar no final.”
 
III. Por ultimo, vamos considerar qual era a esperança de Davi 
para o futuro. Essa esperança, sem dúvida, era o glorioso advento do 
Messias ao final do mundo e a criação de um reino de justiça na restituição 
final de todas as coisas.
Claro, a visão de Davi desse reino era obscura e vaga, comparada àquela 
que está ao alcance de qualquer leitor inteligente do Novo 
Testamento. Ele não era ignorante a respeito da chegada do Messias 
para sofrer, pois ele falou sobre isso no Salmo 22. Mas ele viu além da 
chegada do Messias para reinar, e sua fé ardente sobrepôs o intervalo 
entre os dois Adventos. Sua mente estava fixa na promessa de que a 
“semente da mulher deveria” um dia “esmagar a cabeça da serpente”
completamente, de que a praga deveria ser levada para fora da terra e 
que os efeitos da queda de Adão seriam completamente removidos, 
não tenho dúvida disso de modo algum. A Igreja de Cristo fará bem se 
tiver andado nos passos de Davi e dar grande atenção ao Segundo Advento 
como Davi fez.
As figuras e comparações que Davi usa na fala sobre o advento e 
futuro reino do Messias são singularmente lindas, e admiravelmente 
ajustadas para mostrar os benefícios que trarão para a Igreja e para 
terra. O Segundo Advento de Cristo será “como a luz da manhã, quando sai 
o sol, como manhã sem nuvens, cujo esplendor, depois da chuva, 
faz brotar da terra a erva”. Essas palavras merecem uma centena de 
pensamentos. Quem pode olhar ao redor, observar o estado do mundo 
em que nós vivemos e não ser obrigado a confessar que nuvens e trevas 
estão por todos os lados? “Porque sabemos que toda criação, a um 
só tempo, geme e suporta angústias até agora” (Romanos 8:23). Onde 
formos veremos confusões, brigas, guerras entre nações, incapacidade 
dos estadistas, descontentamento e murmúrios nas classes mais 
baixas, luxúria excessiva entre os ricos, miséria extrema entre os 
pobres, intemperança, impurezas, desonestidade, fraudes, mentiras, 
trapaças, cobiça, paganismo, superstições, formalismo entre os Cristãos e 
decadência da religião verdadeira – essas são as coisas que 
vemos constantemente ao redor do globo, na Europa, Ásia, África e 
América. Essas são as coisas que corrompem a face da criação, provam que 
o diabo é “o príncipe desse mundo” e que o reino de Deus ainda não 
chegou. Essas são as nuvens que de fato muitas vezes escondem o sol de 
nossos olhos.
Mas há um tempo bom vindo, que Davi viu de muito longe, quando o 
estado dessas coisas será totalmente transformado. Há um reino chegando, 
no qual a santidade será a regra e o pecado não terá lugar, de nenhum 
jeito.
Quem olha ao redor para sua própria vizinhança e falha em notar que 
mesmo dentro de um quilômetro de seu próprio lar as consequências do 
pecado pousam pesadamente sobre a terra, e que a tristeza e o sofrimento 
abundam? Enfermidades, dores e morte chegam para todas as classes, não 
poupa ninguém, nem ricos e nem pobres. Muitas vezes o jovem morre 
antes do velho e o filho antes dos pais. Sofrimentos no corpo das mais 
terríveis descrições e doenças incuráveis tornam a existência de muitos 
uma miséria. Viuvez, esterilidade e solidão tentam muitas pessoas a se 
sentirem cansadas da vida, mesmo que tudo o que o dinheiro possa 
comprar, esteja ao alcance delas. Brigas de família, inveja e ciúmes 
acabam com a paz de muitos lares e são um verme na raiz de muitos 
homens ricos felizes. 
Quem pode negar que todas essas coisas são vistas por todos os lados? 
Existem muitas nuvens agora.
O estado dessas coisas nunca findará? A criação irá gemendo e sofrendo 
diante desse hábito para sempre? Graças a Deus, o Segundo Advento de 
Cristo fornece uma resposta para essas questões. O Senhor Jesus Cristo 
ainda não finalizou Sua obra em favor do homem. 
Ele virá novamente um dia (e talvez muito em breve) para estabelecer 
seu glorioso reinado, no qual as consequências do pecado não terão 
lugar nenhum. É um reino onde não haverá dor, nem doença, onde 
“nenhum morador dirá: Estou doente” (Isaías 33:24). É um reino onde 
não haverá despedidas, nem saídas, nem mudanças, nem adeus. É 
um reino onde não haverá mortes, funerais, lágrimas, nem luto. Um 
reino onde não haverá brigas, perdas, oposição, desapontamentos, 
filhos maus, servos ruins e amigos desleais. Quando a última trombeta 
tocar, os mortos ressuscitarão incorruptíveis, haverá uma grandiosa 
reunião de todo o povo de Deus e quando nós acordarmos, 
vamos nos satisfazer com a semelhança de nosso Senhor (Salmo
17:15). Onde há um coração Cristão que não anseia para o início dessas 
coisas? Bem, podemos fazer a última oração do livro de Apocalipse, e 
muitas vezes chorar, “ora vem, Senhor Jesus”.
(a) E agora, nós temos angústias? Onde está o homem ou mulher que 
poder dizer, “Eu não tenho nenhuma”? Levemos todas elas ao 
Senhor Jesus Cristo. Ninguém conforta como Ele. Ele que morreu na 
cruz para comprar o perdão de nossos pecados, está assentado à destra de 
Deus, com um coração cheio de amor e compaixão. Ele sabe o 
que é tristeza, pois Ele viveu trinta e três anos nesse mundo pecaminoso, 
sofreu em Si mesmo a tentação e viu sofrimento todos os 
dias. Ele não se esquece disso. Quando Ele subiu aos céus, para sentar a 
destra do Pai, Ele levou um perfeito coração humano com Ele. 
Ele pôde ser “tocado com os sentimentos de nossas enfermidades” 
(Hebreus 4:15). Ele pode sentir. Um dos seus últimos pensamentos na 
cruz foi por Sua Própria mãe, e Ele cuida do choro e das mães ainda 
desoladas.
Ele não se esquece de que nossos falecidos amigos em Cristo 
não estão perdidos, mas só foram antes. Nós os veremos novamente 
no dia da grande reunião, pois aqueles que “dormiram em Jesus, Deus 
os trará em Sua companhia” (1 Tessalonicenses 4:14). Nós os veremos 
em corpos renovados e os conheceremos novamente, melhores, mais 
bonitos e mais felizes do que nós nunca os vimos na terra. Melhor de 
tudo, nós os veremos com um sentimento confortável, de que nos 
encontramos para não nos separarmos mais. 
(b) Temos dificuldades? Nunca nos esqueçamos do pacto eterno
que Davi se agarrou até o fim de seus dias. Esse pacto ainda está em 
pleno vigor. Não foi cancelado. É propriedade de cada crente em Jesus, 
seja rico ou pobre, tanto quanto foi propriedade do filho de Jessé. 
Não demos lugar a um espírito preocupado, murmurador e queixoso.
Vamos firmemente crer que nos piores momentos e que cada passo 
em nossas vidas é ordenado pelo Senhor, com perfeita sabedoria e 
perfeito amor, e enxergaremos tudo isso no final. Não duvidemos que 
Ele esteja sempre fazendo as coisas bem. Ele é bom em dar e 
igualmente bom em tirar.
(c) Finalmente, não temos problemas? Nunca esqueçamos que 
um dos melhores remédios e o mais tranquilizante dos medicamentos é 
tentar fazer o bem aos outros, e ser útil. Vamos nos lançar para fora de 
nós mesmos, vamos tornar a tristeza menor e a alegria maior nesse 
mundo sobrecarregado de pecados. Há sempre algum bem a ser feito 
dentro de uns poucos metros das nossas portas. Que todo Cristão se 
esforce para fazer isso e aliviar outros corpos e mentes.
“Confortar e abençoar,
Encontrar um bálsamo para aflição,
Cuidar do solitário e do órfão,
Esse é o trabalho dos anjos daqui debaixo”.
Alimentar-se de forma egoísta em nossos problemas e debruçar 
preguiçosamente sobre nossas próprias tristezas é um dos segredos 
da miséria melancólica em que muitos gastam suas vidas. Se nós 
confiarmos no sangue de Jesus Cristo, vamos nos lembrar de Seu exemplo. 
Ele sempre “foi por toda parte fazendo o bem” (Atos 10:38). Ele 
não veio para ser ministrado, mas para ministrar, bem como para dar 
a Sua vida em resgate de muitos. Vamos tentar ser como Ele. Vamos 
andar nos passos do bom Samaritano e dar ajuda em qualquer lugar 
que ela seja realmente necessária. Até mesmo uma palavra dita em 
uma ocasião é muitas vezes uma benção poderosa. Essa promessa do 
Antigo Testamento ainda não está desgastada: “Bem - aventurado o 
que acode ao doente e necessitado; o SENHOR o livra no dia mal” (Salmo
41:1).
J. C. Ryle
Enviado por Silvio Dutra Alves em 02/07/2013
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