O Remédio Universal
Por C. H. Spurgeon
“Pelas suas pisaduras fomos curados.” (Isaías 53:5)
Recebi em um dia desta semana um breve comunicado que dizia o
seguinte: ―Se busca um remédio para uma fé débil e insegura,
especialmente para quando Satanás remove o desejo de orar.
Avidamente desejoso de prescrever alguns remédios para tais
enfermidades e para quaisquer outros males que pudessem aborrecer o
povo do Senhor, comecei a considerar quais eram os remédios sagrados
para um caso como esse, e só pude me lembrar de um: “As folhas da
árvore eram para saúde das nações. Nosso Senhor Jesus é uma árvore
de vida para nós, e todas as folhas – suponho que o Espírito Santo quis
dizer os atos, as palavras, as promessas e as leves aflições de Jesus –
são para a cura de Seu povo. Logo veio à minha mente o seguinte texto:
―Pelas suas pisaduras fomos curados. Não somente Suas feridas
sangrentas nos curam, mas mesmo as contusões de Sua carne; não
somente a obra dos cravos e da lança nos cura, mas a tarefa cruel da
vara e do chicote.
Dentre toda essa multidão de cristãos, não há ninguém aqui que está
completamente livre de algumas enfermidades espirituais; alguém
poderia dizer: ―Minha enfermidade é uma fé débil; outro poderia
confessar: ―Minha doença é entregar-me a pensamentos fantasiosos;
outro poderia exclamar: ―Meu mal é a frieza do meu amor; e uma
quarta pessoa poderia ter que lamentar sua impotência na oração.
Um remédio universal não bastaria para curar todas as enfermidades
em um plano natural, no instante em que o médico começa a proclamar
que sua medicina cura tudo, vocês podem supor sagazmente que não
cura nada. Mas nas coisas espirituais não sucede da mesma maneira,
pois há uma panaceia, isto é, há um remédio universal que é fornecido
pela palavra de Deus para todas as enfermidades espirituais a que o
homem possa estar sujeito, e esse remédio está contido nas poucas
palavras do meu texto: ―Por suas pisaduras fomos curados.
I. Então, esta manhã irei convidá-los a considerar, antes de mais nada,
A MEDICINA QUE ESTÁ PRESCRITA AQUI: as chicotadas do nosso
Salvador. Não se trata de acoites que deviam ser aplicados às nossas
próprias costas, nem de torturas infligidas em nossas mentes, mas a
dor que Jesus suportou por conta daqueles que confiam Nele. O profeta
entendia aqui, sem dúvida, que a palavra ―pisadura significava,
primeiro, literalmente, esses chicotes reais que caíram sobre os ombros
de nosso Senhor, quando foi flagelado pelos judeus e quando foi
posteriormente açoitado pelos soldados romanos.
Mas a intenção das palavras vai muito mais além disso. Não há dúvida
de que, com seu olho profético, Isaías viu os chicotes que vinham
empunhados pela mão invisível do Pai, que não caia sobre a carne de
Jesus, mas sobre sua natureza mais nobre e íntima, quando Sua alma
era açoitada pelo pecado, quando a justiça eterna foi o lavrador e
cavava sulcos profundos em Seu espírito, quando o chicote era
descarregado com uma força terrível, uma, e outra e outra vez mais
sobre a alma bendita Daquele que se fez maldição por nós, para que
Nele fossemos feitos justiça de Deus. Eu entendo que o termo
―pisaduras abrange todos os sofrimentos físicos e espirituais de nosso
Senhor, com referência especial a esses castigos de nossa paz que a
precederam ou, antes, que causaram Sua morte expiatória pelo pecado;
é por essas feridas que nossas almas são curadas.
―Mas, por quê? Você dirá. Pois bem, primeiro, porque nosso Senhor –
como ser sofredor – não era uma pessoa privada, mas sofria como um
indivíduo público e como um representante designado. Seus pecados,
em certo sentido, concluem em você mesmo, porém os pecados de Adão
não podiam terminar nele, pois perante Deus, Adão representava a raça
humana, e tudo o que ele fizesse, acarretaria seus efeitos terríveis sobre
todos os seus descendentes. Agora, nosso Salvador é o segundo Adão, a
segunda cabeça federal e representante dos homens, e tudo o que Ele
fez, tudo o que Ele sofreu, seria para proveito de todos os seus
representados. Sua vida santa é a herança de Seu povo, e Sua morte
cruel, com todas as suas dores e ansiedades, pertence àqueles que Ele
representava, pois eles efetivamente sofreram n’Ele e n’Ele ofereceram
uma vindicação à justiça divina. Nosso Senhor foi designado por Deus
para ocupar o lugar de Seu povo. Havia sido emitido o decreto que
sancionava Sua substituição, de tal maneira que quando Ele tomou a
frente como o representante dos homens culpados, Deus o aceitou,
havendo-o escolhido antecipadamente para esse fim específico.
Assim, então, amados, não devemos esquecer nunca que tudo o que
Jesus suportou e lhe sobreveio não foi em caráter de um indivíduo
privado, mas o que lhe recaiu foi como o grandioso representante
público de todos que n’Ele creem. Daqui que os efeitos de Suas dores se
apliquem a nós e com suas feridas sejamos curados. Seu sangue, Sua
paixão e Sua morte fazem expiação por nossa conta e nos livram da
maldição, enquanto que Suas contusões, Suas dores pulsantes e Seus
açoites, constituem um remédio incomparável que alivia nossas
enfermidades.
“Contemple como cada uma de Suas feridas
destila um bálsamo precioso,
sara as cicatrizes que o pecado deixou,
e cura todas as nossas doenças mortais”
Tampouco jamais esqueçamos de que nosso Senhor não era
meramente homem, pois, do contrário, Seus sofrimentos não serviriam
para a multidão de pessoas que agora estão curadas por suas feridas.
Ele era Deus e era também homem, e o mais misterioso e mais
maravilhoso de todos os feitos é que Deus se manifestou em carne,
e visto pelos anjos, e que na carne o Filho de Deus real e
certamente morreu e que foi enterrado, e que permaneceu três dias
no sepulcro. A encarnação, com sua sequela posterior de
humilhação, deve ser crida e aceita como um disposição sempre
memorável de condescendência; o Salvador se humilha desde o
mais excelso trono da glória até a cruz da mais profunda aflição.
Nem os querubins, nem os serafins podem medir essa poderosa
distância, as asas da imaginação se esgotam ao tentar cobrir essa
tremenda distância. Vocês tem que considerar que cada açoite que
caiu sobre nosso Emanuel, não caiu simplesmente sobre um
homem, mas sobre Um que é co-igual e eterno com o Pai. Ainda
que a Deidade não sofreu, contudo, estava em uma união tão
intima com a humanidade que infundiu um poder sobrenatural em
Seu corpo humano, sem dúvida, lhe proporcionou um valor
prodigioso superabundante diante de seus cruéis adversários
humanos. Ah, com que Rocha contamos como nosso apoio— um
Substituto coberto de contusões— um Substituto designado e aceito
por Deus, mas, também, o Substituto mesmo é Deus sobre todas as
coisas, bendito para sempre, e portanto, é capaz de suportar por nós o
que nunca poderíamos suportar, exceto permanecendo para sempre no
buraco mais profundo do inferno!
Irmãos, todos nós cremos que os sofrimentos de nosso Salvador nos
livram da maldição, já que Ele foi apresentado diante de Deus como
nosso substituto por tudo o que devíamos à Sua lei divina. Mas a cura
é uma obra que é realizada internamente, e o texto me conduz a falar
do efeito das feridas de Cristo em nosso caráter e nossa natureza, ao
invés do resultado produzido em nossa posição diante de Deus.
Sabemos que o Senhor nos tem perdoado e justificado por meio do
precioso sangue de Jesus, mas a pergunta em questão esta manhã é:
como essas dores e aflições nos ajudam a livrar-nos da enfermidade do
pecado que uma vez reinava em nós? No entanto, é necessário que eu
mencione primeiro o poder justificador do sangue de Jesus, porque
aparte a nossa fé em Jesus como um substituto e como alguém divino,
apenas Seu exemplo não seria capaz de curar o pecado. Os homens
têm estudado o exemplo de Cristo e o admiram, mas continuam sendo
tão vis como antes. Têm reconhecido Sua beleza, mas não se
apaixonaram por Sua pessoa. Somente quando eles confiam n’Ele como
um ser divino, é que eles chegam a sentir, posteriormente, a potência
desses poderosos acordes de amor que Seu exemplo sempre lança em
torno dos espíritos perdoados. Têm aprendido a amar a Jesus e sua
admiração se torna logo em algo prático, mas a mera admiração, além
de amor n’Ele e fé n’Ele, é somente uma fria e estéril luz lunar que não
produz nenhum fruto de santidade.
Amados, os açoites de Jesus operam sobre nosso caráter
principalmente devido ao que vemos n’Ele: um homem perfeito que
sofreu por ofensas que não eram Suas, vemos n’Ele um glorioso
Senhor, que, por amor a nós se fez pobre, sendo rico; reconhecemos
n’Ele o paradigma perfeito de afeto abnegado, vemos n’Ele uma
fidelidade que nunca poderia ser sobrepassada quando, através das
dores de sua morte, foi até o fim com o propósito de Seu coração: a
salvação de Seu povo; e ao observá-lo e estudar Seu caráter tal como é
revelado por suas aflições, nos vemos comovidos por Ele, e somos
destronados dos males espirituais que nos governavam e, por meio do
poder do Espírito, a imagem de Jesus Cristo fica estampada em nossa
natureza. Morto, Jesus nos justifica, ensanguentado, Jesus nos
santifica. Seus açoites cruéis são nossa purificação; Suas contusões
são golpes contra nossos pecados; Suas feridas mortificam nossas
lascívias. Isto é suficiente, pois, sobre o medicamento que nos cura: é o
sacrifício substitutivo de Cristo segundo é entendido em nossas mentes
e amado em nossos corações, e especialmente são esses incidentes de
opróbrio e crueldade que cobriram Sua morte com uma escuridão
muito profunda e que revelaram a paciência e amor do Substituto.
II. Agora vou lhes pedir, por alguns breves instantes, que
contemplem AS CURAS ILIMITÁVEIS OBTIDAS POR ESTA MEDICINA
NOTÁVEL.
Contemplem dois quadros. Observem o homem sozinho, sem o Salvador
ferido, e logo contemplem o homem que foi curado pelas feridas de seu
Salvador. Eu lhes peço que observem o homem, originalmente e longe
do Salvador. Nu, o homem é expulso do Jardim do Éden, convertido em
herdeiro da maldição. Em seu interior jaz oculto o câncer letal do
pecado. Se vocês gostariam de ver como o mal que habita em todos nós
cresce na superfície, poderiam contemplar prontamente todo seu horror
perto de sua casa; uma ou duas ruas poderiam conduzi-los ao carnaval
do pecado; ainda, que talvez, seria melhor que não vissem uma cena
tão corrupta. Nos infernos dos jogos, nas tavernas onde se encontram
os beberrões e se reúnem os ladrões em meio a juramentos, de
blasfêmias e de linguagem obscena e atos lascivos, é ali onde o pecado
espreita como um monstro plenamente desenvolvido. No homem
natural, educado e moral, o pecado aparentemente dorme como uma
víbora enrolada; é algo que, na aparência, não é digno de ser temido,
algo suave e indefeso como um pobre verme; mas quando se permite ao
homem fazer o que quer, prontamente sente o dente da víbora e as
presas envenenadas penetrando em todo seu sangue, e vocês veem a
prova de seu veneno letal em pecados notórios e abundantes; os
homens são cobertos com manchas visíveis da iniquidade, de tal
maneira que o olho espiritual pode ver no caráter a lepra plenamente
estendida, e todo tipo de abominações piores que a podridão das
enfermidades mais mortais da carne que brotam constantemente de
suas almas. Se pudéssemos ver o pecado tal como é considerado diante
dos olhos do Eterno que tudo discerne, estaríamos mais
impressionados ante o espetáculo do pecado que ante uma visão do
inferno, pois há algo no inferno que a pureza aprova, uma vez que é a
vindicação da justiça; é a justiça triunfante; mas no pecado mesmo há
abominação e somente abominação; é algo que não concorda com o
sistema inteiro do universo; é um jorro nocivo e perigoso para toda a
vida espiritual; é uma praga, é uma peste cheia de perigos para todo
aquele que respira. O pecado é um monstro, é algo abominável, é algo
que Deus não está disposto a olhar e Seus olhos puros só o podem
contemplar com um supremo aborrecimento. Um mar de lágrimas é o
meio adequado através do qual o cristão deveria olhar para o pecado.
Se quiser ver o que o pecado pode fazer, apenas tem que olhar com
olhos iluminados dentro do seu próprio coração. Ah, quanta malícia
mora ali! Você odeia o pecado, meu irmão; eu sei que tu odeias desde
que Cristo te visitou como a aurora do alto; mas, apesar de todo teu
ódio pelo pecado, há de reconhecer que todavia espreita em seu
interior. Tu que odeia a inveja, se descobre invejoso, você se acha
abrigando severos pensamentos para com Deus, tu que O ama e
entregaria sua vida por Ele; se vê prontamente irado contra seu próprio
amigo a quem cujo chamado entregaria alegremente todo seu ser a teu
favor. Sim, por culpa do poder do pecado fazemos aquilo que não
queremos fazer e o pecado nos degrada e envelhece; não podemos olhar
para nosso interior sem nos vermos sobrecarregados da baixeza da qual
descende nossos pensamentos secretos. Se desejar ver o pecado
ansiosamente em toda sua plenitude, venha e observe o abismo
insondável. Escute as abominações blasfemas. Se você tem algum valor,
escute os gritos misturados de miséria e paixão que sobem de Tofete, da
morada dos espíritos perdidos. Lá o pecado está maduro, aqui está
verde. Aqui vemos sua escuridão como sombras de entardecer, mas no
abismo é dez vezes noite. Aqui espalha tochas, mas lá suas insaciáveis
conflagrações queimam para sempre pelos séculos do séculos. Ah, se
tivéssemos graça para sermos livres do pecado agora, essa liberdade
nos salvaria da ira vindoura! O pecado, na verdade, é o inferno, é o
inferno em embrião, é o inferno em essência, é o inferno ardendo, é o
inferno emergindo da concha; o inferno é apenas o pecado manifestado
e desenvolvido plenamente. Chegue às portas do Tofete e entenda quão
maligna é a enfermidade para qual o céu proveu o remédio dos flagelos
do Unigênito.
Agora, amados, eu disse que lhes mostraria o remédio, mas somente
falei debilmente da enfermidade mesma para fazer-lhes ver, em
contraste, a grandeza da mudança. Observem amados, vocês que tem
crido em Jesus, observem que mudança tem sido operada em vós os
açoites; que diferentes são desde a amada hora em que se prostraram
aos pés d’Ele! Na verdade, no seu caso, no lugar da sarça tem crescido o
cipreste, e no lugar da urtiga tem crescido a murta. Vocês, que antes
eram cegos escravos de Satanás, agora são filhos felizes de Deus. As
coisas que uma vez amaram, ainda que Deus as abominasse, vocês
agora as odeiam de todo o coração; suas mentes e a mente de Deus
agora concordam em relação a luz e as trevas; vocês agora não
substituem uma pela outra. Quão transformados estão! São novas
criaturas; estão vivos entre os mortos. E o que operou isso? O que,
senão a fé no Crucificado e a contemplação de Suas feridas?
Contudo, querido amigo, a cura está muito longe de ser perfeita em ti;
se tu quiseres contemplar a perfeita saúde espiritual, olhe para lá, para
aqueles exércitos vestidos todos com mantos brancos e jubilosos são
sem mancha diante do trono de Deus; pesquise-os exaustivamente e
comprovará que eles são sem mancha; deixe que até mesmo o olho
Daquele que tudo vê esteja sobre eles, mas não se descobre nem
mancha nem ruga nem coisa semelhante. Como é isso? Foram lavadas
essas vestiduras até se tornarem brancas como a neve, tendo sido tão
imundas uma vez? Eles respondem com música jubilosa: ―Temos lavado
nossas roupas e as temos embranquecido no sangue do Cordeiro.‖
Pergunte-lhes de onde veio a vitória sobre o pecado que reinava sobre
eles.
“Eles, numa só voz,
Atribuem suas vitórias ao Cordeiro
E suas conquistas a Sua morte.”
Todos eles vão lhe dizer que tem recebido cura perfeita e que hoje a
desfrutam diante do trono de Deus, é o resultado da paixão do
Salvador. “Por suas pisaduras, dizem milhares de milhares com uma
só voz que é tão potente como o trovão e que é tão doce como os
harpistas que tocam suas harpas: ―Por suas pisaduras fomos curados.
III. Agora, amados irmãos, quero, que notem o detalhe, mais uma vez,
mui brevemente, para não lhes cansar, AS DOENÇAS QUE ESTA
PODEROSA MEDICINA CURA. Não vou tentar ler uma lista completa
das doenças, pois são mais numerosas do que se pode contar, mas
ainda que sejam muitíssimas, não existe uma só que não possa ser
curada pelos açoites de Jesus.
Quero recordar-lhes primeiro que a grande raiz de todo o mal — a
maldição que caiu sobre o homem através do pecado de Adão— foi
eficazmente suprimida. Jesus a assumiu, e se fez maldição por nós, e
agora não pode cair nenhuma maldição sobre nenhum daqueles por
quem Jesus morreu como um Substituto. São os benditos do Senhor,
sim, e serão benditos sem se importar que o inferno os amaldiçoe. A
maldição esgotou sua fúria, como uma tempestade que uma vez
ameaçava varrer tudo que estava em seu caminho, mas que agora tem
sido amenizada, a ira divina passou e está sendo substituída por
chuvas de misericórdia, alegrando os corações sedentos. Irmãos, Cristo
já nos curou de maneira sumamente eficaz da maldição de Deus que
pairava sobre nós.
Mas devo falar agora das enfermidades que temos sofrido e que temos
lamentado, e que ainda turbam a família de Deus. Uma das primeiras
enfermidades que foi curada pelos açoites de Cristo foi a mania do
desespero. Ah, recordo muito bem quando eu pensava que não havia
esperança para mim. Meu coração se perguntava: ―Como é possível que
meus pecados pudessem ser perdoados de maneira consistente com a
justiça de Deus? Pranteava na minha alma essa pergunta, uma, e
outra, e mais uma vez, mas não podia encontrar nenhuma resposta do
interior; e inclusive quando lia a palavra— embora a resposta estivesse
diante dos meus olhos — não a percebia para essa grande pergunta.
Mas, amados, quando entendi pela primeira vez que Jesus Cristo tomou
o lugar daqueles que n’Ele creem, e que, se eu confiasse n’Ele, todos os
meus pecados seriam perdoados por terem sido castigados na pessoa
de meu bendito Substituto, então já não teria mais motivo de
desespero; depois, escutei a palavra do Evangelho, e senti ―Há
esperança para mim, inclusive para mim. Quando entendi que não se
esperava nada de mim para minha salvação, mas que tudo deveria vir
de Jesus, que eu não devia ser ferido, nem deveria ser conduzido a
sofrer, mas que Ele havia sido golpeado e derramou sangue por minha
causa, e que minha vida devia ser encontrada em Sua morte e minha
cura em Suas feridas, então nasceu a esperança— uma ávida
esperança— e minha alma acudiu ao Pai, ao Deus de amor com
expectativas amorosas.
Não sucedeu o mesmo com vocês? Amados, puderam ter alguma vez
uma consoladora confiança em Deus sem ter visto as feridas de Jesus?
Se estiverem cobertos de uma paz que não provém das contusões de
Cristo, eu te imploro para se livrar delas, pois é uma presunção que
seguramente irá destruí-los. A única paz segura, sólida e permanente
que jamais possuiria um palpitante peito humano que jaz
dolorosamente sob a opressão do pecado, é aquela paz que surge de
olhar para o bendito Filho de Deus que derramou seu sangue sobre o
madeiro para que fossemos salvos por intermédio d’Ele. Os açoites de
Cristo são o verdadeiro remédio contra a mania do desespero.
Logo, se experimentamos uma dureza de coração e se mostra uma
enfermidade da alma bem conhecida como o coração de pedra, não
podemos obter a brandura, exceto se estivermos aos pés da cruz, sim,
ao menos que permaneçamos sempre ali.
Quando eu mesmo me sinto insensível às coisas espirituais (e me
envergonho dizer que não é um sentimento incomum), quando quero
orar, mas não consigo, quando quero me arrepender sem poder fazê-lo,
quando ―se você sente alguma coisa é unicamente a dor de descobrir
que não se pode sentir, descubro sempre que não posso flagelar-me
para me tornar sensível através das ameaças de Deus ou dos terrores
da lei; mas se me volto para cruz como um pobre ser culpado, assim
como fiz anos atrás, e se creio que o Redentor quitou todos os meus
pecados, por mais obscuros que sejam, e se acredito que Deus não
pode me condenar e não o fará, por mais endurecido que esteja, ah! O
sentido do perdão comprado com sangue dissolve em um instante o
coração de pedra. Eu não creio que haja algo que possa derreter o gelo
dentro de nós tão eficazmente nem que possa desfazer as grandes
geleiras de nossa natureza interior tão rapidamente, como o amor de
Jesus Cristo.
Oh, homem, isso te amolecerá! Criará uma alma no interior das
costelas da morte. Há uma energia secreta dentro do coração sobre a
qual está colocado o dedo da mão crucificada, que faz a alma despertar
de sonhos fatais. Cristo tem a chave da Casa de Davi, e Ele pode abrir
a porta de tal maneira que nem o homem nem o diabo podem fechá-la,
e desse coração aberto virão pensamentos piedosos, aspirações
celestiais, paixões sagradas e resoluções de natureza celestial. O
melhor remédio para a indiferença se encontra nos açoites de Jesus.
Oh crente, se olhares as gotas de suor sangrento, não te derreterás? Se
vês Jesus sendo beijado pelo traidor, se o observas quando é arrastado
pelos soldados, caluniado por testemunhas falsas, julgado por
adversários cruéis, esbofeteado pelos soldados, profanado pelos
cuspes, se tu o vês sendo perseguido pelas ruas de Jerusalém, e logo
atado à viga transversal, se contemplá-lo derramando o sangue de Sua
vida bendita por amor a nós, Seus inimigos, se toda essa tragédia não
te comove, o que mais poderia? Oh Deus do céu, se não sentimos
nenhuma ternura na presença de Teu Filho moribundo, nossas almas
foram construídas com aço endurecido pelo inferno!
Às vezes os crentes estão sujeitos à paralisia da dúvida. E como acaba
de falar agora meu amigo em seu clamor por um remédio, essa paralisia
poder vir acompanhada de uma rigidez da articulação do joelho da
oração; e quando essas afeições se juntam, depois sofremos uma
enfermidade complicada que não é fácil de prescrever; mas para o
Senhor é fácil fazê-lo, pois aqui está o remédio: “Por suas pisaduras
fomos curados. O sangue de Cristo é letal para a incredulidade. Uma
visão do Crucificado deixa a incredulidade muda, de tal maneira que
não pode expressar nem sequer uma só palavra de questionamento,
conquanto que a fé começa a cantar e regozijar-se ao ver o que fez o
filho Jesus e ver como Ele morreu. Quem não oraria ao ver o sangue de
Jesus sobre o propiciatório? A consideração do novo caminho vivente
que Cristo abriu com Seu sangue, uma visão do véu do corpo do
Salvador rasgado por Sua morte, no mínimo há de induzir os homens à
oração. Penso que poderia brandir argumentos que poderiam ser
abençoados para conduzir os homens a se colocarem de joelhos, tal
como o perigo de um espírito desprovido de oração, a influência
enriquecedora do propiciatório, os deleites da comunhão com Deus, e
muitas outras coisas, mas depois de tudo, se a cruz não põe o homem
de joelhos, nada o fará; e se a contemplação dos sofrimentos de Jesus
não nos constrange a nos achegarmos a Deus em oração, certamente o
próprio remédio principal teria falhado.
Existem algum santos que sofrem de sonolência da alma: a ferida de
Cristo é o melhor para os vivificar; a falta de vida perece na presença de
Sua morte, e as rochas se rompem quando a Rocha da Eternidade é
vista como um esconderijo para nós.
“Quem pode pensar, sem admirar?
Quem pode ouvir, sem sentir nada?
Ver expirar o Senhor da vida,
E, com tudo, conservar um coração de ferro?”
Muitas pessoas estão sujeitas a febre de orgulho, mas uma visão de
Jesus em sua humilhação, sofrendo tal contradição de
pecadores, tende a torná-los humildes. O orgulho baixa sua
crista quando ouve o grito: ―Eis aqui o homem! Na companhia
de alguém tão grandioso que suporta tão grande escárnio, não
existe lugar para vaidade.
Alguns estão cobertos com a lepra do egoísmo, mas se
houvesse algo que pudesse impedir que o homem leve uma
vida egoísta é a vida de Jesus, que salvou outros, mas a si
mesmo não pode salvar-se. Os avarentos e glutões e quem
busca a si mesmo não ama o Salvador, pois toda Sua conduta
os reprova.
Há alguns a quem muitas vezes lhes sobrevém o ataque de
raiva, mas que outra coisa poderia proporcionar mais
mansidão de espírito que a visão d’Aquele que foi como um
cordeiro mudo perante Seus tosquiadores, que não abriu Sua
boca diante da blasfêmia e da censura?
Se alguns de vocês sentem a agonizante tuberculose do
mundanismo, ou o câncer da avareza— pois enfermidades tão
repugnantes como essas são normais em Sião— os gemidos e aflições
do Varão de Dores, familiarizado com o sofrimento, comprovarão ser o
remédio. Assim como as sombras se desvanecem diante do Sol, assim
também todos os males fogem diante do Senhor Jesus. Mestre, ata-nos
à Tua cruz; não temeremos nenhum naufrágio fatal se estamos
sujeitos. Ligados por cordas às pontas do altar, nenhuma enfermidade
pode se achegar ali, pois o sacrifício purifica o ar. Salvador, se
somente pudéssemos ter Tua cruz diante dos nossos olhos,
poderíamos atravessar ilesos o inferno, apesar do vapor pestilento. Não
seria possível que toda a blasfêmia dos demônios e dos mais vis
homens poderia contaminar nossos espíritos, nem sequer por um
momento, se Teu sangue fosse aspergido sempre sobre as tábuas dos
nossos corações, e Sua profunda humilhação estivesse sempre
presente em nossas mentes. O barulho dos açoites nos conduz a cair
doentes, mas a doce lembrança da paixão e do bendito absorver do
mistério da morte do Senhor, seguramente lançará fora de nós todos
os males e impedirá que retornemos às trevas novamente.
IV. Agora devo prosseguir com um quarto ponto. Observem
cuidadosamente AS PROPRIEDADES CURATIVAS DA MEDICINA DE
QUE ESTAMOS FALANDO.
Vocês ouviram em detalhes sobre algumas das enfermidades, assim
como também da sua cura em grande escala; agora observem as
propriedades curativas da medicina; este remédio divino faz todo tipo de
bem em nossa constituição espiritual. Quando as contusões de Jesus
são apropriadamente consideradas, freiam a desordem espiritual.
O homem é conduzido a ver que o Senhor sofre por Ele, e uma voz fala a
suas paixões desenfreadas: ―Até aqui chegaram, mas não passarão
daqui. Aqui no Calvário, suas ondas altivas serão contidas. Meus pés
quase resvalaram e meus passos estiveram muito perto de deslizar, mas
a cruz de meu Senhor esteve diante de mim como uma barreira
sumamente eficaz para deter minha queda. Muitos homens têm
avançado em seu mal com grande velocidade e sem nenhum freio que
pudesse detê-los, até que uma visão do Homem, do Homem crucificado,
apareceu diante de seus olhos, e foram conduzidos a fazer uma bendita
pausa.
Leiam a vida memorável do coronel Gardiner, pois o que ocorreu com
ele, literalmente, tem ocorrido espiritualmente a dezenas de milhares de
pessoas: eles estavam alistadas no serviço do pecado e vendidos a
Satanás, mas uma visão do bendito Salvador imolado pelos pecadores os
obrigou a fazer uma pausa e, a partir desse momento, não se atrevem
mais a pecar. Agora, é algo grandioso que um médico encontre um
remédio que mantenha a enfermidade contida dentro de certos limites
para que não alcance a pior etapa de malignidade; e isso é o que a cruz
de Cristo faz: ata com cadeias a fúria da paixão profana. Que poder tão
milagroso tem as dores de Jesus sobre o crente! Ainda que sua
corrupção esteja ainda no interior, já não pode ter mais domínio sobre
ele, pois já não está mais debaixo da lei, mas sim debaixo da graça. O
fato mais feliz é que o pecado será em breve totalmente abolido, mas
pará-lo até que ele seja erradicado não é de nenhuma forma algo trivial.
A continuação, essa medicina aviva todos os poderes do homem
espiritual para resistir à enfermidade. “Por suas pisaduras fomos
curados, porque uma visão de Jesus Cristo vivifica nossa natureza
nascida de novo. Proíbe-nos viver no pobre ritmo agonizante que é tão
natural à nossa preguiça. Não podemos ter Cristo diante de nossos olhos
e prosseguir nosso caminho para o céu adormecidos como se a obra
espiritual fosse somente um sonho, um mero joguinho de crianças.
Aquele que verdadeiramente tem ido ao pretório onde Cristo foi açoitado,
e viu as torrentes de sangue que brotavam quando golpeavam seus
ombros feridos, e sentiu que todos deveriam ser merecidamente para ele,
experimenta que seu pulso espiritual é vivificado e que toda sua vida
espiritual é sacudida. Este fogo tem ajudado a queimar o pecado para
lançá-lo fora de seu ninho. Este poder dentro da alma tem montado uma
contraofensiva e tem feito retroceder os poderes da iniquidade.
Os açoites de Jesus Cristo tem também outro efeito curativo; restauram
a força que o homem perdeu por causa do pecado. Há um poder
restaurador nessa medicina sagrada. Ela leva meus pés desobedientes
de volta ao caminho que abandonei, e o caminho de volta passa pela
cruz. Ela restaura minha alma, e o alimento que me proporciona é sua
própria carne e sangue. Depois de que o pecado nos conduziu à
enfermidade e a enfermidade nos conduziu à debilidade, não há um
medicamento restaurador debaixo do céu que seja igual a viver em um
constante sentido cotidiano dos sofrimentos vicários de Jesus Cristo.
Anima-nos Seu doce amor tão claramente demonstrado em Seus
tormentos no Gólgota; sentimos que com um Salvador que sempre cuida
de nós, não necessitamos ficar temerosos.
Esta medicina também alivia a agonia da convicção. A angustia do
coração desaparece quando vemos que Jesus leva o castigo de nossa
paz. Quem se aproxima da cruz de Cristo e confia n’Ele, sente que ainda
que o pecado esteja presente nele e se lamente por isso, existe um
motivo de regozijo porque entende que Cristo venceu Seus inimigos, e os
levou cativos, atados às rodas de Seu carro.
―Vencerei, diz e não sente a intensidade da luta presente. ―Meus
pecados foram tirados para sempre, diz, pois Jesus morreu, e não há
espaço para o remorso, o terror ou o desespero. Beba do vinho marinado
do amor expiatório e não recordes mais da tua miséria, oh, tu, herdeiro
da imortalidade que está carregado de pecado!
Mas o melhor de tudo é que as feridas de Cristo tem o poder de erradicar
o pecado. Arranca-o da raiz, destrói as bestas no seu covil; mata o poder
do pecado em nossos membros. Eu não sei quão perto da perfeição o
crente pode ser levado nessa vida, mas Deus não quer que eu estabeleça
algum grau baixo de graça como o nível de tudo o que um santo pode
alcançar desse lado da tumba. Eu não ousaria limitar o poder de meu
Senhor no tocante a quanto o crente pode submeter-se ao pecado,
inclusive nessa vida, mas eu não espero ser perfeito nunca até me livrar
dessa carapaça mortal; no entanto, o grandioso resultado é glorioso;
nossa herança é a perfeição absoluta; seremos libertados da mais
mínima tendência ao mal; não restarão mais em nós possibilidades de
pecar tanto quanto as que existem em nosso Senhor mesmo. Seremos
tão puros como o próprio santo Deus trino, tão imaculado como o
Salvador sempre livre do pecado; e tudo isso será por meio das
pisaduras de nosso Senhor. Depois de tudo, a santificação é pelo sangue
de Cristo. O Espírito Santo a realiza, mas o instrumento é o sangue. Ele
é o Médico, mas os sofrimentos de Cristo são o remédio. O pecado não é
destruído nunca exceto pela fé em Jesus. Todas suas meditações sobre o
mal do pecado, e todos teus temores ante seu castigo, e todas suas
humilhações de alma e prostrações, nunca matarão o pecado. É na cruz
que Deus construiu uma força poderosa na qual qualquer pecado é
enforcado para sempre, e o mata; está ali, no Gólgota, mas unicamente
ali. O grande lugar da execução de nossas iniquidades, está
ali onde Jesus morreu.
Cristão lutador, você deve recorrer às agonias de teu Senhor, e deves
aprender a ser crucificado juntamente com Ele para o pecado, pois do
contrário nunca conhecerás a arte de dominar suas baixas paixões nem
de ser santificado em espírito. Eu tentei descobrir, desta maneira, a
força curativa que está na ferida de Jesus.
V. Agora, em quinto lugar, e brevemente – temo que vocês irão
pensar que são muitas divisões e muito pesadas, mas não posso
evitar— quero que revisem por alguns instantes OS MODOS DE
ATUAR DESTE REMÉDIO. Como atua? Bem, brevemente, seu efeito
sobre a mente é esse: o pecador que ouve sobre a morte do Deus
encarnado é conduzido pela força da verdade e pelo poder do Espírito
Santo, a crer no Deus encarnado. No instante em que o pecador crê, o
machado é posto na raiz do domínio de Satanás. Tão prontamente como
aprende a confiar no Salvador designado, sua cura inicia-se
efetivamente e ele será levado em breve à perfeição.
Depois da fé vem a gratidão. O pecador diz: ―eu confio no Deus
encarnado para minha salvação. Eu creio que Ele me salvou.‖ Bem,
qual é o resultado natural? Posto que a alma esteja agradecida e cheia
de gratidão? Como poderia não exclamar: ―Bendito seja Deus por este
dom inefável? Bendito seja Seu amado Filho que entregou Sua vida por
mim!” Se o sentido de tal favor não gerasse gratidão, não seria algo
natural nem absoluto; seria mesmo algo desprovido de toda
humanidade. A emoção que se segue à gratidão é o amor. Ele fez tudo
isso por mim? Estou sob tais obrigações? Então devo amar Seu nome.
O próprio pensamento que segue o amor é a obediência. Que farei para
agradar meu Redentor? Como posso cumprir Seus mandamentos e
honrar Seu nome? Não vê que o pecador está sendo curado mui
rapidamente? Sua enfermidade consistia que ele estava totalmente em
discordância com Deus, e resistia à lei divina, mas agora, olhe! Com
lágrimas nos olhos lamenta tê-Lo ofendido alguma vez; geme e sofre no lugar onde se
efetuavam as execuções e enforcamentos públicos, por
ter feito crucificar um amigo tão amado, por ter submetido a tais dores,
e pergunta, com amor e sinceridade: ―Que posso fazer para mostrar que
me desprezo pelo meu passado, e que amo a Jesus a partir de agora?
Em seguida avança e arde um ódio contra os pecados que mataram o
Senhor. ―Meus pecados mataram a Cristo? Foi minha iniquidade que o
cravou na cruz? Então vou me vingar dos meus pecados; não vou
perdoar a nenhum deles. Ainda que o pecado faça ninho no meu peito,
eu vou arrancá-lo dali, e se entrincheirar de tal maneira que eu não
posso tirá-lo fora exceto tendo que perder um olho e um braço, terá que
sair dessa forma, pois não vou abrigar nenhum desses pecados
malditos dentro de meu espírito. O selo sagrado e a ardente indignação
do homem emitem agora uma ordem de quebrantamento e o indivíduo
examina detalhadamente sua natureza para descobrir algum pecado,
clamando enquanto isso: ―Examina-me, oh Deus, e conhece o meu
coração, prova-me nas minhas inquietações, e vê se há em mim caminho
de perversidade, e guia-me ao caminho eterno.
Agora amados, não veem que as dores de Jesus podem trabalhar
ativamente em todas as faculdades saudáveis da nossa nova natureza, e
ainda que o pecado permaneça em nosso interior, há uma vitalidade
que acompanha a natureza nascida de novo que certamente lançará
fora esses poderes vis, e, pela graça de Deus, fará com que o homem
seja apto para participar da herança dos santos em luz?
VI. Quase não é necessário que agregue algo mais, exceto comentar, em
sexto lugar, que este remédio merece ser recomendado para todos
vocês, devido a SUA NOTÁVEL E FÁCIL APLICAÇÃO.
Eu lhes mostrei como funciona, e quais males cura e a quem cura.
Agora, há alguma medicação que seria curativa, mas cuja
administração é tão difícil e vem acompanhada de tanto risco em sua
operação, que raramente é utilizada, se é que alguma vez chega a ser;
mas a prescrita no texto é muito simples em si mesma, e é
recebida de maneira simples: tão simples é sua recepção que se
houvesse uma mente disposta a fazê-la, poderia ser recebida por
qualquer de vocês neste preciso instante, pois o Espírito Santo de Deus
está presente para ajudar essa mente.
Então, como é que o homem é curado pelas feridas de Cristo? Primeiro,
ouve acerca da ferida. Agora, vocês têm ouvido frequentemente sobre os
açoites do meu Senhor. Continuando, a fé vem pelo ouvir; isto é, o
crente crê que Jesus é o Filho de Deus, e confia n’Ele para que salve
sua alma. Então, havendo crido, o passo seguinte é que sempre que o
poder de sua fé comece a cambalear, deve voltar a ouvir de novo, ou
deve recorrer a algo que é ainda melhor: depois de ter ouvido para
beneficio, deve recorrer à contemplação; deve acudir até a mesa do
Senhor para receber ajuda por meio dos sinais externos, deve ler a
Bíblia, para que a letra da palavra refresque sua memória enquanto seu
espírito, e deve buscar com frequência uma ocasião de quietude como
teve Davi quando se prostrou diante do Senhor, e não deu espaço para
nenhuma outra coisa a não ser as coisas celestiais; deve ver a Cristo
gemendo no jardim, deve visualizá-lo sobre a cruz sangrenta, sofrendo,
e assim deve obter todo o benefício que se pode extrair dos açoites do
Crucificado.
Tudo o que podes fazer, pobre pecador, é simplesmente confiar e serás
curado; tudo o que você tem que fazer, oh rebelde santo, é contemplar e
crer novamente. Amados, devemos deixar que a velha imagem seja
selada de novo sobre nossa alma; devemos limpar o quadro, por assim
dizer, pois ele estava com o rosto voltado para a parede; agora temos
que desvirá-lo outra vez e estudá-lo novamente. Renova sua velha
amizade com o doce amante da alma, regressa ao amor de seu noivado,
vá ao Calvário, permaneça no Getsêmani, viva com Jesus onde quer que
Ele esteja; sozinho, considerando, meditando, refletindo naquilo que Ele
fez por ti. Este é o simples modo de aplicação.
VII. Tudo o que tenho a dizer para concluir é que a medicação é tão
eficaz, e já está preparada, e é oferecida gratuitamente, lhes suplico
QUE A TOMEM. Tomem-na irmãos, vocês que já conhecem seu
poderoso efeito há muitos anos. Não permitam que continuem as
rebeliões, antes, aproximem-se dos açoites de novo. Tomem-na, vocês
que duvidam, para que não caiam no desespero; acheguem-se aos
açoites outra vez. Tomem vocês que estão começando a confiar em si
mesmos e a serem altivos. Vocês tem necessidade de prostrar o rosto
em terra aos pés do seu Senhor. E, oh, vocês, que nunca creram n’Ele,
nesta clara manhã após a chuva, que o Senhor lhes conceda que
também possam vir, confiar n’Ele e por Ele viver.
―Oh — me escreveu alguém essa semana —―eu tenho crido que Jesus
morreu por mim, mas isso não me impede de pecar de todas as
maneiras possíveis. Nosso ministro disse que se cremos que Jesus
morreu por nós, seremos salvos. Não, não, isso não é o Evangelho, e
essa crença não é a fé, absolutamente. Não me surpreende que alguma
pobre criatura tivesse provado um evangelho assim e descobriu que
falhou. Não diz esse homem que Cristo morreu por todos e em seguida,
declarar que, se tu crer que morreu por você (o que necessariamente
deve fazer se Ele morreu por todos) então isso te salvará e, no entanto,
existem dezenas de centenas de pessoa que evidenciam que isto não as
salva, mas elas podem acreditar na redenção universal, porém
continuam vivendo como antes?
A fé consiste em confiar em Jesus Cristo. Essa é a única fé salvadora.
Não se pode confiar n’Ele sem ser curado; não podes colocar tua
confiança em Cristo e seguir sendo tal como era, pois há um poder em
Cristo que é aplicado pela fé, que muda o caráter e converte o pecador
em um novo homem para louvor e glória de Deus. Que o Senhor os
abençoe por Sua misericórdia. Amém.