“Jesus, nosso Senhor”
Por Charles Haddon Spurgeon
"Jesus, nosso Senhor." (Romanos 4:24)
"JESUS, nosso Senhor" é uma forma um tanto incomum de expressão
para ser usada nas Escrituras. Temos muitas referências
a "Jesus Cristo" e a "nosso Senhor Jesus Cristo", mas há apenas
uma ou outra passagem em que aquilo ocorre. Ainda assim, para mim,
parece ser indizivelmente doce. Serei grato a Deus com devoção se
em meu sermão eu for capaz de transmitir a vocês pelo menos um
dízimo da doçura que tenho extraído desta expressão para minha própria
apreciação.
Faz parte da fé aceitar contrastes muito grandes, e se olharmos por um
momento as palavras de nosso texto: "Jesus, nosso Senhor ", e
especialmente se olharmos para a conexão em que são encontradas,
veremos um grande contraste. Jesus, o homem "de dores", e ainda
assim, "nosso Senhor"; Jesus! Pensamentos de rejeição, tristeza e
vergonha agrupam-se em torno desse nome bendito e sempre
melodioso, mas Ele é "nosso Senhor" no mais alto e divino – Senhor
nosso e nosso Deus! A fé tem sido ensinada a pensar Nele, mesmo antes
de Seu nascimento, como o Cristo de Deus, e dar atenção à mensagem
do anjo a José: "E dará à luz um filho e chamarás o seu nome JESUS;
porque ele salvará o seu povo dos seus pecados. (Mateus 1:21). A fé
também se curva ante a manjedoura com os pastores adorando e com
os sábios do Oriente apresentando presentes, percebendo que a criança
é o Infinito, e que o Menino de Belém é o Rei dos reis e Senhor dos
senhores.
A fé vê Jesus em trajes humildes de um camponês da Galiléia, andando
na companhia de um bando de pescadores. Ela vê que Ele é um amigo
de publicanos e pecadores, mas ainda assim ela acredita ser Ele o Filho
do Altíssimo, embora carne e sangue não tenham revelado a ela essa
grande Verdade de Deus. Mesmo em Sua humilhação, ela O conhece
como Senhor do mar que fez as ondas da tempestade acalmarem ao Seu
comando, e como o Médico das doenças, diante do qual todos os tipos
de doenças, e até mesmo demônios, eles próprios, fogem rapidamente.
Ela sabe que Ele foi um homem que sofreu, mas ainda assim ela O
chama de "Senhor". Sim, apesar de na cruz ela contemplar, com olhos
cheios de lágrimas, Sua agonia e morte, mesmo lá O saúda como
Senhor! Ela o fez na oração de morte do ladrão: "Senhor, lembra de mim
quando vieres no Teu reino." E ela tem feito isso milhares de vezes
desde então. E agora, hoje, embora o nome de Jesus de Nazaré seja
cogitado e para muitos seja apenas um motivo de riso e o desprezado
Galileu tem por enquanto, apenas um balanço parcial sobre os filhos
dos homens, mas a fé O vê exaltado no mais alto céu e ela O reconhece
como ambos, Senhor e Deus!
E essas coisas que eu disse foram contrastes que eram da parte da fé
aceitar. Deixaram de ser contrastes para ela agora, pois agora a fé vê
pouco contraste entre a morte de Cristo e Seu reinado em glória! Na
verdade, ela entende que uma é consequência da outra, especialmente
quando lê uma passagem como esta: "Quem, sendo em forma de Deus,
não julgou como usurpação o ser igual a Deus, mas a si mesmo se
esvaziou, assumindo para si a forma de um Servo, e foi feito à
semelhança de homens; e, achado na forma de homem, humilhou-se, e
tornou-se obediente até à morte, até mesmo a morte de Cruz. Pelo que
também Deus o exaltou sobremaneira e Lhe deu um Nome que está acima
de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho dos que
estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra, e toda língua confesse que
Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai "
A fé se deleita em pensar que Cristo sendo o Senhor é o real fruto de Ele
ter morrido e de ter ressurgido dos mortos, pois ela compreende o
significado do Apóstolo Pedro, no Pentecostes, quando ele disse aos
judeus: "Este Jesus que Deus ressuscitou, do que todos nós somos
testemunhas ... Portanto, que toda a casa de Israel saiba com certeza que Deus fez o mesmo Jesus, a quem vós crucificastes, Senhor e Cristo”. A fé tem ouvidos atentos e ela tem ouvido Jeová falando na mesma linguagem que saudou os ouvidos de Davi;Jeová disse a meu Senhor: Assenta-te à minha direita, até que Eu faça escabelo de seus inimigos.
Mesmo quando a fé vê Jesus Cristo sob as circunstâncias mais
humilhantes, ela percebe como, fora dessa grande humilhação, Seu
Reino tem crescido e se deleita em reconhecer esse fato glorioso e com
reverente adoração ela O chama, "Jesus, nosso Senhor."
Antes de terminar esta introdução ao meu discurso, eu quero lembrá-
los, amados, que, apesar de toda a doçura com que o nome de Jesus é
associado, e da abençoada condescendência pela qual Ele trouxe a si
mesmo tão perto de nós, mesmo assim nossa fé nunca toma liberdades
com ele, ou se esquece de que Ele é "Jesus, nosso Senhor." Ele é
"Jesus". Oh, a doçura inefável desse nome querido, precioso e
consolador! Mas Ele também é "Jesus, nosso Senhor." E você vai
sempre achar que na proporção em que a fé cresce, cresce a reverência.
Incredulidade é presunção, mas fé é sempre humildade. Quanto mais
você conhece Jesus como seu Salvador, te poupando do pecado, mais
você também vai reconhecê-Lo como seu Senhor. Ninguém se rebela
contra Cristo porque acredita Nele, mas porque acreditamos em Deus,
Ele se torna o nosso Senhor e aprendemos a obedecer-Lhe. Este é o
espírito que eu anseio ter reinando em nossos corações – o espírito de
reverência, adoração devota a "Jesus, nosso Senhor.
Primeiro, vou tentar mostrar-lhes que a sensível condescendência de
Cristo encarece esse título para nós. Em segundo lugar, que os nossos
corações amorosos lêem esse título com ênfase peculiar. E, em terceiro
lugar, que nós encontramos uma doçura especial nessa palavra "nosso" – "Jesus, nosso Senhor".
I. Primeiro, então, quero mostrar-lhes A SENSÍVEL
CONDESCENDÊNCIA DE CRISTO ENCARECE ESSE TÍTULO PARA
NÓS. - "Jesus, nosso Senhor”.
Primeiro, queridos amigos, nós reivindicamos dar-Lhe este título,
especialmente porque Ele é Homem. "Jesus, nosso Senhor", diz o
Apóstolo, "Que foi entregue por nossas ofensas, e ressuscitou para
nossa justificação. Nós O adoramos da forma mais reverente e
carinhosa, porque Ele é Homem, assim como é Deus. Nós o chamamos,
"Jesus, nosso Senhor", como se, assim, significasse que nos
apropriamos Dele, especialmente para nós mesmos. Podemos até dizer
para os anjos, "Ele é o seu Senhor, porque Ele os criou e os sustenta. E
agrada-lhes fazer-Lhe homenagens, mas Ele não é um anjo. Ele não
tomou sobre Si a natureza dos anjos. Ele nunca os redimiu com Seu
sangue precioso; Ele nem é tão parecido com vocês, como Ele é parecido
conosco. Ele nunca os chamou de Seus irmãos, mas Ele é Jesus, nosso
Senhor, porque Ele nasceu de uma mulher e fez de acordo com a Lei, e
tornou-se um participante de nossa natureza humana e, portanto, Ele
não se envergonha de nos chamar irmãos – e Ele é osso dos nossos
ossos, e carne da nossa carne."
É agradável para nós pensar que o Reino de "Jesus, nosso Senhor" não
tem limites. Na verdade, dificilmente podemos imaginar quão grande é o
Seu domínio ou quão numerosos são Seus seguidores! Pode ser que
existam seres além em inúmeras galáxias – incontáveis como as areias
do mar – e que Jesus é Senhor de todas elas. No entanto, ele ainda tem
um relacionamento tão especial com esse pequeno planeta e com essa
raça de pobres homens e mulheres caídos, que essa terra O chama para
si como nenhum outro mundo pode reivindicá-Lo! E nós, Seu povo, O
chamamos de nosso como nenhuma outra criatura pode, pois, tão
verdadeiramente como Ele é Deus, assim é também homem. Eis que no
Trono do Deus altíssimo, há um homem como nós assentado! Os
homens de Israel disseram que tinham 10 partes no rei e mais direito
de Davi do que Judá tinha e nós temos 10 partes no Filho de Davi e
mais direito para ele que todo o resto de Suas criaturas têm! Sua
sensível condescendência, em tornar-se homem, encarece para nós o
título "Jesus, nosso Senhor". Nós O chamamos Senhor com toda a
disposição e prazer porque Ele nos amou e Se deu por nós. Você lembra
o argumento do apóstolo Paulo, escrevendo aos Coríntios, "Vocês não
são de vocês mesmos, pois vocês são comprados por bom preço:
glorificai, pois, a Deus no vosso corpo, e no vosso espírito, que é de
Deus"? Aquele que comprou-nos com tamanho preço, reivindica-nos
como Seus próprios e nenhum de nós, eu acredito, vai disputar sua
afirmação. Nós certamente cantamos:
“A Ele que amou as almas dos homens
E nos lavou no Seu sangue.
À real honra levantou nossa cabeça
E nos fez sacerdotes para Deus.
À Ele toda língua louve
E todo coração ame!
Todas as gratas honras pagas na terra,
E músicas mais nobres no céu!"
Nós o chamamos Senhor porque Ele nos fez para sermos novas
criaturas Nele e porque, como nosso Pastor, Ele não tem só nos guiado
e nos alimentado, mas porque deu a Sua vida por nós, que somos as
ovelhas do Seu rebanho. Agora Ele tendo feito isto por nós, Ele deve ser
nosso Senhor e Ele será o nosso Senhor! Cada gota de Seu sangue será
uma jóia da coroa que Ele deve usar como exercício de Sua soberania
de direito sobre nós. Toda cicatriz em seu corpo bendito será para nós
um sinal de Sua verdadeira realeza e tudo o que Ele suportou e sofreu –
até mesmo o vinagre e o fel – tudo isso será outro símbolo da Soberania
graciosa a que devemos alegremente nos submeter! Irmãos e irmãs em
Cristo, vocês não sentem que porque Ele morreu por nós, nós fazemos
tudo mais, e, certamente, não obstante, chamá-lo de "Jesus, nosso
Senhor"? Assim novamente Sua sensível condescendência encarece o
título para nós.
Além disso, em todos os privilégios que são concedidos a nós Nele, Ele é
o nosso Senhor. Os privilégios, todos eles, lembram-nos de Seu
senhorio e docemente, mas efetivamente, fazem valer esse senhorio
sobre nós. Não somos Sua Igreja e não é Ele o Cabeça da Igreja? Nós
não reconhecemos nenhuma outra Cabeça! A Igreja de Cristo encontra
supremo prazer e satisfação em Sua liderança.
Somos nós os membros do Seu corpo? Então, vamos lembrar que ele
nunca é chamado de um braço ou um olho – Ele é sempre a Cabeça,
controlando todo o corpo. Somos o rebanho que Ele comprou com seu
próprio sangue? Então, Ele é o Pastor desse rebanho. Ele cria alguns de
nós para sermos os pastores do Seu rebanho? Então, Ele é o Sumo
Pastor e quando Ele se manifestar, "deve receber uma coroa de glória
que não se desfaz." Ele nos faz para ser uma casa espiritual? Então Ele
habitará nessa casa como seu Senhor e Mestre. Somos nós, através de
seu amor infinito, unidos a Ele nos laços do sagrado matrimônio?
Então, Ele é o nosso marido e torna-se nosso deleite se curvar à Sua
vontade e nos rendermos absolutamente ao Seu controle. Estamos
mortos e sepultados com Ele e esperamos ressuscitar dos mortos? Ele
"é o começo, o primogênito dentre os mortos, que em todas as coisas Ele tenha a preeminência. Esperamos entrar na glória? Quando o fizermos, devemos ver o Cordeiro no meio do Trono de Deus e devemos nos dobrar diante Dele como Senhor de todos. Estamos procurando os
esplendores da era milenar e esperando para compartilhar deles?
Devemos então vê-Lo reinar aqui como Rei e quebrar os seus inimigos
em pedaços como vasos de oleiro. Você não pode se aproximar de Jesus
sem ficar impressionado com o pensamento de Seu senhorio sobre você,
assim como Sua condescendência divina em sua direção. Na verdade, é
em Sua condescendência que Seu Senhorio Divino se sobressai mais do
que em qualquer outro lugar!
Mais uma vez, na nossa mais querida comunhão na Mesa de
Comunhão, Ele é, "Jesus, nosso Senhor". Alguns de nós estamos
chegando, atualmente, para a mesa onde Jesus se digna a sentar e
comer conosco, e não há comunhão mais próxima do que aquela que
essa ceia memorial tão docemente nos concede. No entanto, você deve
ter notado, eu creio, como Paulo constantemente usa a expressão, "o
Senhor" em seu relato sobre a instituição desta ordenança "Eu recebi do
Senhor o que também vos entreguei, que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão. Por que Ele simplesmente não diz, "Jesus"?
Mais do que isto, ele diz: "anunciais a morte do Senhor até que Ele
venha." E que aqueles que, "beberem o cálice do Senhor, indignamente,
serão culpados do corpo e do sangue do Senhor, não discernindo o corpo do Senhor. Através disso tudo, o apóstolo fala de Cristo como o Senhor que se assenta à cabeceira da mesa como o rei que reina em seu palácio. Ele é nosso querido e amado Esposo, de quem podemos
verdadeiramente dizer: "O meu amado é meu, e eu sou Dele." No
entanto, Ele ainda é o Rei e nós sentimos que, mesmo em toda a
proximidade da comunhão que Ele nos permite desfrutar com Ele,
ainda há uma distância de qualidade e classificação entre Ele e nós
mesmos – e por isso nos O chamamos Mestre e Senhor – e fazemos bem
em falar assim. Provavelmente nunca sentimos o quanto Ele é o nosso
Senhor até que chegamos à mesa da Comunhão. Sua grande
condescendência faz este abençoado título se tornar mais brilhante
para nós e ser melhor compreendido por nós.
II. Eu acho que disse o suficiente sobre essa primeira colocação, para
deixá-la clara, por isso vou voltar para a segunda, que é esta: NOSSOS
AMOROSOS CORAÇÕES lêem o título COM ÊNFASE peculiar. Oh, nós
devemos sugar a doçura dessas palavras, "Jesus, nosso Senhor!
George Herbert1 escreveu-
"Como 'Meu Mestre' soa docemente! Meu Mestre!"
Eu posso alterar as palavras um pouco e dizer:
"Como soa docemente "Jesus, nosso Senhor! "Jesus, nosso Senhor".
Como âmbar cinzento deixa um aroma rico em quem o prova,
Assim, essas palavras um conteúdo doce,
Uma fragrância oriental, "Jesus, nosso Senhor."
Então, os nossos corações amorosos leem este título com ênfase
peculiar, pois, em primeiro lugar, nunca submetemos este título a
ninguém, a não ser a Ele, "Jesus, nosso Senhor. Dizemos, com o
Profeta: "Ó Senhor, nosso Deus, outros senhores além de Ti tiveram o
domínio sobre nós: mas por Ti só faremos menção de Seu nome". Moisés
foi uma vez senhor sobre nós – colocamos o Senhor fora do Seu lugar de
direito e procuramos servir a Lei – mas agora sabemos que, enquanto
"Moisés, na verdade, foi fiel em toda a sua casa, como um servo"... Cristo
é "um Filho sobre a Sua própria casa". Amados, eu ordeno vocês a
deixarem que o Senhor Jesus seja o único Senhor da sua consciência!
Não obedeçam a ninguém além Dele porque Ele, sozinho, tem o direito
de reinar sobre vocês. Temo que há alguns que pegam uma coisa como
certa porque algum dos servos de meu Mestre disse que era assim. Ele
era um servo eminente e altamente favorecido por seu Mestre e,
portanto, eles levam o que ele diz em lei. Mas nós, que também somos
servos do nosso Mestre, suplicamos a vocês nunca olharem para nós
como se fôssemos mestres, pois, "um é o vosso Mestre, Cristo, e todos
os outros são irmãos". É um dia abençoado para qualquer homem
quando ele é capaz de lançar fora todo o jugo, exceto o jugo de Jesus
Cristo! Bem-aventurados somos pois, doravante, "Jesus, nosso Senhor"
e Ele, sozinho, deverá receber nossa obediência completa e a leal
homenagem de nossos corações. Assim, enfatizamos este título,
reservando-o para o nosso Mestre.
Nós também retribuímos isso a Ele com a ênfase que se coloca a partir
de uma grande disponibilidade. Nós não só estamos dispostos, mas
ansiosos para que Jesus seja o nosso único Senhor e Mestre. E
sentimos raiva de nós mesmos por não termos deixado que Ele fosse o
nosso Mestre anos atrás. Estamos tão contentes que Ele é nosso Senhor que desejamos nunca entristecê-Lo novamente – nunca ter vontades por conta própria – para nunca mais fazer nada que não seja o que seria perfeitamente de acordo com Seu governo sobre nós. Eu sei que cada um dos salvos sente exatamente assim e diz: "Ó Senhor, tenha domínio sobre mim! Seja meu único Senhor! Eu quero isso com desejo intenso e alegremente reconheço que este é o Seu título de direito."
E todo verdadeiro cristão pronuncia esta frase: "Jesus, nosso Senhor",
com a ênfase da integralidade. Desejamos que Jesus Cristo seja o nosso
Senhor em tudo – e Senhor de todas as partes do nosso ser. Cada um
de nós tem dito a Ele, "Meu Senhor, faça apenas a Tua vontade em mim.
Se eu puder melhor glorificar a Ti pela paciência ou por serviço ativo,
apenas me dê a graça necessária e não vou deixar de reconhecer-Te
como meu Senhor. Será que você, amado, já não entregou ao Senhor
Jesus tudo o que você tem? Será que você já não sentiu que você O ama mais do que marido, ou mulher, ou criança? Você não sente que o seu espírito, alma e corpo pertencem a Ele e que você deseja consagrar a Ele todos os seus bens, todas as suas horas e todos os seus poderes? Você está mantendo longe Dele algum dos seus bens? Você acha que alguma coisa que você tem é sua mesmo? Se assim for, você não é fiel a Jesus o seu Senhor, pois quem ama verdadeiramente Jesus e quem sabe que é um dos que são redimidos por Ele, diz com todo o seu coração que Jesus é seu Senhor, seu Soberano absoluto, Seu Déspota – se essa palavra pode ser usada no sentido cristão – tem monarquia ilimitada e supremo poder sobre a alma! Sim, Ó, "Jesus, nosso Senhor. Tu serás o autocrata, Mestre imperial do nosso coração e de todo o domínio da nossa humanidade!
A Igreja de Deus, de uma forma muito especial, chama Jesus de "nosso
Senhor", pois não há e não pode haver qualquer Cabeça da Igreja exceto o Senhor Jesus Cristo. É blasfêmia terrível para qualquer homem na terra chamar a si mesmo "Vigário de Cristo e a cabeça da igreja. E é
uma usurpação dos direitos da coroa do Rei Jesus para qualquer rei ou
rainha ser chamado de cabeça da igreja, porque a verdadeira Igreja de
Jesus Cristo não pode ter cabeça, que não o próprio Jesus Cristo! Sou
grato porque não há Cabeça para a Igreja da qual sou membro senão
Jesus Cristo, Ele mesmo; e nem ouso ser um membro de qualquer
igreja que se contenta com qualquer Cabeça, que não Ele. Você pode
colocar alguma outra interpretação sobre o título, mas se ele significa o
que realmente significa, nas Escrituras, o termo Cabeça da Igreja" é
uma violação dos direitos da coroa do Rei dos Reis e Senhor dos
Senhores! A verdadeira Igreja de Cristo mantém esse título apenas para
seu Senhor e não reconhece outra Cabeça. Ninguém pode fazer novas
leis para a verdadeira Igreja de Cristo. Você sabe que o Parlamento faz
leis2 que ditam o caminho que você deve trilhar quando você faz suas
orações e qual roupa você deve vestir, e não sei mais o que, mas isso é
uma paródia pobre da verdadeira Igreja que se submete à uma
soberania como essa!
Se eu fosse um membro de uma igreja cujas leis foram feitas por um
parlamento que consiste de judeus e gentios, ateus e céticos, eu estaria
fora de lá o mais rápido que pudesse! Não há nenhum ―criador de leis
para a Igreja de Deus, a não ser Cristo Jesus, Ele mesmo, e ninguém
mais, pode tomar o Seu lugar! E ninguém terá permissão para conduzila quando
o Senhor acordar seu povo para ser leal ao que está escrito
na bendita Bíblia. Este é o nosso Livro-Estatuto e não reconhecemos
nenhum outro senão o que o rei Jesus nos deu. "À lei e ao testemunho:
se eles não falarem segundo esta Palavra, é porque não há Luz de Deus
neles.
Vocês dizem que estas são questões de pouca importância! Ah,
Senhores, os Covenanters da Escócia sangraram e morreram por isso
que você chama de um assunto sem importância – que só Cristo é o
Senhor da Sua Igreja! Você pode chamar isto de uma coisa pequena, se
você quiser, mas o ensino que é contrário a isto é a mãe de mil males a
essa nossa terra amada, e está causando um prejuízo inconcebível. Oro
para que todos os partidos da Igreja de Cristo – Metodista,
Presbiteriana, Batista, Episcopal – cheguem a essa resolução, "Vamos
voltar a Sagrada Escritura e à chefia única de Cristo, custe o que custar.
Se todos nós chegássemos a esse ponto, iríamos ficar mais próximos
uns dos outros do que estamos agora, porque nós deveríamos ser todos
um em Cristo Jesus nosso Senhor.
Mais uma vez, queridos amigos, chamamos "Jesus, nosso Senhor" para
sempre. Quando a verdadeira Igreja toma Jesus Cristo para ser seu
Senhor, ela está em um vínculo matrimonial que nunca deve ser
dissolvido. E quando alguma alma individual toma Jesus Cristo para
ser seu Senhor, ela O toma para O ter e manter, na vida e na morte, no
presente e por toda a eternidade! Não é assim? Em seguida, um
pensamento muito precioso que surge a partir desta Verdade de Deus é
que mesmo que façamos mal o nosso dever como Seus servos, Ele vai
cumprir ao máximo Seu caráter como nosso Senhor. Um senhor, você
sabe, cuida de seus servos. Ele observa para que eles não morram de
fome e ele os protege e, tanto quanto ele pode, prove que eles não
necessitem de nenhuma coisa boa. Eu sempre me sinto bastante seguro
de que se nós servirmos fielmente a nosso Senhor, Ele vai nos suprir
em nossas necessidades e, tendo comida e roupas, devemos estar
contentes. Sua promessa para o justo é, "Pão lhe será dado, as Suas
águas serão certas. Se você ganhar qualquer coisa além de pão e água,
saiba que Ele lhe deu mais do que Ele prometeu – e Ele irá suprir suas
necessidades até que você não precise mais delas – e então Ele lhe dará as vestes imaculadas de luz e alegria com as quais você deve servi-Lo para todo o sempre!
Jesus, nosso Senhor" não é como aquele Amalequita que, quando o seu
servo egípcio estava doente, deixou-o morrer. Ele não é como alguns
mestres a quem nós conhecemos, que, no momento em que um servo
fica doente o senhor o despede, não importando se ele morre ou vive.
Nosso Senhor e Mestre nunca sobrecarrega Seus servos – Ele nunca os
deixa à deriva. Lembre-se do testemunho e petição do salmista – "Ó
Deus, Tu me ensinaste desde a minha juventude, e até agora tenho
anunciado as Suas obras maravilhosas. Agora também, quando estou
velho e de cabelos brancos, ó Deus, não me desampares. Ele não vai
desamparar. Ele é um bom Mestre a quem nós servimos – o melhor de
todos os mestres – "Jesus, nosso Senhor!"
III. Agora vou para o terceiro ponto, que é este: ENCONTRAMOS MUITA
DOÇURA NAQUELA PEQUENA PALAVRA EM MEIO AO NOSSO TEXTO,
"Jesus, nosso Senhor".
É muito doce, porque ela nos ajuda a lembrar do nosso interesse
pessoal em Cristo. Meus Irmãos e irmãs, deixem-me lembrá-los de que
vocês nunca podem realmente dizer, "Nosso Senhor", até que vocês
tenham primeiro dito: "Meu Senhor". É uma benção ser capaz de dizer
como Davi: "Disse o Senhor ao meu Senhor: Assenta-Te à minha destra,
até que eu ponha os teus inimigos sob os teus pés." Davi requereu a esse bendito Filho como seu, e como seu Senhor, e ele fez bem em fazê-lo. E é algo muito doce quando algum de nós também é capaz de dizer: "Jesus Cristo, o Filho de Davi, e o Filho de Deus, é o meu Senhor." É verdadeiramente abençoado em ser capaz de dizer, como Tomé fez,
"Meu Senhor e meu Deus". Cada um de vocês precisa ter a convicção
pessoal de que Jesus Cristo é Senhor, para vocês. Eu até gostaria de
dizer isso se eu só o pronunciasse tremendo, como fez Maria Madalena
quando ela pensava que estava conversando com o jardineiro: "Levaram
o meu Senhor, e não sei onde O puseram." É ainda melhor se pudermos
dizer isso como Paulo disse uma vez, "Sim, sem dúvida, e eu conto tudo
como perda pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu
Senhor: pelo qual sofri a perda de todas as coisas e as considero como
esterco, para que eu possa ganhar a Cristo, e ser encontrado Nele”. Este título, "Jesus, nosso Senhor", me lembra, e eu espero que lembre a você também, do tempo em que você disse pela primeira vez–
“Está feito! A grande transação está feita!
Eu sou do meu Senhor e Ele é meu –
Ele chamou-me e eu O segui,
Fascinado por confessar a voz Divina."
Há, no entanto, mais doçura ainda do que isto na expressão, "Jesus,
nosso Senhor", pois nos trás para a comunhão com todos os santos.
"Nosso Senhor" – então, Davi, Tomé, Maria Madalena e Paulo – temos o
mesmo Senhor que vocês tinham! Sim, e parece que estamos nos
juntando com toda a boa comunhão dos profetas, toda a companhia dos
Apóstolos e o nobre exército de mártires enquanto dizemos, "Jesus,
nosso Senhor." Sim, e toda a grande companhia que serviu seu Mestre
aqui com paciência, trabalhou para ele com diligência e agora foi para
sua recompensa – nós somos um com todos eles – nós temos "um só
Senhor, uma só fé, um só batismo". Esse termo "Jesus, nosso Senhor",
parece desenhar um círculo em torno de todos os eleitos de Deus, toda
a série dos remidos de toda nação, tribo, língua e povo em todas as
terras e de todas as idades! Parece lembrar-me de uma espécie de
ligação que existe entre todos os crentes. Assim como os velhos
Highlands, quando viram o chefe do clã, sentiram o entusiasmo intenso
com a visão dele – pois ele era o grande centro e ponto de encontro para todas as famílias do clã – e com ele liderando eles correram para vitória ou morte com grande entusiasmo, por isso, quando eu olhar você no rosto, Amado, podemos diferir bastante na estação, em capacidade e em mil coisas, mas o seu Senhor é o meu Senhor, então somos irmãos e irmãs Nele e batemos palmas em torno Dele e dizemos: "Jesus, nosso
Senhor". Esse incomparável nome desperta todos nós para o entusiasmo e ousadia santa – "Jesus, o nome acima de tudo. No inferno, ou na terra, ou no céu".
Agita nosso sangue como nada mais pode e sentimos uma ligação mais
próxima do que nunca por todos os santos. Este único toque de graça
fez de todos nós semelhantes. O bendito nome de "Jesus, nosso Senhor"
nos ligou, todos juntos, numa única santa fraternidade e nos unimos a
cantar:
"Uma família que habita Nele,
Uma Igreja elevada, aos Seus pés”
E, ainda, o exemplo de "Jesus, nosso Senhor" promoverá o amor prático
uns aos outros. Ele irá fazer, se isto funcionar corretamente, porque
nós devemos nos lembrar do que nosso Senhor fez e procurar seguir o
Seu exemplo. Você se lembra o que Ele fez na noite em foi traído? "Ele
se levantou da mesa, e pôs de lado Suas vestes e, tomando uma toalha, cingiu-Se. Depois disso Ele deitou água numa bacia e começou a lavar os pés dos discípulos e a enxugá-los com a toalha com que estava cingido.
Depois de ter feito isso, Ele lhes disse: "Vocês sabem o que eu fiz por
vocês? Vocês me chamam Mestre e Senhor: e dizem bem, porque eu O
Sou. Se eu, seu Senhor e Mestre, lavei seus pés, também vocês devem
lavar os pés uns dos outros. Porque eu dei a vocês o exemplo, e vocês
devem fazer como eu fiz por vocês. Depois de um exemplo como esse,
nós devemos estar dispostos a fazer qualquer coisa um pelo outro!
Devemos nos sentir como se "Jesus, nosso Senhor" tivesse nos
constrangido a fazer qualquer sacrifício e a tomar o menor e mais
humilde lugar, enquanto poderíamos estar a serviço de qualquer outra
pessoa que também O chama de Senhor!
E, irmãos e irmãs, que golpe mortal esse título deve tratar com todo o
orgulho! Diótrefes ainda gosta de ter a preeminência, mas será que ele
iria adorar isso se ele realmente conhecesse "Jesus nosso Senhor", como
Ele se revelou em Sua Palavra? Este irmão quer que mais respeito seja
mostrado a ele. Aquele irmão deve ter algum cargo dado a ele e essa
irmã precisa ser realizada em sua auto-estima ou ela não será feliz. Ah,
sim, e você se lembra de que havia dois apóstolos cuja mãe pediu que
eles pudessem assentar-se, um à direita e outro à esquerda de Cristo
em Seu Reino! E quando os outros Apóstolos indignaram-se contra os
dois irmãos, nosso Senhor lhes disse: "Vocês sabem que os príncipes dos gentios exercem domínio sobre eles, e eles que são grandes, exercem autoridade sobre eles. Mas não deve ser assim entre vocês; mas aquele que quiser ser grande entre vocês, seja ele o ministro (isto é, seu servo), e quem quiser ser o primeiro entre vocês, seja seu servo; assim como o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir, e dar a Sua vida em resgate de muitos". Enquanto nos recordamos deste ato e destas palavras, nós clamamos, "Diminua, orgulho! Você não é senhor!
Para baixo, ambição! Você não deve desejar governar! Diminua, todo
pensamento orgulhoso, que só "Jesus, nosso Senhor" possa governar
absolutamente sobre nós!
Agora, queridos amigos, vocês estão apreciando a doçura deste título?
Vocês sentem como se quisessem rolar essa palavra pela língua como
um bocado de doce? Então eu não vou detê-los mais, exceto para dizer
apenas duas coisas. Primeiro, este título: "Jesus, nosso Senhor", nos dá
grande confiança em nosso culto. Como uma Igreja Cristã, estamos
todos trabalhando para Jesus. Espero poder dizer que os membros
desta Igreja estão todos sedentos pela glória de Deus. Então, vamos
lembrar o que nosso Senhor disse a Seus discípulos antes de voltar ao
Pai, "Todo o poder é dado a Mim no céu e na terra. Vão, portanto, e
ensinem todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do
Espírito Santo: ensinando-os a observar todas as coisas que Eu vos tenho mandado; e, eis que Estou com vocês todos os dias, até o fim do mundo".
Marchem, então, vocês, exército do Deus vivo, pois Cristo é o seu
Senhor e Ele deu a vocês sua comissão – e é Seu poder que vai fazer a
sua marcha ser vitoriosa! Será que algum homem pensa em virar as
costas no dia da batalha quando ele tem um capitão como este para
guiá-lo? Será que alguém sonha com a derrota, ou fala de uma maneira
tímida sobre qual será certamente o problema do conflito? "Jesus, nosso
Senhor" é o Criador do mundo – Aquele que pode abalar o Céu, e a
terra, e o Inferno com Sua palavra! Então, em Seu nome, vamos
levantar nossas bandeiras e marchar, confiantes na vitória!
O pensamento com o qual eu concluo é um que deve render conforto
considerável para muitos de vocês. Nossa comum alegria em "Jesus,
nosso Senhor" torna-se uma evidência da Graça. Você já sentiu uma
doçura graciosa penetrando sua alma, porque Jesus Cristo é o Senhor?
Então ouça estas palavras do Apóstolo Paulo – "Portanto, vos quero fazer compreender que nenhum homem falando pelo Espírito de Deus chama Jesus de maldito: e que ninguém pode dizer que Jesus é o Senhor, se não for pelo Espírito Santo". Qualquer um pode repetir essas palavras, mas
você não pode dizê-las corretamente – como eu espero que você tenha
as dito – com uma doçura inefável invadindo sua alma enquanto você
as pronuncia – "mas pelo Espírito Santo". Vai, portanto, você cujo
coração saltou ao som dessas três palavras, e diga: "Eu tenho o
testemunho do Espírito Santo dentro do meu espírito de que eu sou uma
alma salva, ou então eu nunca teria dito, no meu íntimo: "Jesus, nosso
Senhor." Irmão ou Irmã, aqui está um sinal que não o guiará
incorretamente, pois você tem o Espírito Santo, através do Apóstolo
Paulo, para lhe dizer que você não poderia dizer isso no mais profundo
de sua alma se não fosse pelo Espírito Santo! Venha, então, Amado, e
adore a "Jesus, nosso Senhor." Continue a adorá-Lo! Continue a amá-
Lo! Continue a confiar Nele! Continue a servi-Lo! Continue a exaltá-Lo
entre os filhos dos homens!
Mas para vocês que não O amam e que não aceitaram Jesus como seu
Senhor, eu só posso dizer, nas palavras do próprio Deus, "Beijai o Filho,
para que não Se ire, e pereçais no caminho, pois sua ira se acende num
instante. Bem-aventurados são todos os que colocam sua confiança
Nele." E este outro versículo que é, na minha opinião, o mais terrível em
todo o Livro de Deus, ainda que foi proferido por alguém que amava as
almas dos homens além de toda concepção, "Se alguém não ama ao
Senhor Jesus Cristo, seja anátema", isto é, "seja anátema na vinda de
Cristo." Deus o salve desta desgraça terrível, pelo amor de Jesus Cristo!
Amém.
Charles Haddon Spurgeon
Enviado por Silvio Dutra Alves em 02/07/2013
Alterado em 02/07/2013