Legado Puritano
Quando a Piedade Tinha o Poder
Textos
COMENTÁRIO DO SEGUNDO CAPÍTULO DO LIVRO DE JUÍZES – PARTE 1
“1 O anjo do Senhor subiu de Gilgal a Boquim, e disse: Do Egito vos fiz subir, e vos trouxe para a terra que, com juramento, prometi a vossos pais, e vos disse: Nunca violarei e meu pacto convosco;
2 e, quanto a vós, não fareis pacto com os habitantes desta terra, antes derrubareis os seus altares. Mas vós não obedecestes à minha voz. Por que fizestes isso?
3 Pelo que também eu disse: Não os expulsarei de diante de vós; antes estarão quais espinhos nas vossas ilhargas, e os seus deuses vos serão por laço.
4 Tendo o anjo do Senhor falado estas palavras a todos os filhos de Israel, o povo levantou a sua voz e chorou.
5 Pelo que chamaram àquele lugar Boquim; e ali sacrificaram ao Senhor.
6 Havendo Josué despedido o povo, foram-se os filhos de Israel, cada um para a sua herança, a fim de possuírem a terra.
7 O povo serviu ao Senhor todos os dias de Josué, e todos os dias dos anciãos que sobreviveram a Josué e que tinham visto toda aquela grande obra do Senhor, a qual ele fizera a favor de Israel.
8 Morreu, porém, Josué, filho de Num, servo do Senhor, com a idade de cento e dez anos;
9 e o sepultaram no território da sua herança, em Timnate-Heres, na região montanhosa de Efraim, para o norte do monte Gaás.
10 Foi também congregada toda aquela geração a seus pais, e após ela levantou-se outra geração que não conhecia ao Senhor, nem tampouco a obra que ele fizera a Israel.
11 Então os filhos de Israel fizeram o que era mau aos olhos do Senhor, servindo aos baalins;
12 abandonaram o Senhor Deus de seus pais, que os tirara da terra do Egito, e foram-se após outros deuses, dentre os deuses dos povos que havia ao redor deles, e os adoraram; e provocaram o Senhor à ira,
13 abandonando-o, e servindo a baalins e astarotes.
14 Pelo que a ira do Senhor se acendeu contra Israel, e ele os entregou na mão dos espoliadores, que os despojaram; e os vendeu na mão dos seus inimigos ao redor, de modo que não puderam mais resistir diante deles.
15 Por onde quer que saíam, a mão do Senhor era contra eles para o mal, como o Senhor tinha dito, e como lho tinha jurado; e estavam em grande aflição.
16 Mas o Senhor suscitou juízes, que os livraram da mão dos que os espojavam.
17 Contudo, não deram ouvidos nem aos seus juízes, pois se prostituíram após outros deuses, e os adoraram; depressa se desviaram do caminho, por onde andaram seus pais em obediência aos mandamentos do Senhor; não fizeram como eles.
18 Quando o Senhor lhes suscitava juízes, ele era com o juiz, e os livrava da mão dos seus inimigos todos os dias daquele juiz; porquanto o Senhor se compadecia deles em razão do seu gemido por causa dos que os oprimiam e afligiam.
19 Mas depois da morte do juiz, reincidiam e se corrompiam mais do que seus pais, andando após outros deuses, servindo-os e adorando-os; não abandonavam nenhuma das suas práticas, nem a sua obstinação.
20 Pelo que se acendeu contra Israel a ira do Senhor, e ele disse: Porquanto esta nação violou o meu pacto, que estabeleci com seus pais, não dando ouvidos à minha voz,
21 eu não expulsarei mais de diante deles nenhuma das nações que Josué deixou quando morreu;
22 a fim de que, por elas, ponha a prova Israel, se há de guardar, ou não, o caminho do Senhor, como seus pais o guardaram, para nele andar.
23 Assim o Senhor deixou ficar aquelas nações, e não as desterrou logo, nem as entregou na mão de Josué.” (Jz 2.1-23).

Este capítulo é uma síntese de tudo o que é narrado neste livro de Juízes.
Ele é uma preparação para tudo o que será dito daqui em diante.
Ele cita o que aconteceu, e estes fatos serão narrados detalhadamente nos capítulos posteriores, com exceção dos cinco últimos capítulos que se referem a um período anterior ao dos juízes.
A narrativa se inicia com o anjo do Senhor repreendendo duramente os israelitas, pelo fato de não terem conquistado os territórios que lhes foram designados por sortes, nos dias de Josué, e pelo fato de terem se acomodado e se misturado aos cananeus.
Nos versos 11 a 13 é citado que a geração que se seguiu à de Josué não conhecia ao Senhor, e fez o que era mau aos seus olhos, misturando-se aos cananeus e fazendo as mesmas práticas abomináveis deles.
O que havia ocorrido com o povo de Israel é o mesmo que ocorre com a Igreja dos nossos dias.
A condição de todo o período coberto pela narrativa do livro de Juízes, o qual durou aproximadamente trezentos anos, está declarada de forma resumida nos versos 14 a 23.
Nestes versos está revelado claramente que o motivo de estarmos enfraquecidos diante de nossos inimigos espirituais e sujeitados a sermos pisados pelos homens, como sal que perdeu o sabor, está relacionado ao abandono do Senhor, e da prática da Sua Palavra.
A comunhão com Deus, garantida por um andar no Espírito Santo, fazendo aquilo que Ele nos tem ordenado na Bíblia e em relação à Sua vontade específica, no que se relaciona ao viver diário, especialmente o que diz respeito às coisas pertinentes ao ministério, que recebemos dEle para cumprir, é o modo de se ter uma vida verdadeiramente próspera e sermos mais do que vencedores, por meio de Jesus, sobre a carne, o mundo e o diabo.
Quando nos desviamos dos caminhos do Senhor ficamos sujeitados à disciplina da aliança, que temos com Ele, por iniciativa e autoridade dEle próprio, que nos deixa à mercê da opressão dos nossos inimigos, para que seja produzido em nós o devido arrependimento.
Quando este arrependimento ocorre e clamamos pelo livramento de Deus, Ele se apressa em socorrer-nos, voltando a nos conceder a Sua graça e poder, para sermos fortalecidos e podermos voltar a andar na Sua presença.
Deus é santo, e sem a santidade que Ele mesmo nos confere, por meio do Espírito Santo, é impossível estar em comunhão com Ele.
Por isso necessitamos da Sua graça, para que operando em nós, de forma a nos conceder um coração segundo o Seu coração, possamos retornar à comunhão.      
Então nós vemos declarado na Palavra de Deus que era  Ele próprio que entregava Israel nas mãos dos seus inimigos, e que também, por Sua própria deliberação, decidiu que não desapossaria mais aquelas nações da presença de Israel, para que por meio delas pudesse provar a fidelidade do Seu povo, em não se deixar levar pelas suas práticas abomináveis, e permanecerem fiéis, na guarda dos Seus mandamentos.
Por meio da permanência de muitas daquelas nações seria provado até que ponto Israel buscaria uma vida autêntica de fé e obediência, de modo que se pudesse provar através disso que estavam de fato fazendo a vontade de Deus, pois não havia outra maneira de terem sucesso sobre os seus inimigos.
Isto ensina claramente que não se vence o diabo com religiosidade desprovida de verdadeira comunhão com Deus, porque é se sujeitando a Ele e à Sua vontade, que vencemos o diabo e todas as suas hostes.
Em outras palavras: a vitória sobre as forças do inimigo decorre de um caminhar na presença do Senhor.
É sujeitando-se a Deus, mediante prática da Sua Palavra, que o diabo foge de nós.  
Mas não era isto o que se via nas sucessivas gerações de Israel.
Deus havia formado um povo exclusivamente seu a partir de Abraão, para o propósito de preservar a vida do homem na terra. Porque pelo modo santo com que deveriam viver revelariam que a prática da justiça divina preserva e traz prosperidade, mas a prática do mal, não somente destrói pessoas e nações, como também atrai os juízos condenatórios do Senhor.
E isto estava sendo observado de modo prático nos dias do Velho Testamento, através das assolações que Deus estava trazendo sobre as nações pagãs, como sobre o próprio povo de Israel, quando este também se encontrava debaixo das mesmas práticas abomináveis daquelas nações.
Em vez de serem distintos das nações de Canaã, pelo cumprimento de tudo que lhes foi ordenado na Lei de Moisés, se misturavam às práticas daquelas nações, e perdiam a sua identidade distintiva de povo do Senhor, porque quando se mistura água com vinho, o resultado é uma mistura homogênea, e não dá mais para se distinguir quem é a água e quem é o vinho.
Mas quando se mistura água com azeite, o azeite há de ficar por cima da água e não se misturará a ela.
É pois somente estando cheios do azeite que simboliza o Espírito Santo, e andando nEle, que apesar de estarmos no mundo e termos que nos relacionar com as pessoas que são dele, com vistas a lhes conduzir à bênção do Senhor, por nosso bom testemunho de vida, não nos misturaremos jamais às coisas deste mundo e ao pecado, como diz o apóstolo Paulo em Gál 5.16: “Andai no Espírito e jamais satisfareis aos desejos da carne.”.
Assim, nós podemos concluir que a razão da repreensão que o anjo do Senhor dirigiu aos israelitas se prendeu muito mais à falta de fé, e a esta mistura com as práticas dos povos de Canaã, do que propriamente à falta de iniciativa em combater os cananeus, para se apossarem das terras que lhes foram designadas por sortes.
O anjo do Senhor vinha lhes acompanhando desde a saída do Egito, e declara isto nas palavras dos versos 1 a 3, e que estava sendo fiel ao pacto que haviam feito com Deus, de guardarem todos os Seus mandamentos, pois lhes estava ajudando a cumprirem tudo que lhes havia sido ordenado, especialmente no que se referia a prevalecerem contra os seus inimigos, mas manifestou o Seu desagrado diante do seu  recuo em fazerem a vontade de Deus, com as seguintes palavras:
“1 O anjo do Senhor subiu de Gilgal a Boquim, e disse: Do Egito vos fiz subir, e vos trouxe para a terra que, com juramento, prometi a vossos pais, e vos disse: Nunca violarei e meu pacto convosco;
2 e, quanto a vós, não fareis pacto com os habitantes desta terra, antes derrubareis os seus altares. Mas vós não obedecestes à minha voz. Por que fizestes isso?
3 Pelo que também eu disse: Não os expulsarei de diante de vós; antes estarão quais espinhos nas vossas ilhargas, e os seus deuses vos serão por laço.”.
Nós lembramos nisto,  das palavras de Paulo dirigidas aos Gálatas:
“Estou admirado de que tão depressa estejais desertando daquele que vos chamou na graça de Cristo, para outro evangelho,” (Gál 1.6). E ainda em Gál 5.7: “Corríeis bem; quem vos impediu de obedecer à verdade?”.
Silvio Dutra Alves
Enviado por Silvio Dutra Alves em 10/07/2013
Comentários
Site do Escritor criado por Recanto das Letras