COMENTÁRIO DO SEGUNDO CAPÍTULO DO LIVRO DE JUÍZES – PARTE 2
A síntese de todo o conteúdo do livro de Juízes, que é feita neste segundo capítulo, revela que o propósito principal da escrita deste livro foi o de ensinar que a mistura do povo de Deus com as práticas abomináveis do mundo o torna impotente para conhecer e fazer a vontade do Senhor.
Ensina também que a falta de fé e determinação para cumprir tudo aquilo que Deus nos tem ordenado expressamente, como no caso dos israelitas, a indiferença em realizar a conquista total de Canaã, acaba por conduzir o povo de Deus a perder o seu caráter único e santo, e em decorrência disto, não terá poder e autoridade que procedem do Senhor para poder conhecer e fazer a Sua vontade, deixando portanto, de ser bênção para as nações.
O mundo espiritual é discernido espiritualmente, pelo Espírito Santo, e este jamais se moverá naqueles que não estiverem se movendo em direção à obediência à Palavra de Deus, pela busca de comunhão com Ele, em vidas verdadeiramente santas.
Em linhas gerais, foi este o propósito principal do Espírito Santo ao ter inspirado a escrita do livro de Juízes.
Aprendemos também neste livro de Juízes que períodos de arrependimento e de retorno à comunhão com o Senhor, podem ser seguidos por períodos de apostasia, se não cuidarmos diligentemente em prosseguir adiante na aplicação em nossos deveres para com Deus e com o próximo.
Vitórias alcançadas jamais devem ser motivo para descansarmos e não incentivarmos as gerações seguintes à mesma fidelidade com que estivermos nos empenhando em agradar ao Senhor.
O livro de Juízes dá um claro testemunho e palavra de alerta à Igreja para que não descuide em avançar na comissão que lhe foi ordenada por Jesus de ir por todo o mundo e pregar o evangelho a toda criatura, pois quando a Igreja se desvia deste grande alvo, perdendo o ardor evangelístico e missionário, a conseqüência natural será o apostatar dos caminhos do Senhor, porque Ele não se deixará achar e não expulsará o Inimigo para que almas sejam conquistadas à fé, porque Ele faz isto, concedendo graça, somente quando há uma verdadeira disposição e empenho em se obedecer à Sua grande comissão.
A grande repreensão do anjo do Senhor aos israelitas, exibida nas palavras do verso 2: “Mas vós não obedecestes à minha voz. Por que fizestes isso comigo?”, bem demonstra a grande indignação que Jesus sente ao nos ver de braços cruzados em relação à ordem que deu à Igreja de fazer discípulos em todas as nações.
Isto é um dever real que impôs à Igreja até que Ele volte.
E nós sabemos, pelo testemunho da história, quantas derrotas o povo de Deus teve que amargar em relação aos seus inimigos espirituais, e o pouco ou quase nenhum avanço que fez em determinadas épocas da história, pelo mesmo motivo que levou o anjo a se indignar em relação aos israelitas no passado: falta de empenho em cumprir a Sua ordem de avançar e conquistar para Deus tudo aquilo que Ele nos tem ordenado.
Os israelitas choraram por causa da repreensão do anjo (v 4), mas isto não é suficiente.
Não basta estarmos dispostos a mudar nossas atitudes, e mesmo lamentar o nosso estado espiritual, se isto não for acompanhado por ações de fé reais na direção do cumprimento daquilo que Jesus nos ordenou quanto à evangelização mundial.
Planos, reuniões, congressos, concílios, e quaisquer outras iniciativas serão de nenhum valor se não forem acompanhados de ações concretas visando à conversão de almas para Cristo.
Se o Espírito Santo não for conosco, assim como o anjo acompanhava, dirigia, instruía e fazia as conquistas para os israelitas, de modo algum poderemos pensar que estamos agradando a Deus, se fugiu de nós o desejo e o empenho direcionados à salvação dos perdidos.
Esta tarefa de conduzir o rebanho à obra de evangelização é uma das principais missões de qualquer pastor, pois são chamados de anjos das Igrejas, pelo Senhor Jesus, no livro de Apocalipse.
Foi a eles que se dirigiu cobrando o seu empenho em conduzir o rebanho segundo a Sua vontade, sob o risco de terem o seu candeeiro removido em caso de descumprimento daquilo de que foram encarregados pelo Senhor da Igreja.
Estes pastores, que são designados por anjos das Igrejas, aparecem em Apocalipse como estrelas nas mãos de Jesus.
Isto indica que assim como o Anjo da aliança apareceu a Josué, como príncipe do exército de Jeová, e conduziu tanto a Moisés, quanto a Josué, e todos os líderes verdadeiros de Israel, que foram levantados por Deus para conduzir o seu povo, de igual modo, Jesus é o mesmo Anjo na Nova Aliança, que tem toda a primazia sobre os pastores que Ele mesmo chama e constitui sobre o Seu povo, para que façam toda a Sua vontade.
O lugar onde o anjo falou aos israelitas ficou sendo conhecido por Boquim (v. 1 e 5), porque no hebraico, esta palavra significa chorões, porque que a palavra se encontra no plural, indicando que foram muitos os que prantearam em razão da repreensão do anjo do Senhor.
Quem dera, ao menos a Igreja chorasse a sua atual condição de quase completo desinteresse e imobilização quanto a buscar um real compromisso e consagração ao Senhor, para que no poder do Espírito Santo se entregue à obra de evangelização mundial.
Mas quando tão poucos se interessam pela salvação da própria alma, como estarão realmente interessados na salvação de outros?
Os israelitas ao menos lamentaram e choraram pela condição de desobediência à ordem de avançar e conquistar Canaã.
Sequer isto se vê na maior parte das Igrejas de nossos dias, apesar de haver, certamente, uma repreensão do Senhor pelo fato de não terem um maior empenho em prol da salvação dos perdidos em todo o mundo.
Os países da Ásia e de grande parte do Oriente, continuam com suas portas fechadas para o evangelho, mas importa que este seja pregado também a eles, para que Cristo volte.
Quando a Igreja despertará do seu sono e começará a trabalhar com todo o empenho na direção do cumprimento do Ide de Jesus?
Jesus disse que o evangelho será pregado em todo o mundo antes da Sua vinda, e o que nós estamos fazendo para que isto se cumpra?
O Senhor garantiu a posse de todo o território de Canaã aos israelitas, e o que eles fizeram em relação a isto?
O livro de Juízes revela o quadro, e este não é muito diferente do que tem ocorrido com a história da Igreja ao longo destes dois mil anos, em que o evangelho tem sido pregado no mundo.
Da parte do Senhor, a aliança que Ele fez conosco, nunca será quebrada, porque é fiel àquilo que prometeu, mas não se pode dizer o mesmo em relação a nós.
Devemos portanto, ser diligentes em todo o tempo e ter todo o cuidado necessário para que não nos desviemos do alvo que devemos atingir.
Gostando ou não, querendo ou não, temendo ou não, devemos nos lançar de corpo e alma à missão da qual fomos encarregados, e o Senhor será conosco e nos fará prosperar em nossos empreendimentos, porque Ele fez a promessa de não deixar e desamparar àqueles que Lhe obedecem e Lhe são fiéis.
Deste modo, os israelitas foram repreendidos, não somente por terem se desviado da missão de conquistar Canaã, como também por terem se misturado aos cananeus, que deixaram na terra, em vez de expulsá-los, e vieram a praticar as mesmas abominações que eles praticavam.
Não é de se estranhar portanto, que quando deixamos de ter este interesse em dar testemunho de Cristo às pessoas, que sejamos também encontrados em disposições de mundano proceder.
O pecado de Israel trouxe como consequência, o fato de Deus ter determinado que não expulsaria mais os cananeus.
De igual modo, quando deixamos de cumprir o Ide e passamos a nos misturar com as coisas que são do mundo, Deus também deixa de nos usar para conquistar as almas que são preciosas para Ele.
Outros o farão no nosso lugar, e teremos que lamentar uma vida vazia e sem frutos, porque o Senhor não dará jamais a honra de o indolente se gloriar em ter sido usado eficazmente por Ele.
Se não recebemos graça da parte de Deus, para realizar o trabalho que Ele nos designou, não teremos outra alternativa senão a de enterrar o talento que nos deu para fazer a Sua obra.
Aqueles que favorecem e são complacentes com as suas luxúrias e corrupções, que deveriam mortificar, perdem a graça de Deus, e esta é justamente retirada deles.
Se nós não resistirmos ao diabo, não devemos esperar que Deus o coloque debaixo dos nossos pés.
Por isso, aos infiéis, em vez de promessas de bênçãos, Deus promete dificuldades, assim como disse aos israelitas sobre o que deveriam esperar da parte daqueles aos quais haviam se associado em suas más obras.
Seriam como espinhos e laço para eles, e isto indicava dificuldades e opressões.
Pois em vez de dominar as nações, Israel seria dominado por elas.
Deus os entregaria nas mãos dos seus inimigos por causa do seu pecado.
Ele afirmou que os venderia aos seus inimigos, assim como quem é vendido por causa de uma grande dívida que não pode liquidar.
A dívida dos israelitas seria cobrada na forma de opressões dos seus inimigos, que seriam determinadas pelo próprio Deus.
Porém, sendo benigno e misericordioso, o Senhor prometeu livrá-los das mãos dos seus opressores caso se arrependessem dos seus pecados.
Ele suscitaria libertadores para este propósito, e nós vemos esta promessa sendo cumprida em diversas ocasiões na narrativa do livro de Juízes, revelando-se assim o caráter fiel do Senhor, em cumprir as Suas promessas, e a sua infinita misericórdia para conosco.
Entretanto, em razão do Seu atributo de justiça, apesar de ser tardio em se irar, o Senhor não pode ser, de modo algum, conivente com o pecado e permanecer insensível às apostasias do Seu povo, e por isso sempre torna a exercer os Seus juízos, a par de toda a misericórdia exibida anteriormente.
Por causa de Sua longanimidade, pode até suportar, tolerar por muito tempo todos os nossos pecados, mas certamente não nos deixará sem a devida correção no tempo apropriado.
Isto aprendemos não somente na revelação que fez no livro de Juízes, como também em toda a Bíblia.
Silvio Dutra Alves
Enviado por Silvio Dutra Alves em 10/07/2013