Deus Ama o Que Dá com Alegria – P 3
Por Charles Haddon Spurgeon
“Porque Deus ama ao que dá com alegria.” 2ª Coríntios 9:7
III. Vou concluir, unicamente, com uma frase ou duas relativas ao MOTIVO PELO QUAL, NÓS QUE AMAMOS AO SENHOR NESTA CASA, DEVEMOS TRATAR ESPECIALMENTE DE SER DOADORES ALEGRES A QUEM DEUS AMA.
Há muitas razões, mas esta noite necessitamos estabelecê-las imediatamente. Uma é que, tudo o que temos devemos a Ele. Soube de um homem que fracassou nos negócios, que em seus melhores momentos havia ajudado a alguns de seus trabalhadores a abrir seus próprios negócios e eles prosperaram. Diziam: “Oh, eles o ajudarão; ele os ajudou tanto em seus dias de prosperidade, que eles o ajudarão.” Eu não sei se o ajudaram ou não, mas isto sim sei, que quem nos tomou quando estávamos nus, pois assim viemos ao mundo; quem nos levantou quando estávamos mais que nus, quando estávamos sujos e éramos imundos, pois assim estávamos pelo pecado e por nossa depravação original; Ele que nos tirou do lixão, sim, e nos resgatou do fogo mesmo, e nos fez o que somos, e nos envolveu em Sua justiça e nos deu de Sua misericórdia, Ele merece tudo e mais que tudo o que possamos Lhe dar. Oh, o que faremos para exaltar nosso Salvador? O que não faremos? Senhor, como tudo é devido a Ti, toma tudo, e que Te dêmos tudo sem reservas.
Recordem, continuamente, amados irmãos, que vocês são salvos: vocês, que poderiam ter sido condenados; vocês, que durante um tempo não queriam ser salvos. Vocês são salvos; seus pecados foram apagados; a justiça de Cristo é agora sua roupa real. E mais, você é salvo, e o Espírito Santo mora em você. Você é sacerdote, você é rei para Deus. Você é um herdeiro do céu: o sangue imperial corre por suas veias. Você é um dos pares do céu, um príncipe de sangue. Oh, acaso você não viverá acima das vidas dos demais? Acaso não buscará consagrar, com essas elevadas dignidades, e essas bênçãos que não têm preço, e esses favores assombrosos, seu espírito, sua alma, seu corpo, seu tudo a Ele, que é seu Pai, seu céu, seu Deus?
Irmãos, vocês podem estar desejosos de serem doadores alegres, quando recordarem que o tempo de dar logo estará terminado. Não existe o doar nos céus; ao menos o tesouro favorito de Deus, que é o bolso do homem pobre, não estará pedindo que o encha. Não haverá filhos da necessidade lá; não haverá pés pequeninos que necessitem de sapatos, não haverá mãozinhas frágeis que necessitem de pão, não haverá mulheres famintas nem homens necessitados; não será necessário construir igrejas; não será necessário enviar missionários; barcos que os transportem além dos mares não serão requeridos; não haverá ministros de Cristo que tenham necessidade de sua ajuda. Estarão além de todos esses chamados e se houvesse algo que lamentar no céu, seria que lá estes deveres devem cessar para sempre. Oh, então doem como doadores alegres enquanto podem!
E, por último, nós temos necessidade de um Deus doador. Sendo assim, (Sugestão: Então, por tudo o que nos deu) sejamos doadores alegres. Recordem essa história que a senhora Stowe narrou tão bem. Temo que não a possa repetir da mesma maneira e, seguramente, não com suas palavras, mas é mais ou menos assim:
Havia um comerciante, diz ela, que tinha prosperado sobremaneira nos negócios. Havia construído uma casa no campo, a ampliou e cultivou seus jardins com um grande custo. Quando foi ao seu escritório, foi visitado por alguém que fazia uma coleta para alguma sociedade, e ele respondeu à sua solicitação: “realmente não posso me dar ao luxo de dar-lhe algo; há tanta gente que me pede, que não o posso faz.” Pois bem, ele era um homem que, usualmente, tinha sido muito generoso, e um pouco mais tarde sentiu um peso em sua consciência ao pensar que tinha começado a poupar no que o Senhor lhe dava.
Pela noite, quando a esposa e a família se retiraram para descansar, sentou-se a meditar junto à lareira e disse para si mesmo: realmente me pergunto se foi uma boa decisão construir esta casa; acarretou-me muitos gastos; são necessários novos móveis; subi a um novo nível na sociedade e os gastos aumentaram e minhas filhas necessitam de vestidos novos; tudo está em um nível de maior luxo, e, contudo, eu estou limitando o que dou ao Senhor. Creio que não agi bem; sinto-me muito intranquilo.
Supõe-se que enquanto pensava em tudo isto, adormeceu, mas se foi assim, que bom para ele, pois subitamente a porta se abriu, e entrou no quarto um estranho muito manso e humilde, que se aproximando lhe disse: “Senhor, venho para pedir sua ajuda para uma sociedade que envia o Evangelho aos gentios; eles estão morrendo, morrendo por falta de conhecimento; você é rico, poderia dar-me alguma ajuda para enviar-lhes a Palavra da vida?” O comerciante lhe respondeu: “Você deve me desculpar, realmente, pois meus gastos são demasiado elevados, e devo recortá-los; não estou em condições de lhe dar nada; devo dizer que não”. O estranho lhe dirigiu um olhar pesado e disse: “Talvez você pense que a obra está demasiado longe, e não dá porque o dinheiro será enviado além-mar. Então direi a você que há uma escola muito pobre em uma parte da cidade, muito próxima ao seu escritório, e está a ponto de fechar por falta de fundos, e ali estão as crianças pobres que a frequentam, os vagabundos destas ruas, ignorantes do caminho correto; poderia me dar uma contribuição para essa causa?” O comerciante se incomodou um pouco por estas perguntas insistentes e respondeu: “Poupe-me o problema; não tenho dinheiro, não posso lhe dar nada”. O estranho limpou uma lágrima de seu olho e disse: “Então devo pedir-lhe pelo menos algo para a sociedade bíblica; isso, como você pode imaginar, jaz na raiz de tudo; propaga a Palavra de Deus e, seguramente, se você não tem para a sociedade missionária, ou para a escola de pobres, poderá dar algo para a propagação da própria Palavra de Deus”. “Não”, respondeu o comerciante, “já lhe disse que não posso”, e então, o aspecto do estranho pareceu mudar, e ainda que seguia sendo manso e humilde, contudo, ao mesmo tempo, seu rosto se tornou majestoso. Havia uma glória em sua face e, apesar disso, havia sulcos de dor, e lhe disse, suave, mas severamente: “Há cinco anos, sua filhinha, com seus formosos cachos, estava consumida pela febre e você orou na amargura da sua alma para que a filha amada de seu coração não fosse arrebatada de sua presença e, consequentemente, você fosse livrado desse duro golpe. Quem ouviu essa oração e lhe devolveu sua filha?” O comerciante cobriu seu rosto com suas mãos e sentiu vergonha. “Há dez anos”, disse a mesma voz, “você estava em grandes dificuldades; as dívidas o sufocavam; estava à beira da falência; seu cabelo havia embranquecido pela preocupação. A quem você acudiu nessa hora de problemas? Quem o escutou e proporcionou amigos que o ajudaram através de suas dificuldades quando outros comércios estavam fracassando, e homens mais ricos que você estavam quebrando por todos os lados? Quem fez isso por você?”. “Também”, disse outra vez o estranho, “há quinze anos você sentiu a carga de seus pecados, e caminhava de baixo para cima espremendo suas mãos por temor, clamando: ‘Deus, tem misericórdia de mim!’. Seu coração estava muito sobrecarregado. Quem falou com você nessa hora a palavra de perdão que cancelou todos os seus pecados? Quem tomou todas as suas iniquidades sobre Si?”. O comerciante soluçou muito forte e tremeu quando a voz lhe disse: “Se você não me pede mais nada, eu também não lhe pedirei nada mais”. O homem caiu sobre seu rosto diante do grandioso visitante e disse: “Toma tudo, meu bendito Senhor; perdoa minha vergonhosa ingratidão, e ajuda-me para que no futuro eu não Lhe negue nada”. Se foi um sonho ou não, não sabemos, mas é certo que esse comerciante se converteu em um dos príncipes cristãos da América, e deu para a causa de Cristo como jamais alguém havia dado.
“Deus ama ao que dá com alegria“, e vocês sabem o que Ele lhes pede. Prossigam em seu caminho, comerciantes, e deem com generosidade conforme Deus lhes dá. Prossigam em seu caminho, lojistas, e espalhem como podem, pois Deus primeiro lhes proporciona os meios. Prossigam em seu caminho, vocês obreiros e vocês trabalhadoras esforçadas, e deem de acordo com sua capacidade. Deem, vocês, ricos, porque são ricos, e deem vocês, pobres, porque não se tornarão mais pobres, mas pode ser que, sim, se tornem mais pobres se não oferecem a Deus Sua porção. Mas, primeiro, já Lhe deram seu coração? Colocaram sua confiança em Jesus? Se isso ainda não aconteceu, este sermão não é para vocês; mas se seu coração pertence ao meu Senhor, e vocês foram lavados em Seu precioso sangue, então que meu texto fique gravado profundamente em seus ouvidos, e ainda mais profundamente em seus corações: “Deus ama ao que dá com alegria“.
Porções da Escritura lidas antes do sermão: 2ª Coríntios 9; e 11: 18-33.
Charles Haddon Spurgeon
Enviado por Silvio Dutra Alves em 04/08/2013