Deus Conosco – Parte 3
por Charles Haddon Spurgeon
“E chamá-lo-ão pelo nome de Emanuel, que traduzido é: Deus conosco.” (Mateus 1: 23)
III. Devo deixar este deleitoso tema para comentar duas ou três coisas sobre NOSSA PESSOAL APROPRIAÇÃO da verdade diante de nós.
“Deus conosco.” Então, se Jesus Cristo é “Deus conosco,” vamos a Deus sem perguntar nem duvidar. Quem quer que você seja, não necessita nenhum sacerdote nem intercessor para que o apresentem a Deus pois Deus mesmo se apresentou a você. Vocês são crianças? Então venham a Deus no menino Jesus, que dormiu na manjedoura de Belém. Oh, vocês senhores de cabelos grisalhos, não necessitam ficar atrás, mas como Simeão, venham e O tomem em seus braços, e digam: “Agora, Senhor, despedes a teu servo em paz, conforme a tua palavra; porque meus olhos viram a tua salvação”.
Deus envia um embaixador que não inspira nenhum medo: o arauto do céu se aproxima a nós sem elmo nem armadura, nem levando lança, mas apenas uma bandeira branca é sustentada pela mão de um menino, na mão do Escolhido do povo, na mão de um que morreu, na mão de um que ainda que esteja sentado na glória, mostra ainda a marca dos cravos.
Oh, homem, Deus vem a ti como um semelhante a ti. Não tenhas medo de aproximar-te do manso Jesus. Não te imagines que necessitas estar preparado para uma audiência com ele, ou que necessitas a intercessão de um santo, ou a intervenção de um sacerdote ou de um ministro. Qualquer pessoa poderia ter se aproximado do bebê em Belém. O boi de longos chifres, deve ter comido o feno sobre o qual Ele dormia, e não temeu. Jesus é o amigo de cada um de nós, independentemente de quão pecadores e indignos sejamos. Vocês, os pobres, não devem temer vir, pois, vejam, Ele nasceu em um estábulo, e teve por berço um presépio. Não podem encontrar pior moradia que essa, e vocês não são mais pobres que Ele. Venham e deem as boas vindas ao Príncipe dos pobres, ao Salvador dos camponeses. Não fiquem atrás, por medo de não serem dignos; os pastores vieram a Ele com todo e seu desalinho. Não leio que eles tenham se demorado para vestir suas melhores roupas, mas que com as roupas com que se cobriam nessa fria noite, se apressaram, tal como estavam, para ir à presença do bebê. Deus não olha as roupas, mas os corações, e aceita aos homens quando vêm a Ele com espíritos dispostos, independentemente de que sejam ricos ou pobres. Venham, então; venham e sejam bem-vindos, pois Deus certamente é “Deus conosco“.
Oh, mas que não haja demora nisto. Quando meditava nisto ontem, em verdade me pareceu que qualquer que dissesse: “não virei a Deus,” depois que Deus veio ao homem em uma forma assim, seria um ato imperdoável de traição. Talvez, não conhecias o amor de Deus quando pecavas como o fazias; talvez, ainda que perseguias Seus santos, o fazias ignorantemente na incredulidade; mas, eis aqui que Deus te estende o ramo de oliveira da paz, a estende em uma forma maravilhosa, pois Ele mesmo vem aqui para nascer de uma mulher, para poder reunir-se contigo que nasceste de uma mulher também, e salvar-te de teu pecado. Por acaso não prestarás atenção agora que fala por meio de Seu Filho? Posso entender que peças para não ouvir mais Suas palavras quando Ele fala com o som da trombeta, tornando-se excessivamente forte e prolongado, desde as flamejantes chamas do Sinai; não me surpreende que tenhas medo de aproximar-te quando a terra treme e cambaleia diante de Sua tremenda presença; mas agora Ele se restringe a Si mesmo e põe um véu no esplendor de Seu rosto, e vem a ti como um menino de fachada humilde, como o filho de um carpinteiro. Oh, se Ele vem desta maneira, tu voltarás tuas costas a Ele? Por acaso podes menosprezá-lo? Que melhor embaixador você pode desejar? Esta embaixada de paz é enviada de maneira tão terna, tão bondosa, tão amável, tão comovedora, que seguramente não poderá ter o coração de resisti-la. Não, não te vá, que teus ouvidos não rejeitem a linguagem de Sua graça, mas diga: “se Deus é conosco, nós seremos com Ele.” Diga, pecador, diga: “Me levantarei e irei até o meu pai, e lhe direi: Pai pequei contra ti.”
E quanto a ti que perdeste toda a esperança, tu que te consideras tão degradado e caído que não pode haver futuro para ti: ainda há esperança para ti, pois és um homem, e o seguinte depois de Deus é o homem. O que é Deus é também homem, e há algo sobre esse fato que deve conduzir-te a dizer: “sim, talvez ainda possa descobrir irmandade com o Filho do homem que é o Filho de Deus, eu, inclusive eu, posso ser levantado para estar entre os príncipes, os príncipes de Seu povo, em virtude de minha humanidade regenerada que me leva a uma relação com a humanidade de Cristo, e desta maneira a uma relação com a Deidade.” Não te desprezes a ti mesmo, oh homem, és algo demasiado esperançoso, depois de tudo, para servir de alimento para o verme que nunca morrerá, e alimentar o fogo que nunca se apagará. Volta-te a teu Deus com pleno propósito de coração, e descobrirás que te espera um grandioso destino.
E agora, meus irmãos, para vocês a última palavra é: sejamos com Deus posto que Deus é conosco. Lhes dou como lema para o ano que começa, “Emanuel, Deus conosco.” Vocês, os santos redimidos pelo sangue, tem direito a tudo isto no mais pleno sentido, bebam disso e encham-se de valor. Não digam: “não podemos fazer nada.” Quem são vocês que não podem fazer nada? Deus é com vocês. Não digam: “a igreja é fraca e atravessa tempos maus,” não, “Deus é conosco.” Necessitamos do valor daqueles antigos soldados que estavam dispostos a considerar as dificuldades unicamente como pedra para afiar suas espadas. Eu gosto do comentário de Alexandre o Grande quando lhe disseram que havia muitos milhares, talvez, muitos milhões de persas. “Muito bem,” respondeu, “há boa colheita quando a safra é abundante. Um açougueiro não teme mil ovelhas.” Também gosto do comentário do velho Gascon, que respondeu quando lhe perguntaram: “Podem tu e tuas tropas entrarem nessa fortaleza? É inexpugnável.” “O sol pode entrar nela?” perguntou. “Sim.” “Bem, nós podemos entrar onde o sol possa ir.” Diante do mandamento de Deus, o cristão pode fazer o possível e o impossível, pois Deus é conosco. Por acaso não creem que as palavras, “Deus conosco,” eliminam da existência a impossibilidade? Os corações que de nenhuma outra maneira pudessem ser quebrantados, serão quebrantados se Deus é conosco. Erros que não poderiam ser refutados de nenhuma outra maneira, podem ser eliminados por “Deus conosco.” As coisas impossíveis aos homens, são possíveis a Deus. John Wesley morreu com isso em sua língua, e vivamos com isto em nossos corações: “o melhor de tudo é Deus conosco.” Bendito Filho de Deus, te damos graças porque Tu nos deste essa palavra. Amém.
Charles Haddon Spurgeon
Enviado por Silvio Dutra Alves em 11/08/2013