Legado Puritano
Quando a Piedade Tinha o Poder
Textos
A Última Palavra de Cristo na Cruz (reduzido) – P 2
Por Charles Haddon Spurgeon

II. Em segundo lugar, CUMPRAMOS COM O DEVER.
Esse dever me parece que é, primeiro, a renúncia. Sempre que algo lhes turbar e alarmar, submetam-se a Deus. Digam: “Pai, em tuas mãos entrego meu espírito”. Cantem com Faber:
“Eu me inclino à Tua vontade, oh Deus,
E adoro todos os Teus caminhos;
E cada dia que eu viver buscarei
Agradar-te mais e mais”.
Continuando, aprendam o dever da oração. Quando vocês estão mergulhados em dor, quando estão rodeados por amargas aflições, tanto da mente como do corpo, sigam orando. Não abandonem o “Pai Nosso”. Não permitam que seus choros sejam dirigidos ao vento; não permitam que seus gemidos sejam antes ao médico ou sua enfermeira, mas vocês devem clamar: “Pai”. Por acaso o menino não clama que se perdeu no caminho? Se ele estiver escuro na noite, e se desperta em uma habitação solitária, não grita: “Pai”; e por acaso o coração de um pai não é comovido por esse grito? Há alguém aqui que nunca tenha clamado a Deus? Há alguém aqui que nunca tenha dito: “Pai”? Então, meu Pai, ponha Teu amor em seus corações, e os conduza a dizer esta noite:“Me levantarei e irei a meu Pai”. Você será reconhecido como filho de Deus se ressoar esse clamor em seu coração e em seus lábios.
O seguinte dever é nossa entrega a Deus pela fé. Entreguem-se a Deus, confiem em Deus. Cada manhã, quando se levantarem, tomem e ponham-se debaixo da custódia de Deus; encerrem-se, por assim dizer, no cofre da proteção divina; e cada noite, quando você tirar a chave da casa, antes de deitar-se para dormir, feche-a com a chave novamente, e ponham a chave na mão d’Aquele que é capaz de guardá-los quando a imagem da morte estiver em seu rosto. Antes de seu sonho, entreguem-se a Deus; quero dizer, façam isso quando não há nada que os aterrorize, quando tudo está tranquilo, quando o vento sopra suavemente do sul, e o barco se aproxima velozmente ao porto desejado, não se tranquilizem com sua própria tranquilidade. O que corta a carne por si mesmo, cortará os dedos e ainda terá um prato vazio. O que deixa que Deus trinche a carne por ele verá frequentemente espessos tutanos apresentados diante de si. Se puder confiar, Deus recompensará tua confiança de uma maneira que ainda não conheces.
E logo cumpram outro dever, o da experimentação contínua e pessoal da presença de Deus. “Pai, em tuas mãos entrego meu espírito”. “Tu estas aqui, eu sei que estas aqui. Percebo que estás aqui no tempo da aflição, e de perigo, e me ponho em Tuas mãos. Da mesma maneira que se alguém me atacasse, eu me entregaria à proteção de um policial, ou de um soldado, assim me entrego a Ti, Guardião invisível da noite, a ti, incansável Guarda do dia. Tu cobrirás minha cabeça no dia da batalha. Debaixo das tuas asas confiarei como um pintinho se esconde debaixo da galinha”.
Observe, então, seus deveres. Consiste em submeter-se a Deus, em orar a Deus, em entregar-se a Deus, e descansar graças a sentir a presença de Deus. Que o Espírito de Deus te ajude na prática de tais deveres inestimáveis como estes!
III. Agora, por último, DEVEMOS GOZAR DO PRIVILÉGIO.
Primeiro, devemos gozar do excelso privilégio de descansar em Deus em todos os tempos de perigo de dor. O doutor acaba de anunciar que você terá que sofrer uma operação. Diga: “Pai, em tuas mãos entrego meu espírito”. Existe toda a probabilidade de que essa sua debilidade, ou essa sua enfermidade, se agravará, e que imediatamente terás de repousar na cama, e permanecer ali, talvez, durante muitos dias. Então, diga: “Pai, em tuas mãos entrego meu espírito”. Não te agonies, pois isso não lhe ajudará. Entrega-te a Deus – é privilégio seu fazê-lo – para que seja guardado por essas amadas mãos que foram perfuradas por ti, para que sejas entregue ao amor desse amado coração que foi aberto pela lança para comprar tua redenção. É PORTENTOSO o descanso do espírito que Deus pode proporcionar ao homem ou a mulher que se encontram na pior condição. Oh, como alguns dos mártires cantaram na fogueira! Como se regozijaram sobre o poço de tormento! A carvoeira de Bonner, do outro lado da água, em Fulham, onde deixavam os mártires, era um lugar infeliz para estar numa noite de frio no inverno; mas nos é informado que: “eles se animavam na palha, quando estavam na carvoeira; com o canto mais doce proveniente do céu, e quando Bonner lhes dizia: “Que vergonha que façam tanto barulho”!, eles lhe responderam que ele também faria barulho semelhante se estivesse feliz como eles estavam”. Quando confiar seu espírito a Deus, então você poderá gozar de um doce descanso em tempos de perigo e de dor.
O seguinte privilégio é o de uma confiança valorosa no momento da morte, ou diante do temor da morte. Fui conduzido a refletir sobre este texto, utilizando-o muitas vezes na noite de quinta-feira passada. Talvez nenhum de vocês esquecerá a noite de quinta-feira passada. Eu penso que nunca a esquecerei, ainda que chegue a ser tão velho como Matusalém. Daqui até que chegasse em casa, parecia que ia no meio de uma cortina de fogo, e quanto mais avançava, mais vívidos se tornavam os relâmpagos; mas quando finalmente cheguei próximo a Leigham Court Road, então os raios pareciam descer em barras do céu; e por fim, quando alcancei a última colina, se produziu um estrondo do tipo mais horripilante, e caiu uma torrente de granizo, pedras de granizo que não tentarei descrever, pois poderiam pensar que exagero, e então senti, e meu amigo sentiu o mesmo, que dificilmente poderíamos chegar vivos em casa. Encontramos-nos ali no próprio centro e no ápice da tormenta. Por todos os lados ao redor de nós, e por assim dizer, dentro de nós, não se via outra coisa que o fluído elétrico; e a destra de Deus parecia desnuda para a guerra. Eu pensei então: “Bem, agora mui provavelmente irei para casa”, e entreguei meu espírito a Deus; e a partir daquele momento, ainda que não pudesse dizer que sentia prazer com os estrondos dos trovões e os clarões dos raios, me senti tão tranquilo como me sinto aqui nesse momento; talvez estava um pouco mais tranquilo do que me sinto na presença de tantas pessoas, pois me sentia feliz ao pensar que, em um instante, poderia entender mais que tudo o que poderia aprender na terra, e ver num instante mais do poderia esperar ver se vivesse aqui durante um século. Eu somente podia dizer a meu amigo: “Entreguemo-nos a Deus, sabemos que estamos cumprindo com nosso dever ao seguir adiante como o estamos fazendo, e tudo estará bem para nós”. Então, só podíamos regozijar juntos diante da perspectiva de estarmos de imediato com Deus. Não fomos levados para a casa no carro de fogo; nos foi permitido seguir um pouco mais de tempo com a obra de nossa vida; mas experimentei a doçura de ser capaz de concluir com tudo, de não ter nenhum desejo, nenhuma vontade, nenhuma palavra, escassamente uma oração, e de somente elevar nosso coração e entregá-lo ao grandioso Guarda, dizendo: “Pai, cuida de mim. Debaixo do Teu cuidado hei de viver, e debaixo do Teu cuidado hei de dormir. A partir desse momento não tenho desejo de nada, há de ser como Tu queres. “Em tuas mãos entrego meu espírito”.
Este privilégio não consiste unicamente em ter descanso no perigo e confiança diante da perspectiva da morte; está cheio também de gozo consumado. Amados, se soubéssemos como entregar-nos nas mãos de Deus, que lugar é para que estejamos ali! Que lugar para estar ali; nas mãos de Deus! Há miríades de estrelas; até o próprio universo; a mão de Deus sustém todos os seus pilares eternos, e não caem. Se nos colocamos nas mãos de Deus, chegamos onde todas as coisas se apoiam, e temos um lar e felicidade. Saímos do nada da criatura e entramos na suficiência do Criador para tudo. Oh, ponham-se ali, apressem-se para estar ali, queridos amigos, e a partir de agora, vivam nas mãos de Deus!
“Está consumado“. Vocês não concluíram, mas Cristo o fez. Tudo está consumado. O que terão de fazer será unicamente executar o que Ele já consumou para vocês, e mostrá-lo aos filhos dos homens em suas vidas. E posto que tudo está consumado, digam: “Agora, Pai, volto-me para Ti. Minha vida a partir de agora será estar em Ti. Meu gozo será nada na presença do Tudo em todos, morrer para entrar na vida eterna; fundir meu ego a Jeová, e deixar que minha humanidade, que minha condição de criatura viva unicamente para seu Criador, e manifeste unicamente a glória do Criador”. Oh, amados, terminem esta noite e comecem amanhã de manhã com: “Pai, em tuas mãos entrego meu espírito“. O Senhor esteja com todos vocês! Oh, se você nunca orou, que Deus te ajude a orar agora, por Jesus Cristo nosso Senhor! Amém.
Charles Haddon Spurgeon
Enviado por Silvio Dutra Alves em 17/08/2013
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