Legado Puritano
Quando a Piedade Tinha o Poder
Textos
Por Charles Haddon Spurgeon



II. Na segunda parte, meu texto é penetrante, eu prego com grande deleite sobre a primeira parte, mas aqui existe uma triste tarefa para minha alma, porque encontramos palavras tenebrosas. No entanto, como lhes disse, o que está escrito na Bíblia deve ser pregado, seja tenebroso ou alegre. Existem alguns ministros que nunca mencionam nada sobre o inferno. Escutei de um ministro que uma vez disse para sua congregação: “Se vocês não amam ao Senhor Jesus Cristo, vocês serão enviados a esse lugar cujo nome não é cortês se mencionar.” A esse ministro não se lhe devia permitir que pregasse novamente, se era incapaz de usar palavras claras. Agora, se eu vejo que aquela casa está pegando fogo,  vocês acreditam que eu ficaria imóvel dizendo: “eu acho que ali está se desenvolvendo uma combustão”. Não, eu gritaria: “Fogo! Fogo!” e então todo mundo entenderia o que estou dizendo.
Assim, se a Bíblia disse: “os filhos do reino serão lançados às trevas exteriores”, devo me apresentar aqui e expor as coisas favoravelmente? Deus não queira! Devemos dizer a verdade, tal como ela está escrita. É uma terrível verdade, pois diz: “e os filhos do reino serão lançados nas trevas exteriores” Agora, quem são esses filhos? Eu lhes direi. “Os filhos do reino” são essas pessoas que se fazem notar por suas amostras externas de piedade, mas que não possuem suas características interiores. Pessoas que vocês verão marchando para a igreja, tão religiosamente como é possível, com suas Bíblias e seus hinários, tão devotas e modestamente quanto possam, mostrando-se tão sóbrias e sérias como sacristãos paroquiais, imaginando-se que estão seguros de serem salvos, ainda que os corações deles não estejam ali de fato, além de somente seus corpos. Essas são as pessoas que são “os filhos do reino”. Não possuem graça, nem vida, nem a Cristo, e serão lançados às trevas exteriores.
Ademais, essas pessoas são filhas de pais e mães piedosos. Não existe nada que comove tanto o coração de um homem, notem bem, como o modo como fala sobre sua mãe. Eu ouvi a história de um marinheiro blasfemo, que ninguém podia controlar, nem sequer a polícia, que por onde passava causava distúrbios. Uma vez, ele foi a um lugar de adoração, e ninguém podia mantê-lo quieto; porém, um cavaleiro se aproximou e disse: “João, você teve uma mãe uma vez.” Com isso, as lágrimas rolaram por sua face. Ele disse: “Sim, já!” “bendito sejas amigo, é certo que a teve,” e o perturbador disse: “e eu levei com dor seus cabelos grisalhos à tumba, e sou um descarado ao estar aqui essa noite.” E logo, se assentou, muito quieto e submisso pela simples menção de sua mãe.
Ah, e existem alguns de vocês, “filhos do reino”, que podem se lembrar de suas mães. Sua mãe o sentou em seus joelhos e lhe ensinou logo cedo a orar: seu pai o instruiu nos caminhos da piedade. E, no entanto, você está aqui essa noite sem graça em seu coração: sem a esperança do céu. Está descendo até o inferno tão rápido quanto seus pés lhe permitem. Existem alguns de vocês que quebrantaram o coração de sua pobre mãe. Oh, se pudesse lhes dizer o que ela sofreu por vocês enquanto estavam se entregando ao pecado durante a noite. Se dão conta de qual era sua culpa, “filhos do reino”, depois que as orações e as lágrimas de uma mãe piedosa caíram sobre vocês? Não posso conceber que ninguém entre no inferno com uma pior graça que o homem que vai para lá com as gotas de lágrimas de sua mãe sobre sua cabeça, e com as orações de seu pai seguindo seus calcanhares.
Alguns de vocês suportariam inevitavelmente essa condenação; alguns jovens e mulheres despertarão um dia e se encontrarão nas trevas exteriores, enquanto seus pais estarão acima no céu, olhando até abaixo com olhos de reprovação, como que querendo dizer: “Como! Depois de tudo o que fizemos por você, tudo o que lhe dissemos, você chegou a isso?” “Filhos do reino!” não creiam que uma mãe piedosa possa salvá-los. Não pensem que porque seu pai foi um membro de tal e tal igreja, sua piedade lhes salvará. Posso supor alguém parado à porta do céu rogando, “deixem-me entrar! Deixem-me entrar!” “Por que?” perguntam. “Porque minha mãe está ali dentro.” Sua mãe não teve nada que ver contigo. Se foi santa, foi santa para ela; se foi perversa, foi perversa para ela. “Mas meu avô orou por mim.” Isso não lhe serve para nada agora. Você orou por você mesmo? “Não, não orei”. Então as orações do avô e da avó, e as orações do pai e da mãe, podem se amontoar umas sobre as outras até que alcancem as estrelas, mas nunca poderão formar uma escada que você possa usar para subir ao céu. Deves buscar a Deus por ti mesmo; ou melhor, Deus deve buscar-lhe. Você deve ter uma experiência vital de piedade em seu coração, pois do contrário está perdido, ainda que todos teus amigos estejam no céu.
Uma mãe piedosa sonhou um sonho terrível e o contou a seus filhos. Ela pensou que o dia do juízo tinha chegado. Os grandes livros foram abertos. Todos eles estavam diante de Deus. E Jesus Cristo disse: “Separem a palha do trigo; coloquem os cabritos à esquerda e as ovelhas à direita da grande assembleia. E o anjo veio, e disse: “tenho que levar a mãe: ela é uma ovelha, ela deve ir para direita. Os filhos são cabritos, e eles devem ir para esquerda.”  Ela sonhou que ao retirar-se, seus filhos a agarravam e lhe diziam: “Mãe, por acaso podemos nos separar? Devemos estar separados?”. Então, ela os abraçou enquanto lhes dizia: “meus filhos, se fosse possível, eu os levaria comigo.” Porém, em um instante o anjo a tocou: suas faces estavam secas, e agora, sobrepondo-se ao afeto natural, sendo transformada em um ser sobrenatural e sublime, rendida à vontade de Deus, ela disse: “meus filhos, eu lhes ensinei bem, eu lhes eduquei, e vocês abandonaram os caminhos de Deus, e agora tudo o que tenho que dizer é amém à sua condenação.” Então, nesse momento, eles foram arrebatados para longe, e ela os viu em tormento perpétuo, enquanto ascendia ao céu.
Jovem, o que você pensaria quando o último dia vier, e escutar o que Cristo diz: “Aparte-se de mim, maldito!”? E haverá uma voz justamente atrás Dele, dizendo, amém. E quando investigar de onde procede essa voz, descubra que foi a voz de sua própria mamãe nesse “amém”? Ou também, moça, quando fores lançada nas trevas externas, o que pensaria ao ouvir uma voz dizendo “Amém”, e quando olhar, veja ali sentado a seu papai, e seus lábios ainda se agitam com a solene maldição. “Ah, filhos do reino,” os réprobos penitentes entrarão no céu, muitos deles; publicanos e pecadores chegarão ali; bêbados arrependidos e blasfemos serão salvos, mas muitos dos filhos do reino serão deixados às trevas exteriores.
Oh, pensar que você que foi educado tão bem, se perca, enquanto que muitas das piores pessoas serão salvas. Será o inferno do inferno para você quando elevar o olhar e veja ali “ao pobre João,” o bêbado, reclinado no peito de Abraão, enquanto você que teve uma mãe piedosa é lançado ao inferno, simplesmente porque não creu no Senhor Jesus Cristo; apartou de você mesmo o Evangelho, e viveu e morreu sem ele! Isso será o pior aguilhão de todos, ver a si mesmo lançado fora nas trevas, quando o principal dos pecadores encontra a salvação!
Agora, escutem-me um momento – não os deterei por largo tempo – enquanto assumo a triste tarefa de dizer-lhes o que é que acontecerá a esses “filhos do reino”. Jesus Cristo diz que eles “serão lançados nas trevas exteriores, e ali haverá choro e ranger de dentes.”
Primeiro, observem, eles serão lançados. Não diz que vão ir, mas quando chegarem às portas do céu serão lançados. Tão logo o hipócrita suba às portas do céu, a Justiça dirá: “lá vem, lá vem! Menosprezou as orações de um pai, se burlou das lágrimas de uma mãe. Ele forçou seu caminho de caída contra todas as vantagens que a misericórdia lhe proveu. E agora vem. Gabriel, agarre esse homem”. Então, o anjo, o prendendo pelos pés e mãos, o pende por um instante sobre as bocas do abismo. Ele lhe ordena que olhe para baixo, para baixo, para baixo. Não existe fundo: e você ouve umas palavras que se elevam desde esse abismo: “gemidos, queixas profundas, e alaridos de espíritos torturados.” Você estremece, seus ossos se derretem como cera, e sua medula se abala dentro de você. Onde está agora seu poder, e, onde está sua jactância e fanfarronice? Dá um grito e chora, e pede misericórdia; mas o anjo, com seu tremendo punho, o sustenta firme, e logo lhe lança ao abismo, com o grito: “longe, longe!” e você cairia no buraco que não tem fundo, e se desce para sempre para baixo, sem achar jamais um lugar de descanso para a planta de seus pés. Será lançado fora.
E, onde será lançado? Deve ser lançado “nas trevas exteriores;” ser colocado no lugar onde não haverá esperança. Pois, por “luz”, nas Escrituras, nós entendemos “esperança”; e você será lançado “às trevas exteriores, onde não existe luz: não existe esperança. Existe algum homem aqui que não tenha esperança? Não posso imaginar a uma pessoa assim. Talvez, algum de vocês diga: “Tenho uma dívida de trinta libras esterlinas, e logo serei vendido; mas tenho a esperança de obter um empréstimo, e assim poderei escapar de minha dificuldade.”
Outro diz: “Meu negócio está na ruína, mas as coisas ainda podem mudar: tenho esperança.” Outro diz: “Eu estou submerso na angústia, mas espero que Deus me dê a provisão”. Outro diz: “eu devo cinquenta libras esterlinas; eu sinto muito, porém, irei colocar minhas fortes mãos a trabalhar e vou fazer um grande esforço para sair do problema.” Alguém pensa que seu amigo está morrendo – mas tem a esperança que talvez a febre regrida: espera que possa viver. Mas no inferno não existe esperança. Nem mesmo a esperança de morrer: a esperança de ser aniquilado. Eles estão perdidos para sempre, para sempre, para sempre! Em cada cadeia do inferno está escrito: “para sempre”. Nos fogos, ali, sobressaem as palavras: “para sempre”. Acima de suas cabeças, eles leem: “para sempre”. Seus olhos estão amargurados e seus corações estão doloridos pelo pensamento de que é para sempre. Oh, se eu pudesse dizer-lhes nessa noite que o inferno irá desaparecer queimando um dia, e que os que estavam perdidos poderiam ser salvos, haveria um júbilo no inferno motivado por um simples pensamento desses. Porém, não pode ser: é “para sempre” que “são lançados nas trevas exteriores”.
Mas eu gostaria de terminar com isso tão logo quanto possa, pois, quem pode suportar falar dessa forma a seus companheiros? O que é que os perdidos estão fazendo? Estão “chorando e rangendo seus dentes”. Você agora range os dentes? Não faria isso a menos que sentisse dor e estivesse em agonia. Bem, no inferno sempre existe um ranger de dentes. E, sabe por quê? Há alguém que range seus dentes para seu companheiro e murmura: “eu fui conduzido ao inferno por você, você me levou a me extraviar, você me ensinou a beber pela primeira vez”. E outro range os seus dentes também e lhe responde: “E daí se o fiz, você me fez mais mal do que eu fiz”.
Existe ali um filho que olha para sua mãe e diz para ela: “Mãe, você me treinou no vício”. E a mãe range os dentes de volta ao jovem, e lhe responde: “não sinto piedade por você, pois você me superou no vício e me conduziu ao profundo do pecado”. Os pais rangem seus dentes para seus filhos, e os filhos para os pais. E me parece que se existe alguns que terão que ranger os dentes mais que outros, serão os sedutores, quando virem àqueles que se desviaram dos caminhos de virtude, e lhes ouçam dizer: “ah, nos dá gosto que você esteja no inferno conosco, você merece, pois você nos trouxe aqui”.
Algum de vocês tem sobre sua consciência no dia de hoje o fato de que conduziu a outros ao abismo? Oh, que a graça soberana lhe perdoe. “eu andei errante como ovelha extraviada”, Davi disse. Agora, uma ovelha extraviada jamais se extravia sozinha se pertence ao rebanho. Recentemente li sobre uma ovelha que saltou sobre a varanda de uma ponte, e cada uma das ovelhas do rebanho a seguiu. Assim, se um homem se desvia, conduz a outros ao desvio com ele. Alguns de vocês terão que prestar contas pelos pecados de outros quando chegarem ao inferno, assim como pelos seus próprios pecados. Oh, que “choro e ranger de dentes” haverá nesse abismo!
Agora encerro o livro negro. Quem quer dizer algo mais sobre ele? Eu lhes adverti solenemente. Falei para vocês da ira vindoura! A tarde cai, e o sol está se pondo. Ah, e as tardes escurecem para alguns de vocês. Vejo aqui homens de cabelos grisalhos. Por acaso são seus cabelos grisalhos uma coroa de glória ou um gorro de um insensato? Vocês estão na própria borda do céu, ou estão cambaleando a beira da sua tumba, e se afundando para a perdição?
Permitam-me adverti-lhes, homens de cabelos grisalhos; seu entardecer se aproxima. Oh, pobre homem de cabelos brancos que vacila, você dará seu ultimo passo para o abismo? Deixe que um pequeno menino se interponha na sua frente e lhe suplique que reconsidere. Ali está seu cajado: não tem mais nenhum pedaço de terra sobre o qual descansar; e agora, antes que morra, recapitule essa noite – deixe que se levantem precipitadamente setenta anos de pecado; deixe que os fantasmas de suas esquecidas transgressões marchem sobre seus olhos. O que você fará com setenta anos desperdiçados pelos quais tem que responder, com setenta anos de crimes que irá trazer diante de Deus? Que Deus lhe dê nessa tarde graça para que se arrependa e que coloque sua confiança em Jesus.
E vocês, homens de meia idade, não estejam tão seguros: a tarde cai para vocês também; podem morrer logo. Faz uns quantos dias, fui levantado cedo de minha cama por conta de um pedido para que me apressasse a visitar um moribundo – porém, quando cheguei à casa, ele já estava morto: era um cadáver. Enquanto estava naquela casa, pensei: “ah, esse homem não tinha a menor ideia de que morreria tão rápido.” Ali estavam sua esposa e seus filhos e amigos; não pensaram que ia morrer, pois era um homem sadio, robusto, vigoroso somente há alguns dias atrás.
Nenhum de você tem uma apólice de seguro de sua vida. Se a têm, onde está? Vão e vejam se a possuem escondida nos baús de suas casas. Não! Vocês podem morrer amanhã. Portanto, permitam-me advertir-lhes pela misericórdia de Deus – deixem-me lhes falar como um irmão falaria com vocês; pois eu os amo, e vocês sabem que é assim, e eu gostaria que gravassem isso em seus corações. Oh, estar entre as muitas pessoas que serão aceitas em Cristo: que benção será! E Deus disse que todo aquele que invoque Seu nome será salvo: não rejeita a ninguém que venha a Ele por meio de Cristo.
E agora, moços e moças, uma palavra para vocês. Talvez pensem que a religião não é para vocês. “Sejamos felizes” dizem: “estejamos alegres e cheios de gozo”. Por quanto tempo, rapaz, por quanto tempo? “Até que eu cumpra vinte e um anos.” Você está seguro de que alcançará essa idade? Deixe-me dizer-lhe uma coisa. Se de fato você vive até essa data, e mesmo assim não tem um coração para Deus, tampouco terá um quando chegar nessa idade. Se os homens são deixados por si mesmos, não se fazem melhores. Sucede com eles o mesmo que acontece com um jardim; se o abandona e permite que cresça ervas daninhas nele, não espere encontrá-lo em melhor estado seis meses depois: estará pior! Ah, os homens falam como se pudessem se arrepender quando queiram. É obra de Deus nos dar arrependimento. Alguns, inclusive, chegam a dizer: “irei me voltar a Deus tal e tal dia.” Ah, se sentisse de maneira correta diria: “devo correr a Deus, e pedir-lhe que me dê o arrependimento agora, para que não morra antes de ter encontrado a Jesus Cristo meu Salvador”.
E agora, uma palavra para concluir essa mensagem. Falei-lhes do céu e do inferno, qual é o caminho, então, para escapar do inferno e para ser encontrado no céu? Não lhes irei repetir meu velho conto essa noite. Eu lembro quando lhes contei anteriormente, um bom amigo que se encontrava entre a multidão me disse: “Nos dê algo que seja fresco, velho amigo”. Agora, realmente quando se prega dez vezes pela semana, nem sempre podemos dizer coisas frescas. Já ouviram falar de John Gough, e você sabem que ele repete suas histórias uma e outra vez. Eu não tenho nada senão o velho Evangelho. “o que crer e for batizado, será salvo.” Aqui não existe nenhuma referência a obras. Não diz: “Aquele que for um bom homem será salvo.” Bem, que significa crer? Significa colocar inteiramente sua confiança em Jesus. O pobre Pedro uma vez creu, e Jesus lhe disse: “Vamos Pedro, caminhe até mim sobre a água.” Pedro foi, pisando as cristas das ondas, sem afundar; mas quando olhou as ondas, começou a temer, e afundou.
Agora, pobre pecador, Cristo lhe diz: “Vamos, caminhe sobre seus pecados; venha a Mim”; e se você faz isso, Ele lhe dará poder. Se você crê em Cristo, será capaz de caminhar sobre seus pecados, pisar sobre eles. E vencê-los. Eu posso recordar aquele tempo quando meus pecados me olharam pela primeira vez em minha cara. Eu me considerei o mais execrável de todos os homens. Eu não havia cometido grandes transgressões visíveis contra Deus; mas tinha presente que tinha sido educado e guiado muito bem, e por isso pensava que meus pecados eram piores que os de outras pessoas. Clamei a Deus por misericórdia, mas Ele não me ouviu, e eu não sabia o que era ser salvo. Algumas vezes estava tão cansado do mundo que desejava morrer: mas então me lembrava que existia um mundo pior depois desse, e que não seria bom me apressar em me apresentar diante de meu Senhor sem estar preparado. Às vezes, pensava perversamente que Deus era um tirano sem coração, porque não respondia minha oração; e logo, outras vezes, pensava: “eu mereço Seu desgosto; se Ele me enviar ao inferno será justo.” Porém, recordo da hora quando entrei num lugar de adoração, e vi um homem alto e magro subir ao púlpito: nunca voltei a lhe ver depois desse dia, e provavelmente nunca o veja novamente, até que nos encontremos no céu. Abriu a Bíblia, e leu, com uma voz frágil: “Olhai para mim, e sereis salvos, todos os confins da terra, porque eu sou Deus, e não há outro.” Ah, eu pensei, eu sou um dos confins da terra, e então, voltando-se, e fixando seu olhar em mim, como se ele me conhecesse, esse ministro disse: “olhe, olhe, olhe”. Vamos, eu pensava que havia muitas coisas que eu deveria fazer, mas descobri que só tinha que olhar. Eu pensava que eu mesmo tinha que tecer uma vestimenta: porém, descobri que se eu olhasse, Cristo me daria uma veste de justiça.
Olhe, pecador, isso é ser salvo. Olhe para Ele, todos os confins da terra, e sejam salvos. Isso é o que os judeus fizeram, quando Moises levantou a serpente de bronze. Ele disse: “olhem”, e eles olharam. As serpentes andavam a seu redor, e eles chegavam quase mortos; mas simplesmente olhavam, e no momento que olhavam, as serpentes caiam fulminadas, e eles eram sarados. Olhe para Jesus, pecador. “Ninguém exceto Jesus pode fazer bem aos pecadores desvalidos.” Existe um hino que cantamos sempre, que diz –
“Aventure-se Nele, aventure-se inteiramente;
Não deixes que nenhuma outra confiança se intrometa.”
 
Agora, não é uma presunção confiar em Cristo. O que confia em Cristo está muito seguro. Eu recordo que quando o querido John Hyatt estava morrendo, Matthew Wilks lhe disse: “Bem, John, pode confiar agora sua alma nas mãos de Jesus Cristo?” “Sim,” respondeu “um milhão, um milhão de vezes!” Estou certo que cada cristão que tenha confiado em Cristo pode dizer: “amém” a isso. Confia nele, nunca irá se enganar. Meu bendito Senhor nunca lhe lançará fora.
Devo terminar minha mensagem, e só me resta lhes agradecer sua amabilidade. Nunca vi tantas pessoas reunidas, que estejam tão tranqüilas e tão quietas. Realmente penso, depois de todas as duras coisas que foram ditas, que vocês saibam que Deus lhes ama. Dou graças a cada um de vocês, e sobre todas as coisas, lhes suplico, se existe razão ou sentido no que eu disse, reflitam sobre o que são, e que o bendito Espírito lhes revele sua verdadeira situação! Que lhes mostre que estão mortos, que estão perdidos, arruinados. Que lhes faça sentir que coisa tão terrível seria se afundar no inferno! Que lhes assinale o caminho ao céu! Que os tome, dizendo: “Fuja! Fuja! Fuja! Olhe para o monte; não olhe para trás de ti, não pare em toda a planície. “e que todos nos reunamos ao fim no céu; e ali seremos felizes para sempre.
Charles Haddon Spurgeon
Enviado por Silvio Dutra Alves em 24/08/2013
Comentários
Site do Escritor criado por Recanto das Letras