Legado Puritano
Quando a Piedade Tinha o Poder
Textos
Por Charles Haddon Spurgeon
 
 
 
(Um comentário de Spurgeon: “esse sermão foi regado com muitas orações dos fiéis de Sião. O pregador não pretendia que fosse publicado, mas agora vendo que o imprimiram, não se desculpará pela sua composição defeituosa nem pelo estilo difuso; em vez disso, o pregador suplica as orações de seus leitores, para que esse débil sermão possa exaltar a honra de Deus, pela salvação de muitas pessoas que o leiam. “ a excelência do poder é de Deus, não do homem.”)
 
“Mas eu vos digo que muitos virão do oriente e do ocidente, e assentar-se-ão à mesa com Abraão, e Isaque, e Jacó, no reino dos céus; e os filhos do reino serão lançados nas trevas exteriores; ali haverá choro e ranger de dentes.” Mateus 8:11-12
 
Em nossa terra é permitido falar aberta e claramente, e seu povo está sempre pronto a prestar ouvidos atentos a qualquer um que possa dizer algo digno de atenção. Por isso tenho certeza que disporémos de um auditório atento, pois não existe nenhuma razão para supor o contrário. Esse campo, como todos vocês estão cientes, é de propriedade privada. E eu queria sugerir aos que saem para pregar ao ar livre, que é muito melhor ir a um campo ou a um terreno sem edificações, do que bloquear caminhos e interromper negócios; e é ainda muito melhor estar em um lugar que tenha proteção, para prevenir de imediato qualquer distúrbio.
Essa tarde pretendo animá-los para que busquem o caminho do céu. Terei que expressar também algumas coisas severas relativas ao fim dos homens que se perdem no abismo do inferno. Sobre esse dois temas irei pregar, com a ajuda de Deus. Porém, lhes suplico, por amor de suas almas, que discirnam o que é correto e o que não é; comprovem se o que eu lhes digo é a verdade de Deus. Se não é, rejeitem totalmente meu ensino e o joguem fora para bem longe – mas se é verdade, e o desprezam, será por sua conta e risco; pois como terão que responder diante de Deus, o grandioso Juiz de céus e terra, não lhes irá bem se desprezam as palavras desse servo e de Sua Escritura.
Meu texto consta de duas partes. A primeira é muito agradável para mim, e me dá grande prazer; a segunda é terrível; mas posto que ambas são verdades, ambas devem ser pregadas. A primeira parte de meu texto é: “Mas eu vos digo que muitos virão do oriente e do ocidente, e assentar-se-ão à mesa com Abraão, e Isaque, e Jacó, no reino dos céus”. A frase que eu chamo de a parte negra, escura e ameaçadora é essa: “E os filhos do reino serão lançados nas trevas exteriores; ali haverá pranto e ranger de dentes.
 
I. Tomemos a primeira parte. Aqui existe uma PROMESSA EXTREMAMENTE GLORIOSA. Irei ler ela novamente: “Mas eu vos digo que muitos virão do oriente e do ocidente, e assentar-se-ão à mesa com Abraão, e Isaque, e Jacó, no reino dos céus”. Gosto muito desse texto, porque me revela o que é o céu, e me apresenta um belo quadro dele. É dito que é um lugar onde me sentarei com Abraão, Isaque e Jacó. Oh, que pensamento mais doce é esse para o trabalhador. Muitas vezes ele limpa seu suor de sua fronte, e se pergunta se acaso existe uma terra onde não terá que afanar-se nunca mais. Muito raramente come uma casca de pão que não esteja úmida com seu suor. Diversas vezes vai para casa esgotado e se deixa cair numa cadeira, talvez desmaiado e cansado para poder dormir. Ele se pergunta: Ah, não existe uma terra onde eu possa descansar? Não existe um lugar onde eu possa ficar quieto?” Sim, você que é filho do trabalho árduo e estafante:
 
“Existe uma terra feliz
Longe, longe, muito longe”
 
Onde esse trabalho árduo e estafante é desconhecido. Além do firmamento azul, existe uma formosa cidade luminosa, cujos muros são de jaspe, e cuja luz brilha mais que o sol. Ali “os ímpios deixam de perturbar, e ali os de esgotadas forças descansam.” Ali estão os espíritos imortais que não precisam limpar o suor de suas frontes, pois “não semeiam nem segam”, nem estão submetidos a um trabalho árduo e cansativo –
“Ali em um monte verde e florido
Suas cansadas almas se sentarão:
E com gozos grandiosos farão
Uma conta das fadigas de seus pés”
 
Para minha mente, uma das melhores visões do céu é que ele é uma terra de repouso; especialmente para o trabalhador. Os que não têm que trabalhar duro, pensam que amarão o céu como um lugar de serviço. Isso é muito certo. Porém, para o trabalhador, para o homem que labora arduamente com seu cérebro ou com suas mãos, sempre será um doce pensamento que exista uma terra onde iremos descansar finalmente.
Pronto, essa voz não será forçada mais: logo, esses pulmões não terão que se exercitar além de seu poder; logo, esse cérebro não será atormentado pelo pensamento; mas eu me sentarei à mesa do banquete de Deus; sim, estarei reclinado no peito de Abraão, e estarei tranquilo para sempre; oh filhos e filhas de Adão que estão cansados, não terão que empurrar o arado em um ingrato solo no céu, não terão que se levantar para desempenhar árduos trabalhos antes que o sol nasça, e trabalhar ainda quando o sol tiver se posto já há um bom tempo; mas sim estarão tranquilos, estarão quietos, descansarão, pois todos são ricos no céu, todos são felizes lá, todos estão em paz. Trabalho duro, problemas, cansaços, esforços, são palavras que não podem ser soletradas no céu; não existem tais coisas ali, pois ali todos sempre repousam.
E notem com que boa companhia compartem. Eles “sentarão com Abraão, Isaque e Jacó.” Algumas pessoas pensam que não reconhecerão ninguém no céu. Mas nosso texto declara que nós nos sentaremos “com Abraão, Isaque e Jacó”. Então, tenho certeza que estaremos conscientes que eles são Abraão, Isaque e Jacó.  Eu escutei a história de uma mulher que perguntou  a seu marido, quando estava prestes a morrer: “meu querido, você crê que me conhecerá quando você e eu chegarmos ao céu?” Ele respondeu: “Se eu a reconhecerei? Vamos! sempre a conheci enquanto esteve aqui, e pensa que irei ser mais insensato quando chegue ao céu?” Penso eu que foi uma excelente resposta.
Se nós nos conhecemos aqui na terra, nos reconheceremos depois. Eu tenho queridos amigos que partiram para o além, e sempre é um pensamento  doce para mim que, quando pisar meu pé, como espero fazê-lo, no umbral no céu, verei minhas irmãs e irmão me tomarem pela mão, dizendo: “Sim, amado, já está aqui.” Parentes queridos que foram separados, se encontrarão novamente no céu. Alguns de vocês perderam uma mãe que se foi ao céu; e se você segue as pisadas de Jesus, você se encontrará com ela lá.
Em outro caso, parece-me que vejo a alguém que vem lhe receber à porta do paraíso; e ainda os laços de afeto natural possam ter sido esquecidos em certa medida – se me permitem usar uma figura – quão abençoado seria quando ele se voltasse para Deus e lhe dissesse: “Aqui estou eu, e os filhos que me tens dado.” Reconheceremos a nossos amigos: esposo, você reconhecerá sua esposa. Mãe, você reconhecerá a seus amados filhinhos; você via suas fotografias quando jaziam brancas, ficando sem alento. Você se lembra como se jogou sobre suas tumbas no momento de ser lançada à fria terra sobre eles, e disse: “A terra à terra, o pó ao pó, as cinzas às cinzas;” porém, você voltará a escutar suas amadas vozes de novo; você escutará essas doces vozes uma vez mais; você ainda saberá que as pessoas que você amou, foram amadas por Deus. Por acaso não seria um lúgubre céu para nossa habitação, um onde não pudéssemos conhecer a ninguém e ninguém nos reconhecesse? Não me interessaria ir a um céu assim.
Eu creio que o céu é a comunhão dos santos, e que nos reconheceremos uns aos outros ali. Muitas vezes pensei que terei muito gosto em ver a Isaias; e tão logo chegue ao céu, creio que irei perguntar por ele, porque ele falou mais sobre Jesus do que todos os demais profetas. Estou certo que vou querer encontrar George Whitefield, quem continuamente pregou ao povo, e se gastou com zelo mais que seráfico. Oh sim, teremos uma companhia eleita no céu, quando chegarmos. Não haverá distinção entre cultos e incultos, clero e leigos, mas sim caminharemos livremente entre todos; sentiremos que somos irmãos; nos sentaremos com “Abraão, Isaque e Jacó.”
Escutei outra vez sobre uma senhora que recebeu a visita de um ministro em seu leito de morte, e lhe disse: “quero fazer-lhe uma pergunta, agora que estou a ponto de morrer.” “Bem,” perguntou o ministro, “qual é a pergunta?” “Oh”, respondeu ela, muito afetada, “quero saber se existem dois lugares separados no céu, pois eu não poderia suportar que Beth, a cozinheira, estivesse no céu junto comigo. Ela é tão pouco refinada.” O ministro deu a volta e respondeu: “oh, não se preocupe por isso senhora, não há temor disso; enquanto não se despoje desse seu orgulho maldito, você jamais entrará no céu.” Todos nós devemos nos despojar de nosso orgulho. Devemos nos humilhar e estar sobre uma base de igualdade diante dos olhos de Deus, e ver em cada homem um irmão, antes de poder esperar ser recebido na glória.
Bendizemos a Deus, e lhe damos graças porque não preparará mesas separadas para uns e para outros. O judeu e o gentio se sentarão juntos. O grande e o pequeno se alimentarão dos mesmos pratos, e “nos sentaremos com Abraão, Isaque e Jacó no reino dos céus.”
Mas meu texto tem ainda uma doçura mais profunda, pois afirma que “muitos virão e se sentarão.” Alguns fanáticos de mente estreita pensam que o céu será um lugar muito pequeno, onde haverá pouquíssima gente que assistiu à sua capela ou à sua igreja. Eu confesso que não tenho nenhum desejo de um céu pequeno, e me dá muito gosto ler nas Escrituras que na casa de meu Pai há muitas mansões. Quão frequentemente escuto que o povo diz: “Ah, estreita é a porta e apertado o caminho, e poucos são os que acertam com ele. Haverá poucas pessoas no céu; a maioria se perderá.” Meu amigo, eu não estou de acordo contigo. Acaso você crê que Cristo permitirá que o diabo ganhe dele? Que permitirá que o diabo tenha mais pessoas no inferno das que Ele tenha no céu? Não, isso é impossível. Pois então Satanás se riria de Cristo. Haverá mais pessoas no céu do que haverá entre os que se perdem. Deus disse: “Eis aqui uma grande multidão, da qual ninguém pode contar, de todas as nações, tribos, povos e línguas, que estavam diante do trono e na presença do Cordeiro;” mas Ele nunca disse que haverá uma multidão que ninguém pode contar que se perderá. Haverá hostes incontáveis que chegarão ao céu. Que boas notícias para você e para mim! Pois, se existem tantos que serão salvos, por que eu não haveria de ser salvo? Por que também aquele homem que está no meio da multidão, não pode dizer: “não poderia eu mesmo ser um desses da multidão?” E essa pobre mulher que está ali não poderia recobrar ânimo e dizer também: “Bom, se só se salvarão meia dúzia de pessoas, por que eu  haveria de ser salva?” Anime-se, você que está desconsolado! Alegre-se, filho da dor e da aflição, ainda há esperança para você!
Eu não posso crer que alguém esteja mais além do alcance da graça de Deus. Haverá uns quantos que cometeram esse pecado que é para morte e Deus lhes abandonou; mas a vasta maioria da humanidade está ainda dentro do alcance da misericórdia soberana: “E muitos virão do oriente e do ocidente, e se sentarão no reino dos céus.”
Olhem outra vez para meu texto, e vocês verão de onde vêm essas pessoas. Eles “virão do oriente e do ocidente.” Os judeus diziam que todos eles viriam da Palestina, cada um deles, cada homem, cada mulher e cada criança; que não haveria ninguém no céu que não fosse judeu. E os fariseus pensavam que se todos eles não eram fariseus, não poderiam ser salvos. Mas Jesus Cristo disse que virão muitos do oriente e do ocidente. Haverá uma multidão daquela terra muito distante, China, pois Deus está fazendo uma obra grandiosa ali, e nós esperamos que o Evangelho seja vitorioso nessa terra. Haverá uma multidão dessa terra ocidental da Inglaterra; e também do pais ocidental que está alem do mar, de América; e do sul, da Austrália; e do norte, do Canadá, Sibéria e Rússia. Desde os confins da terra virão muitos que se sentarão no reino de Deus.
Mas eu creio que esse texto não deve ser entendido tanto no sentido geográfico somente, tanto como no sentido espiritual. Quando diz que “muitos virão do oriente e do ocidente”, eu penso que não se refere particularmente às nações, mas sim a diferentes tipos de pessoas. Agora, “o oriente e o ocidente” quer dizer aqueles que se encontram mais longe da religião; no entanto, muitos deles serão salvos e chegarão ao céu. Existe uma classe de pessoas que será considerada sempre como desajuizada. Muitas vezes escutei, seja de um homem ou de uma mulher, um comentário sobre essas pessoas, “ele não pode ser salvo: é demasiadamente desleixado. Para que ele presta? Pedi-lhe que vá a um lugar de adoração: ele estava bêbado na noite de sábado. De que serviria argumentar com ele? Não existe esperança para ele. É um tipo endurecido. Olhe para o que ele fez durante todos esses anos. De que serviria falar com ele?”
Agora, escutem isso, vocês que pensam que seus companheiros são piores que vocês; que condenam aos outros quando vocês mesmos são tão culpados quanto eles: Jesus Cristo disse: “muitos virão do oriente e do ocidente.” Haverá muitos no céu que uma vez foram bêbados. Eu creio que, em meio dessa multidão comprada com sangue, haverá muitos que cambalearam entrando e saindo de uma taverna durante a metade de suas vidas. Mas pelo poder da graça divina eles foram capazes de lançar o copo de licor fora. Eles renunciaram ao desenfreio e à intoxicação – fugiram dela – e serviram a Deus. Sim! Haverá muitos no céu que foram beberrões na terra.
No céu haverá também muitas prostitutas: algumas das mais dissipadas serão achadas ali. Vocês recordam da história de Whitefield que uma vez disse que haverá pessoas no céu que foram “descartadas pelo diabo”; alguns que o diabo dificilmente pensaria que são bons o suficiente para ele, mas que Cristo salvará. Lady Huntingdon sugeriu-lhe uma vez com delicadeza que essa linguagem não era decorosa. Mas justo nesse momento se escutou a campainha e Whitefield desceu as escadas e se dirigiu à porta. Depois subiu e disse: “senhora, o que crê que acaba de me contar uma pobre mulher? Ela era uma triste perdida me disse ‘oh senhor Whitefield, quando você estava pregando nos disse que Cristo receberia os rejeitados do diabo e eu sou um deles.’”.  E esse foi o instrumento de sua salvação.
Alguma vez alguém nos impedirá que preguemos aos mais baixos dos baixos? Fui acusado de reunir toda a plebe de Londres a meu redor. Deus abençoe a plebe! Deus salve a plebe! Logo eu digo: suponhamos que eles são “a ralé”! Quem poderia necessitar do Evangelho mais que eles? Quem requer que Cristo seja pregado mais do que eles? Temos a muitos que pregam às damas e aos cavaleiros, mas precisamos que alguém pregue à ralé nesses dias degenerados.
Oh, aqui existe consolo para mim, pois muitos elementos do povo virão do oriente e do ocidente. Oh, que vocês pensariam se vissem a diferença que existe entre alguns que estão no céu e outros que estarão lá? Poderia ser encontrar alguém ali cujo cabelo estivesse emaranhado e descabelado em sua testa e em seus olhos, seus olhos vermelhos saltando para fora e rindo como um idiota, que bebeu até consumir seu cérebro de tal forma que a vida parece ter partido no que concerne ao sentido e ao ser; no entanto eu lhe diria: “esse homem é suscetível de salvação”, e em um poucos anos eu poderia dizer “olhe para lá: vê aquela estrela brilhante? Reconhece aquele homem com uma coroa de ouro fino sobre sua cabeça? Nota que está coberto com vestes de safira e roupas de luz? Esse é aquele mesmo homem que se sentava ali como um pobre ser desviado, quase idiotizado; no entanto, a graça soberana e a misericórdia o salvaram!
Não existe nada exceto esses que eu mencionei antes, que cometeram o pecado imperdoável, que esteja além da misericórdia de Deus. Tragam-me aos piores homens, e ainda assim eu pregarei para eles o Evangelho; tragam-me os mais vis, e eu lhes pregaria, porque recordo que o Senhor disse: “Vá pelos caminhos e pelos becos, e força-os a entrar, para que minha casa se encha.” “e lhes digo que virão muitos do oriente e do ocidente, e se sentarão com Abraão, Isaque e Jacó no reino dos céus.”
Existe uma palavra a mais que devo ressaltar antes de terminar com essa doce porção: essa é a palavra “irão vir (virão)”. Oh, eu amo os “eu farei” e, por consequência, os “eles farão”, de Deus! Não existe nada comparável a essas expressões. Se o homem diz: “Se fará”, que há com eles? “Eu vou a” diz um homem, porém, nunca o cumpre; “eu farei,” diz, mas quebra sua promessa. Porém não acontece o mesmo com os “eu farei” de Deus. Se Ele diz “será”, assim será; quando Ele diz “sucederá”, assim será. Agora Ele disse aqui “muitos virão, muitos irão vir.” O diabo diz “não virão”, mas “eles sim virão”. Seus pecados dizem: “vocês não podem vir”, mas Deus diz : “vocês irão vir”. Vocês mesmos dizem: “não viremos”; mas Deus diz “você virão”. Sim, existem algumas pessoas aqui que estão rindo da salvação, que se burlam de Cristo e ridicularizam o Evangelho; mas eu lhes digo que inclusive alguns de vocês virão!
“Como?” – perguntam – “pode Deus conduzir-me a ser cristão?” Lhes digo que sim, pois ali radica o poder do Evangelho. Ele não lhes pede seu consentimento; o consegue de fato. Ele não diz se “querem recebê-lo?” mas faz que vocês queiram no dia do poder de Deus. Não contra sua vontade, mas faz que vocês queiram. Ele lhes mostra seu valor, e logo vocês se encantam com ele, e correm diretamente atrás dele e o obtêm.
Muita gente disse: “não aceitamos nada que tenha que ver com a religião”, mas, no entanto,  foram convertidos. Eu ouvi a história de um homem que uma vez foi a uma capela para escutar os hinos, e tão logo que o ministro começou a pregar, esse tipo tapou os ouvidos com seus dedos, para não escutar a pregação. Porém, logo depois, um pequeno inseto posou em sua face, pelo qual se viu obrigado a tirar o dedo com que tapava o ouvido, para espantar esse bicho. Nesse preciso momento o ministro disse: “O que tem ouvidos para ouvir, ouça.” O homem ouviu, e Deus se encontrou com ele nesse instante para conversão de sua alma. Saiu convertido em um novo homem, com um caráter transformado. Ele, que tinha vindo para se divertir, se retirou para orar; quem veio para passar uma hora no ócio, regressou para casa para passar uma hora em devoção com seu Deus. O pecador se converteu num santo; o libertino se converteu em um penitente. Quem sabe se não haverá alguém assim aqui, essa noite. O Evangelho não precisa de seu consentimento, ele o obtêm. Tira a inimizade de seu coração. Vocês dizem: “não quero ser salvo”; Cristo diz que serão salvos. Ele faz que sua vontade dê um giro total, e em consequência você clama: “Senhor, salva-me, senão eu pereço!” Ah, então o céu exclama: “Eu sabia que faria e que diria isso”; e então, Ele se regozija por sua causa, porque mudou sua vontade e o conduziu a querer no dia do Seu poder.
Se Jesus Cristo subisse a essa plataforma essa tarde, o que muita gente faria com ele? “Oh”, alguém dirá, “o faríamos Rei.” Não creio nisso. O crucificariam de novo se tivessem a oportunidade. Se Ele viesse e dissesse: “aqui estou, e os amo, querem que Eu os salve?”. Nenhum de vocês daria seu consentimento se fossem deixados à sua vontade. Se Ele os olhasse com esses olhos ante cujo poder o leão teria se encolhido; se Ele falasse com essa voz que derramou cataratas de eloquência como um rio de néctar vertido desde os penhascos, nem uma só pessoa viria para ser Seu discípulo; não, o poder do Espírito para fazer com que os homens venham a Cristo é necessário. Ele mesmo disse: “Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou não o trouxer”. Ah! Precisamos disso; e aqui o temos.
Eles virão! Eles virão! Vocês poderiam rir disso, poderão desprezar-nos; mas Jesus Cristo não morreu em vão. Se alguns de vocês o rejeitam, haverá outros que não o rejeitarão. Se existem alguns que não são salvos, outros o serão. Cristo verá sua linhagem, viverá por largos dias, e a vontade do SENHOR prosperará em Sua mão. Alguns creem que Cristo morreu, mas que algumas das pessoas pelas quais morreu, se perderão. E jamais poderia entender essa doutrina. Se Jesus, minha garantia, levou minhas dores e carregou com minhas aflições, eu me considero tão seguro como os anjos no céu. Deus não pode pedir o pagamento duas vezes. Se Cristo pagou minha dívida, terei que pagá-la outra vez? Não –
“Livre do pecado eu caminho em liberdade,
O sangue do Salvador é minha completa absolvição;
Estou contente em Seus amados pés,
Sou um pecador salvo, e o louvo rindo.”
 
Virão! Virão! E nada no céu, nem na terra, nem no inferno, pode impedir que venham.
E agora, você que é o primeiro dos pecadores, escute por um instante enquanto lhe chamo para que venha a Jesus. Existe uma pessoa aqui essa noite, que se considera a pior alma que jamais tenha vivido. Existe alguém que se diz a si mesmo, “eu estou certo que não mereço ser chamado para vir a Cristo!” Alma, eu a chamo! Você que é o mais miserável perdido, essa noite, pela autoridade que Deus me deu, lhe exorto que venhas a meu Salvador.
Faz algum tempo, quando fui à corte de um condado, para ver o que faziam, ouvi que chamavam alguém por seu nome, e imediatamente o homem respondeu “abram espaço, abram espaço, estão me chamando”, e se aproximou com prontidão. Agora, essa tarde, eu chamo ao principal dos pecadores, e lhe peço que diga: “me deem licença, apartem-se dúvidas! Saiam temores! Fora, pecados! Cristo me chama! E se Cristo me chama, isso é o suficiente!” –
“Eu me aproximo a Seus pés cheios de graça,
Cujo cetro oferece misericórdia;
Talvez Ele me ordenasse que O toque!
E então o suplicante viverá
 
Eu poderia perecer se vou;
Mas estou resolvido a tentar;
Pois se fico longe, eu sei
Que devo morrer para sempre.
 
Porém, se morro com a misericórdia buscada,
Tendo provado ao Rei
Isso seria morrer (deleitável pensamento!)
Como um pecador jamais morreu!”
 
Venha e prove a meu Salvador! Vem e prova meu Salvador! Se te deixar fora depois que O tiver buscado, divulgue no Abismo que Cristo não quis lhe escutar! Porém, a você jamais será permitido fazer isso. Seria uma desonra para a misericórdia do pacto, que Deus deixe fora a um pecador penitente; e nunca ocorrerá isso enquanto esteja escrito:“e lhes digo que muitos virão do oriente e do ocidente, e se sentarão com Abraão, Isaque e Jacó no reino dos céus.
Charles Haddon Spurgeon
Enviado por Silvio Dutra Alves em 24/08/2013
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