Verdadeiramente Comendo a Carne de Jesus – Parte 3
Por Charles Haddon Spurgeon
II Agora vamos considerar brevemente QUAIS SÃO AS VIRTUDES DE COMER E BEBER DE CRISTO. Olhem para as suas Bíblias, e no quinquagésimo terceiro verso vocês descobrem que esse ato é essencial. “Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tendes vida em vós mesmos”. É essencial, pois se você não possui vida em si mesmo, você não tem nada que seja bom. “Não tendes vida e vós mesmos”.
Vocês conhecem a moderna teoria de que há germes de vida em todo homem que apenas precisam de se desenvolver. A Paternidade Universal coloca algum bem em todos nós e o que Ele precisa fazer é educar-nos e trazer isso à tona. Essa é a noção filosófica, ma não é como Cristo nos apresenta! Ele diz, “se não comerdes a carne do Filho do homem e não beberdes o seu sangue, não tendes vida em vós mesmos.” Não, nenhum átomo de vida de verdade! Não há vida para ser educada. O pecador está morto (Ef 2:1) e nele não há nada bom. Se for para ele ter algo bom terá de entrar dentro dele – deve ser uma importação – e não poderá nunca vir até ele exceto em conexão com o comer a carne e beber o sangue de Cristo!
Mas suponha que um homem tenha muita convicção de pecado? Ele começa a ver o mal do pecado e se apavora com a ira vindoura. Isso é esperançoso, mas eu relembro solenemente todos os que estão neste estado, que se não comerdes a carne do Filho do Homem vocês não têm vida. Enquanto não crerem em Cristo, vocês não têm vida. Enquanto não tiverem se lavado no Seu precioso sangue, vocês continuam mortos em delitos e pecados. Oh, não se sintam satisfeitos porque sentem algumas convicções legais! Não sentem em gratidão porque vocês estão de alguma forma incomodados na mente! Você não se pode ter por satisfeito enquanto não receber a Cristo! Você NÃO TEM VIDA em si mesmo até ter recebido Cristo!
Mas talvez você tenha participado de cerimônias. Você se batizou e tomou os sacramentos. Sim, mas se você nunca comeu Cristo, O tomou dentro de si, você não tem vida em si mesmo! Você está morto enquanto vive! Agora, aqui há prova em nosso texto de que vida não quer dizer existência, como as pessoas hoje dizem, que, quando lêem, “o pecador morre”, dizem que ele deixa de existir. Homens ímpios têm existência em si, mas é algo totalmente diferente da vida eterna – e você nunca deve confundir existência com vida ou morte, com não-existência – Elas são coisas bem diferentes!
O homem não convertido, sem Cristo, não tem de fato vida em si mesmo. Vocês membros da Igreja, têm vida em vós mesmos – verdadeira vida? Vocês não têm se não comeram da carne de Cristo! Vocês podem ter sido por muitos anos professos, mas já alguma vez comeram Cristo e beberam Cristo? Se não, vocês NÃO têm vida em vós mesmos! Vocês podem ser excelentes pessoas morais. Seu caráter pode ser um padrão para os outros. Talvez tudo que haja em você seja lindo. Mas se Cristo não está no seu coração, você é o filho da natureza, vestido elegantemente, mas morto. Você não é o filho vivo da Graça – você é a estátua lindamente polida, mas, como no mármore frio, não há vida em você! Nada além de Cristo pode ser vida para a alma e as maiores excelências que a natureza humana pode alcançar sem Ele passam longe da salvação. Você PRECISA ter Jesus, ou a morte existe em você e você existe na morte!
Essa é a primeira virtude de se alimentar de Cristo, é absolutamente essencial. Agora, em segundo lugar, é vital. Leia o verso seguinte – “Quem comer a minha carne e beber o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia.” Isso equivale a dizer que ele foi vivificado por receber dentro de si um Cristo inteiro – ele está, portanto, vivo! Por mais que ele seja levado, vez ou outra, a duvidar disso pelo estado do seu coração, se ele realmente recebeu a Cristo, ele foi ressuscitado de entre os mortos e está vivo! E ainda, ele sempre estará vivo, pois “tem a vida eterna.” Agora, uma vida que pode morrer evidentemente não é vida eterna e a vida que o arminiano obtém como resultado da fé, de acordo com seu próprio testemunho, não é vida eterna pois pode chegar a um fim.
Boa alma, eu sei que se ele realmente creu em Jesus, ele docemente irá descobrir o seu erro e sua alma vai seguir em tentação e tentativa, pois será nele, “uma fonte a jorrar para a vida eterna” (Jo 4:14). Será nele uma semente “incorruptível, mediante a palavra de Deus, a qual vive e é permanente.” (I Pe 1:23). Oh, que creiamos na preciosa doutrina da Preservação Final dos Santos! “Quem comer a minha carne e beber o meu sangue TEM a vida eterna.” Ele a tem agora! É uma vida que durará tanto quanto Deus, Ele mesmo – eterna como o Trono de Javé!
E então, sobre o corpo, irá morrer, não? Sim, mas tal é o poder da vida que Cristo coloca em nós, que o corpo, ele mesmo, há de ressurgir! Temos a palavra de nosso Senhor empenhada nisso – “E eu o ressuscitarei no último dia.” Ainda que o corpo esteja morto por causa do pecado, pelo espírito vive para a justiça – mas há uma redenção vindo para esta pobre natureza – e para este mundo material em que vivemos. Quando Cristo vier, então a criação será liberta da condição em que foi presa e nossos corpos materiais, com o resto da criação, serão emancipados! Os corpos dos santos serão livres de toda imperfeição, corrupção e desvio! Viveremos, então, na imagem gloriosa de Cristo e o Senhor cumprirá Sua palavra graciosa, “eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá.” (Jo 11:25). Esse comer e beber de Cristo, então, é vital.
Em terceiro lugar é substancial, “Pois a minha carne é verdadeira comida, e o meu sangue é verdadeira bebida.” Isso entra em contraste com o caráter não substancial dos símbolos. Os judeus comendo dos sacrifícios eram uma mera sombra, “mas”, diz Jesus, “minha carne é verdadeira comida.” Isso também é dito em oposição à comida carnal. Comida carnal, sendo comida, apenas constitui o corpo e então desaparece, mas não toca a alma. Mas se alimentando de Cristo, a alma é alimentada e alimentada com vida eterna, de tal forma que Jesus afirma ser “verdadeira comida”.
Vocês já foram a uma ministração em que o pregador prega sobre tudo e qualquer coisa que não Cristo? Vocês ficaram alimentados? Bem, se vocês são avoados, talvez se emocionem com qualquer coisa que seja dita. Mas eu sei, se vocês são filhos de Deus, não importa quem pregue, ou quão pobre seja sua linguagem – se ele prega Cristo vocês sempre sentem como tendo sido alimentados – sua alma é satisfeita com as gorduras quando Cristo é o assunto! Não há comida para a alma que se compare a Cristo – e o frescor mais doce vem das partes mais fracas de Cristo – visto que a força de Deus é perfeita em Sua fraqueza!
Você me diz “o que você quer dizer?”. Bem, nosso Senhor, no texto, diz, “minha carne é verdadeira comida,” e não, “minha Divina cabeça.” “Meu sangue é verdadeira bebida”, não minha Ressurreição e Ascensão. Não “meu segundo advento”, mas minha fraqueza como homem, minha morte como homem, meus sofrimentos, meus lamentos, meus gemidos – essas são as melhores comidas para os crentes. Vocês não acham isso também? Oh, eu me regozijo com a segunda vinda de Cristo, mas há momentos em que essa doutrina não me dá um átomo de conforto! As estrelas mais brilhantes que servem de luz do dia para o peregrino ignorante são aquelas que queimam em volta da Cruz! Estranho é que nos voltemos àquele ponto aonde o sofrimento culmina para achar nosso mais puro conforto, mas assim é – “Minha carne é verdadeira comida” – Cristo em Sua fraqueza! “Meu sangue é verdadeira bebida” – Cristo derramando sua alma na morte (Is 53:12)! Essa é a mais verdadeira e a melhor comida para o coração!
Agora, irmãos, se vocês querem crescer na Graça, se alimentem de Cristo! Se vocês desejam se tornar fortes no Senhor, se alimentem de Cristo! Se você deseja aquele algo que lhe constituirá por inteiro, permanentemente e bem, se alimente de Cristo, pois outras coisas há que são comida e bebida, mas Sua carne é verdadeira comida, e Seu sangue é verdadeira bebida! É um prato substancial! E, por último, outra virtude dessa dieta é que produz união. Note no verso seguinte – “Quem comer a minha carne e beber o meu sangue permanece em mim, e eu, nele.” Que palavras maravilhosas – “permanece em mim.” Você obtém, ao ter Cristo em você como um Cristo inteiro, o viver em Cristo e Cristo em você!
Há essa diferença entre esses dois privilégios – viver em Cristo é a paz da Justificação. Você crê nEle, confia a si mesmo a Ele, você sente que morreu com Ele e ressuscitou com Ele (Rm 6:4) – que você subiu aos céus com Ele – e, assim, você é aceito nele e assim vive nEle! O Ele viver em você é outra coisa, a saber, a paz da Santificação, pois quando você se alimentou de Cristo, ele entrou em você e permanece em você, vivendo, de novo, em você. Ele fala pelos seus lábios, ama com seu coração, olha pelos seus olhos, trabalha com suas mãos e testemunha entre os filhos dos homens pela sua língua – Ele vive em você! Oh, estrondosa união! Bendita união!
O verso seguinte faz tudo ficar mais maravilhoso, ainda, pois diz “Assim como o Pai, que vive, me enviou, e igualmente eu vivo pelo Pai, também quem de mim se alimenta por mim viverá.” Três coisas vivas – o Pai que vive, o Filho que vive, e então o crente que vive. Há o Pai que tem vida em Si mesmo como Deus. E há o filho como mediador, Deus-Homem, que deriva sua vida do Pai. E então o crente, vivendo da vida que vem de Deus através de Jesus Cristo. Ó abençoada união é essa, não somente com Jesus, mas através de Jesus com o Pai! Assim Cristo diz, “porque eu vivo, vós também vivereis.” (Jo 14:19). Ele vive pelo Pai e nós vivemos por Ele – e tudo isso porque nós o recebemos e nos alimentamos dEle!
Oh, meus irmãos e irmãs, eu lhes desafio, abram suas bocas amplamente para Cristo e O comam para si mesmos! Dêem a Ele um lote em vossos corações, sim, deixem Ele viver para sempre no melhor espaço da sua natureza, no lugar mais escondido da alma! Tenham fome dele! Se alimentem dEle todos os dias e quando o fizerem, e ele habitar em vocês a vocês nEle, então conte aos outros sobre Ele e espalhem Seu nome querido em todo lugar, para que pecadores famintos e perecendo saibam que há milho no Egito e pão para se receber em Cristo! E que muitos venham e comam e bebam dEle como vocês. Eu lhes constranjo, irmãos e irmãs, lembrem-se disso, e que o Senhor abençoe vocês, por amor do Seu nome. Amém.
PORÇÃO DAS ESCRITURAS LIDA ANTES DO SERMÃO – João 6:26-65
Charles Haddon Spurgeon
Enviado por Silvio Dutra Alves em 28/08/2013