As Alegorias de Sara e Agar – Parte 1
Por Charles Haddon Spurgeon
“porque estas mulheres são duas alianças” (Gálatas 4:24)
Não pode haver maior diferença no mundo do que há entre lei e graça. E ainda assim, por mais estranho que pareça, embora sejam diametralmente opostas e essencialmente diferentes entre si, a mente humana está tão corrompida, e o intelecto, mesmo quando abençoado pelo Espírito, tão longe do julgamento correto, que uma das coisas mais difíceis é distinguir corretamente entre lei e graça. Quem conhece a diferença, e sempre a tem em mente — a diferença fundamental entre lei e graça — compreende a essência da teologia. Quem pode dizer exatamente a diferença entre lei e graça não está longe de entender o evangelho em toda sua extensão, seu alcance e suas nuances. Em toda ciência há sempre uma parte que se torna muito simples e fácil depois que a aprendemos, mas que, no início era como uma grande soleira antes da porta. Então, essa é a primeira dificuldade na luta para aprender o evangelho. Entre lei e graça existe uma diferença suficientemente clara para todo cristão, especialmente para quem é mais esclarecido e instruído; mas até para estes, mais esclarecidos e instruídos, há sempre uma tendência de confundir as duas coisas. Eles são tão opostas entre si quanto luz e trevas, e não concordam mais que fogo e água, mas, mesmo assim, o homem sempre tentará combiná-las — frequentemente sem conhecimento, e às vezes intencionalmente. Procuram unir as duas coisas, quando Deus positivamente as separou.
Nesta manhã, tentaremos ensinar algo sobre as alegorias de Sara e Agar, para que possam compreender melhor a diferença essencial entre as alianças da lei e da graça. Não iremos muito a fundo, mas daremos algumas ilustrações fornecidas pelo próprio texto. Primeiro, gostaria que observassem as duas mulheres, as quais Paulo usa como tipos — Sara e Agar; depois falaremos dos dois filhos — Ismael e Isaque; em terceiro lugar, do comportamento de Ismael com relação a Isaque; e então concluirei chamando sua atenção para os diferentes destinos dos dois.
1. Primeiro, convido-os a observar AS DUAS MULHERES — Agar e Sara. Está escrito que elas são tipo de duas alianças; e, antes de começar, não podemos deixar de dizer quais são essas alianças. A primeira, referente a Agar, é a aliança das obras, que diz: “Eis a minha lei, ó homem; se da tua parte, te comprometeres a guardá-la, Eu, de minha parte, Me comprometo a manter-te com vida. Se prometeres obedecer aos mandamentos plena, integral e perfeitamente, sem única falha, Eu te conduzirei ao céu. Mas vê bem, se violares uma única regra, se te rebelares contra uma única ordenança, Eu te destruirei para sempre.” Esta é aliança de Agar — a aliança proposta no Sinai, em meio a tempestades, fogo e fumaça — ou melhor, proposta, antes de tudo, no jardim do Éden, onde Deus disse a Adão: “no dia em que dela comeres, certamente morrerás”. Enquanto não comesse da árvore, e permanecesse puro e imaculado, Adão certamente viveria. Esta é aliança da lei, a aliança de Agar. A aliança de Sara é a aliança da graça, não feita por Deus com o homem, mas feita por Deus com Jesus Cristo, a qual diz: “Jesus Cristo, de Sua parte, Se compromete a suportar a pena pelo pecado do Seu povo, a morrer, para pagar suas dívidas, e a carregar suas iniquidades sobre Seus ombros; e o Pai, de Sua parte, promete que todos por quem o Filho morreu certamente serão salvos; e, por causa de seus vis corações, Ele colocará neles a Sua lei, da qual não se apartarão; e, vendo seus pecados, Ele passará por eles e deles jamais Se lembrará.” A aliança das obras era “faze isto e viverás”, mas a aliança da graça é “faze isto, ó Cristo, e tu, homem, viverás”. Nisto repousa a diferença entre as duas alianças. Uma foi feita com o homem, a outra com Cristo; uma era condicional, condicionada à obediência de Adão, a outra era condicional para Cristo, mas perfeitamente incondicional para nós. Na aliança da graça não há qualquer tipo de condição; e, se houver, a própria aliança a proverá. A aliança provê a fé, o arrependimento, as boas obras e a salvação, como um ato puramente gratuito e incondicional; nem a nossa permanência nela depende, em qualquer medida, de nós mesmos. A aliança foi feita por Deus com Cristo, assinada, selada e ratificada, em todas as coisas bem ordenada.
Agora, vejamos a alegoria. Primeiro, gostaria que notassem que é Sara o tipo da nova aliança da graça, pois foi ela a esposa original de Abraão. Antes de ele saber qualquer coisa sobre Agar, Sara já era sua esposa. A aliança da graça, afinal, é a aliança original. Há alguns teólogos ineptos que ensinam que Deus criou o homem justo, e fez uma aliança com ele; então o homem pecou, e Deus, como numa espécie de reconsideração, fez uma nova aliança com Cristo para salvar Seu povo. Ora, isso é um completo engano. A aliança da graça foi feita muito antes da aliança das obras, pois Jesus Cristo, antes da fundação do mundo, tornou-se seu guia e representante; e de nós está escrito que fomos eleitos pela presciência de Deus Pai, por meio da obediência e aspersão do sangue de Jesus. Nós, muito antes da queda, fomos amados por Deus; Ele não nos amou por sentir pena de nós; mas Ele amou Seu povo como simples criaturas. Ele amou Seu povo quando se tornaram pecadores; mas no começo, Ele os considerou como criaturas. Ele permitiu ao homem cair em pecado para mostrar a riqueza da Sua graça, a qual já existia antes do pecado. Ele não nos amou e nos escolheu dentre os demais, depois da queda, mas nos amou muito além do pecado, e antes dele. Ele fez a aliança da graça antes de cairmos pela aliança das obras. Se pudéssemos voltar na eternidade e perguntar qual era o filho mais velho, ouviríamos que a graça nasceu antes da lei — que veio ao mundo muito antes da lei ser promulgada. Mais antiga que os princípios fundamentais que regem a nossa moral está a grande pedra fundamental da graça, na aliança feita na antiguidade, muito antes dos videntes promulgarem a lei, muito antes do Sinai fumegar. Antes mesmo de Adão ser colocado no jardim, Deus já havia decretado a vida eterna ao Seu povo, para que fossem salvos por meio de Jesus.
A seguir, observem: embora Sara fosse a esposa mais velha, foi Agar quem teve o primeiro filho. Assim, Adão, o primeiro homem, era filho de Agar. Embora tenha nascido perfeito e sem pecado, quando estava no jardim ele não era filho de Sara. Agar teve o primeiro filho. Ela deu à luz a Adão, o qual viveu durante algum tempo sob a aliança das obras. Adão viveu no jardim com base nesse princípio. O pecado causou sua queda; se não tivesse pecado, ele teria ficado lá para sempre. Adão tinha o poder de decidir se iria ou não obedecer a Deus: sua salvação, então, dependia simplesmente disto: “Se tocares nesse fruto, morrerás; se obedeceres ao meu mandamento, e não tocares no fruto, viverás.” E Adão, perfeito como era, foi só um Ismael, não um Isaque, até depois da queda. De qualquer forma, aparentemente, ele foi descendente de Agar, embora ocultamente, na aliança da graça, talvez tenha sido um filho da promessa. Bendito seja Deus, pois agora não estamos sob Agar; não estamos debaixo da lei desde a queda de Adão. Sara já deu à luz. A nova aliança é “a mãe de todos nós”.
Mas observe mais uma vez, a finalidade de Agar não era ser esposa; ela nunca foi outra coisa senão serva de Sara. O propósito da lei nunca foi salvar os homens; ela foi designada apenas para ser um aio para a aliança da graça. Quando Deus promulgou a lei no monte Sinai, não foi com o propósito do homem poder ser salvo por ela; Ele nunca planejou que o homem alcançasse a perfeição por meio dela. No entanto, sabemos que a lei é uma serva magnífica para a graça. Quem nos levou ao Salvador? Não foi a lei trovejando em nossos ouvidos? Nunca teríamos aceitado a Cristo se a lei não nos tivesse conduzido a Ele; nunca teríamos conhecido o pecado se a lei não o tivesse revelado. A lei é a serva de Sara para varrer o nosso coração e levantar a poeira, a fim de nos fazer clamar para o sangue ser aspergido e poder assentá-la. A lei, por assim dizer, é o cão pastor de Jesus Cristo, que vai atrás da ovelha e a conduz ao pastor; a lei é o raio estrondoso que aterroriza os ímpios, e os faz deixar os seus maus caminhos e buscar a Deus. Ah, se soubéssemos como usar a lei corretamente, se compreendêssemos como colocá-la em seu lugar, tornando-a obediente a sua senhora, então tudo ficaria muito bem. Esta Agar, no entanto, está sempre desejando ser senhora, tal como Sara; mas Sara jamais permitirá isso, e terá razão em tratá-la mal e mandá-la embora. Devemos fazer o mesmo, e não permitir que ninguém murmure contra nós, se tratarmos com severidade os filhos de Agar em nossos dias — se às vezes dissermos coisas duras para quem confia nas obras da lei. Citaremos Sara como exemplo. Ela tratou Agar com severidade; e nós faremos o mesmo. Isso significa fazer Agar fugir para o deserto: não queremos ter nada com ela. Contudo, é incrível que, mesmo feia e inferior, Agar seja mais amada pelos homens do que Sara, e eles estejam sempre propensos a dizer “Agar, seja minha senhora” em vez de “Não! Sara, eu serei teu filho, e Agar será a escrava.” Onde está a lei de Deus agora? Ela não está acima do cristão — está abaixo dele. Alguns usam a lei de Deus como fosse uma vara, de terror, sobre os cristãos, dizendo “se pecar, você será punido com ela”. Mas não é assim. A lei está sob o cristão; é para ele andar nela; ela deve ser seu guia, sua regra, seu padrão. “Não estamos debaixo da lei, e sim da graça.” A lei é a estrada que nos guia, não a vara que nos controla, nem o espírito que nos move. A lei é boa e excelente, se ficar em seu lugar. Ninguém critica a serva porque ela não é a esposa; e ninguém deve desprezar Agar porque ela não é Sara. Se ela pelo menos tivesse se recordado das suas funções, não haveria problema algum, sua senhora nunca a teria mandado embora. Não queremos tirar a lei das nossas igrejas, desde que ela continue no lugar certo; mas quando ela quer ser senhora, fora com ela; não queremos o legalismo.
Novamente, Agar nunca foi livre, e Sara nunca foi escrava. Portanto, amados, a aliança das obras nunca foi livre, nem nenhum de seus filhos. Quem confia nas obras jamais será livre, nem poderá ser, até sendo perfeito em boas obras. Mesmo não tendo pecado, ainda são escravos, pois quando tivermos feito tudo o que deveríamos, Deus não será nosso devedor, pois ainda estaremos em débito com Ele, ainda seremos como escravos. Se cumpro toda a lei de Deus, não tenho direito a favor algum, pois nada mais fiz que a minha obrigação, e ainda serei escravo. A lei é o patrão mais rigoroso do mundo; nenhum homem sensato gostaria de estar a seu serviço, pois depois de ter feito tudo, não se recebe nem um “obrigado” por isso, só um “vá em frente, continue”. O pobre pecador tentando ser salvo pela lei é como um cavalo cego dando voltas e mais voltas em torno de um moinho, não dando um único passo além, mas sempre recebendo açoites; sim, quanto mais rápido for, quanto mais trabalhar, quanto mais cansado ficar, tanto pior para ele. Quanto mais legalista alguém for, mais certeza terá da condenação; quanto mais santo alguém for, se confiar em suas obras, mais certeza terá da sua própria rejeição final e da porção eterna com os fariseus. Agar era escrava; Ismael, embora bom e digno, nada mais era que um escravo, e nunca poderia ser outra coisa. Nem todas as obras que alguma vez ele fez a seu pai poderiam torná-lo um filho nascido em liberdade. Sara nunca foi escrava. Ela pode ter sido feita prisioneira de faraó algumas vezes, mas não foi sua escrava; seu marido pode tê-la negado, mas ela ainda era sua esposa; tão logo foi reconhecida por seu marido, faraó teve de devolvê-la. Por isso, a aliança da graça podia parecer em perigo, e seu representante clamar “Meu Pai, se possível, passe de mim este cálice!”, mas esse nunca foi um risco real. Por vezes, as pessoas sob a aliança da graça parecem cativas e escravas, mas ainda são livres. Oh, se soubéssemos como ficar “firmes na liberdade com que Cristo nos libertou!”
Só mais um pensamento. Agar foi expulsa, assim como seu filho, mas Sara, não. Por isso, a aliança das obras não tem mais validade como aliança. Naufraga quem nela confia, pois não só Ismael foi lançado fora, como também sua mãe. PORTANTO, o legalista não só sabe que ele mesmo está condenado, como também que a lei como aliança cessou, pois mãe e filho foram expulsos pelo evangelho, e quem confia na lei é mandado embora por Deus. Perguntem-me quem é a esposa de Abraão hoje. Não é Sara? Não é ela quem repousa ao lado do marido na caverna de Macpela neste instante? Ela está lá, e se estiver nos milhares de anos por vir, ainda será a esposa de Abraão, enquanto Agar jamais poderá ser. Oh, como é doce pensar que a aliança celebrada nos tempos antigos em todas as coisas foi bem ordenada, e jamais, jamais será removida. “Pois estabeleceu comigo uma aliança eterna, em tudo bem definida e segura.” Ah, legalistas, não me admira que vocês ensinem a doutrina da perda da salvação, pois ela é totalmente coerente com sua teologia. Agar, é claro, tem de ser expulsa, e seu filho Ismael também. Mas nós, os que pregamos a aliança da salvação plena e gratuita, sabemos que Isaque nunca será expulso, e Sara nunca deixará de ser amiga e esposa de Abraão. Ó filhos de Agar! Ó ritualistas! Ó hipócritas! Ó formalistas! De que adiantará, quando enfim disserem “Onde está minha mãe? Onde está minha mãe, a lei?” Ah, ela foi expulsa, e tu podes acompanhá-la no esquecimento eterno. “Mas onde está minha mãe?” pode, enfim, dizer o cristão; e ele ouvirá “Eis a mãe dos fiéis, a Jerusalém do alto, a mãe de todos nós; e ali entraremos e habitaremos com nosso Deus e Pai.”
2. Agora vamos analisar os DOIS FILHOS. Enquanto as duas mulheres são tipo de duas alianças, os filhos são tipo de quem vive debaixo de cada aliança. Isaque é tipo do homem que anda pela fé, não pelo que vê, e espera ser salvo pela graça; Ismael, do homem que vive pelas obras, e espera ser salvo por suas boas ações. Vamos examinar os dois.
Em primeiro lugar, Ismael é o mais velho. Por isso, amados, o legalista é muito mais velho que o cristão. Se eu fosse um legalista hoje, teria uns quinze ou dezesseis a mais do que tenho como cristão, pois todos nós nascemos legalistas. Falando sobre os arminianos, Whitfield disse: “Todos nós nascemos arminianos.” É a graça que nos torna calvinistas, a graça nos torna cristãos, a graça nos liberta e nos faz conhecer a nossa posição em Cristo. Deve-se esperar, então, que o legalista tenha mais poder de argumentação do que Isaque; e quando os dois garotos estão brigando, é claro que Isaque geralmente vai ao chão, pois Ismael é muito maior. Deve-se esperar também ouvir Ismael fazendo o maior barulho, pois ele vai se tornar um homem selvagem, “a sua mão será contra todos, e a mão de todos, contra ele”, ao passo que Isaque é um rapaz pacífico. Ele está sempre ao lado da mãe, e quando é alvo de zombaria, pode ir até ela e contar-lhe o que Ismael fez com ele; mas isso é tudo o que pode fazer, pois ele não tem muita força. Por isso, observe os nossos dias. Os ismaelitas geralmente são mais fortes, e podem nos derrubar violentamente quando discutimos com eles. Na verdade, eles se gabam e se vangloriam porque os Isaques não têm muito poder de raciocínio — não têm muita lógica. Não, Isaque não quer discutir, pois é herdeiro segundo a promessa, e promessa e lógica não combinam muito bem. Sua lógica é sua fé, sua retórica é sua sinceridade. Não espere que o evangelho seja vitorioso quando se disputa segundo a maneira dos homens; é mais comum vê-lo vencido. Se você estiver discutindo com um legalista, e ele vencer a questão, diga: “Eu já esperava por isso; isso mostra que sou um Isaque, pois Ismael com certeza dá uma coça em Isaque, mas isso de forma alguma me abate. O pai e a mãe dele estão no vigor da vida, e são fortes. É natural que eu seja superado, pois meu pai e minha mãe estão muito velhos.”
Mas, na aparência exterior, onde está a diferença entre os dois rapazes? Não há diferença entre eles quanto às ordenanças, pois ambos são circuncidados. Não há nenhuma distinção quanto aos sinais externos e visíveis. Portanto, amados, muitas vezes não há diferença entre Ismael e Isaque, entre o legalista e o cristão, no que se refere aos rituais externos. O legalista toma a Santa Ceia e é batizado; ele ficaria muito temeroso se não o fizesse. E não creio que haja muita diferença quanto ao caráter. Ismael, como homem, foi quase tão bom e honrado quanto Isaque; não há nada contra ele nas Escrituras; na verdade, sou levado a crer que ele era um rapaz especial, pelo que Deus disse quando proferiu a bênção: “Com Isaque estará minha bênção.” Abraão, respondeu: “Tomara que viva Ismael diante de ti.” Abraão clamou a Deus por Ismael porque, sem dúvida, amava o rapaz por seu caráter. Deus disse: sim, darei a ele tais e tais bênçãos; ele será pai de príncipes e terá bênçãos temporais. No entanto, Deus não mudaria, nem mesmo pela oração de Abraão. E está escrito que, quando Sara ficou furiosa, como no dia em que expulsou Agar de casa, “Abraão ficou pesaroso por causa do seu filho”. Não creio que o sentimento dele fosse uma tolice. Há um traço no caráter de Ismael que todos irão gostar. Quando Abraão morreu, ele não deixou sequer um pedaço de pau ou de pedra para Ismael, pois Abraão já tinha lhe dado sua parte quando o despachou; no entanto, o rapaz foi ao funeral do pai, pois está escrito que ambos, Ismael e Isaque, sepultaram Abraão em Macpela. Por isso, parece haver bem pouca diferença no caráter dos dois. Portanto, amados, há pouquíssimas diferenças entre o legalista e o cristão quanto ao aspecto externo. Ambos são filhos de Abraão. Não há distinção na vida, pois Deus permitiu a Ismael ser tão bom quanto Isaque, para mostrar que não é a bondade de um homem que faz diferença, mas que Ele “tem misericórdia de quem quer e também endurece a quem lhe apraz”.
Então, qual é a distinção? Paulo nos diz que o primeiro nasceu segundo a carne, e o outro segundo o Espírito. O primeiro era filho natural, o segundo, espiritual. Pergunte ao legalista: “Você faz boas obras, se arrepende, e diz: quando se cumpre a lei não é preciso arrependimento. De onde vem a sua força?” Talvez ele responda: “da graça”; mas se você lhe perguntar o que isso significa, ele dirá que usou a graça; ele a tinha, mas usou-a. Então, a diferença é, você usa a graça, os outros não. Sim. Bem, então, é devido às suas ações. Você pode chamar de graça, ou de mostarda; enfim, não é graça, pois foi o uso, você diz, que fez a diferença. Contudo, pergunte ao pobre Isaque como ele observa a lei. O que ele diz? Não faço nada direito! Isaque, você é pecador? “Oh, sim, um grande pecador; vezes sem conta tenho me rebelado contra meu pai; estou sempre me desviando de seus caminhos.” Então você não se acha tão bom quanto Ismael, não é? “Não”. Ah! Então existe uma diferença entre vocês afinal! O que faz a diferença? “A graça me faz ser diferente.” Por que Ismael não é um Isaque? Ele poderia ter sido um Isaque? “Não”, diz Isaque, “foi Deus quem me tornou diferente, do princípio ao fim; Ele me fez filho da promessa antes de eu nascer, e vai me manter assim.”
A graça toda obra coroará
Por todos os dias da eternidade
Ela firma nos céus a pedra suprema
E bem merece todo o nosso louvor
Na realidade, Isaque tem mais boas obras; ele não fica atrás de Ismael. Quando é convertido, ele trabalha e, se possível, serve ao pai muito melhor que um legalista a seu senhor. Entretanto, se fôssemos ouvir a história de ambos, sem dúvida, veríamos que Isaque se considera um pobre pecador miserável, enquanto Ismael se mostra como um honrado cavalheiro farisaico. A diferença, contudo, não está nas obras, mas nos motivos; não na vida, mas nos meios de sustentá-la — não no que fazem, mas muito mais em como fazem. Eis, portanto, a diferença entre eles. Não que os legalistas sejam piores que os cristãos; com frequência podem ter uma vida melhor; mas mesmo assim podem estar perdidos. Eles se queixam das injustiças? Nem um pouco. Deus diz que os homens devem ser salvos pela fé, mas eles dizem: “Não, seremos salvos pelas obras.” Eles podem tentar, mas estarão perdidos para sempre. É como se alguém tivesse um servo e lhe dissesse: “João, faça isso, isso e isso no estábulo”, mas o servo se retira e faz o contrário, e depois diz: “Senhor, fiz tudo certinho.” “Sim”, diz ele, “mas não foi o que eu pedi.” Da mesma forma, Deus não lhe pediu para desenvolver sua salvação por meio de obras, mas para “desenvolver a vossa salvação com temor e tremor; porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade.” De forma que, quando você se apresentar diante dEle com suas obras, Ele dirá: “Não lhe pedi para fazer isso. Eu disse que quem crer e for batizado será salvo.” “Ah”, diz você, “achei que o outro jeito fosse melhor.” Amigo, o que você acha o levará à perdição. “Que diremos, pois? Que os gentios, que não buscavam a justificação, vieram a alcançá-la”, quando Israel, que a buscava, não a alcançou? É por isso, “Porque não decorreu da fé, e sim como que das obras.”
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Veja tudo sobre as Escrituras do Velho Testamento no seguinte link:
http://livrosbiblia.blogspot.com.br/
Veja tudo sobre as Escrituras do Novo Testamento no seguinte link:
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A Igreja tem testemunhado a redenção de Cristo juntamente com o Espírito Santo nestes 2.000 anos de Cristianismo.
Veja várias mensagens sobre este testemunho nos seguintes links:
http://retornoevangelho.blogspot.com.br/
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A Bíblia também revela as condições do tempo do fim quando Cristo inaugurará o Seu reino eterno de justiça ao retornar à Terra. Com isto se dará cumprimento ao propósito final relativo à nossa redenção.
Veja a apresentação destas condições no seguinte link:
http://aguardandovj.blogspot.com.br/
Charles Haddon Spurgeon
Enviado por Silvio Dutra Alves em 28/08/2013
Alterado em 10/07/2014