Legado Puritano
Quando a Piedade Tinha o Poder
Textos
Orai, orai sempre – Parte 2
Pregado por Charles Haddon Spurgeon

II – E agora, em segundo lugar, temos A POSIÇÃO PRIVILEGIADA DO CRENTE com referência à oração.
Os crentes devem ser abundantes em oração porque, em primeiro lugar, têm o Espírito Santo para motivá-los. Isto consta no texto? Sim, ou pelo menos está implícito nele, pois Jesus disse: Naquele dia pedireis. Como iria Ele afirmar de maneira tão categórica que deveríamos pedir a não ser que pretendesse que o Seu Espírito nos conduzisse a pedir por esta promessa? Sendo esta em si mesma uma garantia de que Ele providenciará para que seja atendida. Temos assim o Espírito Santo para nos animar a orar, e não apenas para nos animar a orar, mas para nos dizer pelo que deveríamos orar: porque não sabemos o que havemos de pedir como convém – Romanos 8:26, até que Ele nos ensine! Alguém poderá perguntar por que orar se tudo é resolvido pelo decreto divino. É verdade que tudo é solucionado desta maneira, e é exatamente por esta razão que devemos orar! O Espírito de Deus nos leva a desejar exatamente o que Deus decretou, e embora não possamos abrir e ler o livro dos seus decretos, o Espírito Santo pode ler aquele Livro e assim nos guiar de acordo com seus registros secretos e também interceder por nós segundo a vontade de Deus – Romanos 8:27. Pois, qual dos homens entende as coisas do homem, senão o espírito do homem que nele está? assim também as coisas de Deus, ninguém as compreendeu, senão o Espírito de Deus – I Coríntios 2:11. E o que o Espírito de Deus entende ser a mente de Deus, Ele faz com que seja também a nossa mente e em conseqüência nós oramos segundo a vontade de Deus. A oração verdadeira é o eco do propósito eterno. Nossas orações são as sombras das misericórdias de Deus. Quem não oraria quando a oração torna-se para ele um mistério consagrado em que uma Pessoa da Santíssima Trindade opera em seu espírito e revigora os seus desejos? Isto deve nos conduzir a orar com frequência porque nossos pedidos são motivados pelo Espírito Santo.

“Orem, orem sempre,
o Espírito Santo pede dentro de você
todas as suas necessidades a cada dia, a cada hora.”

Devemos orar também porque temos a elevada honra de nos ser permitido usar o nome de Cristo em nossas orações. Naquele dia pedireis em meu nome. Se um Rei nos entregasse o seu selo ou se tal Rei tivesse o poder de criar dinheiro tão rapidamente quanto o desejasse com a sua simples assinatura e nos permitisse usar aquela assinatura, não creio que muitos de nós continuaríamos sendo pobres. Se ele realmente nos desse privilégio certamente iríamos assinar muitas vezes antes de devolver o selo e a assinatura para aquele Rei. Mas o Nosso Senhor Jesus fez coisa semelhante ao tirar do seu dedo o sinete real e dizer aos seus servos: “Peçam em Meu Nome!” TUDO QUANTO PEDIRDESEM MEU NOME, EU O FAREI – João 14:13.  Por isso nós estamos sempre sacando destes fundos da infinidade de Deus. E Ele não estabeleceu limite para estes nossos pedidos, a não ser: tudo o que pedirdes na oração, crendo, recebereis. – Mateus 21:22. Como isto deveria nos encorajar a orar! Será que vamos deixar passar essa oportunidade de ouro sem dela fazer uso? Oh amados, com o Espírito Santo a nos dizer o que pedir e o Senhor Jesus a endossar nosso pedido, por que não orar sem cessar?
Além de tudo isso, existe um grande encorajamento para a constante oração pelo fato de que o Senhor Jesus Cristo está continuamente intercedendo por nós. Nossas pobres orações são obscuras e confusas, e são manchadas de pecado, mas o Nosso Grande Sacerdote as salpica com o seu sangue precioso, e as purifica de maneira completa, e com suas próprias mãos as coloca diante do Trono de Misericórdia, e por amor ao seu nome elas certamente serão aceitas. se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o justo – 1 João 2:1. E Ele está sempre pleiteando a nosso favor. Se temos um Intercessor Divino, dentro do véu, que nunca se esquece de levar nossas orações diante do Trono da Graça do Seu Pai, com que ousadia devemos ir até ao Trono de Misericórdia, e quantas e quantas coisas deveríamos pedir a Deus em nome de Jesus!
Parece-me que o texto sugere que o Senhor Jesus desejava evitar que os seus discípulos errassem ao interpretar Sua intercessão. E por isso disse, nesta ocasião: não vos digo que eu rogarei por vós ao Pai. Não havia razão para que Ele dissesse isso naquele momento, pois já o havia dito e repetido muitas vezes antes. Mas naquela ocasião parece que Ele queria dizer: “Não quero que exagerem minha intercessão às custas do Meu Pai. Vou interceder por vocês, mas vocês não devem pensar que faço isso porque Meu Pai não está disposto a ouvi-los quando vocês forem até Ele em meu nome. Não fiquem imaginando erroneamente que por causa da minha intercessão Eu farei com que o Meu Pai se disponha a abençoar-vos, pois Meu Pai, Ele próprio, ama vocês.” Isso nos leva a um ponto muito precioso que é que devemos ser muito incentivados a orar, não só porque o Espírito nos impele e o Filho intercede por nós, mas porque o próprio Pai nos ama.
Como deveríamos orar agora que temos o ouvido, e mais do que isso, o próprio coração do Rei! Ter como professor o Espírito Santo e como Advogado o Nosso Senhor Jesus Cristo deveria ser encorajamento suficiente para nós; mas termos o coração do próprio Rei é o melhor de tudo: pois o Pai mesmo vos ama. Vocês sabem, queridos irmãos e irmãs, que pensadores supérfluos frequentemente erram concernente ao Pai e ao Filho com relação à expiação. Eles crêem que a expiação de Cristo era necessária para que o Pai amasse o seu povo, enquanto que a verdade é que o Pai, porque Ele amava seu povo, deu seu Filho Unigênito para ser a propiciação deles. Deus sempre foi amor, tão verdadeiro amor como o Filho foi e é, não nos enganemos sobre isso. De modo que, concernente à intercessão de Cristo, existe a tendência de certos pensadores em caírem no erro de supor que o Pai é difícil de agradar, e que Jesus deve pacificá-lo para que Ele possa atender aos nossos pedidos. Não é assim, pois o Pai mesmo vos ama. Creio que quando um não convertido vai a Deus, deveria, primeiramente, fixar seu olhar inteiramente em Jesus o Mediador, mas para nós que acreditamos em Jesus, estamos perdoados, estamos em uma situação inteiramente diferente daquela em que se encontra o descrente. Nós tivemos nossos pecados apagados, e podemos ir diretamente ao Pai – naturalmente, sempre por intermédio do Mediador – e enquanto isso nos regozijando nesta graciosa garantia de que O PAI MESMO VOS AMA.
“Ore, ore, sempre,
apesar de cansado, fraco e solitário,
a oração se aninha no Trono de abrigo do Pai “.

O texto diz que o Pai nos ama porque nós amamos Jesus, e cremos que Ele veio do Pai. Não cometa o erro de imaginar que o amor de Deus por nós é causado por nosso amor para com Cristo. Não! Nós amamos, porque ele nos amou primeiro – 1 João 4:19. O primeiro amor de Deus é um amor de benevolência – um amor de compaixão – um amor para com os indignos e para os sem nenhum mérito. Deus, por amor, nos perdoa e nos salva; mas existe outro amor, além desse, do qual nunca devemos esquecer. Quando Ele nos faz amar o seu Amado Filho, quando Ele nos faz confiar nEle porque cremos que Ele veio do Pai, então o Pai tem um amor de complacência e de regozijo para conosco. É fácil distinguir a diferença entre estes dois tipos de amor, já que ele é frequentemente ilustrado na história humana. Um homem encontra na rua uma pobre criança, e tendo piedade dela, leva-a para casa, a veste e toma conta dela. Este é um tipo de amor – o amor da benevolência. Mas suponha que a criança se desenvolva em um belo rapaz ou numa bela moça que por meio de sua maneira sedutora se insinue ao próprio coração daquele que foi tão bondoso com ela na sua infância, e aí surge um segundo tipo de amor.
O homem diz, “Eu amei aquela criança quando a resgatei, um monte de trapos, coberto de sujeira, de miséria; mas veja a sua beleza agora. Veja como este pequenino se afeiçoou ao resto da família, como ele é grato, como ele me ama; não posso deixar de amá-lo mais do que no começo”. Este é um outro tipo de amor inteiramente diferente, e o Senhor ama desta maneira, apenas de modo infinitamente maior, para com todos os que confiam e amam o Seu Filho! Sabemos que o Pai ama tanto o Filho que, ao ver que você também O ama, Ele o ama ainda mais por essa razão. Ele tinha ilimitada confiança em Cristo quando O enviou para este mundo – e quando Ele vê que você também tem confiança nEle, Ele o ama também, pois vocês dois concordam neste assunto. Nada une duas pessoas mais do que o amor comum para com o mesmo objeto. Se existe alguma pessoa que é querida para ambos, de imediato existe uma ligação entre os dois. Frequentemente o coração de um homem é conquistado pela esposa porque, entre os dois, existe um pequenino ser que é querido de ambos! Talvez, durante uma tola ocasião de raiva, os dois possam se separar, mas o filho é o laço que os mantém juntos. E entre nós e nosso Deus, num sentido infinitamente maior do que esta minha pobre comparação, existe uma maravilhosa união porque Ele confia em Jesus e nós também confiamos nEle. Ele ama Jesus e nós também o amamos; e por causa disso Nosso Salvador nos diz: o Pai mesmo vos ama; visto que vós me amastes e crestes que eu saí de Deus.
Não consigo explicar este maravilhoso mistério, mas quero que saibam que eu amo Cristo e creio que Ele saiu de Deus, apenas para abrir nossas almas e tentar estabelecer esta sublime verdade de que o Pai mesmo vos ama. Não é tem pena de vós, nem promete vos ajudar, nem tem consideração por vós e sim o Pai mesmo vos ama. Não adianta tentar explicar o que é o amor – você tem que senti-lo para entender o que ele é. Você não duvidou das palavras de sua mãe quando era pequeno, e ela o segurou em seus braços e disse Eu te amo. Você acreditou nela, e descansou em seu amor e o correspondeu tanto quanto pôde. Assim o grande Deus lhe diz: Eu o amo porque você ama o meu Filho. Existem muitos defeitos e muitas falhas em você, mas você ama o meu Filho e por isso eu te amo. Você não disse há pouco: Senhor, tu sabes todas as coisas; tu sabes que te amo – João 21:17? Você disse isso ao Senhor Jesus e porque isto é verdade, o Pai mesmo vos ama. Lembro-me de quando uma das suaves passagens em Cantares de Salomão alcançou o meu coração com arrebatadora força – aquele versículo em que o Noivo Celestial diz à sua esposa: Tu és toda formosa, amada minha, e em ti não há mancha – Cantares de Salomão 4:7. Isto é o que o Senhor diz ao seu povo quando os vêem Cristo. Quando Ele percebe que eles amam Cristo, Ele diz efzib chamar-te-ão Hefzibá – Isaias 62:4, que quer dizer Meu Regozijo está nela. o Pai mesmo vos ama. Esta pequena frase é não tanto um tema para pregação como o é para uma calma meditação. Você precisa ficar sozinho em seu quarto, sentar e tocar repetidas vezes aquela campainha de prata: o Pai mesmo vos ama. Você me ama? E por que deveria amar-me? Como poderia amar-me? Mas Jesus sabe e quando Ele assim o declara, assim é, glória seja dada ao seu amado Nome!
Charles Haddon Spurgeon
Enviado por Silvio Dutra Alves em 01/09/2013
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