O Senhor Ressuscitou Verdadeiramente – Parte 4
Por Charles Haddon Spurgeon
IV. Porem, sigo adiante. Em quarto lugar, quero adverti-lhes contra OS SERVIÇOS IRRACIONAIS. Essas boas pessoas para quem os anjos disseram: “não está aqui, mas ressuscitou”, levavam uma carga, e o que era que levavam? Levavam libras de especiarias, as mais preciosas que puderam comprar. O que pretendem fazer? Ah, se um anjo pudesse rir, eu pensaria que ele deve de ter rido ao dar-se conta de que essas pessoas vinham embalsamar a Cristo. “Não está aqui; e mais; não está morto, ele não precisa ser embalsamado, Ele vive”.
Talvez vocês tenham visto por toda Inglaterra na Sexta Feira Santa, e também no Domingo de Glória, as multidões de pessoas – não tenho nenhuma dúvida que são pessoas muito sinceras – que vem embalsamar a Cristo. Tocam um sino porque Ele está morto, e jejuam e cantam tristes hinos sobre seu Salvador morto. Eu bendigo ao Senhor porque meu Redentor não está morto, nem tenho que tocar um sino fúnebre por Ele. Ele ressuscitou, Ele não está aqui! Aqui vem multidões deles com seus linhos finos, e suas preciosas especiarias para cobrir um Cristo morto. Esses homens estão loucos? Porem, eles respondem, ‘nós só estávamos fazendo outra representação’. Ó, se tratava disso? Tratava-se de farsas práticas? Encenar a gloriosa expiação do Calvário como se fosse uma obra teatral! Então eu acuso os atores de blasfêmia diante do trono do Deus eterno que ouve minhas palavras; os acuso de irreverência por se atreverem a ensaiar em mímica o que foi feito uma vez e para sempre, e que não se deve jamais repetir. Não, não posso supor que tiveram a intenção de remendar o grandioso sacrifício, e, portando, concluo que pensaram que seu Salvador estava morto, e então eles disseram: “Toquem os sinos por Ele! Ajoelhem-se e chorem diante de Sua imagem na cruz”. Se eu cresse que Jesus Cristo morreu na Sexta Santa, eu festejaria todo o dia devido que Sua morte já passou; como Ele ordenou que o excelso festival da Ceia do Senhor seja Sua comemoração, e eu sigo Seu mandato, eu não guardo nenhum jejum. Quem se sentaria e choraria por um amigo que morreu, se soubesse que ele foi restaurado à vida e que foi exaltado em poder? Por que se inclinar aos mortos por um amigo vivo? No entanto, não condeno mais à boa gente do que os anjos condenaram àquelas santas mulheres, só que podem levar suas especiarias para casa e seu linho fino também, pois Jesus vive e não necessita dessas coisas.
Muitas pessoas exigentes fazem o mesmo de outras formas. Olhem como elas dão um passo a frente em defesa do Evangelho. Descobriu-se por meio da geologia e da aritmética que Moisés está equivocado. Na mesma hora muitos saem para defender Jesus Cristo. Argumentam a favor do Evangelho, e se desculpam por ele, como se agora ele estivesse um pouco rançoso, e como se necessitássemos mudá-lo para adequá-lo aos descobrimentos modernos e às filosofias da época presente. Isso me parece exatamente com se aproximar com seu linho fino e com suas especiarias preciosas para envolver Cristo. Leve-os embora. Eu me pergunto se Butler e Paley não criaram juntos mais infiéis do que jamais os curaram, e se a maioria das defesas do Evangelho não são puras impertinências. O Evangelho não precisa ser defendido. Se Jesus Cristo não estivesse vivo, e não pudesse pelejar Suas próprias batalhas, então o cristianismo estaria em uma situação de risco. Porem, Ele vive, e só temos que pregar Seu Evangelho em toda sua desnuda simplicidade, e o poder que sai com ele será a evidência de sua divindade. Nenhuma outra evidência jamais convencerá à humanidade. As apologias e as defesas têm boas intenções, sem dúvida, como também o embalsamento tinha boas intenções por parte dessas boas mulheres, mas são de pequeno valor. Dê espaço para Cristo, dê-lhe espaço e oportunidades para Seus pregadores pregarem o Evangelho, e deixem que a verdade seja levada em uma linguagem simples, e logo se ouvirá o Mestre dizer: “levem as especiarias, levem embora o linho! Eu estou vivo, e não preciso dessas coisas”.
Vemos o mesmo tipo de coisa em outras boas pessoas que se apegam a formas passadas da moda e dos estereótipos; para elas tudo deve ser conduzido exatamente como sempre se conduziu há cem ou duzentos anos. A ordem puritana deve ser mantida, e não deve haver nenhuma divergência, e a maneira de expor o Evangelho tem que ser exatamente da mesma forma que foi exposto pelo bom ancião, o doutor Fulano de Tal, e no púlpito deve existir a mais terrível monotonia que possa ser traçada, e o pregador deve ser devotamente brando, e toda a adoração deve ser serenamente apropriada: muitas especiarias e linho fino com que cobrir a um Cristo morto. Já eu me deleito em fazer pedaços das coisas convencionais e apropriadas. É algo grandioso pisotear as meras regulações humanas, porque a vida não pode ser algemada com regulações apropriadas somente para os mortos. A morte jaz envolta como uma múmia no museu; mas a vida, a verdadeira vida, se manifestará de formas inesperadas. A vida dirá o que a morte não poderia dizer, surgirá onde não era esperada, e quebrará suas leis e regulamentos em mil pedaços. Porem, ainda vejo a boa gente levantando suas mãos em horror, e clamando: “Tragam aqui a goma arábica, a mirra e os aloés, tragam aqui o linho. Devemos cuidar de nosso amado Mestre morto”. Deixá-lo em paz, deixá-lo em paz, homem, Ele está vivo e não precisa que o cubram. Não duvido em dizer que grande parte da ordem da igreja entre os Dissidentes, os Episcopais, Presbiterianos e todo tipo de denominações, e uma boa parte do apropriado, do decoro, da regulação e do “assim como era no principio, agora e sempre será” não são nada que outras tantas especiarias e linho fino para um Cristo morto, mas Cristo está vivo, e o que ele precisa é de espaço! Não digo isso para meu próprio beneficio – por acaso não sou sempre correto? – mas digo em benefício de alguns sinceros irmãos evangelistas que, quando pregam aos pobres, usam uma linguagem extravagante e talvez, também, uma ação extravagante. Que o usem. Os críticos dizem que são teatrais. Houve alguma vez alguém que fosse a metade de teatral e dramático do que Ezequiel? Todos os profetas não fizeram coisas estranhas para ganhar a atenção do povo? Vamos, a mesma acusação foi apresentada contra Whitefield e Wesley: “essas pessoas estão completamente quebrando todas as regras” e etc. que benção quando os homens podem fazer isso!
O Sr. Hill foi para Escócia para pregar o Evangelho, e diziam que ele pisoteava sobre os lombos de toda ordem e decoro. Então ele disse: “vou chamar meu par de cavalos com esses nomes, para que seja certo”. Era certo; e sem dúvida ele cavalgou sobre os lombos da ordem e do decoro, mas ele levava às almas a Cristo com esses dois estranhos corcéis e com seu quebrantamento de todas as regras para chegar a homens e mulheres que nunca teriam sido alcançados de outra forma. Estejam preparados para deixar Cristo em liberdade, e deem a Seus servos liberdade para servir-lhe como o Espírito de Deis os guie.
V. Por último, queria falar-lhes sobre AS ASSOMBROSAS NOVIDADES que essas boas mulheres receberam: “Ele não está aqui, mas sim que ressuscitou”. Essas eram assustadoras novas para Seus inimigos. Eles diziam: “o matamos; o colocamos na tumba; tudo acabou para Ele”. Ah, escriba, fariseu, sacerdote, o que você fez? Sua obra foi revertida, pois Ele ressuscitou! Essas foram espantosas novas para Satanás. Ele, sem dúvida, sonhava que havia destruído ao Salvador, porem, Ele ressuscitou. Que estremecimento recorreu todas as regiões infernais! Que noticias foi para a tumba! Agora ela estava completamente destruída, e a morte tinha perdido seu aguilhão! Que noticia foi para os trêmulos santos: “o Senhor ressuscitou verdadeiramente”. Eles recobraram ânimo e disseram: “a boa causa é a correta, e vencerá, pois nosso Cristo vive e a encabeça”. Essa foi uma boa notícia para os pecadores. Sim, é uma boa notícia para todo pecador aqui presente. Cristo vive; se você o busca, o encontrará. Eu não lhes estou hoje os dirigindo a um Cristo morto. Ele ressuscitou; Ele pode salvar perpetuamente aos que por Ele se aproximam a Deus. Não existem melhores notícias do que essas para os homens tristes, para os homens desassossegados, desanimados e desesperados: o Salvador vive, e é ainda capaz de salvar e está disposto a lhe receber em Seu terno coração. Essas foram notícias alegres, amados, para todos os anjos e para todos os espíritos do céu; foram alegres novas, e viveremos em seu poder com a ajuda de Seu Espírito, e as contaremos a nossos irmãos para que se alegrem conosco, e jamais nos desesperaremos. Não daremos mais espaço às dúvidas e aos temores, mas diremos uns aos outros: “o Senhor ressuscitou verdadeiramente”. Que o Senhor os abençoe, e que ao aproximarem-se de Sua mesa – e confio que muitos membros de Seu povo se aproximarão – encontremos nosso Senhor ressuscitado. Amém.
Charles Haddon Spurgeon
Enviado por Silvio Dutra Alves em 04/09/2013