O Senhor Ressuscitou Verdadeiramente – Parte 2
Por Charles Haddon Spurgeon
II. Nosso texto fala expressamente das BUSCAS VÃS: “por que buscais entre os mortos ao que vive? Não está aqui, mas ressuscitou”.
Existem lugares onde os buscadores de Jesus não deveriam esperar encontrá-Lo, independente de quanto sejam diligentes sua busca e de que sincero seja seu desejo. Não se pode encontrar um homem onde ele não está, e existem certos lugares nos que Cristo não pode jamais ser achado. Nesse presente momento vejo muitos seres que buscam a Cristo entre os monumentos do cerimonialismo, ou no que Paulo chamou “os débeis e pobres rudimentos”, pois eles “guardam os dias, meses, tempos e anos”. Desde que nosso Senhor ressuscitou o judaísmo e toda forma de cerimônia simbólica não passam de nada mais que sepulcros, tipos foram ordenados pelo próprio Deus, mas que quando veio à substância mesma dessas coisas, se converteram em sepulcros vazios e nada mais. Desde então os homens inventaram outros símbolos que nem sequer tem a sanção da autoridade divina, e que só são tumbas de mortos. Nessa época presente o mundo foi loucamente atrás de seus ídolos, sendo enganado e iludido por aqueles que têm um zelo por Deus, mas não conforme a ciência. Certamente nunca houve um período, inclusive quando Roma era dominadora, em os homens se apegaram a cerimônias com tanta velocidade como que no presente dia; converteram o cristianismo em um julgo maior de servidão do que foi o próprio judaísmo; porem, uma alma sincera e desperta em vão esperará encontrar Jesus entre essas vãs representações. Elas podem deslizar-se de um dia santo a outro, e de um lugar santo a outro, e de palavras mágicas para outras, porem, não encontrarão ao Salvador em nada disso, pois Ele mesmo declarou assim: “Nem nesse monte nem em Jerusalém adorareis ao Pai… Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem.” (João 4:23). Jesus rasgou o véu e aboliu a adoração cerimonial, e, no entanto, os homens buscam revivê-las, edificando os sepulcros que o Senhor demoliu. Ele repete aos nossos ouvidos a advertência nesse dia: “Guardai, pois, com diligência as vossas almas, pois nenhuma figura vistes no dia em que o SENHOR, em Horebe, falou convosco do meio do fogo; para que não vos corrompais, e vos façais alguma imagem esculpida na forma de qualquer figura, semelhança de homem ou mulher;” (Deuteronômio 4:15-16). No entanto, certos homens entre nós estão dedicados a levantar os altares que nossos piedosos antepassados derrubaram, e a obra dos reformadores e dos protestantes tem que ser realizada de novo agora. Que Deus nos envie um Knox ou um Lutero com um maravilhoso martelo para fazer pedaços dos ídolos que dos sacerdotes de Baal que estão se levantando! Buscam o vivo entre os mortos. Jesus não está em suas missas nem em suas procissões. Ele ressuscitou muito além de tal adoração carnal. Se Ele fosse um Cristo morto, tal adoração poderia até ser, talvez, um apropriado desfile sobre Sua tumba, mas para um que vive para sempre, deve ser insultante apresentar um serviço tão materialista.
Mas, ai, existem muitas outras pessoas que estão buscando a Cristo como seu Salvador entre as tumbas da reforma moral! Nosso Senhor comparou os fariseus com sepulcros caiados; internamente estava cheios de ossos, mas exteriormente estavam formosamente adornados. Ó, de que forma os homens tratam de se branquearem quando se colocam intranquilos quanto as suas almas! Renunciam algum pecado grave, não de coração, mas somente em aparência, e cultivam certas virtudes, não de alma, mas somente por ato externo, e assim esperam ser salvos ainda que sigam sendo inimigos de Deus, amantes do pecado e avarentos buscadores da paga da injustiça. Esperam que o exterior limpo do vazo e do prato satisfaça o Altíssimo, e que Ele não seja tão severo para revisar o interior e provar seus corações.
Ó senhores, vocês buscam ao vivo entre os mortos? Muitos têm buscado paz para suas consciências por meio de suas reformas morais, mas se o Espírito Santo os convenceu verdadeiramente de pecado, logo eles descobrirão que estavam buscando um Cristo vivo entre as tumbas. Ele não está aqui, pois ressuscitou. Se Cristo estivesse morto, muito bem poderíamos dizer-lhes: “Vão e façam tudo que possam para serem seus próprios salvadores”; porem, entanto que Cristo está vivo, Ele não precisa de sua ajuda. Ele os salvará de princípio a fim, ou não o fará de forma alguma. Ele será o Alfa e o Ômega para vocês, mas se vocês colocarem suas mãos sobre Sua obra e pensarem que podem ajudar ao Senhor de alguma maneira, você já teriam desonrado Seu santo nome, e Ele não teria nada que ver com vocês. Não busquem uma salvação viva entre os sepulcros da formalidade externa.
Muitíssimas pessoas também estão esforçando-se para encontrar o Cristo vivo entre as sepulturas que se aglomeram aos pés do Sinai; elas olham para lei buscando vida, mas o ministério dela é morte. Os homens pensam que devem de ser salvos guardando os mandamentos de Deus, que devem fazer o melhor que podem, e concebem que seus esforços sinceros serão aceitos, e que assim se salvarão por eles mesmos. Essa ideia de justiça própria é diametralmente oposta ao espírito do Evangelho. O Evangelho não é para você que crê que pode se salvar a si mesmo, mas para os que estão perdidos. Se você pode salvar a si próprio, anda a faz isso, e não burle do Senhor com suas hipócritas orações. Anda e tropeça entre as tumbas do antigo Israel, e pereça como eles pereceram no deserto, pois nem Moisés nem a lei podem conduzi-los ao repouso. O Evangelho é para os pecadores que não podem guardar a lei, que a quebrantaram e que incorreram em seu castigo, e que sabem o que o fizeram e o confessam. Para tais pessoas veio um Salvador vivo que apaga suas transgressões. Não busquem a salvação pelas obras da lei, pois por elas nenhuma carne vivente será justificada. Pela lei vêm o conhecimento do pecado e nada mais; mas a justiça, paz, vida e a salvação vêm pela fé no Senhor Jesus Cristo vivo e não por outros meios. “Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo”; mas se o seu propósito for estabelecer sua própria justiça, com toda certeza você perecerá, porque terá rejeitado a justiça de Cristo.
Existem outros que buscam ao Jesus vivo entre as tumbas tratando de identificar algo bom na natureza humana, em seus próprios corações e em sua disposição natural. Posso vê-los agora, pois o conheci desde muito tempo, e essa tem sido sempre sua insensatez: você irá ao ossuário de sua própria natureza e perguntará: “Jesus está aqui?”. Amado, você está triste e deprimido, e isso não me surpreende. Olhe aqueles ossos secos e esses esqueletos embranquecidos. Olhe esse monte de podridão, essa massa de corrupção, esse corpo de morte; você pode tolerar o espetáculo? “Ah” você responde – “eu verdadeiramente sou um homem desventurado, mas anelo achar algo bom em minha carne”. Ó amado, suspiras em vão, pois olhar em sua própria natureza carnal para encontrar consolação equivale a vasculhar o inferno para encontrar lá o céu. E aqui, nesse dia, Deus abandonou à velha natureza e a entregou à morte. Sob a antiga lei, a circuncisão significava remover a imundícia da carne, como se depois que essa imundícia desaparecesse a carne pudesse ser melhorada, mas agora, sob o novo pacto, temos um símbolo muito mais profundo, pois “Ou não sabeis que todos quantos fomos batizados em Jesus Cristo fomos batizados na sua morte? De sorte que fomos sepultados com ele pelo batismo na morte; para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos, pela glória do Pai, assim andemos nós também em novidade de vida”. (Romanos 6:3-4). O homem velho está enterrado como algo morto, de quem não pode sair nada de bom. “Sabendo isto, que o nosso homem velho foi com ele crucificado, para que o corpo do pecado seja desfeito, para que não sirvamos mais ao pecado” (Romanos 6:6). Deus não tenta renovar a velha mente carnal, mas faz de nós novas criaturas em Cristo Jesus. Se qualquer homem que pratica a introspecção com o alvo da consolação, bem poderia acumular blocos de gelo de Wenham com intenção de queimar uma cidade. Se vocês estão dando corda para seus corpos e sentimentos, para seus pensamentos e imaginações com o fim de descobrir consolo, é como se esperassem encontrar preciosos diamante varrendo as estradas. “Não está aqui”, diz a totalidade de nossa velha natureza. Não está aqui; ressuscitou; e para consolação, devem olhar unicamente para Ele, que está entronizado nos céus.
Ademais, muitas pessoas tentaram encontrar Cristo no meio das sombrias catacumbas da filosofia do mundo. Por exemplo, no Domingo lhes encanta receber um sermão saturado de pensamento, e o significado moderno de pensamento é algo que está mais além, se não é que oposto, ao simples ensino da Bíblia. Se um homem fala para sua congregação do que encontra nas Escrituras, é dito que ele “fala banalidades”; mas se um homem diverte sua congregação com seus próprios sonhos, sem importar quão opostos pudessem ser dos pensamentos de Deus, então é considerado “um pensador”, é um “pregador altamente intelectual”. Poderia até existir alguns que amem as divagações dos sonhadores e as durezas dos céticos acima de todas as coisas. Se eles podem ouvir o que um professo infiel diz contra a Inspiração, se podem ser entretidos com a mais recente blasfêmia, alguns destes ouvintes sentem que estão logrando avanços nessa cultura mais sofisticada, que é tão alardeada em nossos dias. Porem, creiam-me, as cavernas frequentadas pelos morcegos da falsa filosofia e da pretendida ciência foram exploradas uma e outra vez, mas a salvação não habita nelas. Nos dias de Paulo havia gnósticos que andavam por todos os serpeantes lugares de erudição vangloriosa, mas só descobriram “outro evangelho que não era outro”. O mundo não conheceu a Deus pela sabedoria. Depois de perambular em meio das sombrias catacumbas da filosofia, regressamos a respirar ao fresco ar fresco da Palavra vida, e no tocante aos labirintos da ciência, expressamos com voz entrecortada a frase: “o Senhor não está aqui”. A razão não O encontrou em suas mais profundas minas, nem a especulação O achou em seus mais elevados voos, ainda que de verdade, Ele não está longe de nenhum de nós. Atenas tem seu Deus desconhecido, mas, no simples Evangelho, Deus é conhecido na pessoa de Jesus. Sócrates e Platão sustentam suas velas, mas Jesus é o sol. Nossos pensadores modernos criticam, disputam e, no entanto, em nosso meio, um Cristo vivo converte os pecadores, anima aos santos e glorifica a Deus. Se o Senhor fosse um tema morto para debate, a filosofia poderia nos ajudar; mas como Ele é um poder vivente, um grão de fé Nele é melhor do que montanhas de filosofia.
Ó vocês que não conhecem a vida interior, nem o Espírito vivificador, o que vocês têm haver com o Senhor ressuscitado? Que vocês se convertessem nos árbitros da verdade concernentes a Jesus nosso Senhor equivaleria que o verme da corrupção se convertesse em um juiz de querubins.
Eu ansiosamente desejo, verdadeiramente, que vocês que estiveram buscando a salvação em qualquer dessas direções renunciem a essa desesperada tarefa e entendam que Cristo está perto de vocês, e se vocês creem Nele com o coração e com a boca o confessam, serão salvos. “Olhai para mim e seus salvos, todos os términos da terra, porque eu sou Deus e não há outro”: esse é o clamor Dele para vocês. “A fé é pelo ouvir, e o ouvir, pela palavra de Deus”. “Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo”, Jesus ainda vive, e pode salvar perpetuamente. Tudo o que se tem que fazer é simplesmente voltar para Ele o olhar de sua fé: por essa fé, Ele se converte seu, e você é salvo, mas, ó, não busque entre os mortos Aquele que vive, pois Ele ressuscitou.
Charles Haddon Spurgeon
Enviado por Silvio Dutra Alves em 04/09/2013