O Senhor Ressuscitou Verdadeiramente – Parte 1
“E, estando elas muito atemorizadas, e abaixando o rosto para o chão, eles lhes disseram: por que buscais o vivente entre os mortos? Não está aqui, mas ressuscitou. Lembrai-vos como vos falou, estando ainda na Galileia.” Lucas 24:5-6
O primeiro dia da semana comemora a ressurreição de Cristo, e, seguindo o exemplo apostólico, temos constituído o primeiro dia da semana como nosso dia de repouso. Isso não nos sugere que o repouso de nossas almas deve ser achado na ressurreição de nosso Salvador? Não é certo que uma clara compreensão da ressurreição de nosso Senhor é, através do Espírito Santo, o meio mais seguro de trazer paz as nossas mentes? Ser participante da ressurreição de Cristo é desfrutar desse dia de repouso que resta para o povo de Deus. Nós que temos crido no Senhor ressuscitado entramos no repouso, assim como Ele mesmo repousa a destra de Deus. Nele descansamos porque Sua obra foi consumada e Sua ressurreição é a garantia de que aperfeiçoou todo o necessário para a salvação de Seu povo, e nós estamos completos Nele. Eu confio que, pelo poder do Espírito Santo, sejam semeados nas mentes dos crentes alguns pensamentos condutores ao repouso, enquanto realizamos uma peregrinação ao sepulcro novo de José de Arimateia e vemos o lugar onde o Senhor esteve sepultado.
I. Primeiro, nessa manhã irei falar-lhes sobre certas LEMBRANÇAS INSTRUTIVAS que se aglomeram em torno do lugar onde Jesus dormiu “com os ricos na morte”. Ainda que Ele não está ai agora, com toda certeza esteve ai uma vez, pois “foi crucificado, morto e sepultado”. Esteve tão morto como os mortos estão agora, a ainda que Ele não pudesse ver a corrupção, nem podia ser retido pelos laços da morte mais além do tempo predestinado, contudo, Ele esteve sem sombra de dúvida morto. Não restou nenhuma luz em Seus olhos, nem vida alguma em Seu coração. O pensamento fugiu de Sua fronte coroada de espinhas, e Sua boca de ouro emudeceu. Ele não morreu simplesmente em aparência, mas sim em realidade; a lança resolveu essa dúvida de uma vez por todas; portanto, tendo sido morto, foi colocado em um sepulcro como um idôneo ocupante da calada tumba. No entanto, como Ele não está ali agora, mas ressuscitou, nos corresponde recolher os objetos que nos recordam que Ele esteve ali. Não contenderemos com os sectários supersticiosos pelo “Santo sepulcro”, mas sim iremos recolher em espírito as preciosas relíquias do Redentor ressuscitado.
Primeiro, Ele deixou no sepulcro as especiarias. Quando ressuscitou, não levou as custosas ervas aromáticas com as que Seu corpo tinha sido envolto, mas sim as deixou lá. José tinha trazido cerca de 100 libras de peso de mirra e aloés, cujo odor permanece ainda. Nosso Senhor Jesus encheu o sepulcro de sepulcro no mais doce sentido espiritual. Já não cheira a corrupção nem a fétida putrefação, mas sim que podemos cantar com o poeta do santuário –
“Por que teríamos de temer que depositem
Nossos corpos no sepulcro?
Ali esteve a amada carne de Jesus,
E ela deixou um perfume duradouro.”
Aquele humilde leito na terra está agora perfumado com custosas especiarias e se apresenta enfeitado com flores aromáticas, pois sobre sua almofada nosso Amigo mais verdadeiro apoiou Sua santa cabeça uma vez. Nós não retrocederemos com horror das câmaras dos mortos, pois o próprio Senhor as percorreu, e onde Ele esteve, o terror se dissipa.
O Mestre deixou também Seus lençóis ao partir. Não saiu da tumba envolto com uma mortalha; não levava as vendas da tumba como um traje da vida; mas quando Pedro entrou no sepulcro, viu os lençóis sozinhos e cuidadosamente dobrados. Atrevo-me a dizer que Jesus os deixou ali para que fossem as cortinas do aposento real onde Seus santos se entregam ao sono. Olhem como eles encobriram nosso último leito! Nosso dormitório já não é sombrio e nu, como a cela de uma prisão, mas sim está decorado com um linho fino e com lindos estofados: é um aposento digno de príncipes! Iremos ao nosso último aposento em paz, porque Cristo o mobiliou para nós. Ó, se mudamos a metáfora, poderíamos dizer que nosso Senhor deixou esses lençóis para que os consideremos como garantias de Sua comunhão conosco em nosso humilde estado, e como lembranças de que assim como Ele despojou-se das vestes da morte, assim nós também o faremos. Ele levantou-se de Seu divã e deixou ali Seus pijamas em sinal de que quando nós despertemos, haverá também outras vestes prontas para nós.
Mudarei de novo a figura, e direi que assim como temos visto velhas bandeiras esfarrapadas penduradas nas catedrais e em outros edifícios nacionais como lembranças dos inimigos derrotados e das vitórias conquistadas, assim também, na cripta onde Jesus venceu a morte estão penduradas Seus panos, como troféus de Sua vitória sobre a morte, e como nossa garantia de que todo Seu povo será mais que vencedor por meio Daquele que o amou. “Onde está, ó morte, seu aguilhão? Onde está, ó sepulcro, sua vitória?”
Logo, cuidadosamente enrolado em um lugar separado, nosso Senhor deixou o sudárioque tinha coberto Sua cabeça. O sudário está agora por ali. O Senhor já não necessitava dele quando ressuscitou. Os que choram podem usá-lo como um lenço para enxugar suas lágrimas. Vocês, viúvas, e vocês órfãos – vocês irmãos que se lamentam e vocês irmãos que choram – vocês, vocês, Raqueis que não querem ser consoladas porque seus filhos pereceram, tomem aqui, tomem esse sudário com o qual envolveram o rosto de seu Salvador, e enxuguem suas lagrimas para sempre. O Senhor verdadeiramente ressuscitou e, portanto, assim disse Jeová: “reprime do pranto tua voz, e das lágrimas teus olhos…. porque voltarão da terra do inimigo”; “Teus mortos viverão”. Ó, você que guarda luto, seus seres queridos ressuscitarão conjuntamente com o cadáver do Senhor; portanto, não se aflijam como fazem o que não tem esperança, pois se vocês creem que Jesus morreu e ressuscitou, o Senhor levará consigo também aos que dormem em Jesus.
O que mais o Salvador ressuscitado deixou para trás? Nossa fé tem aprendido a recolher algumas doces recordações do leito do tranquilo sono de nosso Senhor. Bem, amados, Ele deixou anjos atrás de si, convertendo assim a tumba em –
“Uma cela onde os anjos estão
Em ir e vi com novas celestiais.”
Os anjos não tinham estado antes na tumba, mas, em Sua ressurreição, desceram até lá; um deles rodou a pedra, e outros se assentaram onde o corpo de Jesus tinha sido colocado. Eles eram assistentes pessoais e a escolta do Grandioso Príncipe, e, portanto, lhe prestaram assistência em Sua ressurreição, vigiando a entrada e respondendo às perguntas de Seus amigos. Os anjos são cheios de vida e vigor, mas não duvidaram em se reunir no sepulcro para adornar a ressurreição da mesma forma que as flores enfeitam à primavera. Eu não leio que nosso Senhor tenha jamais retirado os anjos do sepulcro de Seus santos; e agora, se os crentes morrem, tão pobres como Lázaro, e tão enfermos e tão desprezados como ele, os anjos transportarão suas almas ao seio de seu Senhor, e seus corpos serão vigiados pelos espíritos guardiões tão certamente como Miguel guardou o corpo de Moisés e contendeu por ele com o inimigo. Os anjos são tão servidores dos santos viventes como são custódios de Seu povo.
O que mais deixou nosso Amado para trás? Ele deixou uma passagem aberta desde o sepulcro, pois a pedra foi rolada; essa casa da morte está sem portas. Se o Senhor não vier logo, nós também desceremos ao calabouço da tumba. O que eu disse? Eu chamei de “calabouço”; mas, como chamar de calabouço se ele não tem mais ferrolhos nem trincas. Uma prisão é uma prisão se não ela tem nem mesmo uma porta que deixe preso seus ocupantes? Nosso Sansão arrancou as colunas e espatifou as portas da tumba com todas suas barras. A chave foi retirada do cinturão da morte e hoje é levada pela mão do Príncipe da Vida. O selo quebrado e os vigilantes desfalecidos são sinais que o calabouço da morte não pode reter mais seus cativos. Assim como Pedro, quando foi visitado pelo anjo, viu que suas cadeias se romperam e que as portas de ferro se abriram sozinhas, assim também os santos encontrarão um escape disponível na manhã da ressurreição. Dormirão por um tempo, cada um em seu lugar de descanso, mas se levantarão sem problemas, já que a pedra do sepulcro foi rolada. Um poderoso anjo rodou a pedra, pois era muito grande, e quando ele o fez, se sentou sobre ela. Suas vestes eram brancas como a neve, e seu rosto era como o relâmpago, e estando sentado sobre a pedra, ele parecia dizer à morte e ao inferno: “coloquem ela de volta se puderem” –
“Quem reconstruirá a prisão do tirano?
O cetro que caiu de suas mãos ficou quebrado;
Seu domínio acabou; o Senhor ressuscitou;
Os indefesos logo serão libertos de seus laços”.
Aventuro-me a mencionar mais uma coisa que meu Senhor deixou em Sua tumba abandonada. Visitei faz alguns meses vários dos grandes edifícios com nichos para urnas crematórias que se acham fora das portas de Roma. Você entra em um grande edifício, na terra, e desce muitos degraus, e conforme desce, observa nas quatro paredes da grande câmara, inumeráveis pequenos armários onde estão depositadas as cinzas de dezenas de milhares de pessoas que faleceram. Usualmente na frente de cada compartimento preparado para recepção das cinzas existe uma lâmpada. Eu vi centenas, se não milhares, dessas lâmpadas, mas todas estão apagadas, e certamente dão a impressão de jamais terem sido iluminadas. Não projetam nenhum raio sobre as trevas da morte. Porem, nosso Senhor entrou na tumba e a iluminou com Sua presença: “a lâmpada de seu amor é nossa guia através da penumbra”. Jesus trouxe a vida e a imortalidade à luz por meio do Evangelho; e agora existe luz nos pombais onde se colocam os cristãos; sim, em cada cemitério existe uma luz que arderá através das vigílias da noite da terra até que amanheça o dia e as sombras fujam e então desponte a manhã da ressurreição.
Assim, então, a tumba vazia do Salvador nos deixa muitas doces reflexões que guardamos para nossa instrução.
Por Charles Haddon Spurgeon
Charles Haddon Spurgeon
Enviado por Silvio Dutra Alves em 04/09/2013
Alterado em 04/09/2013