Seguindo ao Cristo Ressurreto – Parte 2
Por Charles Haddon Spurgeon
II. O apóstolo nos exorta a usar a vida que temos recebido, e assim, em segundo lugar, EXERCITEMOS A NOVA VIDA EM PROPÓSITOS APROPRIADOS. “se já ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas que são de cima.” (Colossenses 3:1) Suas ações deverão ser de acordo com sua nova vida.
Primeiro, então, abandonemos o sepulcro. Se nós ressuscitamos, nosso primeiro ato deve ser abandonar a região da morte. Saiamos da cripta de uma religião meramente externa, e adoremos a Deus em espírito e verdade. Acabemos com o sacerdócio, e com todos os negros assuntos das empresas funerárias, e deixemos que os mortos enterrem seus próprios mortos – não nos envolveremos nisso. Acabemos com as formas externas, os ritos e cerimônias que não são ordenadas por Cristo, e não queiramos saber de nada exceto Cristo crucificado – pois aquilo que não é do Senhor vivente, é uma mera peça de pompa funerária, apropriada para os cemitérios e os formalistas, cuja religião inteira consiste em lançar pás de terra sobre as tampas dos ataúdes. “A terra à terra, as cinzas às cinzas, o pós ao pó.” “O que é nascido da carne é carne”(João 3).
Também devemos sair da cripta dos gozos carnais, nos quais os homens buscam se saciarem com a provisão para a carne. Não viveremos pela vista do olho, nem pela audição do ouvido. Não vivamos para armazenar riquezas, ou para alcançar a fama, pois estas deverão ser como coisas mortas para o homem que ressuscitou em Cristo. Não vivamos para o mundo que enxergamos, nem sigamos as modas de homens para os quais esta vida é tudo.
Vivamos como aqueles que saíram do mundo que, ainda que estejam nele, não pertencem a ele. Não devemos preocupar-nos do país de onde saímos, mas antes abandoná-lo, como Abraão fez, como se não existisse tal pátria terrestre, morando a partir de agora com nosso Deus, sendo peregrinos com Ele, buscando “uma cidade que tem fundamentos, da qual o artífice e construtor é Deus.” (Hebreus 11:10) Assim como Jesus deixou para trás as moradas da morte, nó também façamos o mesmo.
E logo, nos apressemos em esquecer todo mal, assim como nosso Senhor se apressou em deixar a tumba. Depois de tudo, que pouco tempo permaneceu entre os mortos. Ele necessitava permanecer no coração da terra durante três dias, mas os encurtou na medida do possível, de tal forma que é difícil calcular três dias em absoluto. Estavam ali, pois existiam fragmentos de cada período, mas, verdadeiramente, nunca existiram três dias mais curtos dos que esses que Jesus encurtou. Encurtou-os em justiça, e tendo sido libertado das dores da morte, ressuscitou cedo, ao romper do dia. No primeiro instante que foi possível que saísse do sepulcro, consistentemente com as Escrituras, Ele deixou o sudário e a mortalha, e ficou no jardim, esperando para saudar seus discípulos.
O mesmo deverá suceder conosco: não deve existir demora, nem ociosidade, nem desejos atrás do mundo, nem apego a suas vaidades, nem provisões para a carne. Levante-se cedo de manhã, vocês que foram vivificados espiritualmente! Levantem-se cedo de manhã, de sua apatia, de seu prazer carnal, de seu amor às riquezas e ao ego, e saiam da cripta para uma esfera sobrenatural de ação: “se já ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas que são de cima.” (Colossenses 3:1)
Prosseguindo com a analogia: quando nosso Senhor deixou a tumba assim cedinho, passou uma temporada na terra entre Seus discípulos, e nós devemos passar o tempo de nossa temporada aqui na terra como Ele passou o Dele, no santo serviço. Nosso Senhor reconheceu que estava de passagem tão logo que ressuscitou. Lembrem-se, Ele disse: “subo para meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus.” (João 20:17) Ele não disse: “subirei”, mas sim como se houvesse de acontecer tão logo que já estava com que acontecendo. Ficou ainda quarenta dias, pois tinha que fazer a obra de quarenta dias – porem, já se via como indo ao céu. Tinha terminado com o mundo, havia terminado com a tumba, e agora disse: “subo para meu Pai e vosso Pai” (João 20:17a)
Nós também temos que guardamos aqui quarenta dias – o período pode ser mais longo ou mais curto segundo ordene providência de Deus, mas logo terá passado, e o tempo de nossa partida chegará. Temos que passar nossa vida ressurreta na terra como Jesus passou a Sua: em uma maior separação do mundo e uma maior aproximação com o céu como jamais antes.
Nosso Senhor ocupou-se muito em dar testemunho, em manifestar-se, como já o temos visto, em diversas formas, a Seus amigos e seguidores. Nós também temos que manifestar os frutos da nossa vida ressurreta, e dar testemunho do poder de Deus. Todos os homens deverão ver que vocês ressuscitaram. Vivam de tal forma que não possa haver a menor dúvida sobre vossa ressurreição espiritual, mais do que não houve sobre a ressurreição literal de Cristo. Não publiquem ao mundo suas próprias virtudes para serem honrados pelas pessoas do mundo – no entanto, “assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus.” (Mateus 5:16) Que sua posse da nova vida fique além de toda dúvida, de tal forma que quando os homem tiverem ido para casa, seus amigos e conhecidos possam dizer “era um filho de Deus, pois sentimos o poder de sua vida – era um homem transformado, pois nós vimos a renovação.”
Jesus passou também Sua vida ressurreta consolando aos santos. Disse: “Paz seja convosco.” (Lucas 24:36) Falou a um e a outro: às Marias, ao pobre Pedro que o negou, e a todo o grupo reunido, animando-lhes e preparando-lhes para sua carreira futura. Ele passou esses quarentas dias colocando tudo em ordem em Seu reino, ajeitando tudo o que deveria ser quando Ele ascendesse, e deixando Sua última comissão a Seus seguidores dizendo-lhes: “Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura.” (Marcos 16:15)
Amados, nós também temos que passar o tempo de nossa passagem aqui no temor de Deus, adorando-Lhe, servindo-Lhe, glorificando-Lhe, esforçando-nos para colocar tudo em ordem para a expansão do reino de nosso Senhor, para consolo dos santos e para o cumprimento de Seus sagrados propósitos.
Porem, agora que já os conduzi tão longe, quero que sigam adiante e se elevem mais alto. Que o Senhor nos ajude. Nossas mentes devem ascender ao céu em Cristo. Inclusive enquanto nossos corpos estão aqui, devemos ser transportados ao alto com Cristo – devemos ser atraídos a Ele, para que possamos dizer: “nos ressuscitou juntamente com ele e nos fez assentar nos lugares celestiais, em Cristo Jesus” (Efésios 2:6) Nosso texto diz “buscai as coisas que são de cima, onde Cristo está assentado à destra de Deus.” Que é isso senão elevar-se aos propósitos celestiais? Jesus subiu ao alto – vamos ao alto com Ele. Quanto a esses corpos, ainda não podemos subir, pois não estão preparados para herdar o reino de Deus – no entanto, nossos pensamentos e nossos corações deverão remontar ao céu e devemos construir um feliz repouso lá ao alto. Não permitamos que um único pensamento extraviado levante voo como um pássaro solitário que canta e vai ao céu ; mas sim que nossa mente toda, nossa alma, espírito e coração devem levantar tanto quanto as pombas voem como uma nuvem. Sejamos práticos, também, em verdade busquemos as coisas de cima: as busquemos porque sentimos que necessitamos delas – busquemo-las porque as valorizamos grandemente – busquemo-las porque esperamos ganhá-las; pois um homem não buscará de todo coração aquilo que não tem esperança de obter. As coisas que estão acima que temos que busca mesmo agora são coisas como essas; busquemos a comunhão celestial, pois já não somos contados entre a congregação dos mortos, mas sim temos comunhão com a ressurreição de Cristo, e com todos os ressuscitados. “A nossa comunhão é com o Pai, e com seu Filho Jesus Cristo.” (1 João 1:3) e “a nossa cidade está nos céus” (Filipenses 3:20) Busquemos caminhar com o Deus vivente e conhecer a comunhão do Espírito.
Busquemos graças celestes – pois “toda a boa dádiva e todo o dom perfeito vem do alto” (Tiago 1:17) Busquemos mais fé, mais amor, mais paciência, mais zelo: nos esforcemos por uma maior caridade, uma maior caridade entranhável, uma maior humildade de espírito. Esforcemos-nos por uma maior semelhança a Cristo, para que Ele seja o primogênito entre muitos irmãos. Busquemos levar a imagem do celestial, e levar essas jóias que adornam aos espíritos celestes.
Busquemos também os objetivos celestiais. Tenhamos o propósito de glória da de Deus em tudo. Devem trabalhar e esforçarem-se arduamente nesse mundo, pois ainda estão no corpo – procurem usar as coisas do mundo para a glória de Deus. Exercitem seus privilégios e cumpram com seus deveres como homens, e como ingleses, como que diante de Deus, sem que lhes importe o juízo dos homens. Quando se misturem com os filhos dos homens, tenham atenção para não descer ao nível deles, nem atuarem segundo seus motivos. Não deverão buscar seus próprios fins egoístas, nem o engrandecimento de um grupo, mas sim promover o bem geral, e os interesses da verdade, da justiça, da paz e da pureza. Santifiquem tudo pelo amor a Deus e de seus vizinhos. Não busquem fins partidários, senão as coisas puras, honestas e de bom nome. Não desçam à falsidade, ao ardil, à política dos que são debaixo – antes, honesta, sincera e justamente, busquem viver sempre como aqueles que foram vivificados dentre os mortos.
“Buscais as coisas que são do alto”, isso é, os gozos celestiais. Oh, busquem conhecer a paz do céu na terra, o repouso do céu, a vitória do céu, o serviço do céu, a comunhão do céu, a santidade do céu: vocês podem experimentar um desfrute antecipado de todas essas coisas – procurem conseguir essas coisas. Busquem, em uma palavra, se prepararem para o céu que Cristo está preparando para vocês. Prontamente haverão de mora acima – vistam-se para o grandioso festival. Seu tesouro está acima, então, seu coração deve estar com ele. Tudo o que haverão de possuir na eternidade está lá em cima, onde Cristo está – ascendam, então, e o desfrutem. A esperança deve antecipar os gozos que estão reservados, e, portanto, comecemos nosso céu aqui embaixo. Se, pois, ressuscitaram com Cristo, vivam de acordo com suas naturezas ressurretas, pois suas vidas estão escondidas com Cristo em Deus.
Que imã para atrair-nos até o céu deve ser esse ato: que Cristo está assentado à direita de Deus. Onde deveriam estar os pensamentos de uma esposa quando seu esposo está longe, a não ser com seu ser amado ausente? Vocês sabem, irmãos, que não sucede de maneira diferente conosco: os objetos de nosso afeto são sempre seguidos por nossos pensamentos. Que Jesus seja, então, como um grandioso imã, que atraia nossas meditações e afetos até Ele.
Ele está assentado, pois Sua obra está consumada – como está escrito, “havendo [Cristo] oferecido para sempre um único sacrifício pelos pecados, está assentado à destra de Deus” (Hebreus 10:12) Nos levantemos e descansemos com Ele. Ele está sentado em um trono. Observem Sua majestade, deleitem-se em Seu poder, e confiem em Seu domínio. Ele está sentado à destra de Deus em lugar de honra e favor. Essa é uma prova de que somos amados e favorecidos por Deus, pois nosso representante tem o lugar mais seleto, a direita de Deus. Que vossos corações subam e desfrutem desse amor e favor com Ele. Batam suas asas, meus pensamentos, e empreendam o voo até Jesus. Alma minha, não tens dito com frequência: “Ai de mim, que peregrino em Meseque, e habito nas tendas de Quedar!” (Salmos 120:5) Quem me dera ter asas de pomba! Eu voaria e descansaria lá.
Agora, então, alma minha, aqui existem asas para você. Jesus lhe atrai ao alto. Você possui um direito de estar onde Jesus está, pois está desposada com Ele – portanto, seus pensamentos deverão permanecer com Ele, descansar Nele, deleitar-se Nele, regozijar-se Nele, e regozijar-se outra vez. A escadaria sagrada está diante de nós – subamos até que sentemos pela fé nos lugares celestiais com Ele.
Que o Espírito de Deus abençoe essas palavras para vocês.
Charles Haddon Spurgeon
Enviado por Silvio Dutra Alves em 07/09/2013