Prefácio da Epístola aos Romanos por Lutero – Parte 4
A “Justiça de Deus” ou “a justiça que provém de Deus” é dada ao pecador que pode contá-la como sua por causa de Cristo, nosso Mediador. Por meio da fé o homem se torna sem pecado, passando a ter prazer nos mandamentos de Deus; assim, ele dá a Deus a honra que lhe é devida e lhe tributa o que deve, inclusive servindo de boa vontade o seu próximo. Dessa forma, ele não deve nada a ninguém. Essa justiça, a natureza, nossa vontade e todas as nossas forças não podem produzir nada. Ninguém pode por força própria produzir fé ou arrancar a sua própria incredulidade; como, então, alguém poderia expiar um único pecado, mesmo o menor? É assim que tudo o que é feito sem fé é falso; é hipocrisia e pecado, não importando quão bom tenham sido os seus feitos (Romanos 14).
Então, você não deve achar que a carne tem a ver apenas com as coisas impuras e o espírito apenas com as coisas interiores do coração. Tanto Paulo quanto Cristo em João 3 chamam a “carne” de coisas nascidas da carne, pois referem-se ao homem como um todo com corpo e alma, mente e sentidos, pois todo o seu ser anseia pela carne. Assim vocês devem tratar como carnal quem pensa, ensina e fala sobre grandes assuntos espirituais sem possuir a graça de Deus. Sobre as obras da carne de Gálatas 5, você pode observar que Paulo chama de heresia e odeia as obras da carne; e em Romanos 8 ele diz que a lei se tornou enferma pela carne, e isto não se refere à falta de castidade, mas a todos os pecados, sobretudo a incredulidade, que é o mais espiritual de todos os vícios. Por outro lado, ele chama de espiritual alguém ocupado com os trabalhos mais externos da vida como Cristo que lavou os pés dos discípulos e Pedro que conduziu seu barco para uma pescaria. Assim o termo “carne” pode se referir a um homem que vive e trabalha, interna ou externamente, no serviço temporal; e o termo “espírito” ao homem que, interna ou externamente, vive e trabalha a serviço do Espírito e da vida futura.
Sem a compreensão destas palavras, você não entenderá esta carta de Paulo e nenhum livro das Sagradas Escrituras. Portanto, cuidado com todos os mestres que usam estas palavras num sentido diferente, não importando se esses professores sejam até mesmo Jerônimo, Agostinho, Ambrósio, Orígenes ou quaisquer outros como ou maiores que esses. Agora já podemos abrir a Epístola.
Martinho Lutero
Enviado por Silvio Dutra Alves em 15/09/2013