Legado Puritano
Quando a Piedade Tinha o Poder
Textos
Prefácio da Epístola aos Romanos por Lutero – Parte 6
Então, Paulo começa a ensinar a maneira correta pela qual os homens devem ser justificados e salvos. Ele diz que todos são pecadores e sem louvor algum da parte de Deus, mas que devem ser justificados, sem méritos, mediante a fé em Cristo, que, pelo seu sangue, comprou isso para nós, sendo oferecido como propiciação a Deus por todos os nossos pecados, provando assim que fomos ajudados somente por sua justiça, que nos concede a fé revelada no Evangelho “anteriormente testemunhado pela lei e pelos profetas”. Assim, a lei é estabelecida pela fé, embora, por isso, as obras da lei tenham caído juntamente com toda a reputação que concediam.
Após os primeiros três capítulos, no qual o pecado é revelado e o caminho da fé para a justificação é ensinado, no capítulo 4, Paulo começa a levantar algumas objeções. Primeiro, ele aponta o que todos os homens normalmente fazem quando ouvem falar de uma fé que justifica sem obras. Eles dizem: “Então os homens não fazem boas obras?” Dessa forma, ele toma o caso de Abraão e pergunta: “Então, o que alcançou Abraão com as suas boas obras? Foram todas em vão? Ele conclui que Abraão foi justificado pela fé, sem obras, e mais que isso, as próprias Escrituras, em Gênesis 15, declaram que ele foi justificado pela fé somente, mesmo antes da circuncisão. Mas se o trabalho da circuncisão em nada contribuiu para a sua justiça, embora tenha sido ordenada por Deus, sendo uma boa obra de obediência, então, certamente, nada mais poderá contribuir para a justiça. Por outro lado, se a circuncisão de Abraão foi um sinal externo pela qual ele mostrou a justiça que já era sua pela fé, então todas as boas obras são apenas sinais externos que por seus frutos mostram que o homem já foi interiormente justificado diante de Deus.
Com esta poderosa ilustração das Escrituras, Paulo estabelece a doutrina da fé que ele já havia ensinado no capítulo 3. Ele também apresenta outra testemunha, Davi, que no Salmo 32 diz que o homem é justificado sem obras, embora ele não permaneça sem obras após ter sido justificado. Assim ele dá uma ilustração mais ampla e conclui que os judeus não podem ser herdeiros de Abraão somente por questões de sangue, nem ainda por cumprirem a lei, mas, caso sejam verdadeiros herdeiros, o serão pela fé. Porque antes da lei – a de Moisés ou a da circuncisão – Abraão foi justificado pela fé e chamado o pai dos que creem; além disso, a lei opera ira em vez de graça, pois ninguém a guarda com prazer e amor, de modo que o que vem pelas obras da lei é desgraça ao invés de graça. Por isso, somente pela fé se obtém a graça prometida a Abraão, pois estes exemplos foram registrados por nossa causa a fim de que também viéssemos a crer.
Martinho Lutero
Enviado por Silvio Dutra Alves em 15/09/2013
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