A Bíblia Provada e Comprovada – Parte 2
Por Charles Haddon Spurgeon
“As palavras do SENHOR são palavras puras, como prata refinada em fornalha de barro, purificada sete vezes.” Salmo 12:6
II. Em segundo lugar, e muito cuidadosamente, considerem AS PROVAS DAS PALAVRAS DE DEUS. É dito que são como prata, que foi refinada em um forno. As palavras de Deus foram provadas pela blasfêmia, pelo ridículo, pela perseguição, pela crítica, e por observações ingênuas. Não tentarei elevar-me em oratória ao descrever as provas histórias do precioso metal da revelação divina, mas mencionarei provas de uma ordem comum que observei, e que provavelmente vocês também já o viram. Isso talvez seja mais simples, porém será mais edificante. Que o Senhor nos ajude!
Ao tratar com a obstinação do pecado, temos provado as palavras do Senhor. Existem homens que não podem ser convertidos nem persuadidos – duvidam de tudo, e cerrando os dentes, resolvem não crer, ainda que alguém lhes declare essas palavras. Estão encerrados na armadura do prejuízo, e não podem ser feridos sequer com as mais agudas flechas do argumento, ainda que professem grande abertura à convicção. Que se fará com o numeroso clã aparentado com o Sr. Obstinado? Poderiam muito bem argumentam com um trem expresso que do que com o Sr. Obstinado: ele continua , não de detêm, ainda que milhares se interponham em seu caminho. As palavras de Deus o convencerão?
Há algumas pessoas aqui, das quais eu teria dito, se os tivesse conhecido antes de sua conversão, que era uma tarefa vã pregar-lhes o Evangelho – amavam tanto o pecado, e desprezavam completamente as coisas de Deus. Estranhamente, foram dos primeiros em receber a Palavra de Deus quando escutaram seu som. Veio a eles em sua original majestade, no poder do Espírito Santo; falou com um tom de comando no mais íntimo de seus corações – abriu de par em par as portas que tinham estado fechadas por longo tempo, enferrujadas em suas dobradiças, e Jesus entrou para salvar e reinar. Esses, que tinham desafiadoramente brandido suas armas, as lançaram em terra e se renderam incondicionalmente ao amor todo poderoso, crentes dispostos no Senhor Jesus.
Irmãos, somente devemos ter fé na Palavra de Deus, pregá-la com claridade e precisão, e veremos como os rebeldes orgulhos se submetem. Nenhuma mente está tão desesperadamente pousada na maldade, tão resolutamente oposta a Cristo, que não possa ser guiada a se inclinar diante do poder das palavras de Deus. Oh, que nós usássemos mais a desnuda espada do Espírito! Temo que mantemos essa espada de dois fios em uma funda, e de alguma maneira nos orgulhamos porque a bainha dela está elaboradamente adornada. Para que serve a bainha? A espada deve desembainhar-se, e devemos pelejar com ela, sem que tentemos guarnecê-la. Proclamem as palavras de Deus. Não omitam nem os terrores do Sinai, nem as notas de amor do Calvário. Exponham a palavra com toda fidelidade, segundo seu conhecimento, e clamem pelo poder do Altíssimo, e o mais obstinado pecador fora do inferno será rendido por seu intermédio.
O Espírito Santo usa a palavra de Deus: esse é Seu único aríete com o qual derruba as fortalezas do pecado e do ego naqueles corações com que trata eficazmente. A Palavra de Deus suportará as provas que a dureza do coração natural apresentem, e demonstrará seu origem divina por meio de suas operações.
Aqui começa outra prova. Quando um homem está o suficientemente quebrantado, só percorreu uma parte do caminho. Uma nova dificuldade se levanta. As palavras do Senhor superarão à desesperação do penitente? O homem se percebe cheio de terror por causa do pecado, e o inferno começou a arder dentro de seu peito. Podem falar-lhe com amor, porém sua alma se recusa a ser consolada, até que lhes apresente as palavras do Senhor para que se confronte com elas: “Sua alma abominou ao alimento.” Diga-lhe de um Salvador agonizante: fique por um instante no tema da graça imerecida e o perdão total – diga-lhe do recebimento do filho pródigo, e do amor imutável do Pai. Ajudado pelo poder do Espírito, essas verdades devem trazer luz aos que estão assentados em trevas.
As piores formas de depressão são curadas quando se crê nas Santas Escrituras. Muitas vezes fico desconcertado, quando estou lutando com uma alma convicta de pecado, incapaz de ver a Jesus – porém, jamais abriguei nenhuma dúvida que, ao fim, as palavras do Senhor se converterão em uma copa de consolação para o coração desfalecido. Podemos estar desconcertados por um tempo, porém com as palavras do Senhor como nossas armas, o Gigante Desesperação não nos derrotará.
Oh, vocês que estão em servidão sob o temor do castigo, vocês alcançarão a liberdade: suas cadeias se romperão se aceitam as palavras de Deus. A palavra de meu Senhor pode abrir amplamente as portas da prisão: Ele rompeu as portas de bronze, e despedaçou as barras de ferro.
Deve ser uma maravilhosa palavra essa que, com uma faca de combate, esmaga o elmo da presunção, e ao mesmo tempo, como dedo de amor, toca a delicada ferida sangrante e a sara instantaneamente. As palavras do Senhor, tanto para quebrantar como para exaltar, são igualmente efetivas.
Em certas circunstâncias, as palavras do Senhor são provadas pela particularidade do que busca. Quão frequentemente algumas pessoas disseram que estavam seguras que não existia ninguém como elas em todo o mundo! Eram homens encurralados: peixes estranhos que nenhum mar podia conter. Agora, se essas palavras são certamente de Deus, serão capazes de tocar qualquer caso: de outra maneira, não. As palavras de Deus foram submetidas a essa prova, e estamos surpreendidos pela sua adaptação universal. Sempre existe um texto que se pode aplicar a cada caso, ainda que seja notável e excepcional. Em algumas circunstâncias, temos escutado de um texto estranho, relativo ao que não podíamos ver antes por que razão tinha sido escrito – no entanto, evidentemente possui uma adequação para alguma pessoa em particular, para quem veio com divina autoridade.
A Bíblia pode ser comparada com o manuseio de chaves de um chaveiro. O chaveiro usa uma a uma, e diz de alguma: “essa é uma chave estranha, certamente não se adequará a nenhuma fechadura existente!” Porém, algum dia o chaveiro será chamado para abrir uma fechadura muito peculiar. Nenhuma de suas chaves funciona. Finalmente, ele escolhe esse espécime singular. Vejam! Entra na ranhura, tira o ferrolho e permite o acesso ao tesouro. Está demonstrado que as palavras desse livro são as palavras de Deus, porque possuem uma infinita adaptação às diversas mentes que o Senhor criou. Com que coleção de chaves contamos aqui no dia de hoje. Não lhes poderia descrever todas que existem: Bramah e Chubb, e todos os demais, não poderiam ter projetado tal variedade: no entanto, estou certo que nesse volume inspirado, há uma chave que em todos os sentidos é adequada para cada fechadura.
Pessoalmente, quando tive problemas, li a Bíblia até que algum texto me pareceu sobressaír do Livro, e me saudasse, dizendo: “Fui escrito especialmente para você.” Me olhou como se a história houvesse estado na mente do escritor quando escreveu essa passagem; e de fato estava na mente desse Autor divino que está por detrás de todas essas páginas inspiradas. Assim, as palavras do Senhor aguentaram a prova de adaptação às singularidades dos homens como indivíduos.
Frequentemente nos encontramos com gente de Deus que provou as palavras de Deusem tempos de tremendas aflições. Aqui faço um apelo à experiência do povo de Deus. Perdeu ao filho amado. Por acaso não houve uma palavra do Senhor para alentá-lo? Perdeu sua propriedade: não houve uma passagem das Escrituras que o permitiu enfrentar o desastre? Tem sido caluniado: não houve uma palavra para consolá-lo? Estava enfermo e ao mesmo tempo deprimido: o Senhor não te proveu de consolo nessas circunstâncias? Não multiplicarei as perguntas: o fato é que você jamais esteve por cima sem que a Palavra de Deus não estivesse ali contigo; e jamais esteve por baixo, sem que a Escritura não estivesse ali contigo.
Nenhum filho de Deus encontrou-se alguma vez em uma vala, um buraco, uma cova ou um abismo, sem que as palavras de Deus não o encontrassem. Que frequente as promessas cheias de graça estão emboscadas para nos surpreender com suas misericórdias! Eu adoro a infinitude da bondade de Deus, segundo vejo refletida no espelho da Escritura.
A Palavra de Deus está provada e comprovada como uma guia na perplexidade. Algumas vezes não nos percebemos forçados a fazer uma pausa e declara: “Não sei o que pensar disso”? Ou: “qual é a opinião adequada?” Esse livro é um oráculo para o homem de sincero coração em sua perplexidade mental, moral e espiritual. Oh, que o usássemos mais! Tenham por certo que nunca se encontrarão em meio de um labirinto tão complicado de onde esse livro, abençoado pelo Espírito, não os possa ajudar a sair. Essa é a bússola para todos os marinheiros que navegam no mar da vida: usando ela, saberão onde encontrar o pólo. Guiem-se pelas palavras do Senhor, e terão o caminho livre.
Amados, as palavras de Deus aquentam outra prova; são nossa defesa nos tempos de tentação. Você pode escrever um livro que ajude um homem quando é tentado em certa direção; mas, por acaso, o mesmo volume o fortalecerá quando é atraído na direção oposta? Podem conceber um livro que se constitua em uma cerca que rodeie o homem em todas as direções? Que o guarde daquele abismo, e do golfo que está do outro lado? Não, no entanto, esse Livro assim o é.
O próprio diabo não pode inventar uma tentação que não possa ser enfrentada com essas páginas; e todos os diabos juntos que estão no inferno, se sustentassem um congresso, e chamassem em sua ajuda todos os homens perversos, não poderiam inventar um ardil que não se possa enfrentar com essa biblioteca de verdade sem igual. Alcança ao crente em cada condição e posição, e o preserva do mal. “Com que o jovem purificará seu caminho? Guardando Tua palavra.”
Finalmente, sobre esse ponto, aqui encontramos uma grandiosa prova do Livro: ajuda aos homens em sua morte. Creiam-me, morrer não é uma brincadeira de crianças! Vocês e eu nos encontraremos nessa solene situação antes que demos conta, e então necessitaremos de um poderoso consolo. Nada na terra me dá tanto sustento na fé, como visitar a membros dessa igreja quando estão no umbral da morte. É muito triste ver como se consomem ou como a dor os tortura – no entanto, o principal efeito que se produz no visitante é mais bem alegre do que triste.
Essa semana, vi uma irmã muito conhecida por muitos de vocês, que sofre de câncer na face, e pode, muito provavelmente, estar muito logo com seu Senhor. É uma aflição terrível, e uma pessoa não sabe o que pode ainda implicar – porém, essa paciente cheia de graça, nem murmura nem sente temor. Ninguém nesse lugar, ainda que desfrute de perfeita saúde, poderia estar mais calmo, mais tranquilo, que nossa irmã. Ela me disse com plena confiança, que viva ou morta, ela pertence ao Senhor, e que tinha radiantes desejos de estar para sempre com o Senhor. O pouco que podia dizer com sua voz era completado com toda a abundância que expressava com seus olhos, e com todo seu comportamento. Ali não havia nem excitação, nem fanatismo, nem ação alguma de medicamentos no cérebro – o que havia era uma quieta esperança do gozo eterno, docemente razoável e segura.
Irmãos, não é difícil partir desse mundo quando descansamos nesse velho e seguro Evangelho que lhes preguei durante todos esses anos. Pessoalmente eu posso, quer seja viver ou morrer, nessas verdades que lhes proclamei – e essa segurança me dá valentia quando prego.
Não faz muito tempo, eu estava sentado junto de um irmão que se aproximava de seu fim. Eu lhe perguntei: “Não tem medo da morte?” Ele me respondeu com alegria: “Me envergonharia de mim mesmo se o tivesse, depois de tudo o que aprendi de seus lábios sobre o evangelho glorioso durante todos esses anos. É uma alegria partir e estar com Cristo, o que é muito melhor.” Agora, se esse volume inspirado, com todo seu maravilhoso registro das palavras de Deus, nos ajuda nas provas da vida, nos dirige em nosso caminhar diário, e nos capacita para superar a ultima grande tormenta, certamente é precioso mais alem de toda descrição, “como prata refinada em forno de terra, purificada sete vezes.”
Charles Haddon Spurgeon
Enviado por Silvio Dutra Alves em 27/09/2013