A Bíblia Provada e Comprovada – Parte 1
Por Charles Haddon Spurgeon
“As palavras do SENHOR são palavras puras, como prata refinada em fornalha de barro, purificada sete vezes.” Salmo 12:6
Nesse Salmo, nosso texto é contrastado com o mal da época. O Salmista se queixa “porque se acabaram os piedosos – porque desapareceram os fiéis dentre os filhos dos homens”. Era uma grande aflição para ele, e não encontrou consolo exceto nas palavras do Senhor. Que importa que os homens falhem? A Palavra de Deus permanece! Que alivio é abandonar a areia da controvérsia para ir aos verdes pastos da revelação! Tal pessoa sente o que Noé sentiu, quando, fechado na arca, já não viu mais a morte e desolação que reinava fora. Viva em comunhão com a Palavra de Deus, e então, ainda que não tenha amigos cristãos, não te faltará companhia.
E mais, o versículo apresenta ainda um contraste maior com as palavras dos iníquos quando se rebelam contra Deus e oprimem Seu povo. Eles diziam: “Por nossa língua prevaleceremos – nossos lábios são nossos – quem é senhor de nós?” se jactavam, tiranizavam, ameaçavam. O Salmista se afastou da voz do jactancioso e acudiu às palavras do Senhor. Viu a promessa, o preceito, e a doutrina da verdade pura, e esses lhe consolaram, enquanto os demais falavam pura vaidade cada um com seu vizinho. Ele não tinha tantas palavras do Senhor como as que possuímos agora: porém, o que ele tinha feito seu por meio da meditação, o valorizava acima de ouro mais valioso. Na boa companhia daqueles que tinham falado sob a direção divina, era capaz de suportar as ameaças dos que o rodeavam.
Assim, querido amigo, se em algum momento lhe corresponde estar em um lugar onde as verdades que você tanto ama são desprezadas, regresse aos profetas e aos apóstolos, escute através deles o que o Senhor Deus falará. As vozes da terra estão repletas de falsidade, mas a palavra do céu é limpíssima. Há uma boa lição prática na posição do texto – aprendam-na bem. Façam da Palavra de Deus sua companhia diária, e então, qualquer coisa que pudesse prejudicá-los na falsa doutrina da hora, não os conduzirá a um abatimento muito profundo; pois as palavras do Senhor sustentarão o espírito.
Olhando o texto, não lhes impacta como uma maravilhosa condescendência que Jeová, o Infinito, decida utilizar palavras? Em Sua sabedoria, Ele estabeleceu essa maneira de comunicação de uns com os outros – porém, quanto a Ele mesmo, que é O espírito puro e ilimitado, comprimirá Seus gloriosos pensamentos em um estreito canal de som, ouvido e nervo? Deve a mente eterna usar palavras humanas? O glorioso Jeová falou mundos. Os céus e terra foram expressões de Seus lábios. Quanto a Ele, parece mais de acordo com Sua natureza falar tempestades e trovões do que inclinar-se às humildes vogais e consoantes de uma criatura do pó. Ele se comunicará verdadeiramente com o homem à própria maneira do homem? Sim, O condescendente a falar-nos utilizando palavras!
Nós bendizemos ao Senhor pela inspiração verbal, da que podemos dizer: “Guardei as palavras de sua boca mais que minha comida.” Não conheço nenhuma outra inspiração, nem sou capaz de conceber alguma que possa ser de verdadeiro serviço para nós. Necessitamos de uma revelação clara sobre a que possamos exercitar a fé. Se o Senhor nos houvera falado por um método cujo significado fosse infalível, mas Suas palavras fossem questionáveis, não teríamos sido edificados, mas antes, confundidos – pois certamente é uma árdua tarefa extrair o verdadeiro sentido de palavras ambíguas. Teríamos sempre o temor de que o profeta ou o apóstolo não nos tivesse dado, depois de tudo, o sentido divino: é fácil ouvir e repetir palavras – porém, não é fácil expressar o que outro quer dizer, com palavras próprias perfeitamente independentes: o significado se evapora com facilidade.
Porém, nós cremos que os homens santos de outrora, ainda que usaram sua própria linguagem, eram guiados pelo Espírito Santo para usar palavras que também eram palavras de Deus. O Espírito divino operava de tal forma no espírito do escritor inspirado, que ele escrevia as palavras do Senhor, portanto, apreciava cada uma delas. Para nós “toda Palavras de Deus é pura”, e também cheia de nutrição para a alma. “Não só de pão viverá o homem, mas de toda palavras que sai da boca de Deus.” (Mateus 4:4) Nós podemos declarar de todo coração com o Salmista, “eu disse que observaria as tuas palavras. (Salmos 119:57)”
Nosso condescendente Deus se agrada tanto de comunicar-se conosco com palavras, que se dignou em chamar a Seu Unigênito de “O Verbo” (João 1:1) “E aquele Verbo foi feito carne, e habitou entre nós.” (João 1:14) O Senhor usa palavras, não com repugnância, mas sim com prazer – e quer que nós as tenhamos também em alto conceito, como foi dito a Israel por meio de Moisés “Portanto, colocarei essas minhas palavras em vosso coração e em vossa alma.” (Deuteronômio 11:18)
Cremos que temos as palavras de Deus preservadas para nós nas Escrituras. Estamos sumamente agradecidos de que isso seja assim. Se não tivéssemos as palavras do Senhor assim registradas, teríamos sentido que vivíamos em um tempo mal, pois nem voz nem oráculo se escutam hoje. Repito que teríamos caído em dias maus se as palavras que Deus falou desde tempos antigos não se tivessem sido registradas sob Sua supervisão. Com esse Livro diante de nós, o que o Senhor falou faz dois mil anos, virtualmente o fala agora: pois “não retirará Suas palavras” (Isaias 31:2).
Sua palavra permanece para sempre, pois foi falada, não para uma ocasião, mas sim para todas as eras. A Palavra do Senhor é tão afinada com a vida e a frescura eterna, que é muito vocal e poderosa no coração do santo de hoje como foi para o ouvido de Abraão quando a escutou em Canaã – ou para a mente de Moisés no deserto – ou quando Davi a cantava acompanhado de sua harpa.
Dou graças a Deus porque muitos de nós sabemos o que é ouvir a palavra divina falada de novo em nossas almas! Pelo Espírito Santo, as palavras da Escritura veem a nós com uma inspiração presente: o Livro não somente foi inspirado, é inspirado. Esse Livro é mais que tinta e papel; fala conosco. Acaso não foi essa a promessa: “Falarão contigo quando despertes”?
Abrimos o Livro com essa oração, “Fala Senhor, porque teu servo ouve”, e frequentemente o fechamos com esse sentimento: “Eis me aqui, para que me hás chamado?” Sentimos como se a promessa não tivesse sido feita em tempos antigos, antes que está sendo agora mesmo pronunciada pela primeira vez desde a glória excelsa. O Senhor fez que a Santa Escritura fosse Sua palavra direta para nosso coração e para nossa consciência. Não digo isso por todos, porém posso falar com certeza de muitas pessoas aqui presentes. Que o Espírito Santo lhes fale outra vez nesse momento!
Ao tratar de explicar meu texto, consideraremos três pontos. Primeiro, a qualidade das palavras de Deus: “As palavras do SENHOR são palavras puras” – em segundo lugar, as provas das palavras de Deus: “Como prata refinada em forno de terra, purificada sete vezes” – e depois, em terceiro lugar, as demandas dessas palavras derivadas de sua limpeza e de todas as provas que elas experimentaram. Espírito eterno, ajude-me a falar corretamente no consoante a tua própria palavra, e ajuda-nos a sentir corretamente enquanto escutamos.
I. Primeiro, queridos amigos, considerem A QUALIDADE DAS PALAVRAS DE DEUS: “As palavras do SENHOR são palavras puras.”
Desse enunciado eu deduzo, primeiro, a uniformidade de seu caráter. Não se faz nenhuma exceção a nenhuma das palavras de Deus, mas sim que todas elas são descritas como “palavras puras.” Não todas são do mesmo caráter – algumas são para ensino, outras são para consolar, e outras para corrigir – porém, por certo são de um caráter uniforme de tal maneira que todas são “palavras puras.”
Eu concebo que é um mau hábito ter preferências em relação à Sagrada Escritura. Devemos preservar esse volume como um todo. Aqueles que se deleitam com textos doutrinários, mas omitem a consideração de passagens práticas, pecam contra a Escritura. Se pregamos doutrina, eles clamam: “Que doce!” Querem escutar sobre o amor eterno, a graça imerecida, e o propósito divino; e me alegra que assim o queiram. A tais eu lhes digo: comam da grossura e bebam da doçura; e se alegrem porque há ossos cheios de medula nesse Livro. Porém, recordem que homens de Deus, em tempos antigos, se deleitavam grandemente nos mandamentos do Senhor. Sentiam muito respeito pelos preceitos de Jeová, e amavam Sua lei. Se alguém dá as costas e recusa a ouvir sobre os deveres e ordenanças, temo que ela não ama a Palavra de Deus em seu todo. Quem não ama em sua totalidade, não a ama de todo.
Por outro lado, os que se deleitam com a pregação de deveres, mas não dão importância às doutrinas da graça, estão igualmente equivocados. Eles dizem: “valeu a pena escutar esse sermão, pois tem que ver com a vida diária.” Me agrada muito que pensem assim – porém, se, ao mesmo tempo, rejeitam outros ensinos do Senhor, vocês possuem serias falhas. Jesus disse: “O que é de Deus, ouve as palavras de Deus.” Temo que, se consideram que uma porção das palavras do Senhor são indignas de sua consideração, não são de Deus. Amados irmãos, nós valorizamos as palavras do Senhor em toda sua extensão. Não deixamos de lado as histórias, como tampouco as promessas.
“Vou ler as histórias de Teu amor,
E guardar Tuas leis à vista,
Entanto irei recorrer todas as promessas
Com um deleite sempre repleto de frescor.”
Sobre tudo, não caia na blasfêmia de alguns, que consideram o Novo Testamento grandemente superior ao Antigo. Não desejaria errar afirmando que no Antigo Testamento encontrarão maiores barras de ouro que no Novo, pois dessa maneira cairia eu mesmo no mal que condeno – porém, isso direi: que são de igual autoridade, e que projetam tal luz um ao outro, que não poderíamos passar por alto a nenhum dos dois. “Portanto, o que Deus juntou, não o separe o homem.” Em todo o Livro, desde Gênesis até o Apocalipse, encontram-se as palavras de Jeová e sempre serão palavras puras.
Tampouco, é correto que alguém diga: “Assim falou o próprio Cristo; porém tal e tal ensino é de Paulo.” Não, não é de Paulo; se está registrada aqui, é do Espírito Santo. Seja que o Espírito tenha falado por Isaías, ou Jeremias, ou João, ou Tiago, ou Paulo, a autoridade é sempre a mesma. Ainda no relativo a Jesus Cristo nosso Senhor, isso é certo – pois Ele mesmo diz de Si: “A palavra que ouviram não é minha, mas sim do Pai que me enviou.” Nesse assunto, Ele se coloca no mesmo nível de outros que atuaram como a boca de Deus. Além disso, diz: “Porque eu não falei por minha própria conta; o Pai que me enviou, Ele me deu mandamento de o que hei de dizer, e do que hei de falar.”
Nós aceitamos as palavras dos apóstolos como palavras do Senhor, recordando o que João disse: “Nós somos de Deus; aquele que conhece a Deus ouve-nos; aquele que não é de Deus não nos ouve. Nisto conhecemos o espírito da verdade e o espírito do erro.” (1 João 4:6) Assim, um juízo solene é pronunciado sobre os que querem colocar o Espírito de Jesus contra o Espírito que habitou nos apóstolos. As palavras do Senhor não se percebem afetadas em seu valor pelo meio através das quais vieram. Toda a verdade revelada é da mesma qualidade, ainda quando algumas de suas porções não possuem o mesmo peso metálico.
Guiando-nos pelo texto, em continuação observamos a pureza das palavras do Senhor: “as palavras do Senhor são palavras puras”. No comércio existem diferentes tipos de prata, como vocês sabem: prata impura e prata livre de metais inferiores. A Palavra de Deus é prata sem escória; é como prata que foi purificada sete vezes em um crisol de terra no forno, até ter sido despojada de toda partícula sem valor: é prata absolutamente limpa. Jesus disse: “Tua palavra é a verdade.” (João 17)
É verdade revestida de bondade, sem mescla de mal. Os mandamentos do Senhor são justos e retos. Temos escutado ocasionalmente alguns oponentes que censuram certas expressões toscas utilizadas na tradução que possuímos do Antigo Testamento – porém, a rudeza dos tradutores não deve ser atribuída ao Espírito Santo, mas sim ao fato de que a força do idioma inglês mudou, e algumas expressões que eram muito utilizadas em um determinado período se converteram muito grosseiras em outros períodos. No entanto, irei afirmar isso: que jamais conheci uma só pessoa a quem as palavras de Deus, por si mesmas, lhe sugeriram algo mau. Escutei que se disseram muitas coisas terríveis, mas nunca me encontrei com nenhum caso no que alguém tenha sido conduzido a pecar por uma passagem da Escritura.
As perversões são possíveis e prováveis; porém, o Livro mesmo é eminentemente puro. Detalham-se atos de crassa criminalidade, mas não deixam na mente uma impressão que a lesione. A mais triste história da Santa Escritura é um farol, e jamais uma armadilha. Esse é o Livro mais limpo, mais claro, mais puro, que existe entre os homens – e mais, não se deve listar juntamente com os fabulosos registros que passam por livros santos. Vem de Deus e cada palavra é limpa.
É também um livro puro no sentido de verdade, sendo sem mistura de erro. Não duvido em dizer que eu creio que não há nenhum erro no original das Sagradas Escrituras, de princípio a fim. Pode ter, e há, erros nas traduções, pois os tradutores não são inspirados; mas, inclusive nos fatos históricos estão corretos. A dúvida foi lançada sobre elas aqui e ali, e algumas vezes com grande demonstração de razão: dúvida que foi impossível de responder por algum tempo, porém tão somente deem suficiente espaço, e suficiente investigação, e as pedras sepultadas na terra gritarão para confirmar cada letra da Escritura.
Velhos manuscritos, moedas e inscrições, estão do lado do Livro, e contra ele não há nada, somente teorias, e o fato de que muitos eventos na história não possuem outro registro fora do que a própria Bíblia nos ministra. O Livro esteve recentemente no forno da crítica – pois, muito desse forno se esfriou devido que a mesma critica é depreciada. “As palavras do Senhor são palavras puras”: não há nenhum erro de nenhum tipo em toda sua extensão. Essas palavras proveem Daquele que não pode cometer erros, e que não pode ter o desejo de enganar a Suas criaturas.
Se eu não cresse na infalibilidade do Livro, preferiria não contar com ele. Se eu fosse julgar o Livro, ele não seria meu juiz. Se fosse a cirandá-lo, como o monte de grãos a ser sacudido, e fizesse isso de um lado e somente aceitasse aquilo outro, de conformidade a meu próprio juízo, então não teria nenhum guia, a menos que fosse o suficientemente arrogante para confiar em meu próprio coração.
A nova teoria nega infalibilidade às palavras de Deus, porém praticamente a concede aos juízos dos homens: pelo menos, essa é toda a infalibilidade que podem conceber. Eu protesto que prefiro arriscar minha alma com uma guia inspirada do céu, do que com lideres que discutem e que se levantam ao chamado do “pensamento moderno.”
Além disso, esse Livro é puro no sentido de confiabilidade: não possui em suas promessas nenhuma mistura de falhas. Observem isso. Nenhuma pregação da Escritura tem falhado. Nenhuma promessa que Deus tenha dado, resultará ser mero falatório. “Ele disse, e não fará?” Tomem a promessa como o Senhor a deu, e a encontrarão fiel a cada jota e til dela. Alguns de nós não temos o direito de sermos chamados “velhos e de cabelos grisalhos”, ainda que os grisalhos sejam bastante notáveis em nossas cabeças – porém até esse ponto temos crido nas promessas de Deus, as provamos e comprovamos; e, qual é nosso veredicto? Dou solene testemunho que não vi uma só palavra do Senhor cair em terra.
O cumprimento de uma promessa foi algumas vezes demorado mais que o período que minha impaciência teria desejado – porém, a promessa se cumpriu no momento preciso, não unicamente ao ouvido, mas também em obra e em verdade. Você pode apoiar todo seu peso sobre qualquer das palavras de Deus, e elas lhe sustentarão. Em sua hora mais escura, você pode estar desprovido de velas, mas se contar com uma só promessa, no entanto, essa luz solitária converterá sua meia-noite em um brilhante meio-dia. Glória seja dada a Seu nome, as palavras do Senhor são sem maldade, sem erro e sem falhas.
Ainda mais, sob esse primeiro ponto, o texto não fala unicamente do caráter uniforme das palavras de Deus, e de sua pureza, mas sim de sua preciosidade. Davi as compara com prata refinada, e a prata é um metal precioso: em outros lugares ele comparou essas palavras com ouro puro. As palavras do Senhor poderiam ter parecido comparáveis ao papel moeda, tais como nossos cheques – mas não, são o metal mesmo. Eu me lembro da época quando um amigo nosso sempre ia aos condados ocidentais, de uma fazenda para outra, para comprar queijo, e tinha o hábito de carregar muitas moedas, pois tinha descoberto que os granjeiros desse período não aceitavam cheques, e nem mesmo queria olhar para eles – porém, estavam propícios em vender o produto quando viam que lhes seria pago em metal, até o último centavo.
Nas palavras de Deus você possui o sólido dinheiro da verdade: não é ficção, mas sim a substância da verdade. As palavras de Deus são como barras de ouro. Quando você as possui manejadas pela fé, possui a substância das coisas esperadas. A fé encontra na promessa de Deus a realidade do que busca: a promessa de Deus é tão boa como seu próprio cumprimento. As palavras de Deus, sejam elas de doutrinas, ou de prática, ou de consolo, são de sólido metal para o homem de Deus que sabe como colocá-las no bolso pela fé pessoal.
Da mesma maneira que nós usamos a prata em muitos artigos de nossos lares, assim usamos a Palavra de Deus na vida diária; tem mil usos. Da mesma forma que a prata é a moeda corrente do comerciante, assim são as promessas de Deus moeda corrente tanto para o céu como na terra: nós tratamos com Deus por Suas promessas, e assim Ele trata conosco.
Como os homens e as mulheres se enfeitam com prata como um ornamento, assim são as palavras do Senhor nossas jóias e nossa glória. As promessas são coisas belas que são um gozo para sempre. Quando amamos a Palavra de Deus, e a guardamos, a beleza da santidade está em nós. Essa é um verdadeiro ornamento do caráter e da vida, e a recebemos com um dom de amor do Esposo de nossas almas.
Amados irmãos, não preciso engrandecer em sua presença a preciosidade da Palavra de Deus. Muitos de vocês a valorizaram por longo tempo, e provaram seu valor. Li recentemente sobre uma cristã alemã que estava acostumada a marcar sua Bíblia sempre que encontrava uma passagem que era especialmente preciosa para ela – porém, aproximando-se do final de sua vida, deixou de fazer isso, pois disse: “eu acho sem necessidade – pois as Escrituras inteiras se converteram agora em algo muito precioso para mim.” Para alguns de nós o inapreciável volume está marcado de principio à fim por nossa experiência. É todo precioso, totalmente precioso:
“Não há tesouros que enriqueçam assim a mente,
Nem Tua palavra será vendida
Por carregamentos de prata bem refinada,
Nem por montanhas do ouro mais escolhido.”
Ainda, esse texto nos apresenta, são somente a pureza e a preciosidade das palavras do Senhor, mas também a permanência delas. São como prata que suportou as chamas mais ferventes. Verdadeiramente, a Palavra de Deus tem suportado o fogo por longas eras – e o fogo aplicado em suas formas mais ferinas: “refinada em forno de terra,” quer dizer, nesse forno que os refinadores consideram como seu último recurso. Se o diabo tivesse tido a possibilidade de destruir a Bíblia, teria trago os mais incandescentes carvões do inferno. Ele não foi capaz de destruir uma só linha: a prata era colocada em um crisol de terra, para que o fogo pudesse alcançá-la completamente. O refinador está muito seguro de empregar seu calor da melhor maneira conhecida por ele, com o objetivo de derreter a escória – de igual maneira, homens com habilidade diabólica se esforçam por destruir as palavras de Deus, mediante a mais astuta censura. O objetivo deles não é a purificação; e a pureza das Escrituras que os incomoda, e têm por meta destruir o testemunho divino. Seu trabalho é em vão; pois o Livro sagrado todavia permanece como sempre foi, as palavras puras do Senhor; porém, algumas de nossas falsas concepções de seu significado felizmente pereceram em suas chamas.
As palavras do Senhor foram provadas frequentemente, ai, e foram provadas perfeitamente: “Purificada sete vezes.” Quanto falta ainda, não posso adivinhar, mas certamente os processos já foram muitos e severos. Porém, permanece sem mudanças. O consolo de nossos pais é nosso consolo. As palavras que animaram nossa juventude são nosso apoio na idade adulta. “Seca-se a erva, murcha a flor; mas a palavra de nosso Deus permanece para sempre.”
Essas palavras de Deus são um fundamento firme, e nossas esperanças eternas estão sabiamente construídas sobre ele. Não podemos permitir que ninguém nos despoje dessa base de esperança. Em tempos antigos, os homens eram queimados antes que deixassem de ler suas Bíblias; nós suportamos oposições menos brutais, mas que são muito mais sutis e difíceis de resistir. Deixemos-nos guiar sempre por essas palavras eternas, porque elas sempre estarão conosco.
As palavras do Sempre Bendito são sem mudanças e invariáveis. São como prata sem escória, que permanecerá de era em era. Isso é o que cremos, e nisso nos regozijamos. E não é uma carga sobre nossa fé crer na permanência da Santa Escritura, pois essas palavras foram faladas por aquele que é o Onisciente, e tudo o sabe; portanto, não pode haver erros nelas. Foram ditas por quem é Onipotente, e pode fazer tudo; portanto, Suas palavras se cumprirão. Foram pronunciadas por quem é Imutável, e, portanto, essas palavras não sofrerão jamais alteração alguma. As palavras que Deus falou a milhares de anos são verdades nessa hora, pois procedem de quem é o mesmo ontem, hoje e eternamente. Quem falou essas palavras é infalível, portanto, as palavras são infalíveis. Quando Ele errou alguma vez? Poderia cometer erros e, no entanto, ser Deus? “Ele disse, e não o fará? Falou, e não executará?” Estejam seguros disso: “As palavras do Senhor são palavras puras.”
Porém, o tempo me pressiona para passar para o seguinte ponto.
Charles Haddon Spurgeon
Enviado por Silvio Dutra Alves em 27/09/2013