Legado Puritano
Quando a Piedade Tinha o Poder
Textos
A Ressurreição dos Mortos – Parte 2
Por Charles Haddon Spurgeon

“Há de haver ressurreição dos mortos, tanto dos justos como dos injustos” Atos 24:15.

Chego agora a alguns pensamentos práticos derivados desta doutrina, antes de passar a outras considerações.

Irmãos meus, que pensamentos de consolo há nesta doutrina, que afirma que os mortos ressuscitarão de novo. Alguns de nós estivemos parados junto à sepultura esta semana; e um de nossos irmãos, que serviu amplamente a seu Senhor em nosso meio, foi colocado no sepulcro. Ele foi um homem valente pela verdade, incansável nos trabalhos, abnegado no dever, e sempre preparado a seguir a seu Senhor – se trata do senhor Turner, da escola Lamb & Flag[3] –  e na máxima medida de sua capacidade, foi serviçal para a igreja. Agora, ali se viram algumas lágrimas derramadas: sabem a quê se deviam? Não houve uma só lágrima solitária que tenha sido derramada por sua alma. Não tivemos que recorrer à doutrina da imortalidade da alma para que nos desse consolo, pois a conhecíamos bem, estávamos perfeitamente seguros de que havia ascendido ao céu. O Serviço Funerário utilizado na Igreja da Inglaterra não nos oferece nenhum consolo relativo à alma do crente que partiu, e isso é sábio de sua parte[4], posto que está na bem-aventurança, senão que nos alenta recordando-nos a ressurreição prometida para o corpo; e quando falo em relação aos mortos, não é para dar consolo enquanto à alma, senão enquanto ao corpo. E esta doutrina da ressurreição tem consolo para os duvidosos em relação à mortalidade enterrada. Vocês não choram porque seu pai, irmão, esposa, esposo, tenha ascendido ao céu: seriam cruéis se chorassem por isso. Nenhum de vocês chora porque sua amada mãe está diante do trono, senão choram porque seu corpo está na sepultura, porque esses olhos já não podem sorrir-lhes, porque essas mãos não podem acariciar-lhes, porque esses doces lábios não podem pronunciar melodiosas notas de afeto. Choram porque o corpo está frio, e morto, semelhante ao barro. Vocês não choram pela alma.

Mas eu tenho um consolo para vocês. Esse mesmo corpo ressuscitará de novo; esse olho cintilará com força de novo; essa mão será estendida com afeto mais uma vez. Creiam-me, não estou dizendo-lhes nenhuma ficção. Essa mesma mão, essa mão real, esses braços frios, semelhantes ao barro, que penduram pelo lado e se caem ao ser levantados por vocês, sustentarão uma harpa um dia; e esses pobres dedos, agora gelados e duros, serão agitados ao longo das cordas vivas das harpas de ouro no céu. Sim, vocês verão esse corpo uma vez mais.

“Seus pecados inatos requerem
Que sua carne veja o pó,
Mas assim como o Senhor seu Salvador ressuscitou,
Assim hão de fazê-lo Seus seguidores”.

Isso não secará suas lágrimas? “Não está morto, senão que dorme”. Não está perdido, senão que é “semente semeada para que amadureça para a colheita”. Seu corpo está descansando por pouco tempo, banhando-se em especiarias, para que seja apto para os abraços de seu Senhor.

E aqui há consolo para vocês também, para vocês, pobres sofredores, que sofrem em seus corpos. Alguns de vocês são quase mártires que experimentam dores de um tipo ou de outro: dores lombares, gota, reumatismos, e todo tipo de tristes situações das que a carne é herdeira. Escassamente transcorre um dia sem que sejam atormentados com um sofrimento de algum tipo ou outro; e se não fossem o suficientemente néscios para estar auto receitando-se sempre, poderiam ter a cada momento ao doutor de visita na sua casa.

Aqui há consolo para vocês. Esse seu pobre corpo em ruínas viverá outra vez sem suas dores, sem suas agonias; esse pobre andaime trêmulo receberá o reembolso de tudo o que tem sofrido. Ah! Pobre escravo negro, cada cicatriz sobre suas costas terá uma franja de honra  no céu. Ah! Pobre mártir, a crepitação de teus ossos no fogo lhe recompensará alguns sonetos na glória; todos os teus sofrimentos serão bem pagos pela felicidade que experimentarás além. Não tema sofrer no corpo, porque seu corpo participará um dia de seus deleites. Cada nervo se estremecerá de gozo, cada músculo se moverá pela bem-aventurança; seus olhos brilharão com o fogo da eternidade; seu coração palpitará e pulsará com bem-aventurança imortal; sua estrutura será o canal de beatitude; o corpo que agora é com frequência um copo de absinto, será um recipiente de mel, esse corpo que é por vezes um favo do qual se destila fel, será um favo de bem-aventurança para você. Recebam consolo, então, vocês que sofrem, que definham desfalecidos no leito: não tenham medo, pois seus corpos viverão.

Mas quero extrair do texto uma palavra de instrução em relação à doutrina do reconhecimento. Muitos se perguntam perplexos se reconhecerão a seus amigos no céu. Bem, agora, se os corpos ressuscitarão dos mortos, não vejo razão alguma para que não os reconheçamos. Creio que conhecerei a alguns de meus irmãos, incluso por seus espíritos, pois conheço muito bem seu caráter, tendo falado com eles das coisas de Jesus, e conhecendo muito bem as partes mais proeminentes de seu caráter.

Mas também verei seus corpos. Sempre considerarei como um golpe contundente, a resposta à pergunta da Sr. Ryland do velho John Ryland. “Pensas que me conhecerás no céu”? “Vamos” – lhe respondeu – “te conheço aqui; e crês que serei mais insensato no céu do que sou na terra?”A pergunta está fora de toda disputa. Viveremos no céu com corpos, e isso decide o assunto. Iremos nos reconhecer uns aos outros no céu; podem tomar isso como um fato real, e não como uma simples fantasia.

Mas agora teremos uma palavra de advertência, e então haverei concluído com esta parte do meu tema. Se seus corpos habitarão no céu, lhes suplico que cuidem deles. Não me refiro a que tenham cuidado com o que comem e bebem, e com o que se vestirão, senão que refiro a que tenham cuidado de que seus corpos não sejam contaminados pelo pecado. Se essa garganta cantará para sempre os cânticos de glória, não permitam que palavras de impudência a sujem. Se esses olhos verão ao Rei em Sua formosura, então essa será sua oração: “Aparta meus olhos, que não vejam a vaidade”. Se essas mãos sustentarão uma rama de palma, oh, então nunca receberão o suborno, nunca buscarão o mal. Se esses pés caminharão pelas ruas de ouro, então não deverão ser ligeiros para a maldade. Se essa língua falará para sempre de tudo o que Ele disse e fez, então não expressará coisas superficiais e frívolas. E se esse coração palpitará para sempre com bem-aventurança, lhes suplico que não o entreguem a estranhos; tampouco lhe permitam extraviar-se para o mal. Se este corpo viverá para sempre, que cuidado temos que lhe dar, pois nossos corpos são templos do Espírito Santo, e são membros do Senhor Jesus.

Agora, crerão nesta doutrina ou não? Se não creem, estão excomungados da fé. Essa é a fé do Evangelho; e se não creem nela, todavia não receberam o Evangelho. “Se Cristo não ressuscitou, vossa fé é vã; ainda estais em vossos pecados”. Os mortos em Cristo vão ressuscitar, e ressuscitarão primeiro.

II. Mas agora chegamos à RESSURREIÇÃO DOS ÍMPIOS. Ressuscitarão os ímpios também? Aqui temos um ponto de controvérsia. Agora terei que dizer coisas duras: poderia detê-los um pouco, mas lhe peço que me escutem com atenção. Sim, os ímpios ressuscitarão.

A primeira prova nos é proporcionada na segunda Epístola aos Coríntios, 5:10: “É necessário que todos nós compareçamos ante o tribunal de Cristo, para que cada um receba seguindo o que tenha feito enquanto estava no corpo, seja bom ou seja mal”. Agora, posto que todos temos que comparecer, os ímpios comparecerão, e receberão segundo o que tenham feito no corpo. Como o corpo peca, é natural que o corpo seja castigado. Seria injusto castigar a alma e não o corpo, pois o corpo esteve tão envolvido com o pecado como esteve a alma em todo momento.

Mas em qualquer lugar que vou agora ouço que se afirma: “Os ministros em tempos antigos eram propensos a dizer que havia fogo no inferno para nossos corpos, mas não é assim; é um fogo metafórico, um fogo imaginário”. Ah! Não é assim. Receberão as coisas feitas em seu corpo. Ainda que suas almas tenham de ser castigadas, seus corpos também serão castigados. Vocês que são sensuais e diabólicos, não se preocupam de que suas almas sejam castigadas, porque nunca pensam acerca de suas almas, mas se eu lhes falo de um castigo para o corpo, pensarão muito mais nele. Cristo disse que a alma será castigada, mas descreveu com maior frequência ao corpo em aflição para impressionar aos Seus ouvintes, pois sabia que eram sensuais e diabólicos, e que nada que não afetasse o corpo os tocaria no mínimo detalhe. “É necessário que todos nós compareçamos ante o tribunal de Cristo, para que cada um receba segundo o que tenha feito enquanto estava no corpo, seja bom ou seja mal”.

Mas este não é o único texto que demonstra a doutrina, e lhes darei um que é melhor: Mateus 5:29: “Se teu olho direito te faz tropeçar, arranca-o e lança-o fora de ti; pois te é melhor que se perca um dos teus membros, e não que todo o teu corpo seja lançado ao inferno”. Não diz: “que toda a tua alma”, senão “todo o teu corpo”. Amigo, isto não diz que sua alma estará no inferno – isso é afirmado muitas vezes – senão que declara afirmativamente que seu corpo estará. Esse mesmo corpo que agora está parado no corredor, ou sentado no banco, se chegar a morrer sem Cristo, arderá para sempre nas chamas do inferno. Não é uma fantasia do homem, senão uma verdade que sua carne material e seu sangue, e esses próprios ossos sofrerão: “todo o teu corpo seja lançado no inferno”.

Mas se uma prova não te satisfaz, escute outra extraída do mesmo Evangelho, capítulo 10:28: “Não temais aos que matam o corpo, mas a alma não podem matar; temei antes ao que pode destruir a alma e o corpo no inferno”. O inferno será um lugar para corpos assim como para almas. Tal como observei, sempre que Cristo fala do inferno e do estado perdido dos ímpios, fala em todo momento de seus corpos; escassamente o encontram dizendo algo acerca de suas almas. Ele disse: “Onde o verme deles não morre”, que é uma figura de um sofrimento físico: o verme que tortura para sempre o íntimo do coração, como um câncer dentro da própria alma.

Ele fala do “fogo que não pode ser apagado”. Agora, não comecem a dizer-me que se trata de um fogo metafórico: a quem lhe importa isso? Se um homem me ameaçasse em dar-me um golpe metafórico na cabeça, pouco me preocuparia a respeito; seria bem-vindo para que me desse os golpes que quisesse. E que dizem os ímpios? “A nós não nos importam os fogos metafóricos”. Mas, amigo, são reais, sim, tão reais como você mesmo. Há um fogo real no inferno, tão certo como agora tens um corpo real, há um fogo exatamente igual em tudo ao que temos na terra, exceto nisso: que não se consumirá, ainda que lhe torturará.

Você já viu ao amianto quando está vermelho vivo dentro do fogo, mas quando o tiras, não se consumiu. De igual maneira seu corpo será preparado por Deus de tal maneira que arderá para sempre sem ser consumido; estará metido, não como você considera, em um fogo metafórico, senão em uma chama real. Tinha em mente nosso Salvador uma ficção quando disse que lançaria corpo e alma no inferno? Para que haveria um abismo se não houvesse corpos? Por quê o fogo, por quê as cadeias, se os corpos não fossem estar ali? Pode tocar o fogo à alma? Pode o abismo encerrar aos espíritos? Podem as cadeias atar às almas? Não, o abismo, o fogo e as cadeias são para os corpos, e os corpos estarão ali. Você dormirá no pó por pouco tempo.

Quando morra, sua alma será atormentada sozinha, isso será um inferno para ela, mas no dia do juízo seu corpo se unirá à sua alma, e então terá infernos gêmeos, corpo e alma estarão juntas, ambos repletos de dor, tua alma suando gostas de sangue pelos poros mais íntimos e teu corpo coberto de agonia da cabeça aos pés, consciência, juízo, memória, todos sendo torturados, ainda mais: sua cabeça sendo atormentada por dores dilacerantes, seus olhos saltando de suas órbitas com sangue e dor, seus ouvidos sendo atormentados com:

“Melancólicos gemidos e lamentos profundos.
E alaridos de torturados espíritos”.

Seu coração palpitará precipitadamente pela febre; seu pulso se agitará em agonia à uma enorme velocidade, seus membros crepitarão no fogo como o dos mártires, mas não arderão; você mesmo, colocado em um recipiente de azeite fervente, estará dolorido, mas permanecerás sendo indestrutível, todas as suas veias se converterão em uma senda que será recorrida pelos pés ardentes da dor, cada nervo será uma corda sobre a qual o diabo tocará para sempre sua diabólica melodia do “Lamento Inarrável do Inferno”, tua alma doerá eternamente e para sempre, e seu corpo palpitará ao uníssono com sua alma.

Ficções, senhor! De novo o digo: não são ficções, e vive Deus que se trata de uma verdade sólida e severa. Se Deus é veraz, e esta Bíblia é verdadeira, o que tenho dito é a verdade, e descobrirão algum dia que assim é.

Mas agora devo ter um pequeno raciocínio com os ímpios sobre um ou dois pontos. Primeiro, argumentarei com aqueles de vocês que estão muito orgulhosos de seus atrativos corpos, e que se arrumam com excelentes ornamentos, e se tornam gloriosos em suas roupas. Há alguns de vocês que não têm tempo para a oração, mas têm tempo suficiente para escovar seus cabelos por toda uma eternidade; não têm tempo para dobrar seus joelhos, mas têm tempo abundante para tratar de parecer prontos e grandiosos. Ah, fina dama, tu que cuidas teu rosto muito bem maquiado! Lembra-te que do que alguém disse na antiguidade quando alçou uma caveira para contempla-la:

“Digam a ela, que ainda que se cubra
com uma polegada de pintura,
A esta pele há de chegar ao fim”.

E algo pior que isso: esse belo rosto será marcado com as garras dos demônios, e esse formoso corpo será unicamente o instrumento de tormento. Ah! Veste-se para o verme, altivo cavalheiro; se unja para as rasteiras criaturas do sepulcro; e ainda pior, venha ao inferno com seu cabelo empavonado: “Um cavalheiro no inferno”, descende ao abismo com teus preciosos vestidos, senhor meu, vá além, para encontrar-se não mais alto que os demais, exceto talvez por uma tortura maior, e submergido mais profundamente nas chamas.

Ai, Já não nos convém desperdiçar aqui tanto tempo nas coisas menores, quando há tanto por fazer, e tão pouco tempo para fazê-lo, no que está relacionado à salvação das almas dos homens. Oh Deus, nosso Deus, livra aos homens de celebrar e de dar prazer aos seus corpos, quando somente estão engordando-os para o matadouro, e alimentando-os para que sejam devorados nas chamas.

Ademais, ouçam-me quando digo que estão gratificando às suas concupiscências: sabem que esses corpos cujas lascívias gratificamos aqui, estarão no inferno, e que terão as mesmas concupiscências no inferno que as que têm aqui? O libertino se apressa em dar prazer a seu corpo no que deseja, poderá fazer isso no inferno? Poderá encontrar um lugar ali no qual gratifique sua concupiscência e encontre indulgência para seu sujo desejo? Aqui, o bêbado pode despejar em sua garganta a taça intoxicante e mortal; mas, onde encontrará o licor para beber no inferno, quando a embriaguez será tão ardente sobre ele como o é aqui? Onde encontrará sequer uma gota de água para refrescar a língua ardente? O homem que ama aqui a glutonaria, será um glutão além, mas onde estará a comida que lhe satisfaça, quando ainda que sustentasse seu dedo no alto veria que os pães se distanciam, e não lhe será permitido que tome nenhum fruto? Oh, ter suas paixões, e contudo, não poder satisfazê-las! Encerrar um bêbado um sua cela e não dar-lhe nada de beber! Se lançaria contra a parede para conseguir o licor, mas não há licor para ele. O que farás no inferno, oh bêbado, com essa sede na garganta, e não podendo tragar nada senão chamas flamejantes que incrementam seu suplício?

E o que você fará, oh pessoa dissoluta, quando todavia quiser estar seduzindo a outros, mas não há nada com quem possa pecar? Falo claramente? Se os homens querem pecar, encontrarã homens que não se envergonhem para reprová-los. Ah, ter um corpo no inferno, com todas as suas concupiscências, mas sem o poder de satisfazê-las! Quão horrível será esse inferno!

Mas escutem-me, todavia uma vez mais. Oh, pobre pecador, se visse que vais ao esconderijo do inquisidor para ser atormentado, não te pediria que te detivesses antes que atravessasses o umbral? E agora lhe estou falando de coisas que são reais. Se estivesse esta manhã sobre um cenário, e estivesse atuando estas coisas como se fossem fantasias, lhes faria chorar: faria chorar aos piedosos ao pensar quantos serão condenados, e faria chorar aos ímpios ao pensarem que serão condenados. Mas quando falo de realidades, não se comovem nem a metade do que o fariam as ficções, e estão assentados como o estavam antes que a reunião começasse.

Mas ouçam-me, enquanto afirmo de novo a verdade de Deis. Eu lhe digo pecador, que esses olhos que agora veem à luxúria, verão às aflições que lhe humilharão e atormentarão. Esses ouvidos que prestas agora para ouvir à canção da blasfêmia, ouvirão gemidos, e lamentos, e sons horríveis, que somente os condenados conhecem. Essa mesma garganta pela qual agora derramas bebida, estará cheia de fogo. Esses seus próprios lábios e braços serão torturados ao mesmo tempo. Vamos, se você tem uma dor de cabeça, correria ao seu médico; mas o que farás quando sua cabeça, coração, e suas mãos, e teus pés te doerem todos de uma só vez? Quando somente tens uma dor em teus rins, buscas aos remédios que te curam, mas o que farás quando a gota, o reumatismo, a vertigem e tudo o que é vil ataquem seu corpo de uma só vez? Como te comportarás quando for aborrecido com todo tipo de enfermidade, lepra, paralisia, obscuridade, podridão, quando seus ossos doerem, seu medula trema, cada membro que tens esteja cheio de dor; teu corpo um templo dos demônios e um canal de aflições? E prosseguirás às cegas? Como vai o boi ao matadouro, e como coxeia a ovelha à faca do carniceiro, o mesmo ocorre com muitos de vocês.

Senhores, vocês estão vivendo sem Cristo, muitos de vocês, são justos com justiça própria e ímpios. Alguns de vocês sai esta tarde para tomar sua porção de prazer do dia; outro é um fornicador em segredo; outro pode enganar ao seu vizinho; outro pode maldizer a Deus de vez em quando; outro bem a esta capela mas em segredo é um bêbado; outro fala muito sobre a piedade, e Deus sabe que é um hipócrita desventurado. O que farás naquele dia quando estiveres diante do teu Criador? É pouco que teu ministro lhe censure agora; é pouco ser julgado pelo juízo do homem, o que farás quando Deus trovejar, não sua acusação, senão a sua condenação: “Apartai-vos de mim, malditos, ao fogo eterno preparado para o diabo e seus anjos”?

Ah! Vocês que são sensuais, eu sabia que não jamais lhes comoveria enquanto falasse acerca de tormentos para suas almas. Lhes comovo agora? Ah, não! Muitos de vós se irão e irão rir, e me chamarão, como recordo que me chamaram uma vez antes, “um clérigo do fogo do inferno”. Bem, vão; mas verão um dia ao pregador do fogo do inferno no céu, talvez, e vocês mesmos serão lançados fora, e olhando para baixo com um olhar reprobatório, se puder, lhes recordarei que ouviram a palavra, e não a escutaram.

Ah, homens, é algo sem importância ouvi-la, será algo duro suportá-la! Agora me escutam insensíveis, será trabalho mais duro quando a morte se aferre a vocês e estejam queimando no fogo. Agora desprezam a Cristo, não lhe desprezarão então. Agora podem desperdiçar seus dias de Domingo; então, dariam mil mundos por um Domingo se pudessem tê-lo no inferno. Agora podem zombar e escarnecer; então, não haverá nem zombarias e nem escárnios; estarão gritando, e uivando, e chorando e pedindo misericórdia; mas:

“Não se permitem atos de perdão
Na fria sepultura à qual nos apressamos;
A escuridão, a morte e o grande desespero,
Reinam no eterno silêncio ali”.

Oh, meus queridos leitores! A ira vindoura! A ira vindoura! A ira vindoura! Quem de vós habitará em meio ao fogo consumidor? Quem de vós habitará com as chamas eternas? Podes fazê-lo, meu amigo? E você? Podes habitar com a chama eterna? “Oh, não”, respondes, “o que devo fazer para ser salvo?” Escute o que Cristo tem a dizer: “Crê no Senhor Jesus Cristo, e serás salvo; o que crê não será condenado”. “Vinde logo, diz Jeová, e arrazoemos: ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve; se forem vermelhos como o carmesim, tornar-se-ão como a lã”.
Charles Haddon Spurgeon
Enviado por Silvio Dutra Alves em 01/10/2013
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