A Morte de Cristo – Parte 2
por Charles Haddon Spurgeon,
II. Nosso segundo tópico deve explicar o primeiro, caso contrário, seria um mistério insolúvel saber como Deus pôde fazer o Seu filho sofrer – o qual era perfeitamente Inocente – enquanto pobres falhos confessos e mártires não tiveram tal sofrimento vindo Dele no momento de suas tribulações. QUAL FOI A RAZÃO DO SOFRIMENTO DO SALVADOR? A nós é dito aqui, “o Senhor faça da vida dele uma oferta pela culpa.” Cristo foi assim perturbado porque a Sua alma foi uma oferta pelo pecado. Agora eu serei o mais simples que eu conseguir enquanto eu prego a preciosa Doutrina da Expiação de Cristo Jesus nosso Senhor. Cristo foi uma Oferta pelo pecado, no sentido de ser um Substituto. Deus queria salvar. Mas se tal palavra for permitida, a Justiça atou Suas mãos. “Eu devo ser Justo,” disse Deus. “Essa é uma necessidade da Minha Natureza. Firme como o destino e rápido como a Imutabilidade é Verdade que eu devo ser Justo. Mas o Meu coração deseja perdoar – para passar pelas transgressões dos homens e perdoá-los. Como isso pode ser feito?” A sabedoria chegou e disse, “Assim deverá ser feito.” E o Amor concordou com a Sabedoria. “Cristo Jesus, o Filho de Deus, deve ficar no lugar do homem e ser ofertado no Monte do Calvário no lugar do homem.” Agora, notem – quando vocês veem Cristo sendo lançado na Cruz de madeira, você vê toda a companhia de Seus eleitos ali! E quando vocês veem os pregos cravados em Suas benditas mãos e seus pés, é todo o corpo da Sua Igreja que está lá, no seu Substituto, cravado na madeira! E agora os soldados levantam a Cruz e a colocam no suporte preparado para isso. Seus ossos estão, cada um deles, deslocados e Seu corpo está tão despedaçado de agonias que não se pode nem descrever! Esse homem sofrendo ali! Ali está a Igreja sofrendo no Substituto! E quando Cristo morre, você deve olhar para a Sua morte não como a Sua própria morte, mas como a morte de todos aqueles por quem Ele foi o Bode expiatório e o Substituto! É verdade, Cristo realmente morreu. É igualmente verdade que Ele não morreu por Si mesmo, mas como o Substituto, no lugar de todos os crentes. Quando vocês morrerem, vão morrer por si próprios. Quando Cristo morreu, Ele morreu por vocês, se vocês são crentes Nele! Quando vocês passem pelos portões da sepultura, vocês vão solitários e sozinhos. Vocês não são representantes de um corpo de homens – vocês passam pelos portões da morte como indivíduos – mas, lembrem, quando Cristo passou pelos sofrimentos da morte, Ele foi a Cabeça representativa de todo o Seu povo!
Entendam, então, o significado no qual Cristo foi feito Sacrifício pelo pecado. E aqui está a glória dessa questão – foi como um Substituto pelo pecado que Ele realmente e literalmente sofreu a punição pelos pecados de todos os Seus eleitos! Quando eu digo isto, eu não estou usando uma figura de linguagem ou algo do tipo, mas eu realmente quero dizer isto. O homem, pelos seus pecados, foi condenado ao fogo eterno. Quando Deus tomou Cristo para ser o Substituto, é verdade, Ele não enviou Cristo ao fogo eterno, mas derramou dor sobre Ele – uma dor tão desesperadora que foi um pagamento válido até para uma eternidade em chamas! O homem foi condenado a viver para sempre no Inferno. Deus não enviou Cristo para ficar no Inferno para sempre. Mas Ele colocou em Cristo uma punição que foi equivalente a isso. Embora Ele não tenha dado a Cristo o verdadeiro Inferno dos crentes, deu a Ele uma retribuição igual – algo que foi equivalente a isso! Ele tomou a taça da agonia de Cristo e colocou nela – sofrimento, miséria e angústia – tais que só Deus pode imaginar ou sonhar a respeito, que foram o equivalente a todo o sofrimento, toda a aflição e todas as torturas eternas de todos que devem ir ao Céu, comprados pelo sangue de Cristo! E você pergunta, “Cristo bebeu tudo isso por sua escória? Ele sofreu tanto assim?” Sim, meus Irmãos e Irmãs, Ele tomou o cálice e –
“Em um triunfante gole de amor,
Ele bebeu toda a condenação.”
Ele sofreu todos os horrores do Inferno – uma saraivada de ferro caiu sobre ele com granizos maiores do que qualquer capacidade. Ele permaneceu até que a nuvem negra esvaziasse completamente. Ali estava a nossa dívida, gigante e imensa. Ele pagou até o último centavo de qualquer coisa que o Seu povo devia! E agora não há mais nenhum centavo devido à Justiça de Deus no caminho da punição de qualquer cristão! E embora nós devamos gratidão a Deus, embora devamos muito ao Seu amor – nós não devemosnada a Sua Justiça, pois Cristo, naquela hora, tomou todos os nossos pecados – passado, presente e porvir e foi punido por todos eles – não devemos jamais ser punidos porque Ele sofreu no nosso lugar! Vocês conseguem ver, agora, como foi que o Deus Pai O esmagou? Se ele não tivesse feito isso, as agonias de Cristo não poderiam ser um equivalente aos nossos sofrimentos. O Inferno consiste na ocultação da face de Deus dos pecadores e se Deus não tivesse escondido a Sua face de Cristo, Cristo não poderia – eu não vejo como Ele poderia – ter suportado qualquer sofrimento que poderia ter sido aceito como equivalente às aflições e agonias de Seu povo!
Eu acho que ouvi alguém dizer, “Você quer que nós entendamos esta Expiação que você nos pregou agora como um fato literal?” Eu digo, mais que solenemente, que sim! Existem no mundo várias teorias sobre a expiação – mas eu não consigo ver em nenhuma delas alguma Expiação, a não ser nessa Doutrina da Substituição. Muitos teólogos dizem que Cristo fez algo quando morreu, que permitiu que Deus fosse justo e ainda Justificador dos ímpios. O que foi esse algo eles não dizem para nós. Eles acreditam numa expiação feita para todos. Mas, no fim, a expiação deles é apenas isto – eles acreditam que Judas foi tão reparado quando Pedro – eles acreditam que os condenados no Inferno foram um objeto da satisfação de Jesus Cristo tanto quanto os salvos no Céu! E embora eles não digam isso com todas as palavras, eles ainda querem dizer isto – pois isto é uma inferência justa, que, no caso das multidões, Cristo morreu em vão – pois Ele morreu por todos, eles dizem. E foi tão sem efeito a Sua morte por eles, que embora Ele tenha morrido por eles, eles serão todos condenados depois! Agora, tal expiação, eu desprezo – eu rejeito! Posso ser chamado de Contra a Lei, ou Calvinista por pregar uma Expiação Limitada, mas eu prefiro acreditar numa Expiação Limitada que é eficaz para todos a quem ela foi destinada, a acreditar numa expiação universal que não é eficaz para ninguém, a não ser que a vontade do homem esteja de acordo com ela! Porque, meus Irmãos e Irmãs, se nós fôssemos salvos apenas para que através da morte de Cristo qualquer um de nós pudesse se salvar depois, a Expiação de Cristo não valeria um centavo, pois não há nenhum dentre nós que possa se salvar – não, ninguém no Evangelho! Se eu serei salvo pela fé – se essa fé for o meu próprio ato, sem a assistência do Espírito Santo, – eu serei tão incapaz de me salvar pela fé quanto de me salvar pelas boas obras! E depois de tudo, embora os homens chamem isto de Expiação Limitada, isto é tão eficaz quanto as suas redenções falaciosas e apodrecidas pretendem ser! Mas vocês conhecem o limite dela? Cristo comprou uma “multidão que homem nenhum pode contar.” O seu limite é apenas esse – Ele morreu por pecadores. Qualquer um nesta congregação que se reconhece, interiormente e tristemente, como um pecador, Cristo morreu por ele! Qualquer um que deseja Cristo deve saber que Cristo morreu por ele! Nosso senso de necessidade de Cristo e nossa busca por Cristo são provas infalíveis de que Cristo morreu por nós! E notem, aqui está algo substancial – os Armínianos dizem que Cristo morreu por eles. E depois, pobres homens, eles não têm nada além de um pequeno consolo, pois eles dizem, “Ah, Cristo morreu por mim – isso não prova muita coisa. Isso apenas prova que eu serei salvo se me importar com o que serei depois. Eu posso, talvez, me esquecer de mim. Talvez eu corra para o pecado e pereça. Cristo fez um bom negócio por mim – mas não o bastante – a não ser que eu faça algo.”
Mas o homem que recebe a Bíblia como ela é, diz, “Cristo morreu por mim, então a minha vida eterna está garantida! Eu sei,” ele diz, “que Cristo não pode ser punido no lugar de um homem e o homem ser punido depois disso. Não,” ele diz, “eu creio em um Deus justo, e se Deus é Justo, Ele não vai punir Cristo primeiro, e depois punir os homens. Não – o meu Salvador morreu e agora eu estou livre de qualquer exigência da vingança de Deus e posso caminhar por esse mundo em segurança. Nenhum raio pode me atingir, e eu posso morrer absolutamente certo de que para mim não haverá fogo nenhum do Inferno, pois Cristo, meu Resgate, sofreu em meu lugar, e, portanto, eu estou liberto!” Oh, Doutrina Gloriosa! Eu gostaria de morrer pregando isso! Que melhor testemunho podemos carregar com o amor e a fidelidade de Deus, do que o testemunho de um Substituto eminentemente satisfatório para todos os que creem em Cristo? Eu vou citar aqui o testemunho desse profundo teólogo, Dr. John Owen – “A Redenção é o livramento de um homem da miséria através da intervenção de um libertador. Agora, quando um libertador é pago para salvar um prisioneiro, a justiça não demanda que ele deve ter e aproveitar a liberdade comprada por ele com uma consideração valiosa? Se eu pudesse pagar mil libras pela liberdade de um homem da escravidão para aquele que o detém – quem tem o poder de libertá-lo e está contente com o preço que eu dei – não seria injusto para mim e para o pobre prisioneiro que a sua libertação não fosse concretizada? Pode, possivelmente, ser concebida a ideia de que existisse uma redenção aos homens, e os homens não fossem redimidos? Que um preço fosse pago e a compra não fosse consumada? Além disso tudo, ainda haveria verdadeiros e inumeráveis absurdos, se a redenção universal fosse aceita. Um preço é pago por todos, porém apenas alguns são libertos. A redenção de todos consumada, e ainda assim só alguns são redimidos? O juiz satisfeito, o carcereiro dominado, e os prisioneiros ainda na prisão? Sem dúvida, ‘redenção’ e ‘universal’, onde grande parte dos homens perece, são tão irreconciliáveis quanto ‘Romano’ e ‘Católico.’ Se há uma redenção universal, então todos os homens estão redimidos! Se eles estão redimidos, então eles estão livres de toda a miséria, virtual ou realmente, onde quer que tenham sido aprisionados, e isso pela intervenção de um libertador. Por que, então, não são todos salvos? Em uma palavra – a redenção feita por Cristo, sendo a libertação completa das pessoas de toda a miséria, em que foram enlaçadas, pelo preço do Seu sangue – não pode ser concebida como universal, a não ser que todos sejam salvos! Então a opinião dos Universalistas não serve para a redenção.”
Eu paro mais uma vez, pois eu ouço uma alma tímida dizer – “Mas, Senhor, eu tenho medo de não ser um eleito e, se assim for, Cristo não morreu por mim.” Pare, Senhor! Você é um pecador? Você sente isso? O Espírito Santo de Deus fez você se sentir um pecador perdido? Você precisa da salvação? Se você não precisa dela, não há dúvidas de que ela não foi prometida para você. Mas se você realmente sente que precisa dela, você é eleito de Deus! Se você tem o desejo de ser salvo, um desejo dado a você através do Espírito Santo, esse desejo é um sinal para o bem. Se você tem orado verdadeiramente pela salvação, você tem aí uma clara evidência de que você é salvo! Cristo foi punido por você. E se você sabe disso, você pode dizer –
“Nada em minhas mãos eu trago
Simplesmente à Tua Cruz eu me apego”
Você deve ter tanta certeza de que é eleito de Deus quanto tem de sua própria existência! Esta é a prova Infalível da Eleição – um senso de necessidade e uma sede de Cristo!
III. E agora eu tenho apenas que concluir considerando os BENDITOS EFEITOS da morte do Salvador. Nisto eu serei breve.
O primeiro efeito da morte do Salvador é, “ele verá sua descendência.” Os homens serão salvos por Cristo. Os homens têm uma descendência pela vida. Cristo tem uma descendência pela morte! Homens morrem e deixam seus filhos e não veem a sua descendência. Cristo vive e todos os dias vê a sua descendência posta na unidade da fé! Um efeito da morte de Cristo é a salvação de multidões. Notem – não é uma salvação de chance. Quando Cristo morreu, o anjo não disse, como alguns o tem representado, “Agora pela Sua morte, muitos deverão ser salvos.” A palavra da profecia extinguiu todos os “mas” e “talvez”. “Pela Sua justiça, muitos serão justificados.” Não havia nem um átomo de chance na morte do Salvador! Cristo sabia o que estava comprando quando morreu – e o que Ele comprou, Ele terá – nada mais, nada menos! Não efeito na morte de Cristo propensa a um “talvez”. O “será” fez logo a Aliança! A morte sangrenta de Cristo irá efetuar o seu propósito solene. Cada herdeiro da Graça Divina irá encontrar no Trono –
“Irá bendizer as maravilhas de Sua Graça,
E tornar as Suas glórias conhecidas.”
O segundo efeito da morte de Cristo é, “Ele prolongará seus dias.” Sim, bendito seja o Seu nome, quando Ele morreu, Ele não acabou com a Sua vida! Ele não poderia ser como um prisioneiro no túmulo. O terceiro dia chegou e o Conquistador, levantando de Seu sono, desatou os grilhões da morte e saiu de Sua prisão, para não mais morrer. Ele esperou os Seus 40 dias e depois com hinos sagrados, Ele “levou cativo o cativeiro e subiu ao alto.” “Pois, quanto a ter morrido, morreu de uma vez para o pecado; mas, quanto a viver, vive para Deus,” (Romanos 6.10) para não mais morrer –
“Agora ao lado de Seu Pai Ele assenta,
E ali triunfante reina,”
O vencedor sobre a morte e o Inferno!
E, por fim, pela morte de Cristo o prazer do Pai foi efetuado e próspero. O prazer de Deus é que este mundo será um dia totalmente redimido do pecado. O prazer de Deus é que este pobre planeta, há tanto tempo mergulhado em escuridão, irá em breve brilhar como um sol nascente. A morte de Cristo fez isso! O ribeiro que fluiu ao Seu lado no Calvário limpará o mundo de toda a sua escuridão. Essa hora de escuridão no meio do dia foi o nascer de um novo sol de justiça que nunca cessará de brilhar sobre a Terra. Sim, está chegando a hora em que espadas e lanças serão coisas esquecidas – quando as armaduras da guerra e o esplendor da pompa serão todos deixados de lado para alimentar as minhocas ou para contemplação dos curiosos. É próxima a hora em que a antiga Roma tremerá sobre suas sete colinas! Quando o emblema de Maomé não mais será reduzido à cera – quando todos os deuses dos pagãos perderão os seus tronos e serão atirados às toupeiras e aos morcegos! E depois, do Equador aos Polos, Cristo será honrado, o Senhor supremo da Terra, de terra a terra, do rio até o fim do mundo! Um Rei irá reinar, um grito será levantado, “Aleluia, aleluia, o Senhor Deus Onipotente reina!” Então, meus Irmãos e Irmãs, será visto o que a morte de Cristo realizou, pois “a vontade do Senhor prosperará em sua mão.” Amém. Amém. Amém.
Charles Haddon Spurgeon
Enviado por Silvio Dutra Alves em 06/10/2013