O Lavrador Discreto
“Isa 28:23 Inclinai os ouvidos e ouvi a minha voz; atendei bem e ouvi o meu discurso.
Isa 28:24 Porventura, lavra todo dia o lavrador, para semear? Ou todo dia sulca a sua terra e a esterroa?
Isa 28:25 Porventura, quando já tem nivelado a superfície, não lhe espalha o endro, não semeia o cominho, não lança nela o trigo em leiras, ou cevada, no devido lugar, ou a espelta, na margem?
Isa 28:26 Pois o seu Deus assim o instrui devidamente e o ensina.
Isa 28:27 Porque o endro não se trilha com instrumento de trilhar, nem sobre o cominho se passa roda de carro; mas com vara se sacode o endro, e o cominho, com pau.
Isa 28:28 Acaso, é esmiuçado o cereal? Não; o lavrador nem sempre o está debulhando, nem sempre está fazendo passar por cima dele a roda do seu carro e os seus cavalos.
Isa 28:29 Também isso procede do Senhor dos Exércitos; ele é maravilhoso em conselho e grande em sabedoria.”
O alvo dessas palavras é confortar os filhos de Deus nas suas aflições, e porque quando se está sob tais cruzes dolorosas, quando se está triste, enfraquecido, oprimido pela dor, então ficamos incapazes de receber instrução, a angústia do sofrimento destrói a nossa atenção, por isso, ele diz, por quatro vezes em sequência:"Inclinai os ouvidos", “ouvi a minha voz”, "atendei bem” e “ouvi o meu discurso”, de onde se subentende: “preste muita atenção no que vou falar”.
Como se ele desejasse dizer: “Vocês devem ouvir por causa do mundo, da carne e do diabo e seus instrumentos, que têm levado você a se desviar; mas se você deseja ter paz e consolo, você deve ouvir esta palavra de Deus, porque esta é a sua voz, aquele que lhe ama e quer o seu bem, e que faz bem todas as coisas.
Então ele vem para consolo, de modo que ninguém se perdesse por causa das aflições de Deus. Isso ele demonstrou por uma comparação a partir de um agricultor, que quando tem semeado, nem sempre ara a terra, mas dará ao solo suficiente cultivo e adubação; e que semeará, cada semente na forma e medida adequada no tempo apropriado. E então ele demonstrou que, quando Deus deu esta discrição aos lavradores, muito mais isto abunda nele, a quem em João 15.1 é chamado de agricultor; sim, ele é o melhor agricultor que conhece os tempos e as estações, quando deve começar e concluir o seu trabalho.
Então Deus é o mais sábio lavrador, que sabe quando e quanto deve nos afligir; quando começar e quando dar um fim à aflição, quando semear e como fazer frutificar.
Ele mostrou então o cuidado diferenciado do lavrador para com os diversos tipos de sementes, dando-lhes o tratamento correto especifico para cada uma delas, para não magoá-las com uma pressão além daquela que podem suportar, de modo a não ser perdido o seu trabalho.
Agora, ele conclui por este critério de sabedoria do agricultor, em favor do Senhor dos Exércitos, que é grande em sabedoria e maravilhoso em conselho.
Das palavras “Inclinai os ouvidos e ouvi a minha voz; atendei bem e ouvi o meu discurso.” Subentende-se que a única maneira de se achar calma e paz para os nossos corações em todas as angústias, é ouvir o que Deus diz.
Quando ouvimos a Deus não nos preocupamos mais do que precisamos nos preocupar, e não ficamos ansiosos por cousa alguma, conforme Ele nos tem ordenado.
Primeiro, porque a Palavra de Deus vai produzir a fé, que purifica o coração, vence o mundo, e apaga todos os dardos inflamados de Satanás.
Em segundo lugar, isto ensinará sabedoria à pessoa, para discernir de onde e por que a aflição lhe vem, e que lutar com Deus é em vão, e que ao fazê-lo, teremos o pior. A maior dor de nossas cruzes vem de paixões e fraquezas; porque se não colocarmos em nós mais cruzes do que as que Deus nos designa, tudo irá bem, mas se nos colocamos em outras coisas, a nossa própria impaciência, falsos temores, preocupações, e mentalidade carnal, farão com que esta boa purificação da providência do nosso Pai celestial, seja muito amarga e pesada para nós. Devemos lutar por todos os meios contra isto, e fazer um bom uso da aflição, conforme Deus deseja que o façamos.
Em terceiro lugar, isto será uma forma de trabalhar a paciência no coração. Todas as Escrituras são escritas para trabalhar a paciência em nós, pois Deus deseja que sejamos submissos, mas nossos corações orgulhosos dificilmente podem ser conduzidos à submissão (mansidão e oibediência).
Este é o grande objetivo em tudo.
Em quarto lugar, se ouvirmos a Deus, isso nos fará ir a Deus e orar; e a oração trará conforto e facilidade para o coração se submeter, mas se ouvirmos a carne, mais nos afastaremos deste caminho e mergulharemos na miséria.
Deus , você sabe, nos convida a vir a ele , e diz: “Espere um pouco, e tudo estará bem”, ele virá voando com libertação quando for chegada a hora.
Assim, se alguém orar e esperar, terá o seu coração guardado rapidamente. O que diz o apóstolo sobre isto?
“Não andeis ansiosos de coisa alguma; em tudo, porém, sejam conhecidas, diante de Deus, as vossas petições, pela oração e pela súplica, com ações de graças. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará o vosso coração e a vossa mente em Cristo Jesus.” (Fp 4.6,7).
NOTA: Este texto é uma releitura feita pelo Pr Silvio Dutra, com a tradução do original em inglês, da parte inicial de um sermão, em domínio público, de autoria de Richard Sibbes.
De Sibbes é dito que tinha o céu estampado em sua face, e que antes de ter ido para o céu ele trouxe o céu à terra em sua própria vida. Assim, ao fazer esta releitura estamos procurando dar honra a quem é devido honra segundo a norma bíblica.