Legado Puritano
Quando a Piedade Tinha o Poder
Textos
FORMA E PODER DE PIEDADE
“tendo forma de piedade, negando-lhe, entretanto, o poder. Foge também destes.” (II Tim 3.5)

Houve, mesmo nos dias apostólicos, muitos desvios terríveis da piedade e da sã doutrina. É esperado que nos últimos dias, que eles prevaleçam em maior medida.
Mesmo nos dias de hoje, (Simeon, autor deste texto, era um missionário e quem mais enviou missionários ao mundo, inclusive, pioneiramente em Israel, no fim e início dos séculos XVIII e XIX, respectivamente –nota do tradutor) uma profunda familiaridade com o que é chamado de mundo religioso trará às nossas mentes muitos caracteres tristes, que não respondem plenamente e de fato à descrição dada no contexto anterior de II Tim 3.5, mas, em muitos aspectos, aproximam-se disto. Não é , no entanto, a minha intenção de tomar a totalidade do caráter aqui retratado, mas apenas a última característica dele, que eu selecionei para a nossa consideração neste momento.

Deixe-me , então,

I. Abrir o caráter que é apresentado deles: "têm uma forma de piedade".
Por "piedade", eu entendo a completa devoção da alma a Deus. Isto deve, por necessidade, ter formas e serviços que o demonstrarão nas circunstâncias que temos neste mundo, pois é impossível servir a Deus sem formas.
A leitura das Escrituras, o atendimento às ordenanças divinas, a observância do dia de descanso, os deveres da adoração doméstica, e pública, a oração em todas as suas formas, e por tudo o mais que a piedade vital deve ser exibida. Agora, muitos têm, nestes aspectos, a forma de piedade: vivem na maneira externa relativa a estas funções; eles são conscientes, que, sem uma observância dessas coisas, eles não poderiam ter qualquer crédito para a verdadeira piedade, e, portanto, cumprem os seus deveres nesses aspectos, e depois se gabam de terem realizado tudo o que lhes é exigido.

Mas negam o seu poder

Quanto ao verdadeiro deleite em Deus , apesar de toda a sua profissão da fé religiosa, eles são estranhos a isso. Suas orações são uma mera articulação de lábios, e de joelhos; seus louvores não são diferentes do frio, sem significado e reconhecimento, e todo o culto a Deus, na Igreja, na família, e em seu quarto, nada é, senão  "uma forma ", uma lâmpada sem óleo, um corpo sem a alma. A piedade não permeia suas almas, de modo a produzir a mente que está em Cristo, ou para transformá-los à imagem de Deus. Eles parecem não pensar que a fé que professamos é para operar o citado propósito, e que, na condição em que observam os deveres exteriores da religião, as faculdades e as disposições da alma podem seguramente ser esquecidas. Daí o seu amor-próprio, sua cobiça, e suas inúmeras disposições más, mantêm a sua ascendência completa, e reinam sem controle. Na verdade, "eles têm um nome de que vivem,  mas na realidade eles estão mortos", Apo 3.1.

E agora deixe-me,

II. Mostrar em que estima isto deve ser tido

O Apóstolo diz: "Destes afasta-te". Para explicar isso, eu lhe mostrarei,

1. Em que sentido não devemos nos afastar de tais pessoas

Não devemos nos afastar deles em contendas, que são altamente inconveniente para nós; que, se somos diferentes em tudo, devemos ter toda a diferença por meio da graça distintiva de Deus.
E seria mais ofensivo a Deus, se não pudéssemos suportar tal orgulho odioso. Se dissermos a qualquer homem, "afaste-se porque eu sou mais santo do que você"; Deus nos considerará como "uma fumaça em seu nariz, um fogo que arde o dia todo" - Também não devemos nos  afastar com indiferença, como se não nos importasse o que será deles. Devemos sim chorar por eles, como Paulo, Rom 9.1; e chorar com eles, como nosso Senhor fez sobre a assassina Jerusalém - Também não devemos nos afastar deles em desespero, pois Deus é capaz de salvá-los, e ele ouvirá a oração em seu nome.

2. Em que sentido devemos nos afastar deles

Nós não devemos, a qualquer título, tê-los como nossos companheiros. Devemos a esse respeito afastar-nos deles, por causa deles, para o nosso próprio bem, para o bem dos críticos, e por amor do mundo. Se nos associarmos a eles, faremos com que pensem bem de si mesmos, quando, por um afastamento cada vez maior deles, podemos trazê-los para uma certa medida de auto-desconfiança e compunção - Se nos associamos a eles, estaremos em perigo de absorver o seu espírito, e de aprender o seu comportamento. Teremos o nosso zelo e ardor pela verdade bíblica amortecidos por eles; que, em vez de crescerem conosco, em breve nos trarão para baixo, para o nível em que estão, por nos associarmos a eles. Além disso, levaremos nossos irmãos mais fracos a conceberem que não há mal em suas formas - E devemos justificar o mundo em todas as suas censuras da religião, quando, por causa de alguns professantes ímpios, eles condenam toda religião verdadeira e sincera, e enquadram todos os servos de Deus, como hipócritas.

ENDEREÇAMENTO

1. Àqueles que não têm ainda a forma da verdadeira piedade

É uma verdade lamentável, que a maior parte dos cristãos nominais vivam completamente "sem Deus no mundo".
Poderia ser isto aprovado pelo Senhor? Eles afirmarão, que de fato e com grande confiança, que não têm motivo para temer; mas enganam terrivelmente as suas próprias almas; porque para eles Deus faz esta declaração, em seu maior vigor: "Os ímpios serão lançados no inferno, e todas as pessoas que se esquecem de Deus”, Sl 9.17. Oh que eles pudessem ser sensatos, e considerar o seu fim último, antes que seja tarde demais!

2 . Àqueles que têm a forma, mas não o poder

Para que finalidade você "professa conhecer a Deus”, se em ação você o nega? Na verdade, se você olhar para as Escrituras, verá que a verdadeira piedade é algo muito diferente do que você está  acostumado a pensar. Veja nos preceitos: eles se estendem apenas às formas? Examine as promessas, elas estão limitadas a formas? Veja os exemplos de piedade: eles não são mais elevados do que meros serviços formais? Toda a bendita palavra de Deus declara que Deus deve "ser adorado em Espírito e em verdade", e que o coração, todo o coração, deve ser consagrado ao seu serviço. Qualquer coisa menos do que isso é uma mera zombaria, e uma ilusão fatal.

3. Àqueles que têm a forma e o poder da piedade

É bom combinar os dois, para guardar a ambos em seu devido lugar. Não devemos elevar um, e excluir o outro. Como não devemos descansar em formas, assim como nunca devemos elevá-las, como se a eminência da nossa piedade pudesse ser substituída pelo uso das formas externas. Todos os deveres externos, de qualquer espécie, devem ser observados; só devemos tomar cuidado que sejam cheios do Espírito, no uso delas. Formas, são como a escada de Jacó, pela qual você pode subir a Deus, e Deus descer a você. Mas veja que seu  acesso a Deus seja cada dia mais próximo, e seu prazer nele mais doce. Olhe para isto, que você progredirá diariamente, com uma crescente evidência, exibindo a eficácia da sua graça e a beleza de sua religião cristã. Deixem todo o vosso espírito e temperamento evidenciarem o poder da piedade em vossas almas, e então não somente todos os santos se voltarão para vós no amor, mas o próprio Deus vos abraçará como os objetos de sua terna afeição.

Tradução e adaptação feitas pelo Pr Silvio Dutra, de um texto de Charles Simeon, em domínio público.
Charles Simeon
Enviado por Silvio Dutra Alves em 28/10/2013
Alterado em 28/10/2013
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