Isaías 64
“1 Oh! se fendesses os céus, e descesses, e os montes tremessem à tua presença,
2 como quando o fogo incendeia os gravetos, e o fogo faz ferver a água, para fazeres notório o teu nome aos teus adversários, de sorte que à tua presença tremam as nações!
3 Quando fazias coisas terríveis, que não esperávamos, descias, e os montes tremiam à tua presença.
4 Porque desde a antiguidade não se ouviu, nem com ouvidos se percebeu, nem com os olhos se viu um Deus além de ti, que opera a favor daquele que por ele espera.
5 Tu sais ao encontro daquele que, com alegria, pratica a justiça, daqueles que se lembram de ti nos teus caminhos. Eis que te iraste, porque pecamos; há muito tempo temos estado em pecados; acaso seremos salvos?
6 Pois todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças como trapo da imundícia; e todos nós murchamos como a folha, e as nossas iniquidades, como o vento, nos arrebatam.
7 E não há quem invoque o teu nome, que desperte, e te detenha; pois escondeste de nós o teu rosto e nos consumiste, por causa das nossas iniquidades.
8 Mas agora, ó Senhor, tu és nosso Pai; nós somos o barro, e tu o nosso oleiro; e todos nós obra das tuas mãos.
9 Não te agastes tanto, ó Senhor, nem perpetuamente te lembres da iniquidade; olha, pois, nós te pedimos, todos nós somos o teu povo.
10 As tuas santas cidades se tornaram em deserto, Sião está feita um ermo, Jerusalém uma desolação.
11 A nossa santa e gloriosa casa, em que te louvavam nossos pais, foi queimada a fogo; e todos os nossos lugares aprazíveis se tornaram em ruínas.
12 Acaso conter-te-ás tu ainda sobre estas calamidades, ó Senhor? ficarás calado, e nos afligirás tanto?”
Nós devemos lembrar que não somente o livro do profeta Isaías, como todos os livros da Bíblia foram escritos originalmente sem serem divididos em capítulos e versículos. Desta forma, não há uma quebra na mensagem de um capítulo para outro. E faríamos bem em lembrar disso toda vez que estudarmos a Palavra.
O início deste capítulo é portanto uma continuação da mensagem do capítulo anterior e assim sucessivamente; e isto se dá com todo o texto bíblico, mesmo que haja uma mudança de assunto, o que não é caso com as profecias do livro de Isaías que estamos analisando.
Convém lembrar que o livro do profeta Isaías é considerado como sendo o evangelho segundo Isaías, especialmente a partir do capítulo 40 até o último capítulo, assim como a epístola aos Romanos é chamada de o evangelho segundo Paulo.
É realmente maravilhoso observar que a essência do mistério do evangelho que foi manifestado por Jesus Cristo se encontra no livro de Isaías, especialmente no que se refere ao modo como Deus se relaciona com o Seu povo nas bases da graça, da verdade e da misericórdia e do juízo revelados no evangelho.
Mas, como dizíamos este capítulo é iniciado com uma continuação da oração contida nos versos finais do capítulo anterior (63).
É um clamor por avivamento. A condição de fracasso, de miséria espiritual foi reconhecida. A ausência do poder do Senhor na Igreja foi lamentado, e agora o coração ora desde as suas profundezas por um avivamento para que tal estado de coisas na Igreja possa ser superado.
“1 Oh! se fendesses os céus, e descesses, e os montes tremessem à tua presença,
2 como quando o fogo incendeia os gravetos, e o fogo faz ferver a água, para fazeres notório o teu nome aos teus adversários, de sorte que à tua presença tremam as nações!
3 Quando fazias coisas terríveis, que não esperávamos, descias, e os montes tremiam à tua presença.”
Este é o clamor por um verdadeiro avivamento. É clamor pela manifestação da própria presença de Deus em toda a Sua glória e poder. Para que todos temam e tremam diante do Seu grande nome. Para que as nações dêem glória à Sua majestade e tremam diante da Sua grandeza e poder. É um clamor por amor à própria glória de Deus, isto é, para que Ele seja glorificado. Este é o desejo de todo servo fiel do Senhor, Ele amará ver o Senhor sendo exaltado e glorificado, e por isso diz: “Oh! se fendesses os céus, e descesses, e os montes tremessem à tua presença,” (v. 1).
O profeta lamentou a ruína e destruição de Jerusalém que ainda não havia ocorrido nos seus dias, e que se daria sob os babilônios mais de cem anos depois de Isaías ter assim profetizado.
A profecia apontaria aos judeus qual foi a causa da ruína deles, ao mesmo tempo que lhes incitaria a orarem para que o Senhor lhes restaurasse.
De igual modo tem servido para alertar à igreja quanto à necessidade de orar por avivamento para que os crentes vivam realmente em santidade diante do Senhor e para que acrescente novos convertidos à Igreja.
A afirmação e indagação que são feitas no final do verso 5 não retratam a impossibilidade de que seja salvo alguém que esteja vivendo em pecado; mas de que não se pode contar com o livramento de Deus enquanto os crentes vivem de tal maneira.
“Eis que te iraste, porque pecamos; há muito tempo temos estado em pecados; acaso seremos salvos?” (v. 5.b).
O conteúdo desta reflexão nunca pode ser esquecido pelos crentes, para que estejam convictos de que não podem contar com o favor de Deus enquanto vivem deliberadamente na prática do pecado.
Os crentes devem se lembrar que os olhos de Deus repousam sobre os justos, não simplesmente por terem sido justificados pela fé em Cristo, mas por efetivamente praticarem a justiça evangélica que consiste não na nossa perfeição ou na perfeição das nossas obras, mas no nosso permanente desejo de sermos perfeitos assim como o nosso Pai é perfeito, e pela sinceridade de buscarmos a Sua face para sermos transformados pelo Seu Espírito e sermos habilitados a fazer a Sua vontade, buscando viver em obediência aos Seus mandamentos.
Por isso Isaías afirmou a graça do Senhor, antes de ter afirmado que o povo se encontrava em pecado despertando a ira de Deus, e que somente aqueles que praticam com alegria a justiça e que se lembram do Senhor em todos os Seus caminhos, podem contar com a Sua santa presença que irá ao encontro deles, isto porque Deus opera em nosso favor segundo a Sua graça e bondade, somente pelo fato de esperarmos por Ele (v.4, 5).
Tal como o profeta orando no lugar de todo o Israel de Deus, movido pelo Espírito, nós deveríamos também confessar ao Senhor qual é a nossa condição natural de não podermos confiar na nossa justiça própria que é falha e pecaminosa para que possamos ser justificados perante Ele em Sua Grandeza, Justiça e Santidade perfeitas. Nós deveríamos pedir um avivamento, um livramento, como fez o profeta, somente depois de termos confessado a nossa miséria e a miséria espiritual de toda a Igreja, porque somos pessoas falidas aos olhos do Senhor. De nós mesmos não podemos fazer cousa alguma que Lhe seja agradável. Dependemos inteiramente da graça e do poder de Jesus que nos são concedidos pelo Espírito.
“6 Pois todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças como trapo da imundícia; e todos nós murchamos como a folha, e as nossas iniquidades, como o vento, nos arrebatam.
7 E não há quem invoque o teu nome, que desperte, e te detenha; pois escondeste de nós o teu rosto e nos consumiste, por causa das nossas iniquidades.”.
É somente quando o Senhor manifesta a Sua presença que este quadro de miséria espiritual é vencido. Reconhecemos que somos pobres de espírito, isto é, somos necessitados espirituais, que dependem da provisão do Senhor para sermos enriquecidos espiritualmente.
Então devemos orar pedindo que nos fortifique na graça que está em Cristo Jesus.
E isto deve ser pedido de forma humilde como convém a pobres, tal como fizera o profeta Isaías em nome de Israel:
“8 Mas agora, ó Senhor, tu és nosso Pai; nós somos o barro, e tu o nosso oleiro; e todos nós obra das tuas mãos.
9 Não te agastes tanto, ó Senhor, nem perpetuamente te lembres da iniquidade; olha, pois, nós te pedimos, todos nós somos o teu povo.
10 As tuas santas cidades se tornaram em deserto, Sião está feita um ermo, Jerusalém uma desolação.
11 A nossa santa e gloriosa casa, em que te louvavam nossos pais, foi queimada a fogo; e todos os nossos lugares aprazíveis se tornaram em ruínas.
12 Acaso conter-te-ás tu ainda sobre estas calamidades, ó Senhor? ficarás calado, e nos afligirás tanto?”
Quando um crente ou uma Igreja se encontram na condição de terem fama de que vivem, mas estão mortos, como Jesus afirmou em relação á Igreja de Sardes, como poderiam orar por restauração senão da forma humilde que é apontada neste texto de Isaías? Caberia se vangloriarem no fato de que são filhos de Deus por meio de Jesus Cristo e que por isto Ele está obrigado a lhes fazer o bem?
Por isso o Senhor coloca em II Crôn 7.14 a necessidade de que o seu povo não somente se converta a Ele, mas que também se humilhe, quando estiver vivendo em pecado.
E esta necessidade de se humilhar diante de Deus não é necessária somente quando se está vivendo em pecado, como em todos os momentos de nossas vidas. Esta é a razão porque Ele empobrece a muitos crentes ou os mantém em estado de pobreza, porque de outro modo não se humilhariam diante dEle. De Israel nos dias de Moisés é dito que os humilhou no deserto para afinal fazer-lhes bem depois. Isto é necessário porque ainda estamos na carne, e a carne é fraca, ela é dada a se exaltar e a nos dominar com orgulho quando as nossas circunstâncias presentes são elevadas. São raríssimos aqueles que conseguem escapar deste espírito orgulhoso diante da grande abundância de bens e de elevada posição social.
Por isso o Senhor primeiro humilha para depois exaltar. Sabe que se não aprendermos na escola da humilhação não poderemos ser admitidos na carreira da exaltação, porque certamente o nosso coração se elevará e se desviará dEle.
Há no mundo uma teologia triunfalista e arrogante que esconde esta verdade. A qual produz crentes insolentes e irreverentes na presença de Deus.
A oração humilde do profeta é um bom preventivo contra este mal.
Como poderia uma Igreja que está a ponto de ser vomitada pelo Senhor, como a de Laodicéia, protestar arrogantemente o direito de ser abençoada por Deus? Isto não serviria somente para agravar ainda mais o seu pecado?
Sejamos humildes diante do Senhor porque Ele concede a Sua graça somente a quem se humilha, e todos nós na condição de pecadores que somos sempre teremos motivo para nos humilhar perante Ele.
Silvio Dutra Alves
Enviado por Silvio Dutra Alves em 04/11/2013