Lamentações 3
“1 Eu sou o homem que viu a aflição causada pela vara do seu furor.
2 Ele me guiou e me fez andar em trevas e não na luz.
3 Deveras fez virar e revirar a sua mão contra mim o dia todo.
4 Fez envelhecer a minha carne e a minha pele; quebrou-me os ossos.
5 Levantou trincheiras contra mim, e me cercou de fel e trabalho.
6 Fez-me habitar em lugares tenebrosos, como os que estavam mortos há muito.
7 Cercou-me de uma sebe de modo que não posso sair; agravou os meus grilhões.
8 Ainda quando grito e clamo por socorro, ele exclui a minha oração.
9 Fechou os meus caminhos com pedras lavradas, fez tortuosas as minhas veredas.
10 Fez-se-me como urso de emboscada, um leão em esconderijos.
11 Desviou os meus caminhos, e fez-me em pedaços; deixou-me desolado.
12 Armou o seu arco, e me pôs como alvo à flecha.
13 Fez entrar nos meus rins as flechas da sua aljava.
14 Fui feito um objeto de escárnio para todo o meu povo, e a sua canção o dia todo.
15 Encheu-me de amarguras, fartou-me de absinto.
16 Quebrou com pedrinhas de areia os meus dentes, cobriu-me de cinza.
17 Alongaste da paz a minha alma; esqueci-me do que seja a felicidade.
18 Digo, pois: Já pereceu a minha força, como também a minha esperança no Senhor.
19 Lembra-te da minha aflição e amargura, do absinto e do fel.
20 Minha alma ainda os conserva na memória, e se abate dentro de mim.
21 Torno a trazer isso à mente, portanto tenho esperança.
22 A benignidade do Senhor jamais acaba, as suas misericórdias não têm fim;
23 renovam-se cada manhã. Grande é a tua fidelidade.
24 A minha porção é o Senhor, diz a minha alma; portanto esperarei nele.
25 Bom é o Senhor para os que esperam por ele, para a alma que o busca.
26 Bom é ter esperança, e aguardar em silêncio a salvação do Senhor.
27 Bom é para o homem suportar o jugo na sua mocidade.
28 Que se assente ele, sozinho, e fique calado, porquanto Deus o pôs sobre ele.
29 Ponha a sua boca no pó; talvez ainda haja esperança.
30 Dê a sua face ao que o fere; farte-se de afronta.
31 Pois o Senhor não rejeitará para sempre.
32 Embora entristeça a alguém, contudo terá compaixão segundo a grandeza da sua misericórdia.
33 Porque não aflige nem entristece de bom grado os filhos dos homens.
34 Pisar debaixo dos pés a todos os presos da terra,
35 perverter o direito do homem perante a face do Altíssimo,
36 subverter o homem no seu pleito, não são do agrado do senhor.
37 Quem é aquele que manda, e assim acontece, sem que o Senhor o tenha ordenado?
38 Não sai da boca do Altíssimo tanto o mal como o bem?
39 Por que se queixaria o homem vivente, o varão por causa do castigo dos seus pecados?
40 Esquadrinhemos os nossos caminhos, provemo-los, e voltemos para o Senhor.
41 Levantemos os nossos corações com as mãos para Deus no céu dizendo;
42 Nós transgredimos, e fomos rebeldes, e não perdoaste,
43 Cobriste-te de ira, e nos perseguiste; mataste, não te apiedaste.
44 Cobriste-te de nuvens, para que não passe a nossa oração.
45 Como escória e refugo nos puseste no meio dos povos.
46 Todos os nossos inimigos abriram contra nós a sua boca.
47 Temor e cova vieram sobre nós, assolação e destruição.
48 Torrentes de águas correm dos meus olhos, por causa da destruição da filha do meu povo.
49 Os meus olhos derramam lágrimas, e não cessam, sem haver intermissão,
50 até que o Senhor atente e veja desde o céu.
51 Os meus olhos me afligem, por causa de todas as filhas da minha cidade.
52 Como ave me caçaram os que, sem causa, são meus inimigos.
53 Atiraram-me vivo na masmorra, e lançaram pedras sobre mim.
54 Águas correram sobre a minha cabeça; eu disse: Estou cortado.
55 Invoquei o teu nome, Senhor, desde a profundeza da masmorra.
56 Ouviste a minha voz; não escondas o teu ouvido ao meu suspiro, ao meu clamor.
57 Tu te aproximaste no dia em que te invoquei; disseste: Não temas.
58 Pleiteaste, Senhor, a minha causa; remiste a minha vida.
59 Viste, Senhor, a injustiça que sofri; julga tu a minha causa.
60 Viste toda a sua vingança, todos os seus desígnios contra mim.
61 Ouviste as suas afrontas, Senhor, todos os seus desígnios contra mim,
62 os lábios e os pensamentos dos que se levantam contra mim o dia todo.
63 Observa-os ao assentarem-se e ao levantarem-se; eu sou a sua canção.
64 Tu lhes darás a recompensa, Senhor, conforme a obra das suas mãos.
65 Tu lhes darás dureza de coração, maldição tua sobre eles.
66 Na tua ira os perseguirás, e os destruirás de debaixo dos teus céus, ó Senhor.”
No extenso livro da profecia de Jeremias nós o vemos chorar muitas vezes por causa do pecado de Judá, e pela falta de atendimento dos judeus ao apelo de Deus através dele para que se convertessem dos seus pecados, porque ao mesmo tempo lhes anunciava a destruição terrível que viria sobre eles caso não se arrependessem.
Agora, uma vez cumpridas as assolações que ele mesmo havia profetizado, a sua alma estava quebrada por todo o sofrimento que experimentara.
Então, desde o primeiro até o vigésimo versículo ele expressa o abatimento da sua alma (v. 20), começando a dizer que era o homem que viu a aflição que foi causada pela vara de correção do furor de Deus contra o Seu povo (v.1).
Que o Senhor o guiou e o fizera andar em trevas, e não na luz, porque o resultado da sua profecia não foi glória para Israel, mas dor e destruição.
Suas notícias não eram consoladoras para Judá, mas ameaçadoras, e isto já era em si mesmo uma grande carga para a sua alma, que agora vendo o resultado de todas aquelas ameaças fez com que se sentisse como debaixo da mão pesada de Deus todos os dias, e isto fazia envelhecer a sua carne e pele, e a se desconjuntarem os seus ossos.
Deus não lhe dera alternativa senão de cercá-lo com fel e trabalho, e habitar em lugares tenebrosos e desolados. Cercou-o de tal maneira que não podia fugir, e mesmo quando clamava e gritava por socorro, o Senhor não atendia à sua oração, porque a sentença de destruição de Judá já estava determinada, e em mais de uma ocasião, Deus lhe proibira diretamente para não orar em favor do Seu povo.
Além das aflições que lhe foram impostas pelo cumprimento do seu ministério, Jeremias teve também que suportar a dor de ter sido feito objeto de escárnio para todo o seu próprio povo, que o considerava um subversivo que servia aos interesses de Babilônia, e isto o encheu de amarguras, como que seus dentes tivessem sido quebrados por pedrinhas de areia.
Seu ministério não lhe permitiu que tivesse paz em sua alma, e havia até esquecido o que era a felicidade.
Tão grande era a sua amargura de alma, uma vez cumprida a assolação que Deus havia prometido trazer sobre os judeus, que a força de Jeremias havia perecido, bem como a sua esperança no Senhor, ou seja, ele não conseguia naquela hora, ter qualquer boa expectativa em relação aos judeus, que lhe viesse da parte de Deus, porque sabia que Ele estava irado com os pecados deles.
Todavia, ele bem conhecia o caráter do Seu Deus, e isto faz toda a diferença na hora da aflição, porque chegará o momento, que fortalecidos pela Sua graça e misericórdia, poderemos ter uma melhor perspectiva em relação ao futuro, porque experimentando em nós mesmos a Sua misericórdia e favor imerecidos, sabemos que não é Deus somente de justiça, mas também de bondade e misericórdia, e é por isso, que podemos ter esperança em relação ao futuro, apesar de sermos pecadores.
Não temos nenhum outro bem duradouro e eterno que nos acompanhe não somente nesta vida, como principalmente na futura, senão o próprio Deus, então é somente nEle que devemos esperar, porque tudo mais passará e falhará.
Logo, é isto que devemos trazer à mente, na hora da aflição, a saber, a nossa renovada esperança no Senhor (v. 21), porque sabemos que a sua bondade jamais acaba porque as Suas misericórdias não têm fim (v. 22).
O Senhor sempre usará a Sua vara de aflição para corrigir o Seu povo, mas podemos estar seguros que a sua ira sempre estará misturada com a Sua misericórdia, para que possamos ter esperança nEle, quanto à nossa restauração e quanto a dias melhores.
Quando a mão do Senhor é continuamente contra nós, somos tentados a pensar que o Seu coração também está contra nós.
O Senhor havia sido como um leão para Israel, para que eles se vissem culpados, e que assim o buscassem arrependidos:
“14 Pois para Efraim serei como um leão, e como um leão novo para a casa de Judá; eu, sim eu despedaçarei, e ir-me-ei embora; arrebatarei, e não haverá quem livre.
15 Irei, e voltarei para o meu lugar, até que se reconheçam culpados e busquem a minha face; estando eles aflitos, ansiosamente me buscarão.” (Os 5.14,15)
Sabendo deste propósito de Deus de sempre afligir para curar o Seu povo, Jeremias podia renovar sua esperança nEle.
Quando nossos corações se esquecem da graça de Deus por algum tempo, Ele a faz retornar aos nossos corações para que possamos estar prontos a usá-la para nos reconciliarmos com Ele.
Por ruins que sejam as coisas, elas não são piores devido à misericórdia de Deus. Nós somos afligidos pela vara da correção da Sua ira, mas é pelas Suas misericórdias que nós não somos consumidos (v. 22).
Se as coisas são ruins e poderiam ter sido piores, então temos que esperar que elas sejam melhores. Fazer isto é expressar confiança em Deus. É fé em prática na Sua bondade e misericórdia. E como Ele se agrada disto, há certamente de recompensar a nossa fé com coisas boas.
Por isso a Igreja é como a sarça de Moisés, que enquanto queimava não era consumida. Qualquer sofrimento que enfrentarmos poderá nos afligir mas não nos consumir, tal como aquela sarça.
Porque podemos dizer junto com o apóstolo:
“8 Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desesperados;
9 perseguidos, mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos;” (II Cor 4.8,9)
A causa disto são as misericórdias do Senhor que atuam em nosso favor, guardando-nos de uma destruição final. Ele é o Pai das misericórdias.
Nós somos livrados por causa destas misericórdias não somente do diabo, mas também da morte e do inferno. Deveríamos ter sido consumidos há muito tempo por causa dos nossos pecados, mas não somos tratados por Deus em conformidade com os nossos pecados, mas segundo a multidão das Suas misericórdias, que nunca têm fim, e que se renovam todos os dias, e que antes mesmo de levantarmos a cada manhã, já se encontram lá nos aguardando, para que não sejamos consumidos pela ira da justiça de Deus.
Quando nossos confortos falham, contudo as misericórdias do Senhor nunca falharão, porque grande é a Sua fidelidade.
Jerusalém podia estar agora em ruínas por causa do juízo de Deus contra os seus pecados, mas por causa da misericórdia tornaria a ser colocada de novo como objeto de louvor em toda a terra, porque o Senhor certamente a restauraria conforme havia prometido fazer.
Ele faz o mesmo com todos os Seus filhos, depois de tê-los sujeitado a um tempo de correção com aflições.
Jeremias havia perdido tudo neste mundo, sua liberdade e seu sustento, e quase a própria vida, contudo, não havia perdido seu interesse em Deus.
Porções da terra perecem e desaparecerão mas o Senhor é a nossa porção para sempre.
Enquanto eu tiver um interesse em Deus, então eu terei o bastante, o suficiente para contrabalançar todas as minhas dificuldades e compensar todas as minhas perdas. Porque nada pode se comparar à Sua doce presença, e à manifestação da Sua graça que me consola.
Quando todos os demais apoios se forem, Deus continuará sendo a força e o apoio da minha alma, e o meu conforto em todas as minhas aflições.
Por isso Jeremias disse que todos aqueles que confiam no Senhor jamais o farão em vão (v. 25) porque provarão as Suas misericórdias.
Feliz portanto é a alma que espera no Senhor e que o busca.
E enquanto nós o esperamos com fé, nós temos que fazê-lo através da oração. Porque se não o buscarmos, não o acharemos. Nossa busca ajudará a manter a nossa espera. E para aqueles que assim esperam e buscam a Deus, Ele dará a Sua graça, e lhes mostrará a Sua misericórdia (v. 26).
E é bom esperar pelo socorro do Senhor estando quietos, em silêncio, não propriamente com os lábios fechados, porque poderão ser abertos para o clamor e para a oração. Mas no silêncio do coração, que não mais murmura e se inquieta por causa das aflições. O coração que foi acalmado pela graça de Deus, deve permanecer assim perante Ele, porque não criou nossa alma para estar atormentada, senão sossegada.
É fácil entender isto, porque quem pode estar intranqüilo quando sente a presença de Deus?
Então o suportar o jugo na mocidade, ter experimentado dificuldades e aflições, serão de grande proveito para nos ensinar esta lição, porque aprenderemos a dar o devido valor às consolações do Senhor, que geram em nós um espírito quieto, manso e sossegado.
Como somos totalmente desmerecedores destas misericórdias divinas, é nosso dever manter uma expectativa humilde em relação a elas, em nossa esperança debaixo de nossas aflições. Devemos ser modestos em nossas expectativas, sabendo que somos totalmente desmerecedores destas misericórdias divinas.
Há um espírito correto para se buscar ao Senhor debaixo de aflições, a saber, com o coração contrito e em humildade. Não cai bem a transgressores se apresentarem diante do Juiz de toda a terra com ares de arrogância, e com reclamações ou petições ousadas.
Ao contrário, convém-nos abaixar a cabeça e dobrar os joelhos, até que o Senhor nos tenha levantado.
Quando Deus nos causa aflições é para fins santos, porque Ele não tem prazer nas nossas calamidades (v. 33). Deus não aflige de boa vontade. Por isso Ele nunca nos afligirá a não ser que nós Lhe demos causa de fazer isto, ou então que seja necessário para o aperfeiçoamento da nossa fé.
Lembremos que quando Deus se levanta para castigar o lugar do qual Ele se levanta é o Seu trono de graça e misericórdia, para o qual Ele sempre retorna. O trono é de graça para Seus filhos, e é importante sabermos isto, e trazê-lo sempre em memória para que tenhamos confiança em buscá-lo e Suas misericórdias, mesmo em nossas aflições, sabendo que por fim há de se mostrar favorável a nós.
Deus afirma expressamente que não tem prazer na morte dos ímpios, quanto mais em afligir os Seus santos.
É por isso que Ele se diz também aflito em toda a nossa aflição, porque o faz com relutância, porque não tem prazer em afligir senão em mostrar misericórdia.
Daí requerer que sejamos também misericordiosos tal como Ele é misericordioso, e não juízes implacáveis, prontos a afligirem a outros.
Contudo, devemos lembrar também que apesar de não ter prazer em afligir e corrigir o Seu povo, que Ele está longe de estar contente com a injustiça que o Seu povo pratica (v. 34 a 36).
Nós somos castigados por causa dos nossos pecados? Então será sábio de nossa parte nos submetermos debaixo da potente mão de Deus, e beijar a vara da disciplina que nos corrige, porque, se caminharmos de modo contrário ao Senhor, Ele nos castigará sete vezes mais, para que não sejamos condenados juntamente com o mundo.
É nosso dever orar ao Senhor, com a expectativa de receber a Sua misericórdia, e não de permanecermos em nossos pecados, ou murmurando por causa de nossas aflições, e aqueles que esperam em Deus, devem esperar com a expectativa de receberem livramento e retorno à plena comunhão em alegria com Ele.
Ao lembrar da misericórdia do Senhor, colocando-se na posição de esperar na Sua bondade, Jeremias estava colocando em prática o conselho de Deus dado através do profeta Joel, quanto ao procedimento que os judeus deveriam ter na hora da aflição.
Deus disse pela boca do profeta Joel o que é que o seu povo deveria fazer quando visse que estava chegando sobre eles as assolações e aflições que estavam determinadas por causa dos seus pecados, em Joel 2.15 a 17:
“15 Tocai a trombeta em Sião, santificai um jejum, convocai uma assembléia solene;
16 congregai o povo, santificai a congregação, ajuntai os anciãos, congregai os meninos, e as crianças de peito; saia o noivo da sua recâmara, e a noiva do seu tálamo.
17 Chorem os sacerdotes, ministros do Senhor, entre o alpendre e o altar, e digam: Poupa a teu povo, ó Senhor, e não entregues a tua herança ao opróbrio, para que as nações façam escárnio dele. Por que diriam entre os povos: Onde está o seu Deus?”
Não somente eles seriam ajudados e beneficiados com este ato de humilhação e de busca de Deus no meio da aflição, como ajudariam as gerações seguintes a receberem o cumprimento da promessa do derramamento do Espírito Santo, conforme está profetizado neste mesmo capítulo de Joel, nos versos 28 e 29:
“28 Acontecerá depois que derramarei o meu Espírito sobre toda a carne; vossos filhos e vossas filhas profetizarão, os vossos anciãos terão sonhos, os vossos mancebos terão visões;
29 e também sobre os servos e sobre as servas naqueles dias derramarei o meu Espírito.”
É importante frisar, que o Espírito Santo, mais uma vez, pela boca do profeta, convoca o povo a se humilhar diante de Deus e para Lhe clamar por misericórdia, ainda que as condições descritas se refiram apenas a juízos, ao peso da Sua potente mão disciplinadora sobre o Seu povo, e não a promessas de bênçãos.
O povo é convocado a se converter ao Senhor de todo o coração, com jejuns e com choro e pranto (v. 12), não propriamente pelos justos juízos, mas pelos seus próprios pecados.
Por isso o Senhor lhes chamou a rasgarem o coração e não as vestes, porque o arrependimento sincero se dá no coração e não no exterior, e faz com que se conte com o favor de Deus, porque “é misericordioso e compassivo, tardio em irar-se e grande em benignidade, e se arrepende do mal”, como afirmado no verso 13 deste mesmo segundo capitulo de Joel.
Ele é soberano para usar ou não de misericórdia, mas é nosso dever, quando debaixo da Sua potente mão, nos humilharmos diante dEle e nos arrependermos, na expectativa de que nos perdoe e abençoe, segundo a grandeza das Suas misericórdias.
Não deveria haver apenas arrependimento individual, mas a nação de Judá deveria se congregar em assembléia solene para que todos, até mesmo meninos, recém-nascidos, recém-casados, enfim, todas as pessoas de Judá, se reunissem no templo, como lemos nos versos 15 e 16, e que os sacerdotes e ministros chorassem diante do Senhor Lhe pedindo que poupasse o Seu povo da destruição, não somente por causa deles próprios, mas para que o nome do Senhor não fosse blasfemado entre as nações, por terem assolado o povo da Sua aliança, como se afirma no verso 17.
O profeta vislumbrou que haveria esta humilhação, choro, jejum e clamor por parte do povo, quando estivessem debaixo da ameaça de Babilônia, e então o Senhor se compadeceria deles (v. 18).
E lhes deu resposta favorável dizendo que tornaria a fazer com que a sua terra, de assolada que fora, voltaria a ser produtiva (v. 19); e que afastaria o exército opressor que veio do Norte sobre eles (v. 19, 21). O povo de Judá é conclamado a não temer e a se regozijar com alegria, pelos grandes feitos do Senhor, porque até mesmo os animais do campo não teriam mais o que temerem, porque os pastos do desertos tornariam a reverdecer e as árvores a darem os seus frutos (v. 21, 22).
Os judeus tornariam a ter regularidade de chuvas em sua própria terra (v. 23) e a produção agrícola seria abundante (v. 23, 24), e Deus lhes restituiria a produção que havia sido perdida nos anos anteriores, que foi prejudicada pelos poderes destruidores da nação opressora que veio sobre Judá (v. 25). Haveria provisão abundante de bens em Judá para que o nome do Senhor fosse louvado e glorificado, porque removeu o opróbrio do Seu povo (v. 26, 27).
E a melhor bênção. A melhor e maior das melhores e maiores ainda estaria por vir, e começaria com o derramar do Espírito Santo sobre toda a carne, quando não mais uns poucos escolhidos como por exemplo Moisés, Samuel, Elias, e não muitos outros, como o próprio Joel, profetizariam, porque, pelo Espírito, muitos seriam profetas por causa do dom de profecia do Espírito Santo que seria concedido às gerações futuras do povo de Deus. E pelo mesmo Espírito, os velhos teriam sonhos e os jovens visões, espirituais (v. 28). Isto seria feito independente de condição social, porque até sobre os servos e servas o Espírito Santo seria derramado (v. 29).
Conectado à promessa do derramar do Espírito, nos versos 28 e 29, para a formação da Igreja na dispensação da graça, foi proferida a conseqüência e o propósito final deste derramar do Espírito, que é o do estabelecimento do reino de Deus na terra, pela volta de Jesus Cristo.
Este seria o grande resultado da manifestação da misericórdia de Deus diante da humilhação do Seu povo debaixo da aflição, e depois da restauração deles em sua própria terra.
Ora, se Deus estava disposto a manifestar a Sua misericórdia a eles, que estavam sendo afligidos no cativeiro de Babilônia, de quanto maior misericórdia não serão alvos dela os Seus servos na Igreja que são afligidos por causa da Sua fidelidade?
Satanás se levanta para tentar impedir o avanço da obra do Espírito na Igreja, por trazer aflições aos crentes, especialmente em avivamentos, mas bem instruídos pela Palavra, eles sabem que devem ser pacientes nestas aflições e buscarem a Deus clamando a Ele não somente por livramento, mas para que faça avançar a Sua obra enquanto eles se encontram debaixo de tais aflições.
Então, quando alguém é batizado no Espírito Santo em nossos dias, isto é um dos sinais de que a misericórdia de Deus nos está sendo concedida.
É preciso crer portanto na bondade do Senhor e na Sua misericórdia para conosco, apesar de sermos falhos e pecadores, para que possamos ser batizados pelo Espírito Santo.
Ele nos batizará não porque sejamos perfeitos, mas porque Ele é misericordioso.
Por isso este batismo é chamado de dom do Espírito, ou seja, o próprio espírito é o dom, e isto significa que Ele nos é dado como um presente de Deus, de modo que nada temos que pagar por ele.
O profeta Joel havia profetizado antes de Jeremias, e foi nos dias deste profeta que se cumpriram as ameaças que haviam sido proferidas por Deus através de Joel e de outros profetas.
Então era hora de se colocar em prática o que Deus havia dito que eles deveriam fazer mesmo sendo levados para o cativeiro, e estando debaixo de grande aflição, a saber; buscarem a Sua face e se humilharem perante Ele. Eles deveriam trazer à memória o que lhes pudesse dar esperança, sabendo que as misericórdias do Senhor não têm fim.
Ele havia por isso, alertado o povo quanto ao modo de agir debaixo das aflições por causa das suas visitações de juízo contra os pecados deles. Quando Ele se mostra entristecido conosco e quando não sentimos Sua presença em nossas reuniões tanto quanto dantes, não devemos ficar imóveis esperando que as coisas melhorem por si mesmas, ou continuarmos endurecidos em nossos pecados, mas devemos buscar a face do Senhor e nos humilharmos perante Ele, conforme nos tem recomendado em Sua Palavra que façamos.
Ele nos manda fazer isto porque é misericordioso e usará de misericórdia para conosco, apesar de termos entristecido o Seu Espírito.
Por isso, lemos também, o mesmo tipo de orientação, como por exemplo, no profeta Isaías, que havia profetizado isto, muitos anos antes de Judá ser levado para o cativeiro em Babilônia:
“15 Porque assim diz o Alto e o Excelso, que habita na eternidade e cujo nome é santo: Num alto e santo lugar habito, e também com o contrito e humilde de espírito, para vivificar o espírito dos humildes, e para vivificar o coração dos contritos.
16 Pois eu não contenderei para sempre, nem continuamente ficarei irado; porque de mim procede o espírito, bem como o fôlego da vida que eu criei.
17 Por causa da iniqüidade da sua avareza me indignei e o feri; escondi-me, e indignei-me; mas, rebelando-se, ele seguiu o caminho do seu coração.
18 Tenho visto os seus caminhos, mas eu o sararei; também o guiarei, e tornarei a dar-lhe consolação, a saber aos que dele choram.” (Is 57.15-18)
Aqueles que não levam em consideração os seus pecados, não serão ajudados por Deus, porque Ele tem prometido habitar somente com os que são contritos e humildes de espírito, e vivificará os seus espíritos e corações, habitando neles (v. 15).
Ele sarará, guiará e consolará os pecadores, mas somente aqueles que choram por causa do pecado (v. 18).
Isto foi confirmado por Jesus em seu ministério terreno quando disse que bem-aventurados são os que choram.
Deus dará a Sua paz a estes, e os sarará (v. 19), mas para os ímpios não dará nenhuma paz, porque são como o mar agitado, que não pode se aquietar e cujas águas lançam de si lama e lodo (v. 20, 21).
É preciso conhecer portanto qual seja o verdadeiro caráter de Deus para que possamos ter um relacionamento correto com Ele, baseado numa completa confiança. Não podemos confiar em quem não conhecemos. Não adianta dizermos que Deus é de inteira confiança caso não conheçamos o Seu caráter. Por isso somos exortados a crescer na graça e no conhecimento de Jesus, para que possamos ter este relacionamento de forma correta com Ele, baseado numa inteira confiança.
Posso dizer que confio nEle, mas se não conhecê-lO como Ele é, especialmente na aplicação da Sua justiça e misericórdia, não saberei como agir, e sequer entenderei as coisas que me vierem da parte dEle, especialmente as aflições por causa do pecado ou por necessidade de ser disciplinado. Acabarei resistindo à correção que me vem da Sua parte, e não aprenderei a lição que deveria ter aprendido.
Mas quando conhecemos a verdade relativa ao modo de se comportar debaixo das aflições, vendo que é a própria mão do Senhor que se encontra na maioria delas, ou então permitindo que elas nos alcancem, então posso ter um comportamento adequado esperando nEle com confiança, de que seja ajudado e mudado, sabendo que é sempre este o Seu desejo, por ser Deus misericordioso, e ter demonstrado o maior grau desta misericórdia dando Seu Filho unigênito para morrer na cruz, em nosso favor, sendo nós pecadores.
Não temos dado um justo valor, não temos feito uma avaliação correta deste ato supremo de amor e misericórdia de Jesus morrendo no nosso lugar.
E não somente isto, dispondo-se a perdoar todas as nossas ofensas, para estarmos completa e perfeitamente reconciliados com Deus que é santo, justo e perfeito.
Se é um fato verdadeiro que Deus detesta o pecado, também é outro fato verdadeiro e não menor que o primeiro, que Ele também perdoa o pecado, porque é misericordioso.
De modo que faz que haja muito mais graça e misericórdia para cobrir os muitos pecados daqueles que se arrependem, se humilham e que buscam a face do Senhor.
É para este propósito de nos aproximar mais e mais de Deus que as aflições estão cooperando, porque elas nos desmamam deste mundo e de nosso apego à carne, elevando-nos à presença do Senhor, para acharmos descanso e paz para as nossas almas.
É preciso conhecer isto. Estarmos convictos de qual seja o caráter de Deus, porque quando a aflição vier, poderemos fazer a avaliação correta das coisas desagradáveis que nos estão sucedendo, para sabermos qual deve ser o modo correto de nos comportarmos nestas horas.
Deus havia mandado os judeus se humilharem e clamarem a Ele buscando a Sua face, na expectativa de serem alvo de Sua misericórdia, mas eles não se arrependeram (v. 42), e por isso o Senhor não quis lhes perdoar os seus pecados e lhes enviou para o cativeiro em Babilônia.
Eles haviam intentado contra a vida do próprio Jeremias lançando-o na masmorra, mas o Senhor ouviu a voz do profeta, e atendeu ao seu clamor, e lhe disse que não temesse (v. 56, 57), porque pleiteou a causa do profeta e remiu a sua vida (v. 58).
Silvio Dutra Alves
Enviado por Silvio Dutra Alves em 06/11/2013